Director Fundador: João Ruivo    Director: João Carrega    Publicação Mensal    Ano XII    Nº132    Fevereiro 2009

Suplemento - Fórum Esart

HELGA CARVALHO

Uma arquitecta no Design

Terminou o curso de arquitectura e foi para Paris, onde trabalhou na edição de várias revistas de renome mundial. Em 2005 regressou a Portugal e tem desenvolvido um trabalho ímpar na área do design, trabalhando com marcas internacionais e com algumas das maiores empresas nacionais, criando conteúdos para vários suportes, desde o impresso ao vídeo. Helga Carvalho, 35 anos, estará no Fórum Esart e adianta aqui algumas das ideias que vai apresentar e defender.
 

Sendo uma pessoa jovem, tem já um currículo invejável na área do Design, ainda por cima em Portugal, onde frequentemente se fala numa falta de cultura do design. Como justifica esse seu sucesso?

Não sei se poderemos chamar sucesso, mas todo o meu percurso é reflexo de muito trabalho e dedicação. Quando terminei o curso, fui para Paris estagiar e acabei por lá ficar 5 anos. Tenho consciência que essa experiência foi uma mais valia para o meu currículo dando-me a oportunidade de aprender e obter experiência numa área ainda muito pouco explorada em Portugal, o Styling.
 

Possui uma experiência original em termos editoriais, em Paris e em Lisboa. Considera que trabalhou em revistas muito diferentes, para públicos muito diferentes, ou as diferenças, se existiram, tendem a esbater-se?

Sim, posso dizer que tive experiências variadas em termos de suportes, mas uma das coisas que tento fazer é dirigir o meu portfolio para uma determinada linha estética, aquela que mais tem a ver comigo e com a qual quero ser identificada.
 

Há quem diga que em Portugal os melhores jornalistas são formados em Direito, enquanto os melhores designers têm formação em arquitectura. Concorda? Porquê?

Acho que não, não tem de ser exactamente assim. Sou a favor da formação específica. Há áreas que podem ser transversais mas não tem de existir uma regra. No caso do jornalismo sempre achei uma área ingrata porque se aprende a comunicar mas sem uma especialização direccionada. Há muitas pessoas a escrever sem formação em jornalismo mas com a mais valia de serem formados em áreas específicas.
 

Desenvolve trabalho ao nível do design de campanhas de marcas de vestuário, alimentação, produtos de beleza, banca, comunicação social e energia. Qual foi o desafio criativo que considerou mais arrojado? Porquê?

Não há propriamente desafios muito arrojados quando se fala em campanhas publicitárias visto que quem desenvolve o lado criativo das campanhas são as agências de publicidade e no meu caso limito-me a seguir um briefing. Mas talvez a que me tenha dado mais prazer a realizar, tenha sido um filme publicitário que fiz com os Gato Fedorento para a Sapo. Senti empatia com o tema e com as personagens. O guarda-roupa tinha de ser cómico sem cair no ridículo, acabou por ser um desafio.
 

A formação superior ao nível do design, em Portugal, já atingiu um nível aceitável em termos de quantidade e qualidade?

Penso que sim mas o que devemos ter em conta é que a formação é uma ínfima parte no percurso criativo de qualquer profissional. São as bases, os alicerces, mas ainda há muito por construir. É necessário ter muita força de vontade e perseverança para se conseguir singrar neste meio.

 

 

 

Cara da notícia

Licenciada em Arquitectura de Design de Moda pela Universidade Técnica de Lisboa, Helga Carvalho frequentou também o Centro de Formação Profissional da Indústria de Vestuário e Confecção, em Lisboa, onde obteve formação em áreas como Marketing de moda, Gestão de produção, Preparação, Criação e Realização de Colecções, bem como Desenvolvimento de Aptidões de Chefia.

Actualmente trabalha, em regime de free lancer, em Lisboa, onde tem desenvolvido vários trabalhos na área de Styling de Moda e Publicidade. Directora e Fundadora da revista Pure Magazine (www.puremagazine.pt), colabora também como Stylist nas revistas Vogue, Portugal, Máxima, Dif, Umbigo, LA Mag (Lanidor), Alice, Op, Happy Women, Click In, NS, Parq e NEO2. É autora do Styling e coordenação de Casting para Catálogos de Moda de marcas como Tiffosi, Salsa, Cheyenne e Cinnelli Studio (Itália). Fez também o Styling para campanhas publicitárias de fotografia e filme, como Antena 3, Caixa Geral de Depósitos, EDP, BES, Axa Accumulator, Blue (Angola), BFA (Angola), NIKE, Água Serra da Estrela, Axe, Liga Portuguesa Contra o Cancro, Galp, Fundação Portuguesa de Cardiologia, Compal, Braga Parque, Leite Celta (Espanha), Belga.Com (Bélgica), Sumol Z, Yorn, Optimus Home, Sapo, AMB 3 E, Brisa, Fita Azul, Sagres e Pepsi. É editora de Moda da Revista Magnolia e da revista Número Magazine.

Em Paris, onde esteve cinco anos, até final de 2004, trabalhou também em regime de free lancer na área de Styling de Moda, Televisão e Publicidade. Trabalhou em revistas como a ChicK Magazine, no suplemento da Madame Figaro, Complot Magazine, Première Magazine, L’Express, e Stolnick (Rússia). Fez também campanhas publicitárias de marcas como o Intermarché, Lacoste Parfuns, Andros e Peugeot.

 

 

 

DE 16 A 19 DE FEVEREIRO

Fórum ESART

O designer argentino Norberto Chaves, o estilista José António Tenente, a directora de marketing da Quebra Mar Presentes Manuela Cordeiro, o escultor José Simão e muitos outros nomes das diversas áreas das artes estarão, em Castelo Branco, entre os dias 16 e 19 de Fevereiro, no Fórum ESART 2009. O objectivo é colocar frente-a-frente o trabalho de alunos e profissionais do meio.

A Escola Superior de Artes Aplicadas (ESART) do Instituto Politécnico de Castelo Branco (IPCB) promove, entre 16 e 19 de Fevereiro, o Fórum ESART 2009. A iniciativa congrega todas as grandes áreas de formação desta escola, servindo de montra do trabalho desenvolvido pelos alunos da instituição, que assim podem contactar com profissionais do meio empresarial.

Como já é habitual, durante a realização do evento as actividades lectivas serão interrompidas, de forma a que os estudantes possam assistir às palestras, ateliês e iniciativas transversais aos vários cursos, este ano repartidos pelas instalações da ESART, Escola Superior Agrária, Serviços Centrais do IPCB, Cine-Teatro Avenida e centro da cidade.

A manhã do primeiro dia do Fórum ESART 2009 será dedicada às palestras temáticas, destacando-se a intervenção do designer argentino Norberto Chaves, referência no contexto do design contemporâneo e da identidade corporativa, que irá falar sobre “Gestão da Marca”, bem como de Moreira da Silva, professor associado da Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa e coordenador do mestrado em Design naquela instituição, o qual abordará o tema “A Cor no Design”. “Marketing de Moda” é a temática a explorar pelo estilista José António Tenente, por Manuela Furtado, directora da empresa de comunicação BirdSong, e por Marta Cordeiro, directora de marketing da Quebra Mar Presentes. Já Albert Culleré marcará presença com “Identidade”, enquanto que Ricardo Andrade e Bruno Aleixo, ambos pertencentes ao departamento de auto-promoção da RTP, farão uma “Viagem ao Mundo louco da Auto-Promoção em Televisão”. Finalmente, Eduardo Afonso Dias abordará o tema “”UniTeam e Gestão do Design”, enquanto que Vitor Murtinho se concentra em “Trompe l’oeil: Espaço e/ou Ilusão”.
Encadernação, maquetização, webdesign, design de informação, iluminação, ilustração, design de acessórios ou styling são algumas das áreas a abordar nos workshops com especialistas nacionais e internacionais. Durante três dias, profissionais da moda, design e multimédia como Paulo Alcobia (professor do ISEC), Rafael Marques (empresa Design Público) ou Elga Carvalho (especialista em styling de moda) irão trabalhar com os alunos de Design de Moda e Têxtil, Design de Comunicação e Produção Audiovisual e Design de Interiores e Equipamento da escola de artes do IPCB.

Os Troféus ESART, concebidos pelo escultor José Simão, serão atribuídos ao melhor aluno de cada curso da escola no dia 16 de Fevereiro.

Quanto às intervenções públicas, realce para a instalação multimédia “Castelo Branco…”, a ter lugar na zona da devesa, em Castelo Branco, no dia 17, a partir das 21 horas, e para a mostra de vídeo, programada para o dia seguinte, à mesma hora, mas no Cine-Teatro Avenida, prevendo-se a exibição de curtas-metragens realizadas pelos alunos da ESART.

Recorde-se que a organização do Fórum ESART 2009 envolve professores e estudantes de várias licenciaturas da ESART, da concepção dos suportes gráficos à realização dos produtos audiovisuais.

 

 

 

BOLSAS DE MÉRITO ESART

Conheça os alunos premiados

Artes da Imagem – Silvana Tavares Delgado

Design de Moda e Têxtil – Ana Rita Martins Antunes

Design de Interiores e Equipamento – Sofia Vieira Rebelo

Música variante de Instrumento – Luís Pereira da Silva Bastos Machado

Música variante de Formação Musical – José António Oliveira Horta

Música variante de Música Electrónica e Produção Musical – Miguel Urbano Couceiro de Figueiredo

Música variante de Canto – Sandra Cristina Ramos Chorão.

 

 

 

VÍTOR MURTINHO, ARQUITECTO E INVESTIGADOR

Quando os desenhos enganam o olhar

Vítor Murtinho é professor na Universidade de Coimbra. Arquitecto é também investigador no CES (Centro de Estudos Sociais) e os seus interesses centram-se nas metodologias de abordagem conceptual do projecto e especificamente naquilo que pode ser designado como as arquitectónicas da forma. No Fórum Esart vai abordar o tema Trompe l’Oeil: Espaço e/ou Ilusão. Afinal como é que o desenho engana o nosso olhar? As respostas aqui ficam.
 

Como é que se pode usar o desenho e a representação para se enganar o olhar?

Em termos históricos aquilo que designamos como artes plásticas, é alicerçada na procura do engano dos olhos. Se pegarmos num qualquer manual de História da Arte, todas as representação que aí se encontram são imagens que remetem para uma outra realidade: a realidade pintada. Por exemplo, quando observamos uma fotografia aquilo que se nos apresenta é um determinado referente e não a coisa em si. De facto aquilo que estabelecemos é um protocolo, aceitamos que a coisa real e a representação da coisa possam ser encaradas como o mesmo. Como se admissivelmente lhe reconhecêssemos as mesmas propriedades, as mesmas qualidades, o mesmo valor.

Outra coisa é a questão de podermos utilizar a representação para prolongar o espaço. Ou seja utilizar o desenho como instrumento para destruir o plano de representação para fazer crer que existe espaço tridimensional dentro do plano: é o caso da pintura ilusionista em trompe l’oeil. Mas também podemos ter uma situação de ilusão na percepção do próprio espaço. Com o recurso a subterfúgios ópticos podemos dilatar ou comprimir o espaço.
 

Quais as vantagens de se recorrer a essa técnica?

Mais do que o problema da vantagem, aquilo que interessa é encarar a questão no campo dos resultados. Qualquer estratégia que tenha como efeito a indução de espaço terá certamente nos mecanismos ópticos um valente e importante aliado. Ou seja para a implementação de um determinado efeito temos na génese uma causa: a utilização dos preceitos perspécticos.
 

No fundo através dessa técnica cria-se um espaço de ilusão, onde quem observa um determinado trabalho vê aquilo que lá não está, podendo ser induzido, por exemplo, a adquirir um determinado produto?

Respondendo à primeira parte da questão, é verdade que pelo engano dos olhos pode-se suscitar um espaço de ilusão, mas numa vertente mais filosófica o que interessa é podermos acreditar que estamos perante uma ilusão de espaço, ou que aceitamos reconhecer tridimensionalidade, mesmo que confinados à bidimensionalidade do plano.

Quanto à segunda parte da pergunta e apesar da minha formação ser mais no âmbito da arquitectura, penso que a invenção do marketing, por si só, acaba por pressupor a adopção de determinadas escolhas nem sempre baseadas a partir de critérios funcionais ou de qualidade. É óbvio que uma boa imagem é também sinónimo de qualidade e que isso pode vender um produto, muitas vezes mais do que o valor intrínseco deste. Quantas vezes não escolhemos um produto somente por ter uma imagem apelativa ou por termos sido seduzidos por uma boa publicidade.
 

Da sua experiência enquanto docente universitário, esse engano do olhar, tem sido bem utilizado na área comercial, para a promoção de determinados produtos ou marcas?

Se pensar numa lógica meramente apelativa julgo que sim. Todavia, numa perspectiva mais consonante com o tema da ilusão julgo que existe toda uma área ainda por explorar. É verdade que se pensarmos na questão da realidade virtual e não nos efeitos da utilização simultânea de imagens reais e virtuais, o mercado publicitário tem feito grandes avanços. No caso da indústria automóvel têm aparecido exemplos absolutamente notáveis. Todavia quer na exploração de ilusões ópticas quer na utilização de, por exemplo, hologramas, são efeitos arredados do mercado publicitário. Como sabem os hologramas são genericamente imagens sobrepostas desfasadamente e que por visão binocular o cérebro junta-as criando o efeito de espaço. Existem casos absolutamente fascinantes.
 

Com as novas tecnologias e programas informáticos pode dizer-se que é mais fácil produzir conteúdos gráficos que nos enganem, ou pelo contrário nós, enquanto consumidores estamos mais atentos àquilo que nos apresentam?

É óbvio que as novas tecnologias têm implementado melhorias substanciais. Cada nova ferramenta que se cria possibilita o desenvolvimento de novas ferramentas e assim sucessivamente. Só assim se compreende o enorme desenvolvimento que temos assistido nos tempos actuais, criando velocidades vertiginosas e também por isso muito perigosas. O processo de industrialização com diminuição de mão-de-obra e a robotização dos processos construtivos tem conduzido a melhores rendimentos mas paralelamente a menos necessidades de operários, o que é igual a menos empregos. Para quê produzir se não temos consumidores com poder de compra?
 

Quando o homem precisou de comunicar fez do som palavra, criou códigos e signos estritos de reconhecimento. Tornou legíveis as coisas e fez dos seus registos as mensagens. E hoje, como é que as mensagens são construídas para chegarem a um determinado público?

No início do mundo, os primeiros homens usavam a comunicação como forma de dialogarem, de fazerem partilha de informação. Acontece que talvez por culpa de Adão e Eva, passámos a viver com o estigma do pecado e da tentação. E, tendo pecado uma vez, se calhar não temos problemas de consciência em voltar a fazê-lo. O que quero dizer é que se em primeira instância as mensagens eram mais puras e mais genuínas, com o tempo foram-se refinando os argumentos, foi-se exaltando a mensagem em detrimento do produto. Na sociedade moderna, deixámos de consumir para satisfazer uma necessidade, antes inventámos necessidades porque o que temos de fazer é consumir.

 

 

 

Cara da notícia

Vítor Murtinho nasceu em Ansião, em 1964. Arquitecto pela Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa em 1988.

Professor Associado no Departamento de Arquitectura da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, tendo sido nesta instituição Presidente das Comissões Científica e Executiva. Desde 2002 e até à actualidade exerce o cargo de Vice-Presidente da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra.

Doutorado em Arquitectura pela Universidade de Coimbra na especialidade de Teoria e História da Arquitectura, em 2002, com a dissertação “La piú Grassa Minerva. A Representação do Lugar”. Entre outras publicações, é autor do livro “Perspectivas: O Espelho Maior ou o Espaço do Espanto”, eDARQ-FCTUC, Coimbra, 2000.

Escreve com regularidade e tem proferido diversas conferências quer de apresentação da sua obra arquitectónica quer sobre as problemáticas referentes aos processos compositivos em arquitectura. Actualmente prepara uma monografia, para a Editora Dafne, sobre o arquitecto renascentista António Averlino conhecido como O Filarete.

É investigador no CES (Centro de Estudos Sociais) e os seus interesses centram-se nas metodologias de abordagem conceptual do projecto e especificamente naquilo que pode se designado como as arquitectónicas da forma.

Exerce regularmente arquitectura desde 1988 sendo autor de obras publicadas em diversas revistas da especialidade.

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