| RIBEIRO CRISTÓVÃO, 
		JORNALISTA E EX-DEPUTADO "Não há uma 
		política desportiva no nosso País" 
 Ribeiro Cristóvão foi o rosto e a voz de 
		programas desportivos de referência na televisão e na rádio portuguesa. 
		O jornalista afirma que não há política para o desporto no nosso país, 
		com o interior a ser sucessivamente esquecido, e que os campeões que 
		surgem ocasionalmente, são estrelas de geração espontânea. Ribeiro 
		Cristóvão acredita que o FC Porto vai recuperar o título e está 
		convencido que o seleccionador Paulo Bento pode ficar mais de dois anos 
		no comando da selecção das quinas se «conseguir passar o “Rubicão”». O 
		antigo deputado eleito pelo círculo de Castelo Branco entende ainda que 
		a opinião pública exagera nas críticas depreciativas que tece aos 
		parlamentares com assento em S. Bento.
 Em 1980 fundou, juntamente com Artur Agostinho, o departamento de 
		desporto da Rádio Renascença (RR). Deu origem a programas de referência 
		como «Bola Branca» e «Frente Desportiva», que ainda se mantêm no ar. 
		Como explica essa longevidade de três décadas?
 
 Lembro-me que quando criámos a «Bola Branca» não havia nada atractivo no 
		panorama da informação desportiva nacional. Quisemos ser uma alternativa 
		aos jornais. Nessa altura, a rádio era um bom meio para chegar às 
		pessoas. Começámos logo com uma equipa muito profissional e competente, 
		que desde o início, procurou produzir uma informação rigorosa, séria e 
		actualizada. Foram estes três vectores que nos permitiram fidelizar um 
		determinado mercado ao longo de 30 anos.
 
 Neste momento a «Bola Branca» é o programa mais antigo da rádio 
		portuguesa e uma referência no panorama desportivo, com 8 edições ao 
		longo do dia, das 7h30 às 22h30.
 
 A equipa da Renascença auto-denominou-se durante muito tempo a «super 
		equipa desportiva». Porquê?
 
 Porque contávamos com nomes muito populares da rádio, sobretudo dois 
		expoentes máximos da informação: o Artur Agostinho e o Alves dos Santos, 
		que também ficou conhecido por «o comentador que o país inteiro 
		consagrou». Para além de mim, estava também o Romeu Correia, ou seja, 
		pessoas que tinham conquistado algum bom nome junto da comunidade 
		ouvinte.
 
 Como é que lidaram com o aparecimento das rádios locais e regionais?
 
 Sofremos uma forte concorrência com o surgimento desses novos órgãos de 
		informação, mas isso só contribuiu para espevitar o nosso trabalho de 
		forma a ficarmos atentos. Ainda hoje conservamos a liderança radiofónica 
		da informação desportiva nacional.
 
 Qual foi o trabalho da sua carreira que mais o marcou?
 
 Provavelmente o relato que fiz da final da Taça dos Campeões, em 1987, 
		em que o FC Porto venceu o Bayern de Munique, em Viena. Nunca tinha 
		estado numa final com tamanha importância e ainda para mais quando se 
		verificou uma vitória de uma equipa portuguesa. Quando se ganha as 
		recordações ficam-nos mais vivas na memória. Foi o momento mais marcante 
		da minha carreira na rádio. Mas não esqueço os vários europeus de 
		futebol (1984, 1996, 2000, 2004 e 2008) e os mundiais (1986 e 2006) onde 
		marquei presença e onde se escreveram páginas indeléveis para o nosso 
		país. No ciclismo fiz também mais de 20 voltas a Portugal em bicicleta. 
		Sendo uma prova que se disputa anualmente em Agosto, era um escape ao 
		frenesim do futebol, permitindo-nos viajar diariamente de terra em 
		terra, conhecendo pessoas, gostos, gastronomias e hábitos diferentes.
 
 Como lidou com a exposição televisiva derivada da apresentação que 
		fez do «Domingo Desportivo» nos anos 80?
 
 Foi uma exposição diferente da radiofónica, necessariamente mais 
		agressiva e responsabilizada. Entrei na televisão, em 1982, a convite do 
		Adriano Cerqueira e do José Eduardo Moniz. Sem experiência alguma, fiz 
		um pequeno teste e alguns dias depois estava a fazer o «Troféu», um 
		programa com 4 horas de duração. Um mês depois comecei a apresentar o 
		«Domingo Desportivo» ; que foi durante muito tempo o programa mais 
		marcante da televisão portuguesa. Era o único que transmitia os resumos 
		dos jogos do campeonato de futebol e as restantes modalidades. Não havia 
		mais nada. Ainda hoje as pessoas quando me encontram na rua falam do 
		«Domingo Desportivo». Não escondo o enorme orgulho que tive por ter sido 
		o seu apresentador. Também fiz o «Remate», que era uma espécie de «Bola 
		Branca» na televisão, que ia para o ar por volta da meia-noite, onde se 
		fazia uma súmula da informação desportiva do dia. Saía das instalações 
		da RR no Chiado e ia para os estúdios da RTP no Lumiar fazer o «Remate».
 
 Lembro-me que o «Domingo Desportivo» era transmitido a horas tardias 
		devido a autênticas aventuras com as filmagens dos jogos, numa altura em 
		que não havia o envio de imagens por satélite. Quer explicar-nos essa 
		odisseia semanal?
 
 Havia dificuldades com certas reportagens de jogos realizados em Chaves, 
		Portimão, Elvas e cujas cassetes chegavam aos estúdios de Lisboa já 
		depois do jantar, devido às deficientes acessibilidades que o país então 
		possuía. Muitas vinham de mota a uma velocidade desabrida, especialmente 
		quando «O Elvas» estava na primeira divisão. Nos estúdios do Lumiar era 
		preciso improvisar em directo, à espera que fosse ultimada a montagem do 
		resumo do jogo. Para aumentar as dificuldades, nos anos 80 existiam duas 
		fitas, a do som e da imagem, e era preciso sincronizar ambas para 
		completar o resumo. Eram outros tempos, com histórias inesquecíveis. 
		Agora tudo mudou, com os satélites e com os canais de desporto que 
		transmitem tudo em directo.
 
 É sportinguista assumido. Vai fazer 55 anos de associado em Novembro. 
		Existe preconceito por parte dos jornalistas em divulgarem a sua cor 
		clubística?
 
 Agora menos, porque também há mais jornalistas desportivos. Mas no meu 
		tempo isso era um assunto que preocupava as pessoas. Entendi sempre que 
		não devia fugir daquilo que era. Disse sempre qual era a minha cor 
		partidária e qual o meu clube preferido. Nunca me envergonhei por isso. 
		Fui sempre crítico do Sporting, quando devia ser, como o fui do FC Porto 
		e do Benfica. Posso garantir que consegui, sempre de consciência 
		tranquila, ser imparcial e honesto.
 
 Partilha da opinião que a imprensa desportiva é demasiado benevolente 
		e macia na denuncia de certos casos menos claros e opacos que afectam o 
		futebol português, cabendo esse papel aos meios de comunicação social 
		generalistas?
 
 A imprensa desportiva nacional é pouco agressiva. Deu sempre a sensação 
		de estar conotada com alguns clubes. Se compararmos com a imprensa 
		desportiva espanhola constata-se que a do país vizinho é mais incisiva, 
		o que obriga os leitores e a opinião pública em geral, a manterem uma 
		vigilância permanente.
 
 Em Espanha os jornais desportivos não sendo órgãos oficiais de 
		clubes, são, pelo menos, oficiosamente. Advoga que o mesmo se passasse 
		em Portugal?
 
 Há uma tendência visível de veicular determinadas mensagens de certos 
		clubes, mas que não é anunciada e assumida. Admito que esta aparente 
		dependência traga alguns dividendos monetários, mas no reverso da 
		medalha, é provável que a margem de manobra de quem escreve seja menor. 
		Acredito que actualmente existem questões comerciais subjacentes que 
		obrigam a percorrer caminhos que há alguns anos atrás não seriam os 
		mesmos. Mas veja também que o mercado é muito maior em Espanha. A 
		«Marca» pode chegar a vender 700 mil exemplares por dia, enquanto cá 
		dificilmente qualquer um dos nossos desportivos supera os 100 mil 
		jornais.
 
 Os jornalistas especializados em futebol são menos independentes do 
		que os seus colegas de outras secções?
 
 Não. No jornalismo político há profissionais muito menos independentes 
		do que no desporto. As pessoas têm mais dificuldade em tornar públicas 
		as suas opções. Não tenho a mínima dúvida isso, tendo-o testemunhado nos 
		7 anos em que fui deputado.
 
 Tem sido convidado recentemente para comentar as últimas “novelas” do 
		futebol português. Desde o regresso da selecção do mundial da África do 
		Sul não tem havido paz. Como explica que a turbulência em torno da 
		selecção só se tenha resolvido na segunda quinzena de Setembro com a 
		entrada de Paulo Bento?
 
 Não se fez o que se devia ter feito, ou seja, no dia seguinte à 
		eliminação com a Espanha a FPF devia ter encetado conversações com 
		Carlos Queiroz com vista à rescisão do seu contrato. Durante os dois 
		anos em que foi seleccionador, Queiroz demonstrou não ter condições para 
		abraçar um projecto tão grandioso e responsável. Primeiro porque se 
		desligou completamente das camadas jovens. Estou em completo desacordo 
		quando se anda a dizer que Queiroz é o construtor do edifício do futebol 
		português. Ele ostracizou completamente o futebol juvenil, tendo 
		concentrado a sua atenção unicamente na selecção principal.
 
 O percurso de qualificação para o mundial foi penoso, com o 
		apuramento a surgir no jogo de repescagem. Na África do Sul fomos 
		eliminados nos oitavos de final pela selecção que se viria a sagrar 
		campeã do mundo. Que principais erros aponta ao seleccionador?
 
 Foram vários, desde a fase de qualificação, até à escolha dos jogadores 
		que estiveram na África do Sul. Foi incrível e inenarrável a escolha de 
		50 jogadores para estágio da Covilhã, depois de 39, depois 23, 
		posteriormente mais 6. Revelou muita incompetência, tanto do ponto de 
		vista técnico como comportamental. No fundo, foi esse o principal 
		argumento que me levou a manifestar a minha oposição à continuidade de 
		Queiroz.
 
 O caso do controlo anti-doping da Covilhã acaba por ser um episódio 
		desagradável?
 
 É um “fait-divers”, mas não deixa de ser grave. Uma equipa médica que se 
		dirige a um estágio de uma selecção, seja ela qual for, cumprir o seu 
		trabalho não pode ser recebida como o foi por Queiroz. A partir daí 
		geraram-se conflitos intermináveis.
 
 Para si colhe o argumento da politização do caso?
 
 O secretário de Estado do Desporto tinha que intervir. A Autoridade 
		anti-dopagem de Portugal (ADoP) está directamente dependente do governo, 
		os seus elementos foram tratados de forma desagradável e seria no mínimo 
		surpreendente que Laurentino Dias nada fizesse. Admito que tivesse 
		exagerado ao dizer na praça pública que estava de acordo com os 
		castigos, mas no essencial cumpriu o seu papel. Aos que invocam que os 
		políticos se imiscuem nas questões do futebol, aconselho-os a recuarem 
		até 1986, a Saltillo, onde houve verdadeiramente politização do futebol. 
		Estive lá durante dois meses a acompanhar os momentos que antecederam o 
		mundial do México e recordo-me de tudo o que aconteceu e posso garantir 
		que aconteceu política.
 
 Quer ser mais concreto?
 
 Existia um bloco de jogadores, claramente conotados com partidos de 
		esquerda, nomeadamente com o PCP, e que desenvolviam toda a guerra e 
		difundiam os comunicados, apoiados, a partir de Portugal, por pessoas 
		que suportavam publicamente as suas tomadas de posição. Não tenho 
		dúvidas que aconteceu mais política em Saltillo do que na África do Sul.
 
 Justificava-se a viagem-relâmpago de Gilberto Madaíl a Madrid para 
		obter o sonho impossível de contratar José Mourinho para seleccionador 
		em part-time?
 
 De vez em quando o futebol português presenteia-nos com episódios 
		tristes. A operação protagonizada por Madaíl foi ridícula. Era evidente 
		que José Mourinho não podia aceitar este convite. E há favores que não 
		podemos pedir, sobretudo quando as pessoas a quem os pedimos não nos 
		podem dizer que não. Mourinho disse em tempos que o seu grande sonho, 
		para final de carreira, era treinar Portugal, e perante um convite desta 
		natureza ele não podia recusar. Mas seria sempre um sim condicionado.
 
 O processo foi mal gerido?
 
 Mal gerido e liderado por um presidente que está em final de mandato, 
		Gilberto Madaíl, e por um ex-presidente do mesmo organismo federativo, 
		João Rodrigues, que quero recordar foi expulso da FPF e que não 
		apresentou as contas do Mundial de juniores de 1991 organizado no nosso 
		país. E é este o nosso grande «embaixador» junto de importantes 
		entidades internacionais! É lamentável. O desfecho não podia ser outro. 
		Só lamento que isto possa ter consequências para a carreira de José 
		Mourinho no Real Madrid. Pelo acompanhamento que faço na imprensa 
		desportiva espanhola constato que as posições que Mourinho sobre este 
		assunto não colheram propriamente reacções de simpatia. Temo que a 
		partir daqui a sua vida em Madrid se torne menos pacífica. Basta apenas 
		que os resultados não apareçam. Mourinho é o melhor treinador do mundo, 
		tendo roubado o protagonismo inclusive ao próprio Cristiano Ronaldo, e 
		pode manter-se neste patamar durante muito tempo, mas há que reconhecer 
		que deu um passo em falso.
 
 Pensa que Paulo Bento é uma boa solução ou é a solução possível?
 
 Paulo Bento é a melhor solução do momento, e depois de José Mourinho ter 
		deixado de ser hipótese, ainda que transitória. Como já vimos, o 
		ex-treinador do Sporting reúne o consenso de praticamente todos os 
		agentes do futebol, dispondo por isso da possibilidade de trabalhar com 
		tranquilidade. A tarefa que o espera reveste-se de enormes dificuldades, 
		mas se conseguir passar o “Rubicão” são muitas as hipóteses de ir além 
		dos dois anos previstos no actual contrato.
 
 Mourinho e Cristiano Ronaldo são duas referências nacionais. É 
		importante que os dois portugueses mais falados do Planeta sejam afectos 
		ao mundo do futebol ou seria mais desejável que fossem referências 
		noutros domínios, como a literatura, a ciência ou a arte?
 
 Já tivemos dois prémios Nobel, um da medicina e outra da literatura. 
		Para além do futebol, temos pessoas importantes. Estou a lembrar-me do 
		médico neurologista, António Damásio, a viver nos Estados Unidos. Só que 
		o futebol tem um mediatismo extraordinário e sem paralelo que permite 
		galgar fronteiras e estar mais próximo das pessoas, estejam elas onde 
		estiverem. Veja o caso do pequeno Martunis, um sobrevivente do tsunami 
		na Indonésia, que apareceu junto dos escombros com uma camisola da 
		selecção nacional vestida. O futebol está em todo o lado e as grandes 
		tecnologias deram um importante empurrão a esta projecção.
 
 Pese embora existir Mourinho e Ronaldo estamos longe de ser uma 
		potência desportiva. Mais sucesso têm tido os nossos vizinhos espanhóis 
		que ergueram uma autêntica fábrica de campeões. Como foi possível?
 
 Os espanhóis seguiram uma política desportiva, iniciada com vista aos 
		Jogos ; Olímpicos de Barcelona, em 1992, que nós, manifestamente, nunca 
		tivemos. Portugal não tem condições, nem vocação. Existimos enquanto 
		povo para ser sempre completamente contraditórios. Raramente conseguimos 
		estar todos do mesmo lado. Está no nosso ADN. Apenas durante o 
		«consulado» de Scolari à frente da selecção é que vi o país quase todo a 
		puxar por um objectivo, exceptuando os «dissidentes» do projecto, 
		descontentes com a exclusão de Vítor Baia dos convocados.
 
 Não está estafado o argumento da falta de apoios e de estruturas?
 
 O desporto está litoralizado. Para além de Coimbra não há desporto. Na 
		Beira Interior não existe ou é praticado a retalho. Tivemos a iminência 
		de ter um estádio em Viseu, aquando do Euro 2004, mas a candidatura do 
		estádio de Aveiro acabou por sair vitoriosa. Então, um homem que diz que 
		é da Beira, o actual Primeiro-Ministro e que detinha a pasta do 
		desporto, optou por Aveiro, mesmo sabendo que o projecto de Viseu 
		apresentava melhores condições.
 
 Como explica os fenómenos isolados de grandes desportistas que ainda 
		vamos tendo, por exemplo, no atletismo?
 
 Os fenómenos Carlos Lopes, Rosa Mota, Fernando Mamede e Nélson Évora são 
		excepções. Eu chamo-lhes estrelas de geração espontânea, que têm o seu 
		período de vida e quando desaparecem não deixam sucessores. É este o 
		nosso triste panorama.
 
 Porquê essa falta de sequência?
 
 Isso deve-se à inexistência de uma política de desporto em Portugal. 
		Termos muitos pavilhões construídos pelas autarquias, espalhados um 
		pouco pelo país, mas que não permitem a prática de muitas modalidades e 
		são pouco utilizados. Lembro-me que há alguns anos estive numa pequena 
		cidade galega, Orense, durante uma prova de ciclismo e o pavilhão 
		desportivo desta localidade não tem comparação com nenhum outro do nosso 
		país. Está preparado para todas as modalidades e tem uma dimensão 
		enorme.
 
 Após as primeiras jornadas o FC Porto surge destacado na liderança do 
		campeonato. Estava à espera?
 
 Foi um começo atípico. O FC Porto está a demonstrar uma grande pujança, 
		mas aguardava um melhor Benfica e um muito melhor Sporting. O campeão em 
		título quebrou com as baixas de Di Maria e Ramirez. Tem vindo a 
		melhorar, mas ainda não é suficiente. O Sporting tem sido uma desilusão 
		e acredito que vai existir contestação ao treinador, que se estenderá à 
		direcção do clube. O FC Porto, não podendo ainda encomendar as faixas, 
		está com grandes possibilidades de recuperar o título de campeão perdido 
		na época transacta para o seu rival de Lisboa.
 
 E o Braga continuará a ser um outsider?
 
 Não acredito. A participação na Liga dos Campeões vai passar factura 
		como já se está a ver.
 
 Assumiu funções de deputado em 2003, depois da saída de Maria Elisa. 
		Como foi a experiência numa altura em que se critica tanto a performance 
		dos nossos parlamentares. É só uma questão de má imagem?
 
 Exagera-se muito nas apreciações que se fazem dos deputados da nação. 
		Temos um Parlamento de acordo com o nosso ordenamento territorial. Creio 
		que haveria necessidade de redistribuir algumas funções. Os deputados, 
		tal como hoje são eleitos, têm menos possibilidades de ser solicitados 
		para determinadas tarefas, sobretudo quando os grupos parlamentares são 
		maiores. Recordo-me que durante a minha passagem pelo Parlamento, 
		enquanto eleito por Castelo Branco, estive no meu distrito no primeiro 
		mandato ajudado por um colega, e no segundo estive completamente 
		sozinho. Tinha de acorrer a todas as frentes no distrito e acumular 
		essas solicitações com as obrigações em S. Bento, nomeadamente nas 
		comissões parlamentares e em tudo o que se relacionasse com as temáticas 
		do desporto.
 
 Que acção concreta teve no distrito de Castelo Branco?
 
 Durante a minha passagem pelo Parlamento fiz cerca de 500 requerimentos 
		relacionados com o distrito de Castelo Branco, sobre estradas, escolas 
		degradadas ou em risco de encerramento, maternidades, hospitais, forças 
		de segurança, equipamentos culturais, etc. Muitas vezes não obtive 
		resposta de um governo maioritário e com tiques ditatoriais.
 
 A sua participação na Comissão Parlamentar de Educação permitiu-lhe 
		conhecer de perto os problemas do sector. O que é que o chocou mais?
 
 Fiquei com má impressão da ministra de Educação de então, Maria de 
		Lurdes Rodrigues, que fazia sempre prevalecer as suas determinações e 
		pontos de vista. O Estatuto do Aluno continha aspectos inaceitáveis, que 
		só seriam emendados pelo governo socialista seguinte. Aprendi muito 
		sobre este sector, visitando muitas escolas, senti de perto os problemas 
		dos professores e acompanhei com proximidade a iniciativa «Parlamento 
		dos jovens».
 
 A reorganização do parque escolar tem levantado grande celeuma. 
		Aceita que seja o factor racionalização a prevalecer?
 
 Aceito que havia necessidade de reorganizar o parque escolar, encerrando 
		alguns estabelecimentos. Aliás, o próprio PSD já o tinha feito em 
		executivos anteriores. Creio é que se foi longe demais e exagerou-se, 
		cortando-se vínculos difíceis de reatar, criando uma ruptura na relação 
		escolar entre quem manda e quem está por baixo, dificilmente reversível. 
		Com a particularidade de as autarquias não terem sido ouvidas e quererem 
		agora atirar-lhes com o ónus das despesas dos transportes escolares. 
		Lamento que as autarquias, uma peça fundamental na nossa organização 
		democrática, não sejam ouvidas em assuntos fulcrais.
 
 No que diz respeito às saídas profissionais na área do jornalismo é 
		sabido que as redacções dificilmente absorvem mais recursos humanos. 
		Aparecem muitos jovens que querem tentar a sua sorte na redacção da RR?
 
 A procura é muito grande e as redacções estão cheias, integrando, não 
		raro, pessoas com menos valor do que seria desejável. Aqui na Renascença 
		quando abrimos concursos aparecem largas centenas de candidatos. 
		Abriram-se para os jovens ilusões que não eram realizáveis, sobretudo 
		quando surgiram as televisões privadas. Construíram-se sonhos que podiam 
		ser «estrelas» na televisão, nos jornais e na rádio. Paralelamente, 
		deu-se cobertura à criação dos mais variados cursos de Comunicação 
		Social, sabendo-se de antemão que o mercado não daria vazão, na área 
		estrita do jornalismo, a tanta gente. Perante isto, os licenciados 
		começaram a reorientar as suas saídas para outras áreas, umas mais 
		próximas e outras mais distanciadas da sua escolha inicial.
 
 O nível qualitativo da Comunicação Social ressente-se desta 
		competição desenfreada?
 
 Como não podia deixar de ser. São admitidas pessoas com menos qualidade 
		o que contribui para degradar a qualidade de muitos órgãos de 
		comunicação social. Encontramos nos jornais e nos rodapés das televisões 
		erros ortográficos verdadeiramente inaceitáveis. Talvez a solução a 
		curto prazo seja encerrar cursos que não têm razão de existir e que se 
		limitam a formar pessoas, sem existir qualquer perspectiva ou garantia 
		de as colocar no mercado.
 
 A entrada dos grupos económicos no negócio dos «media» condicionou a 
		qualidade?
 
 Sem dúvida. Não pode ser dissociável essa ligação. Os grupos económicos 
		ameaçam quase diariamente com despedimentos, redução de quadros, etc. 
		Eles não estão para perder dinheiro e como a sua actividade abarca 
		múltiplas áreas, se perdem num determinado lado querem recuperar 
		rapidamente noutro. Esta lógica atinge a Comunicação Social, com a 
		agravante de o mercado publicitário hoje estar muito mais reduzido e 
		sobretudo mais dividido. A consequência disso é a baixa das receitas, 
		que sentimos aqui na RR. Os reajustamentos nos quadros é normalmente 
		feito em prejuízo dos jornalistas. Com tantos constrangimentos, é 
		natural que o produto final seja beliscado.
 
 A massificação do acesso à internet também prejudicou a Comunicação 
		Social em termos de modelo de negócio instalado?
 
 Hoje é possível ler os jornais de todo o mundo através do ecrã de um 
		computador e ouvir as emissões radiofónicas. Quando estive em África 
		adquiri o hábito de ouvir rádios brasileiras, e agora, muitos anos 
		depois, já em Portugal, recuperei essa tradição. Todos os fins-de-semana 
		dispenso algumas horas a ouvir as emissões de rádios brasileiras. Ontem 
		à noite estive madrugada dentro a seguir pela internet o relato da Rádio 
		Globo do clássico dos clássicos entre o Fluminense e o Flamengo, narrado 
		pelo José Carlos Araújo, um profissional muito competente, do qual sou 
		muito amigo.
  
 Nuno Dias da Silva
 Direitos Reservados
   
			
			
			Cara da Notícia
 Ribeiro Cristóvão 
			nasceu em Proença-a-Nova a 7 de Julho de 1939. Iniciou em Angola a 
			sua carreira jornalística na Rádio Clube do México. Foi para o Rádio 
			Clube do Huambo e ficou lá até Setembro de 1975. Trabalhou durante 
			12 anos na empresa cervejeira Cuca, tendo sido o responsável pelo 
			Departamento de relações públicas da Fábrica Nova Lisboa. Regressado 
			a Portugal, ingressou na Rádio Renascença, em Fevereiro de 1976. Na 
			emissora católica portuguesa foi chefe de redacção durante vários 
			anos. Participou em diversas reportagens de grande envergadura, das 
			quais se destacam visitas papais. Foi repórter na Assembleia da 
			República, durante quatro anos, entre 1977 e 1981. Foi um dos 
			fundadores do Departamento Desportivo da Rádio Renascença onde foi 
			responsável pela criação dos programas “Bola Branca” e “Frente 
			Desportiva”. Desempenhou funções de Director do Departamento de 
			desporto. 
 Na televisão, entrou, como colaborador, para a RTP, em 1982, ficando 
			ali até 1994. Apresentou os programas “Troféu”, na sua fórmula 
			inicial, “Girabola” e “Domingo Desportivo” Foi ainda responsável 
			pela edição diária e apresentação do programa “Remate” durante 
			vários anos.
 
 Colaborou na RTP Internacional e RTP África, editando e apresentando 
			programas como “Primeira Mão” e “Bancada Aberta”, destinados 
			especialmente às comunidades portuguesas radicadas no estrangeiro. 
			De 2001 até 2005 foi presidente da Assembleia Municipal de 
			Proença-a-Nova. Como deputado do PSD, eleito pelo círculo de Castelo 
			Branco (2003-2009), cargo que ocupou após substituir a jornalista 
			Maria Elisa, pertenceu à Comissão de Educação, Ciência e Cultura e à 
			Comissão do Euro 2004. Actualmente reformado, é assessor e 
			colaborador permanente da RR, sem funções executivas, mas com uma 
			ligação «continuadamente profunda», como se orgulha de dizer, à 
			emissora católica portuguesa. É também colaborador regular da 
			SIC-Notícias em comentários sobre futebol.
 
 Do seu currículo consta ainda uma Medalha de Mérito Desportivo.
  
 
           
		
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