CAMPEÃ NO TODO-O-TERRENO
Sonho africano de
Elizabete Jacinto
Elizabete Jacinto é dos nomes femininos
mais consagrados da competição mundial em Todo-o-Terreno. Ao vencer, o
Rali da Tunísia, em Maio de 2010, tornou-se a primeira mulher ao volante
de um camião a triunfar numa prova da taça do Mundo de Todo-o-Terreno. À
paixão da condução junta-se a paixão pela escrita e a aventura passa do
terreno para o seu novo romance juvenil, Irina no Master Rali. Elizabete
Jacinto, a responder por email, fala dos livros, de ralis e das razões
que a levaram depois de uma década a correr no Dakar, a deixar esta
competição. Mas “o sonho africano” continua e a piloto portuguesa
prepara a participação no Shamrock Rally du Maroc, este mês de Outubro,
enquanto no horizonte está o rali Africa Race, em 2011.
É autora de um novo romance juvenil, com a chancela da Editora
Plátano. “Irina no Master Rali” tem como protagonista Irina, uma jovem
inteligente e aventureira, que persegue um sonho. A ideia de escrever
este livro surge como?
O Master Rali foi um rali fantástico, longo, duro e feito numa época em
que ainda tinha muito pouca experiência de corridas. Vivi histórias
incríveis das quais poucas pessoas tomaram conhecimento. Confesso até
que me envergonhava de algumas. Guardei-as na memória a pensar que um
dia haveria de fazer qualquer coisa com elas. O tempo passou e quando a
Plátano me propôs escrever um livro de aventuras para os jovens, por
mais que pensasse, a ideia de pegar no Master Rali não me saia da
cabeça. Foi por isso que decidi construir uma história tendo como base a
corrida que eu própria tinha realizado.
Até que ponto é Irina o seu alter-ego e que mensagem quer passar com
este livro?
A Irina é uma personagem que tem uma história de vida muito particular
(que não é a minha) mas que nasceu para viver as minhas aventuras. É um
facto que alguns dos seus traços de carácter são também os meus.
Refiro-me á teimosia, á persistência, á capacidade de se atirar para
projectos que a aliciam mesmo que nem sempre seja capaz de avaliar muito
bem as consequências dos mesmos. Se tivesse uma personalidade muito
diferente da minha, muito provavelmente não seria capaz de viver o
Master Rali como eu o vivi!
Acima de tudo a mensagem que gostava de transmitir aos jovens é a de que
a vida pode ser muito interessante. Podemos criar os nossos projectos e
trabalhar para os concretizar. Isto faz-nos crescer e desenvolver as
nossas capacidades e este processo de construção é muito interessante e
dá uma grande satisfação.
Tinha também um pouco a intenção de demonstrar aos jovens de que é
possível viver aventuras reais que são mais saborosas dos que as que se
vivem através do ecrã do computador ou da televisão.
De certa forma é um livro didáctico que mostra bem que, na maior parte
das vezes, para atingirmos os nossos objectivos temos de enfrentar
situações difíceis. Passamos muitas vezes por processos de frustração,
pela sensação de fracasso e é preciso ultrapassá-los se queremos
prosseguir a nossa caminhada para a realização.
… e depois, confesso, há também um certo incentivo à prática do
desporto.
Ao vencer este ano o rali da Tunísia tornou-se a primeira mulher a
triunfar numa prova da taça do Mundo de Todo-o-Terreno, em camião. Que
sabor tem esta vitória?
A vitória tem sempre um sabor muito especial pois ela é a recompensa do
trabalho que se desenvolveu. Há muitos anos que trabalho para chegar à
vitória mas o facto de correr de camião, uma categoria onde não há muita
tradição, tornou tudo mais difícil. Demorei um bocadinho mais de tempo
pois tivemos de aprender tudo a partir do zero. Quer dizer, tivemos de
ser nós a descobrir o que era preciso fazer para pôr um camião a
competir. Finalmente estou a chegar onde queria e isso é realmente bom.
A Elisabete Jacinto afirmou «Não foi fácil tomar a decisão de não
alinhar pela 11ª vez num rali que durante tanto tempo me seduziu e
controlou completamente o rumo que dei à minha vida.» O que a levou a
deixar de querer correr no Dakar?
O facto de perceber que o Dakar que hoje se realiza na Argentina e no
Chile já não é o rali que durante tantos anos me fez sonhar e trabalhar.
Continua a ser ; uma grande corrida mas já não é do género de estarmos
entregues a nós próprios e à nossa capacidade de resolver problemas.
Realiza-se num espaço onde há gente, hotéis e rede de telemóvel por toda
a parte. Vou para o deserto para lutar com as minhas capacidades e com
as dificuldades do terreno, para me superar, para provar a mim própria
de que sou capaz de encontrar soluções para todos os problemas. Isso não
me é permitido na Argentina e no Chile. O rali Dakar é hoje um rali
muito diferente do que era em África.
Há dez anos participava na corrida mais dura do mundo, o Dakar, e
vencia a Taça das Senhoras em 2000. Há alguma história vivida no Dakar
que a tenha marcado em particular?
Todas as histórias vividas nesta corrida construíram um pouco a pessoa
que sou. Todas elas me deixaram algum ensinamento. O meu primeiro Dakar
foi todo ele uma história e daí ter decidido contá-la num livro de Banda
Desenhada:” Os Portugas no Dakar”. O primeiro que fiz de camião também
mas essa história ainda está toda por contar. A taça das Senhoras no ano
2000 foi um marco importante assim como o momento em que o camião ardeu.
Deixar de competir em moto e passar a competir em camião foi uma
decisão motivada por que razões?
Acima de tudo o que me dá gozo é fazer progressos. Tinha uma meta a
atingir com a moto que não consegui porque não me era possível reunir as
condições necessárias (em termos monetários) para treinar e evoluir.
Quando percebi que não podia chegar onde queria tomei a decisão de
abandonar a competição. A ideia de competir de camião veio imediatamente
como forma de substituir a moto. Percebi que com o camião poderia ser
mais competitiva e poderia conseguir uma boa classificação à geral.
Apesar do camião ser um veículo extremamente difícil todo o projecto se
tornou mais fácil de construir.
Em 2009, no ano em que o Dakar se realiza pela primeira vez no
continente Sul-Americano, o seu camião Man M2000 - a Princesa -
incendiou-se na quinta etapa do rali. Como é que ultrapassou essa
experiência negativa?
Foi um momento extremamente difícil. Vi arder de repente não só muitos
anos de trabalho como também o meu sonho. Achei que aquela era a minha
ultima corrida e isso foi extremamente doloroso. Por mais que me
esforçasse não via qualquer possibilidade de continuar. Por outro lado,
gostava imenso daquele camião e estava finalmente a ter bons resultados.
Acho que só ultrapassei o facto quando percebi que, eventualmente, teria
possibilidade de ter outro camião e voltar a competir.
O novo camião, o Man TGS, corresponde em tudo ao que é esperado de um
veículo de alta competição?
O MAN TGS é excelente e permite-me ter bons resultados mas é um camião
de série. Isto quer dizer que se trata de um camião concebido para
transportar carga mas que, com duas ou três pequenas alterações,
(nomeadamente ao nível dos amortecedores) acaba por poder competir.
Existe outra categoria nas corridas que é constituída pelos camiões que
são concebidos para correr e que, por essa razão, são mais competitivos.
São normalmente mais leves, mais potentes e, consequentemente mais
rápidos. Com estes não tenho condições de competir.
Está em preparação para o Shamrock Rally du Maroc. Que
características assume este rali que a levam a querer participar nele?
É um bom rali em termos de percurso e de organização. Tem a vantagem de
ser aqui à porta de casa, em Marrocos.
O terreno neste país, quer as pistas pedregosas quer as dunas ou as
montanhas, é extremamente difícil e às vezes perigoso. Exige uma grande
precisão de condução e um conjunto de opções que têm de ser muito bem
feitas. É um verdadeiro desafio.
A Elisabete Jacinto era a professora de Geografia com uma vida de
aventura fora da sala de aulas. Ser a professora “Indiana Jones” pesava
na forma como os seus alunos a viam?
O facto de terem uma professora que anda de moto e fazia corridas era
algo que seduzia os alunos. De certa forma acho que isso os predispunha
para uma boa relação… e eu tinha normalmente uma boa relação com eles.
Ensinar é uma actividade de que gosto muito.
As notícias do seu site dão conta de uma possível futura participação
no Africa Race, em 2011. O Africa Race é a continuação do sonho
africano?
Sem dúvida. O Africa Race é a prova que substitui o Dakar em África : os
mesmo quilómetros os mesmos países, o mesmo formato, o mesmo tipo de
dificuldades… o mesmo desafio e uma grande qualidade organizativa! Não
tem a notoriedade que tem o “Dakar” pois este rali já completou mais de
30 anos de existência e o Africa Race vai para a sua terceira edição.
Eugénia Sousa
Direitos Reservados
ENTREVISTA A JULIO CÉSAR
ARBOLEDA, DIRECTOR DE LA RED IBEROAMERICANA DE PEDAGOGÍA
Enseñar a pensar
Una de las inquietudes en materia
educativa se refiere al papel que tienen la escuela, el colegio y la
universidad, en una época en la que la información nos llega con un solo
click y de fuentes tan diversas. ¿En qué debe basarse la enseñanza para
saber aprovechar la avalancha de información que recibimos a diario? ¿De
qué manera y qué herramientas deben proporcionarse a los estudiantes?
A mi modo de ver se deben generar oportunidades y capacidades para que
los docentes y las instituciones de todos los niveles de escolaridad
diseñen e implementen programas y estrategias didácticas y metodológicas
de procesamiento de información. Como se expresa en el enunciado de la
pregunta, la actual sociedad global del conocimiento tiene como una de
sus expresiones la inmediatez de la información, en la que con solo
digitar en un Buscador, sea este Google u otro, palabras claves
relacionadas con el tema de conocimiento que requiero, por ejemplo,
“estrategias de aprendizaje discapacidad”, se impone de ipso facto en la
pantalla del ordenador un número determinado de enlaces que nos llevan a
documentos sobre este. Esto es magnífico, pero el asunto que interesa no
es la cantidad sino la calidad de la información, y esta última
característica precisa de la capacidad y disposición para el análisis
crítico y propositivo.
La cuestión institucional o pedagógica es impedir que estas
posibilidades educativas deriven peyorativamente en manifestaciones
facilistas como “copiar y pegar”, que es el lamento inactivo de los
docentes frente a una cultura que erosiona la Academia, en virtud de la
cual se permite en gran medida que los estudiantes entreguen informes o
trabajos con nimio procesamiento o elaboración mental y en los que
predomina el copiado de información obtenida sobre todo por internet.
Ante esta situación es pertinente que los profesores sean capacitados en
dispositivos tales como las relatorías cognitivas, las macrorrelatorías
de investigación en el aula, reseñas críticas, mapas cognitivos y otras
herramientas de organización, procesamiento y uso de información, así
como generación de conocimiento, que permitan desarrollar capacidades,
habilidades y actitudes para apropiar y generar conocimiento, como
condición de desarrollo de competencias y comprensiones. Sería todavía
más deseable que tales insumos para el aprendizaje se enmarcaran en
programas transversales de lectura – escritura, desarrollo de
pensamientos múltiples, entre otros que nos permitan intervenir frente a
esta cultura de la medianía, en que las cosas las hacemos a medias, por
hacer, sin mucho o con mínimo esfuerzo.
¿Cómo llevar a la práctica esa necesidad de enseñar a pensar?
La pregunta es pertinente por varias razones. Enseñar a pensar significa
e implica saber intervenir en los procesos de desarrollo de capacidades,
habilidades, destrezas y actitudes para pensar, es decir para que los
sujetos educables, sean estudiantes, profesores, trabajadores,
directivos, ciudadanos, nos acostumbremos a usar operaciones mentales,
estrategias y representaciones que nos permitan proceder con mayor éxito
frente a retos y complejidades de la vida escolar, laboral, familiar y
cotidiana. Un programa institucional transversal de desarrollo de
pensamientos múltiples se justifica porque, por un lado, permite que
todos o la mayoría de directivos y profesores (no solo unos cuantos)
realicen su debida intervención de acuerdo con los conocimientos que
vayan construyendo, con el contexto y los sujetos específicos con
quienes interactúen, así como con los criterios didácticos,
curriculares, evaluativos, metodológicos y pedagógicos que acuerden en
el marco de tal programa.
Por otro lado, asumir tal enseñanza como un programa institucional
transversal para la formación integral demanda hacerlo a la luz del
sentido último del acto de pensar. Como lo he expresado en diversos
talleres, artículos y libros sobre el tema, quien realmente piensa lo
demuestra, más que en un papel o un texto, en la práctica, si se
prefiere, en la cotidianidad. En sentido práctico pensar es usar en la
vida la inteligencia, esto es las habilidades y estrategias de índole
psíquico y/o somático que el individuo o una organización vayan
construyendo. De acuerdo con prestantes cognitivistas, muchas personas
pueden ser inteligentes, léase diestras en algo, pero no han aprendido a
pensar. Mi mamá, te lo digo en sentido anecdótico, algunas veces nos
dice a sus hijos: usted tan inteligente que es en el estudio y tan bruto
en la vida. No hay, a mi parecer, una mejor forma de definir el acto de
pensar. Proceder adecuadamente en la vida, para enfrentar la situaciones
que nos corresponda vivir y para construir mundos mejores, más dignos,
requiere el pensamiento. Dependiendo de las situaciones se precisa de
uno o varios tipos de pensamiento, sea lateral, lógico, analítico,
argumentativo, pragmático, conceptual, creativo, axiológico, complejo,
entre otros. Académicamente, cada uno de estos impone una didáctica y
metodologías específicas.
De ahí la importancia de que los profesores utilicen dispositivos para
que los estudiantes y ellos mismos puedan aplicar los temas u objetos de
estudio en problemas, situaciones y eventos de la vida. En lo personal,
lo que más me ha seducido en los últimos 25 años de mi vida, es la
investigación y enseñanza de tales estrategias pedagógicas, aplicables
en diversas áreas y niveles de escolaridad, como en los contextos
laboral y familiar.
¿Cómo vencer un sistema que durante años nos hizo memoristas o no
reflexivos?
Ir más allá de la memoria pasa por superar las acciones aisladas,
debiendo involucrar dinámicas adscritas a políticas estatales e
institucionales. Además de la cultura memorística el problema son sus
correlatos, entre otros la apatía y la indiferencia frente a lo
académico y frente al sentido de la vida, agudizados por los valores
preponderantes del mundo de hoy, de los que está exenta la
responsabilidad de vivir en condiciones dignas. Tal problema lo viven
mucho más los sistemas educativos latinoamericanos y aquellos donde las
condiciones de existencia son más contradictorias. Todos los sistemas
educativos del mundo de hoy se han impuesto la tarea de enfrentar la
cultura memorística, acechados por el imperativo global de educar por
competencias, pero no el de la cultura del individualismo, de la
inequidad y la desigualdad, del culto al facilismo, al consumo, que son
generadores de los hábitos negativos de estudio y de vida. Dado que el
asunto es de fondo, nuestros sistemas educativos son inermes frente a
estos problemas. Si los gobiernos no invierten en aspectos sociales como
la educación de calidad, léase digna, haciéndolo de manera adecuada, es
decir con las políticas, programas, estrategias y recursos necesarios,
así como el uso idóneo de estos, dichos hábitos y culturas se sostendrán
sempiternamente.
En esta línea de reflexión creo que los sistemas educativos deberían ser
más autónomos frente a las demandas del mundo globalizado, al menos ser
más responsables al momento de reproducir los intereses del mercado
global. Es claro que el saber es asumido como el bien económico esencial
de la sociedad global y se revela como el elemento capital para la
configuración del sistema social del Siglo XXI. En consecuencia, la
sociedad planetaria fuerza el desarrollo de reformas educativas
heterónomas, basadas en esta percepción del saber, siendo el enfoque por
competencias la orden que actualmente avanzan todos los sistemas
educativos. ¿Cuál es, a mi parecer, el alcance que en materia de
desarrollo humano y de la vida conlleva esta pulsión de nuestra
civilización mundializada? Si bien desde el ámbito de la rentabilidad
este proceso ha sido en general positivo para las sociedades que lo han
podido y sabido asumir, e insufla el ego individual y social, visto a
distancia termina erosionando al ser como unidad compleja.
Justamente desde la Red Iberoameroamericana de Pedagogía que dirijo
promovemos que se generen espacios para analizar las bondades y
perjuicios de tal enfoque, y diseñar oportunidades para asumir la
función de educar (...).
Valdría la pena que los sistemas educativos fueran más flexibles,
basándose, además del enfoque por competencias, en referentes como la
pedagogía por proyectos de vida, perspectiva esta que ofrece insumos
teóricos, conceptuales, críticos, metodológicos, didácticos,
curriculares y evaluativos que, institucionalizados, asumidos como
política educativa, fortalecen procesos como la apropiación intelectual
y afectiva del conocimiento, que exige la incorporación adecuada de la
memoria en el aprendizaje, así como el uso y aplicación digna y no
utilitarista de este, en razón de afirmar la vida y al individuo como
persona, fortaleciendo sus proyectos de vida.
Katherine Villavicencio
(Diario El Universo_ Ecuador)
LUÍS GOÍS EM ENTREVISTA
Canção de Coimbra tem
mais encanto...
Faz parte da tradição académica um pouco
por todo o país e é apelidado pelos estudantes de Fado de Coimbra. Porém
este fado teve origem em Lisboa e a denominação correcta deverá ser
Canção de Coimbra. Quem o afirma é Luiz Goes, fadista Conimbricense e
também médico estomatologista, nascido no seio de uma família muito
ligada à música. Apesar de ser reconhecido como a música de apresentação
de Portugal ao estrangeiro, o fado encontra-se também ligado à vida
académica tendo vindo a evoluir ao longo dos tempos.
Fado de Coimbra. Esta é uma expressão regularmente usada, qual o seu
significado?
Ao contrário do que alguns pensam, nem sempre foi utilizada a expressão
“Fado de Coimbra”. Na verdade deveria, quanto a mim, falar-se de “música
de matriz coimbrã”, dadas as suas múltiplas origens, quer escolares,
quer do povo da cidade, quer das denominadas províncias ultramarinas,
quer sobretudo do Brasil. Acrescento que na chamada “1ª época de oiro”
da música de Coimbra – anos vinte e trinta – já alguns autores e
intérpretes designavam nos seus discos os temas gravados de fado –
canção e não apenas de fado.
Alguns teóricos apresentam o Fado de Coimbra como uma derivação do
Fado de Lisboa. Existe essa derivação? Quais as diferenças entre ambos?
Essa teoria tem uma explicação: Afonso Costa, ao criar em 1911 a
Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, fez que se interrompesse
a leva de estudantes que da capital se deslocavam para Coimbra e que,
legitimamente, contribuíram para a divulgação do fado lisboeta na
Academia, com as naturais modificações impostas por uma sensibilidade
específica da “malta” Coimbrã e pelo uso de instrumentos
morfologicamente diferentes.
A história dá-nos conta que a ligação entre o fado e os festejos
académicos já vêm desde o século XVI. Como surge esta ligação?
Seria talvez melhor salientar, que nesse século a música utilizada seria
naturalmente de raiz trovadoresca e não outra.
Ainda hoje o Fado de Coimbra se encontra associado à vida académica
da Universidade de Coimbra. É legítima esta conotação?
Julgo que a música de “matriz coimbrã”, ou se quiser a Canção de
Coimbra, estão de facto ligadas à vida académica.
A expressão Fado de Coimbra é regularmente associada aos estudantes
de traje e capa negra. Crê que estes sentem verdadeiramente o que é
cantar o Fado?
Hoje é mais utilizada a designação de Canção de Coimbra que, a nível
universal, vai muito para além da simples conotação com a capa e batina.
As serenatas são umas das formas em que este tipo de música é
apresentado. Foram introduzidas pelos estudantes? Como surgem na
tradição académica de Coimbra e de outros pontos do país?
Sem dúvida que foram naturalmente introduzidas pelos estudantes, tendo
como objectivo essencial o eterno culto da mulher, na melhor tradição
trovadoresca.
Este Fado tem vindo a sofrer alterações ao longo do tempo?
A canção de Coimbra (para mim o fado é de Lisboa!) tem sofrido ao longo
dos tempos as alterações que as realidades sócio-político-culturais do
país e do mundo exigem. Por outro lado é preciso não esquecer, no que
diz respeito aos instrumentos, a acção impar de artistas como Artur
Paredes, que fizeram da guitarra portuguesa muito ou quase tudo do que
ela é hoje.
Qual o futuro do Fado de Coimbra? Continuará ligado à vida académica?
Penso que continuará ligado à vida académica embora com as “marcas” que
o decorrer dos tempos exige.
Daniela Silva (texto)
João Vasco (foto)
Cara da Notícia
Luiz Fernando de Sousa
Pires de Goes nasceu em Coimbra em 1933 no seio de uma família muito
ligada à música. Influenciado pelo seu tio Armando Goes, Luiz Goes
tornou-se uma das principais referências da canção de Coimbra.
Apesar de nunca ter feito da música a sua profissão, aos 14 anos já
era convidado para actuações em festas e reuniões de convívio no
seio académico. Formou-se em Medicina aos 25 anos com a
especialidade de Estomatologia, actividade que exerceu até há poucos
anos. Ao longo da sua carreira académica cruzou-se com José Afonso e
António Portugal com os quais gravou vários álbuns. Dono de um
extenso repertório, Luiz Goes defende a existência de uma canção de
Coimbra que tem dado a conhecer desde o primeiro álbum que gravou em
1952.
|