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       MIRA AMARAL, ECONOMISTA E 
		PRESIDENTE DO BANCO BIC PORTUGUÊS 
      "Temos travessia 
		no deserto para muitos e bons anos" 
		  
      Portugal não sairá da crise tão cedo. 
		Palavra de economista. Luís Mira Amaral afirma que o país desaproveitou 
		o período de vacas gordas, e de aluno aplicado rapidamente reprovou no 
		controle da despesa pública. O resto já se sabe. A receita do 
		ex-ministro é simples e radical: cortes no número de deputados, câmaras 
		municipais, freguesias e na composição dos governos. Sobre o sector do 
		ensino diz que a situação é dramática e diagnostica os problemas: sobra 
		em dinheiro, o que falta em rigor e competência e critica sem piedade as 
		teorias modernas dos “sinistros” pedagogos do ensino. Mira Amaral 
		conclui com uma nova pista para debate: as universidades devem reciclar 
		jovens já formados, reorientando as suas qualificações para suprir 
		necessidades do mercado laboral. 
		 
		Lançou recentemente «E depois da crise?». É um livro que perspectiva 
		o futuro da economia nacional e mundial após serem ultrapassadas as 
		dificuldades? 
		 
		É um livro que aponta os cenários possíveis para a saída da actual 
		crise. Isso significa que o mundo já perspectiva cenários posteriores à 
		crise, uns mais e outros menos felizes. Acontece que há países melhor 
		preparados do que outros para superá-la. 
		 
		E no nosso caso? 
		 
		De uma forma clara a objectiva, afirmo que Portugal não vai sair da 
		crise. Porque antes desta tormenta financeira que assolou o mundo, o 
		país já vivia numa crise estrutural muito séria, desde os tempos do 
		governo Guterres. Simplesmente a conjuntura tornou mais explícitas todas 
		as nossas fragilidades estruturais. Eu previ que em 2013 ou 2014 
		estaríamos na situação actual, mas a nossa impreparação acelerou o 
		processo. Nós antes da crise já estávamos em péssima forma física, só 
		que em tempo de vacas gordas não fizemos o trabalho de casa e o 
		resultado está à vista. 
		 
		Há dias um jornal especializado questionava: «Afinal quem tramou a 
		economia portuguesa?». Tem resposta? 
		 
		Fomos bons alunos para apoiar a boleia da Europa. Quando entrámos na 
		moeda única, como que nos deslumbrámos, esquecendo-nos que o trabalho 
		feito anteriormente era para prosseguir. O governo Guterres poupou cerca 
		de 5 pontos percentuais nos juros da dívida pública e aproveitou isso 
		para aumentar a despesa pública corrente. A expansão da despesa pública 
		é eloquente: era de 26,7 por cento do PIB, em 1990, quando eu era 
		ministro, e agora, 20 anos depois, anda nos 42 por cento PIB. Não é 
		preciso ser economista para detectar este disparate. A euforia do euro 
		desencadeou um despesismo completo, traduzindo-se num engordar do 
		Estado, especialmente concretizado num injustificado aumento dos 
		funcionários públicos. Ou seja, ficámos com salários muito acima do 
		nosso nível de produtividade. A perda de competitividade é a 
		consequência imediata. Gostemos ou não, é esta a dura realidade. 
		 
		Defende a diminuição de salários ou de funcionários públicos? Onde é 
		que o despesismo público pode ser cortado? 
		 
		Para começar, defendo que se devia cortar na quantidade de organismos 
		públicos e empresas municipais inúteis que existem, com milhares de 
		administradores e funcionários. Seria uma boa machadada nos sempre 
		dispendiosos consumos intermédios. Quanto aos funcionários públicos 
		penso que os que estivessem a mais deviam ir para casa, e o Governo, 
		posteriormente, negociaria com os sindicatos a sua situação, 
		individualmente. 
		 
		É dos que partilha a ideia que o Parlamento também devia ser alvo de 
		um emagrecimento? 
		 
		Temos deputados, câmaras municipais e freguesias a mais. E, claro, 
		elencos governamentais excessivos. Um governo mais pequeno gasta 
		necessariamente menos. Quanto mais secretários de estado existirem, mais 
		eles têm que justificar a sua importância política, logo, é mais um 
		acréscimo de gastos. Isto seria um bom sinal em termos de despesa 
		pública. 
		 
		E no que diz respeito às sempre tão tíbias ou adiadas reformas 
		estruturais. O que foi feito ficou aquém do esperado? 
		 
		Os engenheiros civis sabem que um ; edifício aparentemente muito sólido 
		é o primeiro a ceder a um tremor de terra. Os edifícios que resistem são 
		os que mexem, abanam, mas não quebram. Esta imagem quer dizer que os 
		sistemas abertos ao exterior têm de ter graus de liberdade que se 
		acomodem aos choques externos. No tempo do escudo tínhamos instrumentos 
		que permitiam controlar as crises. Quando entrámos na moeda única 
		perdemos esse instrumento e devíamos ter começado a flexibilizar os 
		mercados de trabalho e emprego, apostar na educação e na qualificação, 
		de modo a aumentar a produtividade, etc. O desemprego galopante e o 
		desequilíbrio das finanças públicas são apenas duas consequências de 
		nada ter sido feito. 
		 
		Com as lacunas que aponta avizinha-se a continuação de tempos muito 
		difíceis? 
		 
		Seguramente temos travessia no deserto para muitos e bons anos. Há muito 
		tempo que alertei para isto. Cheguei, inclusive, a escrever um artigo 
		num jornal intitulado «o tango argentino e o fado lusitano», em que 
		comparei a situação das finanças públicas nacionais com o que se passou 
		na Argentina e que obrigou aquele país sul-americano a desligar-se do 
		dólar. Lembro que nesse momento também falei na eventualidade de 
		Portugal sair do euro e da insustentabilidade do nosso modelo. Na altura 
		chamaram-me pessimista e exagerado, mas infelizmente, o tempo está a 
		dar-me razão. 
		 
		O que se pode esperar à escala global? 
		 
		A nível mundial as potências emergentes vão alterar a geografia 
		económica do século XXI, com especial destaque para o Brasil, a Rússia, 
		a Índia e a China – os chamados países do BRIC. A globalização não vai 
		parar, mas desta feita vai deixar de ser ditada unicamente pelos 
		americanos, que vão ter de conviver com a concorrência. Aliás, neste 
		momento estamos já a assistir a um duopólio entre os Estados Unidos e a 
		China, que são duas nações claramente interdependentes. A União Europeia 
		não entra neste jogo, porque continua a ser um anão político. 
		 
		Voltando a Portugal. O Estado continua a apostar nas receitas fiscais 
		para tentar equilibrar as finanças públicas, prosseguindo o incidir do 
		aumento da tributação sobre a classe média. Até quando vai ser 
		sustentável este garrote fiscal? 
		 
		A máquina de despesismo público não dá sinais de abrandar. Os 
		portugueses percebem isto: aquilo que produzimos é praticamente tudo 
		gasto em despesa pública corrente. Fica pouco ou nada para a poupança. 
		Uma coisa é certa: enquanto o nosso nível de despesa não voltar a 
		situar-se ao nível de outros países europeus, vamos continuar a pagar 
		impostos superiores aos nossos parceiros. Não há milagres. O que gasta 
		tem que se pagar. A classe média, ou seja todos nós, que declaramos o 
		que ganhamos, está a ser esmagada com o garrote fiscal. Quando vir um 
		governo ou um autarca a aumentar a despesa pública não tenha dúvidas que 
		ele está a ir-lhe ao bolso. A deslocalização das actividades 
		empresariais é outro problema. Há muitos empresários que preferem ir 
		comprar a Espanha. 
		 
		Partilha a opinião dos que dizem que podemos ter o azar de morrer da 
		cura? 
		 
		Isso é uma pergunta complicada. Caso não reduzamos o défice público 
		estoiramos pela dívida pública. Ou seja, se o Estado entrar em «default» 
		o financiamento externo à economia nacional acaba. 
		 
		Podemos chegar ao caso da Grécia? 
		 
		Se não se fizesse a actual correcção do défice chegaríamos lá 
		rapidamente. Creio que em termos de finanças públicas estamos melhores 
		do que a Grécia, mas no domínio económico, ou seja a dívida total, 
		estamos claramente abaixo. Custe o que custar, temos que reduzir o 
		défice público. Este caminho é indiscutível. O que contesto é que se 
		trilha esse percurso apostando tudo na via da receita, em vez de se 
		atacar de frente o problema da despesa corrente.  
		 
		Como banqueiro sente que esta falta de credibilidade externa do país 
		está a prejudicar o negócio bancário? 
		 
		Os nosso bancos são vítimas do desequilíbrio macro-económico do país. 
		Faltando-nos poupança interna para financiar a economia, as entidades 
		bancárias têm de ir lá fora buscar o que nos falta do PIB para 
		financiamento externo. Se os mercados fecharem as portas aos bancos isso 
		é revelador das dificuldades de financiamento. Mas quero dizer-lhe que 
		alguns dos nossos banqueiros têm responsabilidades na matéria porque 
		nunca chamaram a atenção dos governos para o cenário que se ia 
		desenhando. Não esconderam até a sua admiração com as grandes obras 
		públicas do governo, quando eu, enquanto subscritor de um manifesto 
		contra os mega-investimentos, alertei em tempo útil para as megalomanias 
		que estavam em projecto e o desvio dessas verbas do investimento público 
		das tão carenciadas PME. Nenhum banqueiro levantou a voz. Ficaram todos 
		acomodados. Isto já para não falar no financiamento em habitação e 
		imobiliário que constituiu uma péssima afectação de custos. Foram 
		demasiados erros dos bancos que agora estamos a pagar caro. 
		 
		Os casos BPN e BCP criaram instabilidade e turbulência no sector. A 
		banca portuguesa está de saúde? 
		 
		A banca portuguesa é bem gerida e tem rácios de solvabilidade adequados, 
		só que está a ser prejudicada pelo estado macro-económico do país. A 
		questão da poupança foi determinante. Antes do euro, o que as famílias 
		poupavam era canalizado para os bancos em depósitos a prazo e depois era 
		convertido em crédito. Com o euro, o nosso aforro evaporou-se. O governo 
		também não ajudou ao cometer um erro colossal que foi diminuir as taxas 
		de juro dos certificados de aforro. Foi o princípio do fim dos hábitos 
		de poupança. Paralelamente, criaram-se hábitos de consumo que agora é 
		difícil alterar, pelo menos a bem. No futuro próximo, com o aumento dos 
		combustíveis e das taxas de juro, o consumo vai ajustar-se à força, 
		através da poupança forçada e dos impostos.  
		 
		É um político com muita experiência de gabinete e no terreno. Foi 
		deputado e exerceu funções governamentais no governo de Cavaco Silva, 
		nas pastas da Energia, Indústria e Trabalho. Que explicação encontra 
		para os políticos serem tão impopulares? 
		 
		Creio que por vezes a opinião pública é injusta e mete tudo no mesmo 
		saco. Os governos de Cavaco e o primeiro executivo de Guterres foram os 
		únicos que conseguiram reunir gente competente, recrutando muitos 
		ministros e secretários de Estado na sociedade civil. Eu próprio, quando 
		assumi funções, não tinha qualquer experiência política, foi o meu 
		primeiro cargo. Nem sequer era filiado no PSD. Toda a vida fui um 
		tecnocrata.  
		 
		A lógica de recrutamento alterou-se e a qualidade foi sacrificada? 
		 
		A partir do segundo governo de Guterres mudou o critério de recrutamento 
		e passou-se a ir buscar pessoas no seio dos próprios partidos, facto que 
		diminuiu a qualificação. A sociedade civil desistiu da vida política e 
		as juventudes partidárias ocuparam esse espaço. Muitos deles nunca 
		trabalharam, não estudaram e não têm qualquer experiência de vida. É 
		obvio que neste momento não estamos a ser governados pelos melhores.  
		 
		O factor remuneração desmobiliza muitos de enveredarem por esta 
		carreira? 
		 
		Efectivamente os políticos ganham mal. Tenho imensa consideração pelo 
		ministro das Finanças e creio que com a responsabilidade que tem e com 
		aquilo que atura é dos que está pior remunerado. É preciso voltar a 
		criar condições para atrair os melhores para a vida política, 
		dignificando esta carreira. Enquanto isso não se fizer o círculo vicioso 
		vai manter-se por tempo indeterminado. O que acontece é que os jovens 
		acham que a política é uma seca e quando terminam com sucesso os seus 
		cursos não vêem a hora de fugir para o estrangeiro.  
		 
		Apresenta alguma solução para voltar a atrair os mais capazes para 
		funções tão nobres? 
		 
		Eu avançava com a figura da requisição. Ia-se ao sector privado recrutar 
		elementos de valia para o governo. Essa pessoa; apresentava o IRS do 
		trabalho no sector privado nos últimos 3 anos e com base nesses 
		rendimentos é que era calculado o seu salário no governo. Penso que era 
		justo. Eu sei que, por exemplo, na pasta da Economia é dificílimo 
		encontrar um ministro capaz porque qualquer gestor de empresas ganha 3 
		ou 4 vezes mais do que no executivo. 
		 
		E aqueles que são competentes, mas evitam a todo o custo enlamear a 
		sua impoluta carreira… 
		 
		Nem todos desses interessam. Alguns são os chamados 
		independentes/intelectuais, que se convertem em autênticos treinadores 
		de bancada, dissertam sobre tudo, mas fogem da política activa como o 
		Diabo da cruz. 
		 
		Em nome da estabilidade política, admite consensos alargados entre 
		partidos e mais poderes presidenciais para o inquilino do Palácio de 
		Belém? 
		 
		O regime presidencialista é muito ambíguo e pode comportar riscos e 
		desentendimentos se o governo e o Presidente não forem da mesma cor. 
		Relembro que o líder da oposição dos governos do professor Cavaco foi 
		Mário Soares, o Presidente da República de então, e não propriamente 
		Guterres, que se limitou a apanhar a boleia. Defendo duas soluções: ou o 
		PR é eleito pelo Parlamento e o regime assume um carácter 
		parlamentarista; ou então se o PR é eleito pelo povo ele deve ser 
		responsável pelo executivo, obviamente sujeito ao controlo parlamentar. 
		 
		Um regime com semelhanças com o francês… 
		 
		O sistema francês é mais parecido com o português do que se pensa. O 
		chefe de Estado em França preside ao Conselho de Ministros no caso do 
		executivo ser da sua cor política, o que acontece agora com Sarkozy, 
		caso contrário ele até tem as mesmas faculdades que o seu congénere 
		português. 
		 
		Falou anteriormente na falta de qualificação dos portugueses e nas 
		oportunidades desperdiçadas no período de vacas gordas. Os recentes 
		resultados dos exames dizem, genericamente, que Matemática, Português, 
		Física e Química não são o forte dos nossos jovens. Como se altera este 
		panorama num país que investe tanto no ensino? 
		 
		É uma boa questão e que eu abordo em detalhe no meu livro. O dinheiro 
		não resolve tudo na vida. Tem-se gasto muito dinheiro no sector do 
		ensino, mas muito mal gasto. O sistema não precisa de mais dinheiro, 
		precisa é de rigor e competência. Urge acabar com o facilitismo 
		instalado. As deficiências dos jovens nas disciplinas que elencou são 
		dramáticas. Criou-se uma linha de pedagogos que têm sido sinistros para 
		a educação em Portugal e que defendem que se exigir rigor, seriedade e 
		avaliação, estamos a violentar e traumatizar os alunos. Olho para a 
		minha geração e sinceramente não vejo nenhum traumatizado. Bem pelo 
		contrário, vejo muitos exemplos de pessoas bem sucedidas na vida. 
		 
		Atribui culpas ao rumo pedagógico do ensino? 
		 
		Completamente. Ao contrário do que se diz a culpa não é só dos 
		ministros, mas aponto o dedo em particular aos tais pedagogos e às suas 
		teorias assentes em modernices. O rumo pedagógico do sistema é funesto 
		para o nosso país. Tudo o que se relacione com rankings e avaliações é 
		automaticamente rejeitado, com o argumento que é prejudicial. Assim, 
		promovemos uma sociedade sem incentivos. E quando assim é torna-se 
		difícil fazer melhor e diferente. É trágico a bitola de exigência com 
		que os jovens se deparam no seu percurso académico. Este é o grande 
		drama do ensino em Portugal e que traduz uma irresponsabilidade 
		incrível.  
		 
		Não é paradoxal que num período de dificuldades se passar um sinal 
		oposto de um certo laxismo? 
		 
		A escola transmite sinais de facilitismo que a vida real não tem. A vida 
		profissional dos jovens de hoje é muito mais dura do que foi a minha, 
		mas não é essa a mensagem que passa durante as aulas. Estão a ver o 
		filme ao contrário. O cenário lá fora é de tremenda competição e o 
		desemprego agravou as dificuldades. 
		 
		Foi ministro do Trabalho durante executivo de Cavaco Silva. Quem são 
		os mais lesados por uma taxa de desemprego a roçar os 11 por cento? 
		 
		Os mais prejudicados vão ser os jovens e os desempregados de longa 
		duração. Aos primeiros o ensino não lhes deu skills para o mercado de 
		trabalho. Dou-lhe um exemplo: Em Maio de 2008, quando arranquei com o 
		projecto do banco BIC, tinha dezenas de pedidos de “cunhas” para 
		empregar amigos e conhecidos licenciados em cursos que eu chamo de 
		ensino livresco. Realmente na altura do que eu precisava era de um 
		engenheiro informático, um técnico de operações ou um gestor financeiro, 
		que são profissões onde é difícil recrutar recursos humanos. Depois há o 
		caso preocupante dos desempregados de longa duração, com 40/50 anos, e 
		porque não se actualizaram, são autênticos analfabetos tecnológicos. 
		Essa gente só volta ao mercado de trabalho com salários 30 a 40% 
		inferiores ao que auferiam. Os sindicatos deviam pressionar o patronato 
		a dar formação contínua às pessoas para terem skills de empregabilidade. 
		 
		O sistema falhou na qualificação de recursos humanos? 
		 
		O sistema de ensino tem formado gente em demasia para determinadas áreas 
		e esqueceu o ensino técnico e os quadros intermédios que as PME precisam 
		como de pão para a boca. Quis tudo ser doutor e engenheiro e agora há 
		muito gente sem qualificações adequadas para o mercado de emprego. 
		Chegou-se à comum situação de ver licenciados em Direito e Gestão a 
		guiar táxis em Lisboa, em call centers ou em caixas de hipermercados. O 
		que eu defendo é que as universidades reciclem jovens com novos skills 
		que o mercado de trabalho carece, dando-lhes uma segunda oportunidade. 
		Depois é necessário uma nova legislação laboral que facilite a 
		integração desses jovens no mercado de trabalho e incentive as entidades 
		patronais a admiti-los. 
		 
		As universidades e as empresas ainda estão de costas voltadas, 
		partilhando visões e interesses distintos? 
		 
		Essa ligação não se estabelece por decreto-lei, mas sim gradualmente. No 
		caso dos jovens, como atrás referi, e volto a frisar, é preciso uma 
		legislação especial para os atrair, até porque se não houver emprego 
		aqui, e se eles tiverem qualidade, certamente vão tentar a sua sorte no 
		estrangeiro. 
		 
		Passou por diversas universidades na condição de docente. Pensa que 
		em particular no chamado domínio dos cursos de lápis e papel existe 
		excesso de cursos? 
		 
		Está-se a formar mais licenciados que depois não têm saídas 
		profissionais suficientes. Para ser equidistante, não queria criticar 
		apenas as privadas, que criaram muitos cursos de papel e lápis, mas as 
		responsabilidades também devem recair sobre as escolas públicas, 
		universidades e politécnicos, que não estão a fazer o que deviam. Estou 
		em crer que muitos cursos deviam fechar, por serem desnecessários e sem 
		qualquer utilidade social. O seu destino devia ser, pura e simplesmente, 
		a extinção. O que é preciso são engenheiros informáticos, técnicos de 
		marketing e especialistas na área financeira e contabilística, onde há 
		carências dramáticas. No Direito, na Gestão e na Comunicação Social já 
		temos de sobra.  
		 
		As escolas deviam fechar a torneira a boa parte dos licenciados? 
		 
		Restringir o acesso a estes cursos e dar uma segunda oportunidade aos 
		que já tiraram algum destas licenciaturas, reciclando-os para outra 
		vertente, é o caminho que eu sugiro. Depois há outro caso que rotulo de 
		extraordinário e que gostaria de partilhar: estão a simular-se muitos 
		exames ad-hoc para aumentar as admissões. Há politécnicos que estão a 
		fazer isso, pervertendo um esquema que até era uma boa ideia.
		  
		Nuno Dias da Silva 
		Fotos - Direitos Reservados 
		  
		
			
			 
			Cara da Notícia 
			 
			Luís Mira Amaral nasceu em 
			Lisboa, a 4 de Dezembro de 1945. É engenheiro electrotécnico de 
			profissão e administrador de empresas. Licenciou-se em Engenharia 
			Electrotécnica, pelo Técnico, em 1969, e obteve o grau de mestre em 
			Economia, pela Faculdade de Economia da Nova, em 1982, com uma 
			dissertação intitulada O Consumo de Energia no Sector Automóvel em 
			Portugal. Concluiu o Stanford Executive Program, pela Graduate 
			School of Business da Universidade de Stanford. Leccionou no ensino 
			superior, tendo sido docente no Instituto Superior Técnico, na 
			Universidade Nova de Lisboa, na Universidade Católica Portuguesa e 
			na Universidade Lusíada de Lisboa. Actualmente é Professor 
			Catedrático Convidado do Departamento de Engenharia e Gestão do 
			Técnico e do ISEG. É Presidente do Conselho Geral do Instituto 
			Superior de Gestão, desde 2009. Membro dos X, XI e XII Governos 
			Constitucionais, ocupou os cargos de Ministro do Trabalho e 
			Segurança Social (1985-1987) e Ministro da Indústria e Energia 
			(1987-1995). Devido à sua experiência no governo, exerceu o mandato 
			de deputado à Assembleia da República, pelo círculo de Santarém, 
			apenas durante 2 meses. Foi presidente da Comissão Executiva da 
			Caixa Geral de Depósitos (2004) e administrou o Banco Português de 
			Investimento, bem como o Banco de Fomento de Angola e o Banco de 
			Fomento de Moçambique. Na área industrial, foi administrador não 
			executivo da EDP, Unicer, Cimpor, Vista Alegre, Repsol, entre 
			outras. Actualmente é vice-presidente da CIP e presidente da 
			comissão executiva do Banco BIC Português. É o autor do livro «E 
			depois da crise?», lançado em Julho pela Bnomics, com prefácio do 
			ex-ministro das Finanças, Miguel Cadilhe.
		  
   
		
           
      
		
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