Director Fundador: João Ruivo    Director: João Carrega    Publicação Mensal    Ano XIII    Nº152   Outubro 2010

Entrevista

CAMPEÃ NO TODO-O-TERRENO

Sonho africano de Elizabete Jacinto

Elizabete Jacinto é dos nomes femininos mais consagrados da competição mundial em Todo-o-Terreno. Ao vencer, o Rali da Tunísia, em Maio de 2010, tornou-se a primeira mulher ao volante de um camião a triunfar numa prova da taça do Mundo de Todo-o-Terreno. À paixão da condução junta-se a paixão pela escrita e a aventura passa do terreno para o seu novo romance juvenil, Irina no Master Rali. Elizabete Jacinto, a responder por email, fala dos livros, de ralis e das razões que a levaram depois de uma década a correr no Dakar, a deixar esta competição. Mas “o sonho africano” continua e a piloto portuguesa prepara a participação no Shamrock Rally du Maroc, este mês de Outubro, enquanto no horizonte está o rali Africa Race, em 2011.

É autora de um novo romance juvenil, com a chancela da Editora Plátano. “Irina no Master Rali” tem como protagonista Irina, uma jovem inteligente e aventureira, que persegue um sonho. A ideia de escrever este livro surge como?

O Master Rali foi um rali fantástico, longo, duro e feito numa época em que ainda tinha muito pouca experiência de corridas. Vivi histórias incríveis das quais poucas pessoas tomaram conhecimento. Confesso até que me envergonhava de algumas. Guardei-as na memória a pensar que um dia haveria de fazer qualquer coisa com elas. O tempo passou e quando a Plátano me propôs escrever um livro de aventuras para os jovens, por mais que pensasse, a ideia de pegar no Master Rali não me saia da cabeça. Foi por isso que decidi construir uma história tendo como base a corrida que eu própria tinha realizado.

Até que ponto é Irina o seu alter-ego e que mensagem quer passar com este livro?

A Irina é uma personagem que tem uma história de vida muito particular (que não é a minha) mas que nasceu para viver as minhas aventuras. É um facto que alguns dos seus traços de carácter são também os meus. Refiro-me á teimosia, á persistência, á capacidade de se atirar para projectos que a aliciam mesmo que nem sempre seja capaz de avaliar muito bem as consequências dos mesmos. Se tivesse uma personalidade muito diferente da minha, muito provavelmente não seria capaz de viver o Master Rali como eu o vivi!

Acima de tudo a mensagem que gostava de transmitir aos jovens é a de que a vida pode ser muito interessante. Podemos criar os nossos projectos e trabalhar para os concretizar. Isto faz-nos crescer e desenvolver as nossas capacidades e este processo de construção é muito interessante e dá uma grande satisfação.

Tinha também um pouco a intenção de demonstrar aos jovens de que é possível viver aventuras reais que são mais saborosas dos que as que se vivem através do ecrã do computador ou da televisão.

De certa forma é um livro didáctico que mostra bem que, na maior parte das vezes, para atingirmos os nossos objectivos temos de enfrentar situações difíceis. Passamos muitas vezes por processos de frustração, pela sensação de fracasso e é preciso ultrapassá-los se queremos prosseguir a nossa caminhada para a realização.

… e depois, confesso, há também um certo incentivo à prática do desporto.

Ao vencer este ano o rali da Tunísia tornou-se a primeira mulher a triunfar numa prova da taça do Mundo de Todo-o-Terreno, em camião. Que sabor tem esta vitória?

A vitória tem sempre um sabor muito especial pois ela é a recompensa do trabalho que se desenvolveu. Há muitos anos que trabalho para chegar à vitória mas o facto de correr de camião, uma categoria onde não há muita tradição, tornou tudo mais difícil. Demorei um bocadinho mais de tempo pois tivemos de aprender tudo a partir do zero. Quer dizer, tivemos de ser nós a descobrir o que era preciso fazer para pôr um camião a competir. Finalmente estou a chegar onde queria e isso é realmente bom.

A Elisabete Jacinto afirmou «Não foi fácil tomar a decisão de não alinhar pela 11ª vez num rali que durante tanto tempo me seduziu e controlou completamente o rumo que dei à minha vida.» O que a levou a deixar de querer correr no Dakar?

O facto de perceber que o Dakar que hoje se realiza na Argentina e no Chile já não é o rali que durante tantos anos me fez sonhar e trabalhar. Continua a ser ; uma grande corrida mas já não é do género de estarmos entregues a nós próprios e à nossa capacidade de resolver problemas. Realiza-se num espaço onde há gente, hotéis e rede de telemóvel por toda a parte. Vou para o deserto para lutar com as minhas capacidades e com as dificuldades do terreno, para me superar, para provar a mim própria de que sou capaz de encontrar soluções para todos os problemas. Isso não me é permitido na Argentina e no Chile. O rali Dakar é hoje um rali muito diferente do que era em África.

Há dez anos participava na corrida mais dura do mundo, o Dakar, e vencia a Taça das Senhoras em 2000. Há alguma história vivida no Dakar que a tenha marcado em particular?

Todas as histórias vividas nesta corrida construíram um pouco a pessoa que sou. Todas elas me deixaram algum ensinamento. O meu primeiro Dakar foi todo ele uma história e daí ter decidido contá-la num livro de Banda Desenhada:” Os Portugas no Dakar”. O primeiro que fiz de camião também mas essa história ainda está toda por contar. A taça das Senhoras no ano 2000 foi um marco importante assim como o momento em que o camião ardeu.

Deixar de competir em moto e passar a competir em camião foi uma decisão motivada por que razões?

Acima de tudo o que me dá gozo é fazer progressos. Tinha uma meta a atingir com a moto que não consegui porque não me era possível reunir as condições necessárias (em termos monetários) para treinar e evoluir. Quando percebi que não podia chegar onde queria tomei a decisão de abandonar a competição. A ideia de competir de camião veio imediatamente como forma de substituir a moto. Percebi que com o camião poderia ser mais competitiva e poderia conseguir uma boa classificação à geral. Apesar do camião ser um veículo extremamente difícil todo o projecto se tornou mais fácil de construir.

Em 2009, no ano em que o Dakar se realiza pela primeira vez no continente Sul-Americano, o seu camião Man M2000 - a Princesa - incendiou-se na quinta etapa do rali. Como é que ultrapassou essa experiência negativa?

Foi um momento extremamente difícil. Vi arder de repente não só muitos anos de trabalho como também o meu sonho. Achei que aquela era a minha ultima corrida e isso foi extremamente doloroso. Por mais que me esforçasse não via qualquer possibilidade de continuar. Por outro lado, gostava imenso daquele camião e estava finalmente a ter bons resultados.

Acho que só ultrapassei o facto quando percebi que, eventualmente, teria possibilidade de ter outro camião e voltar a competir.

O novo camião, o Man TGS, corresponde em tudo ao que é esperado de um veículo de alta competição?

O MAN TGS é excelente e permite-me ter bons resultados mas é um camião de série. Isto quer dizer que se trata de um camião concebido para transportar carga mas que, com duas ou três pequenas alterações, (nomeadamente ao nível dos amortecedores) acaba por poder competir.

Existe outra categoria nas corridas que é constituída pelos camiões que são concebidos para correr e que, por essa razão, são mais competitivos. São normalmente mais leves, mais potentes e, consequentemente mais rápidos. Com estes não tenho condições de competir.

Está em preparação para o Shamrock Rally du Maroc. Que características assume este rali que a levam a querer participar nele?

É um bom rali em termos de percurso e de organização. Tem a vantagem de ser aqui à porta de casa, em Marrocos.

O terreno neste país, quer as pistas pedregosas quer as dunas ou as montanhas, é extremamente difícil e às vezes perigoso. Exige uma grande precisão de condução e um conjunto de opções que têm de ser muito bem feitas. É um verdadeiro desafio.

A Elisabete Jacinto era a professora de Geografia com uma vida de aventura fora da sala de aulas. Ser a professora “Indiana Jones” pesava na forma como os seus alunos a viam?

O facto de terem uma professora que anda de moto e fazia corridas era algo que seduzia os alunos. De certa forma acho que isso os predispunha para uma boa relação… e eu tinha normalmente uma boa relação com eles. Ensinar é uma actividade de que gosto muito.

As notícias do seu site dão conta de uma possível futura participação no Africa Race, em 2011. O Africa Race é a continuação do sonho africano?

Sem dúvida. O Africa Race é a prova que substitui o Dakar em África : os mesmo quilómetros os mesmos países, o mesmo formato, o mesmo tipo de dificuldades… o mesmo desafio e uma grande qualidade organizativa! Não tem a notoriedade que tem o “Dakar” pois este rali já completou mais de 30 anos de existência e o Africa Race vai para a sua terceira edição.

Eugénia Sousa
Direitos Reservados

 

 

 

ENTREVISTA A JULIO CÉSAR ARBOLEDA, DIRECTOR DE LA RED IBEROAMERICANA DE PEDAGOGÍA

Enseñar a pensar

Una de las inquietudes en materia educativa se refiere al papel que tienen la escuela, el colegio y la universidad, en una época en la que la información nos llega con un solo click y de fuentes tan diversas. ¿En qué debe basarse la enseñanza para saber aprovechar la avalancha de información que recibimos a diario? ¿De qué manera y qué herramientas deben proporcionarse a los estudiantes?

A mi modo de ver se deben generar oportunidades y capacidades para que los docentes y las instituciones de todos los niveles de escolaridad diseñen e implementen programas y estrategias didácticas y metodológicas de procesamiento de información. Como se expresa en el enunciado de la pregunta, la actual sociedad global del conocimiento tiene como una de sus expresiones la inmediatez de la información, en la que con solo digitar en un Buscador, sea este Google u otro, palabras claves relacionadas con el tema de conocimiento que requiero, por ejemplo, “estrategias de aprendizaje discapacidad”, se impone de ipso facto en la pantalla del ordenador un número determinado de enlaces que nos llevan a documentos sobre este. Esto es magnífico, pero el asunto que interesa no es la cantidad sino la calidad de la información, y esta última característica precisa de la capacidad y disposición para el análisis crítico y propositivo.

La cuestión institucional o pedagógica es impedir que estas posibilidades educativas deriven peyorativamente en manifestaciones facilistas como “copiar y pegar”, que es el lamento inactivo de los docentes frente a una cultura que erosiona la Academia, en virtud de la cual se permite en gran medida que los estudiantes entreguen informes o trabajos con nimio procesamiento o elaboración mental y en los que predomina el copiado de información obtenida sobre todo por internet.

Ante esta situación es pertinente que los profesores sean capacitados en dispositivos tales como las relatorías cognitivas, las macrorrelatorías de investigación en el aula, reseñas críticas, mapas cognitivos y otras herramientas de organización, procesamiento y uso de información, así como generación de conocimiento, que permitan desarrollar capacidades, habilidades y actitudes para apropiar y generar conocimiento, como condición de desarrollo de competencias y comprensiones. Sería todavía más deseable que tales insumos para el aprendizaje se enmarcaran en programas transversales de lectura – escritura, desarrollo de pensamientos múltiples, entre otros que nos permitan intervenir frente a esta cultura de la medianía, en que las cosas las hacemos a medias, por hacer, sin mucho o con mínimo esfuerzo.

¿Cómo llevar a la práctica esa necesidad de enseñar a pensar?

La pregunta es pertinente por varias razones. Enseñar a pensar significa e implica saber intervenir en los procesos de desarrollo de capacidades, habilidades, destrezas y actitudes para pensar, es decir para que los sujetos educables, sean estudiantes, profesores, trabajadores, directivos, ciudadanos, nos acostumbremos a usar operaciones mentales, estrategias y representaciones que nos permitan proceder con mayor éxito frente a retos y complejidades de la vida escolar, laboral, familiar y cotidiana. Un programa institucional transversal de desarrollo de pensamientos múltiples se justifica porque, por un lado, permite que todos o la mayoría de directivos y profesores (no solo unos cuantos) realicen su debida intervención de acuerdo con los conocimientos que vayan construyendo, con el contexto y los sujetos específicos con quienes interactúen, así como con los criterios didácticos, curriculares, evaluativos, metodológicos y pedagógicos que acuerden en el marco de tal programa.

Por otro lado, asumir tal enseñanza como un programa institucional transversal para la formación integral demanda hacerlo a la luz del sentido último del acto de pensar. Como lo he expresado en diversos talleres, artículos y libros sobre el tema, quien realmente piensa lo demuestra, más que en un papel o un texto, en la práctica, si se prefiere, en la cotidianidad. En sentido práctico pensar es usar en la vida la inteligencia, esto es las habilidades y estrategias de índole psíquico y/o somático que el individuo o una organización vayan construyendo. De acuerdo con prestantes cognitivistas, muchas personas pueden ser inteligentes, léase diestras en algo, pero no han aprendido a pensar. Mi mamá, te lo digo en sentido anecdótico, algunas veces nos dice a sus hijos: usted tan inteligente que es en el estudio y tan bruto en la vida. No hay, a mi parecer, una mejor forma de definir el acto de pensar. Proceder adecuadamente en la vida, para enfrentar la situaciones que nos corresponda vivir y para construir mundos mejores, más dignos, requiere el pensamiento. Dependiendo de las situaciones se precisa de uno o varios tipos de pensamiento, sea lateral, lógico, analítico, argumentativo, pragmático, conceptual, creativo, axiológico, complejo, entre otros. Académicamente, cada uno de estos impone una didáctica y metodologías específicas.

De ahí la importancia de que los profesores utilicen dispositivos para que los estudiantes y ellos mismos puedan aplicar los temas u objetos de estudio en problemas, situaciones y eventos de la vida. En lo personal, lo que más me ha seducido en los últimos 25 años de mi vida, es la investigación y enseñanza de tales estrategias pedagógicas, aplicables en diversas áreas y niveles de escolaridad, como en los contextos laboral y familiar.

¿Cómo vencer un sistema que durante años nos hizo memoristas o no reflexivos?

Ir más allá de la memoria pasa por superar las acciones aisladas, debiendo involucrar dinámicas adscritas a políticas estatales e institucionales. Además de la cultura memorística el problema son sus correlatos, entre otros la apatía y la indiferencia frente a lo académico y frente al sentido de la vida, agudizados por los valores preponderantes del mundo de hoy, de los que está exenta la responsabilidad de vivir en condiciones dignas. Tal problema lo viven mucho más los sistemas educativos latinoamericanos y aquellos donde las condiciones de existencia son más contradictorias. Todos los sistemas educativos del mundo de hoy se han impuesto la tarea de enfrentar la cultura memorística, acechados por el imperativo global de educar por competencias, pero no el de la cultura del individualismo, de la inequidad y la desigualdad, del culto al facilismo, al consumo, que son generadores de los hábitos negativos de estudio y de vida. Dado que el asunto es de fondo, nuestros sistemas educativos son inermes frente a estos problemas. Si los gobiernos no invierten en aspectos sociales como la educación de calidad, léase digna, haciéndolo de manera adecuada, es decir con las políticas, programas, estrategias y recursos necesarios, así como el uso idóneo de estos, dichos hábitos y culturas se sostendrán sempiternamente.

En esta línea de reflexión creo que los sistemas educativos deberían ser más autónomos frente a las demandas del mundo globalizado, al menos ser más responsables al momento de reproducir los intereses del mercado global. Es claro que el saber es asumido como el bien económico esencial de la sociedad global y se revela como el elemento capital para la configuración del sistema social del Siglo XXI. En consecuencia, la sociedad planetaria fuerza el desarrollo de reformas educativas heterónomas, basadas en esta percepción del saber, siendo el enfoque por competencias la orden que actualmente avanzan todos los sistemas educativos. ¿Cuál es, a mi parecer, el alcance que en materia de desarrollo humano y de la vida conlleva esta pulsión de nuestra civilización mundializada? Si bien desde el ámbito de la rentabilidad este proceso ha sido en general positivo para las sociedades que lo han podido y sabido asumir, e insufla el ego individual y social, visto a distancia termina erosionando al ser como unidad compleja.

Justamente desde la Red Iberoameroamericana de Pedagogía que dirijo promovemos que se generen espacios para analizar las bondades y perjuicios de tal enfoque, y diseñar oportunidades para asumir la función de educar (...).

Valdría la pena que los sistemas educativos fueran más flexibles, basándose, además del enfoque por competencias, en referentes como la pedagogía por proyectos de vida, perspectiva esta que ofrece insumos teóricos, conceptuales, críticos, metodológicos, didácticos, curriculares y evaluativos que, institucionalizados, asumidos como política educativa, fortalecen procesos como la apropiación intelectual y afectiva del conocimiento, que exige la incorporación adecuada de la memoria en el aprendizaje, así como el uso y aplicación digna y no utilitarista de este, en razón de afirmar la vida y al individuo como persona, fortaleciendo sus proyectos de vida.

Katherine Villavicencio
(Diario El Universo_ Ecuador)
 

 

 

 

LUÍS GOÍS EM ENTREVISTA

Canção de Coimbra tem mais encanto...

Faz parte da tradição académica um pouco por todo o país e é apelidado pelos estudantes de Fado de Coimbra. Porém este fado teve origem em Lisboa e a denominação correcta deverá ser Canção de Coimbra. Quem o afirma é Luiz Goes, fadista Conimbricense e também médico estomatologista, nascido no seio de uma família muito ligada à música. Apesar de ser reconhecido como a música de apresentação de Portugal ao estrangeiro, o fado encontra-se também ligado à vida académica tendo vindo a evoluir ao longo dos tempos.

Fado de Coimbra. Esta é uma expressão regularmente usada, qual o seu significado?

Ao contrário do que alguns pensam, nem sempre foi utilizada a expressão “Fado de Coimbra”. Na verdade deveria, quanto a mim, falar-se de “música de matriz coimbrã”, dadas as suas múltiplas origens, quer escolares, quer do povo da cidade, quer das denominadas províncias ultramarinas, quer sobretudo do Brasil. Acrescento que na chamada “1ª época de oiro” da música de Coimbra – anos vinte e trinta – já alguns autores e intérpretes designavam nos seus discos os temas gravados de fado – canção e não apenas de fado.

Alguns teóricos apresentam o Fado de Coimbra como uma derivação do Fado de Lisboa. Existe essa derivação? Quais as diferenças entre ambos?

Essa teoria tem uma explicação: Afonso Costa, ao criar em 1911 a Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, fez que se interrompesse a leva de estudantes que da capital se deslocavam para Coimbra e que, legitimamente, contribuíram para a divulgação do fado lisboeta na Academia, com as naturais modificações impostas por uma sensibilidade específica da “malta” Coimbrã e pelo uso de instrumentos morfologicamente diferentes.

A história dá-nos conta que a ligação entre o fado e os festejos académicos já vêm desde o século XVI. Como surge esta ligação?

Seria talvez melhor salientar, que nesse século a música utilizada seria naturalmente de raiz trovadoresca e não outra.

Ainda hoje o Fado de Coimbra se encontra associado à vida académica da Universidade de Coimbra. É legítima esta conotação?

Julgo que a música de “matriz coimbrã”, ou se quiser a Canção de Coimbra, estão de facto ligadas à vida académica.

A expressão Fado de Coimbra é regularmente associada aos estudantes de traje e capa negra. Crê que estes sentem verdadeiramente o que é cantar o Fado?

Hoje é mais utilizada a designação de Canção de Coimbra que, a nível universal, vai muito para além da simples conotação com a capa e batina.

As serenatas são umas das formas em que este tipo de música é apresentado. Foram introduzidas pelos estudantes? Como surgem na tradição académica de Coimbra e de outros pontos do país?

Sem dúvida que foram naturalmente introduzidas pelos estudantes, tendo como objectivo essencial o eterno culto da mulher, na melhor tradição trovadoresca.

Este Fado tem vindo a sofrer alterações ao longo do tempo?

A canção de Coimbra (para mim o fado é de Lisboa!) tem sofrido ao longo dos tempos as alterações que as realidades sócio-político-culturais do país e do mundo exigem. Por outro lado é preciso não esquecer, no que diz respeito aos instrumentos, a acção impar de artistas como Artur Paredes, que fizeram da guitarra portuguesa muito ou quase tudo do que ela é hoje.

Qual o futuro do Fado de Coimbra? Continuará ligado à vida académica?

Penso que continuará ligado à vida académica embora com as “marcas” que o decorrer dos tempos exige.

Daniela Silva (texto)
João Vasco
(foto)

 


Cara da Notícia

Luiz Fernando de Sousa Pires de Goes nasceu em Coimbra em 1933 no seio de uma família muito ligada à música. Influenciado pelo seu tio Armando Goes, Luiz Goes tornou-se uma das principais referências da canção de Coimbra. Apesar de nunca ter feito da música a sua profissão, aos 14 anos já era convidado para actuações em festas e reuniões de convívio no seio académico. Formou-se em Medicina aos 25 anos com a especialidade de Estomatologia, actividade que exerceu até há poucos anos. Ao longo da sua carreira académica cruzou-se com José Afonso e António Portugal com os quais gravou vários álbuns. Dono de um extenso repertório, Luiz Goes defende a existência de uma canção de Coimbra que tem dado a conhecer desde o primeiro álbum que gravou em 1952.
 

 


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