Director Fundador: João Ruivo    Director: João Carrega    Publicação Mensal    Ano XIII    Nº151   Setembro 2010

Entrevista

OCTÁVIO RIBEIRO, DIRECTOR DO "CORREIO DA MANHÃ" ("CM")

"O anúncio da morte da imprensa
é um manifesto exagero"

Octávio Ribeiro é o discreto homem do leme do jornal que lidera as vendas em Portugal. Cita o célebre aforismo do escritor Mark Twain para dizer que os jornais estão bem vivos, sendo o que dirige disso prova. O director do «CM» admite que as redacções estão saturadas, mas salienta o valor e a boa preparação académica demonstrada por alguns dos que provêm especialmente de politécnicos do interior do País. Aos que acalentam o sonho de integrar uma redacção deixa recados: devem cultivar-se, promover o espírito competitivo e entregarem-se de corpo e alma, numa profissão em que raramente se sabe a que horas se regressa a casa. Octávio Ribeiro defende ainda a criação de uma Ordem dos Jornalistas, diz que o Primeiro-Ministro tem «sete vidas políticas» e sobre o ainda seleccionador nacional, Carlos Queiroz, argumenta não ter condições para conduzir homens.

Muitos jornalistas e até directores são presença constante no pequeno ecrã, para além de alimentarem páginas pessoais no Facebook e Twitter. Mantém um low profile pese embora ser director do jornal líder. Fá-lo por opção?

Sim. Cerca de 15 anos da minha carreira foram passados na televisão, por isso não tenho uma má relação com as câmaras. Defendo que um director de um jornal como o «CM» não deve estar em desgaste constante, nem precisa de exposição mediática excessiva. O director do jornal líder deve preocupar-se em fazer um grande produto todos os dias. Reservo o aparecimento a dar opinião fora do meu jornal em momentos especiais e de especial sensibilidade nacional. Para além disso, tenho na minha equipa vários colegas com grande qualidade, nomeadamente o Eduardo Dâmaso, António Ribeiro Ferreira, Armando Esteves Pereira e Paulo Pinto Mascarenhas, que representam dignamente o jornal.

Critica alguns dos seus colegas por aparecerem com frequência a comentar tudo e nada?

Não, acho normal. São fases da carreira. Eu antes de ser director, aparecia bastante. Quando assumi o cargo achei que devia resguardar-me. Mas não me furto a um convite em momentos que o justifiquem, por exemplo, antes de eleições ou em situações-chave para o sistema judicial.

Qual a receita de sucesso do «CM» para estar sempre acima dos 100 mil exemplares vendidos por dia?

Quando Vítor Direito vendeu o jornal à Cofina o «CM» estava em queda, com cerca de 70 mil exemplares de vendas. Eu diria que essa operação foi um golpe de genialidade desse fundador do jornal. O «CM» ganhou nova dinâmica com o novo grupo económico e o trabalho desenvolvido, ou a herança, se preferir, deixada pela direcção liderada por João Marcelino foi muito boa. O jornal ganhou critérios profissionais, tornou-se muito mais exigente. Quando assumi o cargo de director, em 2007, reforcei o que tinha sido feito de bom e procurei que a publicação se aproximasse de públicos mais exigentes. Convidámos uma plêiade de colunistas de grande qualidade o que demonstra que queremos também comunicar com públicos mais exigentes oriundos de classes superiores. Para além disso, acentuámos a vertente de investigação – somos talvez o jornal nacional com o maior número de profissionais adstritos a esta especialização.

O jornal ficou mais completo e abrangente nos últimos anos, indo para além do submundo dos crimes de faca e alguidar. Mas o rótulo de sensacionalista continua a ser colocado. Tem razão de ser?

O «CM» não é sensacionalista, não tem é medo do sensacional. Este jornal não teme as notícias e o pulsar do País é feito de ocorrências, em que intervêm ; pessoas. O nosso objectivo é informar os cidadãos de todos os sintomas da sociedade onde se inserem, no sentido de os preparar melhor no seu dia-a-dia. É claro que a área da segurança é nevrálgica na informação do jornal.

O «CM» tem aspirações algum dia a ser considerado um jornal de referência, no sentido de elite, ou isso seria descaracterizar-se irremediavelmente?

O «CM» é indiscutivelmente a grande referência informativa do País, juntamente com o «Expresso», um semanário, e o «Jornal de Notícias», um concorrente muito interessante a nível regional, no norte.

Qual é o perfil dos vossos leitores?

Nós queremos a elite e a elite precisa de ler o «CM» para estar bem informada, mas nunca desprezamos o povo. O nosso objectivo é conseguir, diariamente, a quadratura do círculo, logrando um abraço abrangente ao País. Temos 600 mil leitores que pertencem à classe A, B e C1 e numa faixa etária até aos 54 anos. Mas também temos meio milhão de pessoas das classes C2 e D. Somos transversais à sociedade portuguesa. Falou-me há pouco do objectivo de ser um jornal de referência e eu digo que o «CM», nas classes A e B (as mais altas de estratificação comercial e sociológica) tem tantos ou mais leitores que os denominados jornais de referência em Portugal (NDR: O «Público» e o «DN»). Se a análise incidir sobre as classes A, B e C1, o «CM» tem muitos mais leitores do que a soma desses dois jornais juntos.

A secção «Vidas» é uma das mais lidas do jornal. Numa das recentes entrevistas ao «Ensino Magazine», o ex-director do «Público», reconhece que o «CM» encontrou uma fórmula de sucesso, mas ironizou ao dizer que o jornal da Cofina abusava de «temas sensacionalistas», nomeadamente «os famosos, mais ou menos vestidos, e as namoradas de Cristiano Ronaldo». Acusa o toque?

Tenho muito respeito pelo José Manuel Fernandes, creio até que com a sua direcção o «Público» teve momentos brilhantes, mas ser director de bancada não lhe fica bem. Ele está à procura do segredo do «CM» desde que abandonou o jornal da Sonae.

E qual é o segredo?

O segredo é que a direcção está permanentemente presente na redacção e trabalha entre 10 a 12 horas por dia, respondendo por todos os conteúdos que são publicados. Cultivamos os valores da lisura e da lealdade para com os leitores, sem dogmas. Aliás, para mim o dogma supremo do jornalismo é fazer o melhor trabalho possível, dando as notícias confirmadas, com independência e coragem. Quando nos enganamos, assumimos o erro.

Como explica que os seus jornalistas sejam dos que mais processos judiciais acumulam?

Quem faz um jornalismo de qualidade e independente obviamente que se arrisca a ter processos, mas quero sublinhar que nunca fomos condenados. Desde que sou director deste jornal nunca tive uma condenação e raramente os processos chegam a julgamento.

Pondera com a assessoria jurídica do jornal a publicação de uma notícia que, dado o melindre, eventualmente possa corresponder a um processo judicial contra a entidade que dirige?

«A priori» não consultamos. A decisão de publicação de uma notícia cabe inteiramente ao director e à sua equipa. Contamos com um departamento jurídico de extraordinária qualidade, mas o espaço da redacção é sagrado e não deixamos que ninguém interfira.

A Justiça tem sido fértil em casos: Freeport, Face Oculta e Casa Pia, só para citar alguns. O «CM» foi dos jornais que mais projectou estes processos. Quando pensam uma manchete privilegiam o interesse público ou o interesse do público?

O critério para fazer uma manchete é a sua relevância para o leitor. O «CM» procura conciliar as vertentes do interesse público e do interesse do público, porque sem servir este último não há público.

No caso das escutas e nas violações sistemáticas do segredo de justiça, que valores pondera um director de jornal antes de publicar matérias explosivas?

No caso Face Oculta o interesse público é claríssimo e prevalecente sobre tudo o resto. Foi um momento muito triste da Justiça em Portugal, respaldado pelas últimas e vergonhosas alterações às leis penais, que nomeadamente, limitam o trabalho dos jornais no que diz respeito à publicação de escutas. Aliás, tenho as minhas dúvidas se não estaremos perante uma inconstitucionalidade material na arquitectura das normas penais. O que se assistiu é que dois seres “iluminados” decidiram, de forma não colegial, no topo da Justiça. Refiro-me ao Procurador-Geral da República e ao Presidente do Supremo Tribunal de Justiça. Não dá para acreditar que um crime com uma pena relevante seja julgado apenas por um juiz em primeira instância, e depois no topo da hierarquia, Procuradoria e Supremo Tribunal, alguém decide sozinho e sem direito a recurso. Isso vai ao arrepio de todos os princípios do Direito e contraria tudo o que a História ensinou ao Homem, desde a Grécia Antiga, passando por Roma. As decisões colegiais são muito mais sábias, mais escrutinadas.

As recentes alterações penais limitam os jornalistas na divulgação de assuntos sob segredo de justiça. O que é que muda no campo de manobra do profissional?

As alterações penais, resultantes de um acordo entre PS e PSD, são uma vergonha. Os jornalistas passam a ser responsabilizados objectivamente sobre as fugas de informação. Ao jornalista cabe a missão de informar o cidadão e este só se estiver informado num sistema livre é que pode, em consciência, votar. Se não lhe chegar informação real e credível só resta ao cidadão eleitor fazer a sua escolha com base na propaganda, na indumentária dos políticos ou nas vãs promessas dos partidos de que os impostos não serão aumentados. Por isso, em muitas situações, o segredo de justiça é contra natura relativamente à actividade jornalística. Defendo que depois de ponderados os interesses em presença, e caso os motivos de interesse público prevaleçam sobre os valores defendidos pelo segredo de justiça, este último deva ser menorizado pelo jornalista.

A imprensa de uma forma geral tem reduzido as vendas. O «CM» tem sido das poucas excepções. Os factores apontados são vários: menos tempo para ler, a crise económica, a concorrência das edições digitais e o segmento dos gratuitos. Como valoriza estas ameaças nos pratos da balança?

Deixe-me só sublinhar o seguinte: não me parece que um jornal gratuito possa ser considerado um projecto jornalístico. A imprensa escrita funda a sua razão de ser na ligação do leitor ao título e tem, necessariamente, algo de material. O leitor paga do seu bolso para ser informado porque acredita naquele projecto. Quando se subverte essa regra, e passam a prevalecer os interesses dos anunciantes, algo se quebra e o valor da independência fica em xeque.

As edições online são uma forte concorrência às edições impressas?

Creio que o anúncio da morte da imprensa é um manifesto exagero. Mas é evidente que temos de estar atentos aos sinais dos tempos e das novas gerações. O «CM» está a fazer um enorme esforço na área do online, que na minha opinião é complementar da edição impressa, nomeadamente nos domínios do audiovisual. Temos vocação de liderança em qualquer suporte em que estejamos presentes. Mas estou convicto que o papel terá ainda umas décadas à frente enquanto negócio, com capacidade para dar retorno a accionistas que invistam em projectos, salvaguardando os valores da liberdade, responsabilidade e autonomia.

Já tem uma ideia se o «CM» beneficiou com o fim do «24 horas»?

Ainda não lhe sei dizer. Há um facto objectivo: cerca de 12 mil pessoas ficaram sem o jornal que compravam diariamente. Ou perdem o hábito de ler um jornal diário ou têm de procurar um alternativo. O «CM» está preparado para acolher qualquer leitor insatisfeito ou órfão de qualquer projecto jornalístico, mas alerto que o nosso projecto editorial e comunicacional é muito mais complexo do que era o «24 horas». É provável que alguns leitores que liam o extinto jornal da Controlinveste não tenham paciência e preparação para ler o nosso.

Mas são óbvios os pontos de contacto entre os dois jornais…

Admito que existem alguns, mas acho que existem mais pontos de contacto, por exemplo, entre o «Público» e o «CM». Aliás, temos pontos de contacto com todos os jornais do mercado, considerando-os todos concorrentes. O «CM» compete com todos os projectos jornalísticos que estão em banca com preço de capa. Inclusive com os diários especializa dos em economia e em desporto. E vou mais longe, até as próprias revistas semanais, como a «Visão» ou a «Sábado». A recente remodelação gráfica da nossa revista dominical é sinal que queremos servir um leitor que gosta de ler uma newsmagazine semanal.

Os profissionais da comunicação social são uma classe que granjeia alguma popularidade na sociedade, mas muitas vezes são acusados de ceder a tentações, nomeadamente serem caixas de ressonância dos grupos de pressão e das agências de comunicação. Há algum fundo de verdade?

Eventualmente haverá. Há jornalistas preguiçosos, como também há professores preguiçosos. Haverá jornalistas menos éticos, como também os haverá nos médicos, nos polícias, nos engenheiros, etc. Um projecto jornalístico para combater esse facilitismo deve ter muita massa crítica. É preciso analisar com minúcia cada edição que vai para as bancas para avaliar se o serviço que se prestou ao leitor foi útil e positivo. No «CM» um jornalista que viva de informação oficial não tem muito tempo de vida profissional aqui. É fundamental produzir notícias a partir de informação própria. Não nos enganemos: todas as notícias, excepto as que forem testemunhadas ocularmente por um repórter do «CM», servem o interesse de alguém. Obviamente que o ponto de partida para uma notícia vem sempre de alguém que tem interesse nela, seja um cidadão, um particular ou uma instituição, não pode nunca é ser um ponto de chegada.

Não é um paradoxo os jornalistas possuírem um poder brutal, chegando inclusive a contribuir para fazer cair governos, e devido à precariedade do sector ficarem permeáveis a todo o tipo de interesses?

As notícias não fazem deitar abaixo um governo, mas sim o resultado e a análise crítica da sociedade face à notícia...

Mas é público que o extinto «O Independente», por onde passou, fez cair vários ministros do governo de Cavaco, fragilizando fortemente o executivo social-democrata…

Fez cair alguns ministros, é verdade. Visto à distância, e o factor tempo cria um filtro de objectividade muito interessante, o professor Cavaco Silva tinha uma relação muito mais democrática e respeitadora da bondade do trabalho jornalístico do que o engenheiro José Sócrates tem. Caíram uma série de ministros, nomeadamente no governo da primeira maioria absoluta, por notícias relevantes e interessantes. Já o actual Primeiro-Ministro segura as suas equipas ministeriais com unhas e dentes, indiferente a notícias que se calhar já exigiam a renovação de certas pastas. Não é possível exigir rigor e avaliação aos outros, se não avaliarmos os que nos estão mais próximos.

A crise tornou os jornais e os jornalistas menos independentes e mais dependentes da publicidade. O «CM» foi penalizado pelo governo na sequência de notícias publicadas sobre o Primeiro-Ministro, nomeadamente nos casos Freeport e Independente?

Não senti isso. Mas deixe-me dizer-lhe que a democracia portuguesa está bastante consolidada. O «CM» tem esta particularidade muito sua: é talvez o único jornal em Portugal em que a receita que advém dos leitores (superior a 50 por cento) é maior do que a receita publicitária.

O mercado está saturado, os despedimentos são frequentes, como aconteceu no «24 horas» e no Rádio Clube Português. Que conselhos daria a um estudante de jornalismo que sonha entrar numa redacção quando terminar o curso?

Antes de mais, dizer-lhe com verdade, que só se reunir um naipe de qualidades ímpares é que poderá vingar numa redacção. Todos os outros não poderão ser jornalistas. Aqui no «CM» recebemos entre 30 a 40 estagiários por ano e procuramos não desperdiçar nenhum grande talento. Desde que sou director já ficaram connosco cerca de duas dezenas de jovens jornalistas, considerando a sede em Lisboa e as várias delegações. Temos um único protocolo com a Universidade Católica de Lisboa, de onde provêm alunos que tenham obtido as melhores notas no mestrado para estágios de 6 meses.

Admite que os cursos de comunicação social são muito teóricos?

Eu defendo que uma boa preparação teórica é fundamental. O pulsar da redacção faz o resto e efectua a triagem dos melhores. Um estudante de jornalismo tem de se cultivar muito, manter um espírito competitivo e, ao mesmo tempo, saber trabalhar em equipa, sendo leal para com ela. Isto já para não falar da disponibilidade e entrega total. Aqui sabemos a hora a que entramos, mas nunca sabemos a que horas regressamos a casa.

Há excesso de oferta destes cursos para as reais necessidades do mercado?

Não lhe sei dizer com rigor, mas gostaria de sublinhar, sem querer ser injusto com outras instituições, que há escolas no interior onde durante a minha carreira de jornalista, na TV e nos jornais por onde passei, constatei que os jovens chegam muito bem preparados ao meio profissional. Oriundos, por exemplo, da UBI e dos Politécnicos. Isto significa que há ensino de qualidade um pouco por todo o País e não apenas nos grandes centros urbanos.

Costumam ser confrontados com recém-licenciados que não sabem construir uma notícia?

O mais importante quando se chega aqui não é fazer uma notícia, mas sim enquadrar a realidade, ter espírito crítico e saber escrever. Devo confessar que nunca vi chegar gente com tanta qualidade ao jornalismo como nos últimos anos. Mesmo assim, devido à procura, em 100 há 10 de extraordinária qualidade e outros tantos de qualidade acima da média.

Defende a criação de uma Ordem dos Jornalistas?

Sempre defendi a constituição de uma Ordem profissional para os jornalistas. Quando uma classe não pratica uma regulação de qualidade e exigência, alguém o fará por ela. O que se passou no jornalismo nos últimos 15 dias foi a imposição legal de regras de hetero-regulação. Neste momento, existe a ERC e a Comissão da Carteira Profissional, que é presidida por um magistrado. Se uma classe não se auto-regula, uma actividade tão importante, a que alguns chamam o «quarto poder», passa a ser hetero-regulada pelos poderes do Estado e pelos poderes administrativos, etc.

Alguns órgãos de comunicação social, nomeadamente a Lusa e o Expresso, já escrevem ao abrigo do novo Acordo Ortográfico. O «CM» não. Porquê?

O «CM» escreveu em editorial há dois anos que nada tem contra o novo acordo, está inclusive disposto a implementá-lo gradualmente, sem nunca cortar a comunicação com o leitor. Isso é sagrado, muito mais do que qualquer norma negociada entre estados. Penso que o Acordo Ortográfico é um passo para se criar mais coesão no espaço lusófono e creio que as resistências habituais vão, progressivamente esbater-se. Lembra-se o que se dizia antes da Ponte Vasco da Gama e da Expo 98 estarem construídos?

Eu, por exemplo, a minha coluna semanal no «Record» escrevo-a já de acordo com o novo modelo. Actualmente, no «CM» apenas a coluna do Francisco José Viegas é escrita ao abrigo do novo acordo, o restante jornal mantém-se fiel às regras em vigor. O meu filho, que passou para a segunda classe, ainda não aprende a escrever de acordo com as regras do novo Acordo Ortográfico. Se o Estado não consegue implementar estas novas regras nas escolas terão que ser os jornais a fazê-lo?

Em termos políticos, vivemos um momento de decisões. O Governo está desgastado, o PSD tem novo líder e as presidenciais estão à porta. Estão reunidas as condições para uma crise política?

Quase todos os analistas coincidem que a haver uma crise política ela acontecerá após o primeiro semestre de 2011. Acho que estamos muito condicionados pelo timing presidencial. As fugas de informação desastradas sobre o novo projecto de revisão constitucional do PSD fizeram Passos Coelho perder gás e ainda por cima de forma gratuita, com uma sucessão de disparates.

Apesar disso, pensa que Passos Coe-lho será líder, não se sabe é quando?

Não sei. Mais uma vez, vai ser a economia a determinar o futuro político do País. Já deu para perceber que Sócrates tem sete vidas políticas e é sabido que o eleitor vota muito pelo estômago e pelo bolso. Só para lhe dar um exemplo, uma alegada crise na liberdade de imprensa é imediatamente empolada aos olhos do cidadão se coincidir com um agravamento de impostos. Os povos decidem, acima pelo tudo, em função do seu bem-estar.

O caso Queiroz tem dominado a actualidade nas últimas semanas. Que implicação pode ter no futuro da selecção nacional?

As pessoas que estão a decidir sobre este caso estão a pensar em tudo menos no interesse nacional. Carlos Queiroz não tem condições para continuar no cargo. Aliás, deixou de as ter quando agrediu um comentador no aeroporto. Ficou sem condições para conduzir homens, jovens ainda por cima. Queiroz deixou de ser o homem ponderado que conhecemos. A Federação também tem culpas. Quer despedir o seleccionador, mas não sabe como descalçar a bota que é o contrato onírico rubricado por Madaíl com Queiroz. Não sei onde é que o presidente da FPF tinha a cabeça quando aceitou este acordo negocial. Esta fase de qualificação para o europeu tem tudo para ser uma desgraça, mas normalmente os acontecimentos acabam por nos supreender. O melhor é esperar para ver.

Nuno Dias da Silva
Direitos Reservados

 


Cara da Notícia

18h30 de um tórrido dia de Agosto. Numa empresa normal as cadeiras já estariam desertas. Aqui, na redacção do «CM», em Lisboa, o dia ainda vai a meio. E começa a aproximar-se do auge. O frenesim aumenta com o passar dos minutos. A reunião decisiva para definir os temas de capa está a começar. O director do jornal líder do mercado recebe-nos no seu gabinete, nas instalações do grupo Cofina, paredes-meias com o frondoso jardim da Gulbenkian e com uma superfície comercial da moda.

Octávio Ribeiro faz questão de dizer que tem as suas raízes em Almaceda, a 25 quilómetros de Castelo Branco. Não nasceu lá, mas é à Beira Baixa que «precisa voltar todos os anos». Nasceu em Montargil, perto de Ponte de Sor, corria o ano de 1961, porque os pais eram professores primários. Ainda bebé veio para o Barreiro, onde jogou futebol no histórico clube da terra. «Sou um suburbano convicto, com raízes na Beira Baixa», é assim que se define. Formado em Direito pela Universidade Autónoma, concluiu recentemente a licenciatura, após ter abandonado o curso da Clássica já no quinto ano. O seu percurso profissional é vasto e tem algumas repetições no curriculum: começou na Rádio Sul e Sueste do Barreiro e transitou para o «Semanário», sob a direcção de Vítor Cunha Rego. Posteriormente, lançou a revista «Notícias Magazine», do DN e do JN, tendo sido o seu primeiro editor. Deu o salto para a RTP e depois para a Rádio Renascença, onde fez política. Regressou à televisão para ingressar na TVI, mas o «bichinho» dos jornais levou-o até ao polémico «O Independente», tendo regressado a seguir ao canal de Queluz de Baixo. Em Outubro de 2002 entra no Correio da Manhã, com as funções de editor executivo, tendo passado a chefe de redacção e posteriormente a integrar a direcção do matutino. É director do «CM» desde Fevereiro de 2007. Assina semanalmente uma coluna sobre futebol no «Record».
 

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