HELGA CARVALHO
Uma arquitecta no
Design
Terminou o curso de arquitectura e foi
para Paris, onde trabalhou na edição de várias revistas de renome
mundial. Em 2005 regressou a Portugal e tem desenvolvido um trabalho
ímpar na área do design, trabalhando com marcas internacionais e com
algumas das maiores empresas nacionais, criando conteúdos para vários
suportes, desde o impresso ao vídeo. Helga Carvalho, 35 anos, estará no
Fórum Esart e adianta aqui algumas das ideias que vai apresentar e
defender.
Sendo uma pessoa jovem, tem já um
currículo invejável na área do Design, ainda por cima em Portugal, onde
frequentemente se fala numa falta de cultura do design. Como justifica
esse seu sucesso?
Não sei se poderemos chamar sucesso, mas todo o meu percurso é reflexo
de muito trabalho e dedicação. Quando terminei o curso, fui para Paris
estagiar e acabei por lá ficar 5 anos. Tenho consciência que essa
experiência foi uma mais valia para o meu currículo dando-me a
oportunidade de aprender e obter experiência numa área ainda muito pouco
explorada em Portugal, o Styling.
Possui uma experiência original em
termos editoriais, em Paris e em Lisboa. Considera que trabalhou em
revistas muito diferentes, para públicos muito diferentes, ou as
diferenças, se existiram, tendem a esbater-se?
Sim, posso dizer que tive experiências variadas em termos de suportes,
mas uma das coisas que tento fazer é dirigir o meu portfolio para uma
determinada linha estética, aquela que mais tem a ver comigo e com a
qual quero ser identificada.
Há quem diga que em Portugal os
melhores jornalistas são formados em Direito, enquanto os melhores
designers têm formação em arquitectura. Concorda? Porquê?
Acho que não, não tem de ser exactamente assim. Sou a favor da formação
específica. Há áreas que podem ser transversais mas não tem de existir
uma regra. No caso do jornalismo sempre achei uma área ingrata porque se
aprende a comunicar mas sem uma especialização direccionada. Há muitas
pessoas a escrever sem formação em jornalismo mas com a mais valia de
serem formados em áreas específicas.
Desenvolve trabalho ao nível do
design de campanhas de marcas de vestuário, alimentação, produtos de
beleza, banca, comunicação social e energia. Qual foi o desafio criativo
que considerou mais arrojado? Porquê?
Não há propriamente desafios muito arrojados quando se fala em campanhas
publicitárias visto que quem desenvolve o lado criativo das campanhas
são as agências de publicidade e no meu caso limito-me a seguir um
briefing. Mas talvez a que me tenha dado mais prazer a realizar, tenha
sido um filme publicitário que fiz com os Gato Fedorento para a Sapo.
Senti empatia com o tema e com as personagens. O guarda-roupa tinha de
ser cómico sem cair no ridículo, acabou por ser um desafio.
A formação superior ao nível do
design, em Portugal, já atingiu um nível aceitável em termos de
quantidade e qualidade?
Penso que sim mas o que devemos ter em conta é que a formação é uma
ínfima parte no percurso criativo de qualquer profissional. São as
bases, os alicerces, mas ainda há muito por construir. É necessário ter
muita força de vontade e perseverança para se conseguir singrar neste
meio.
Cara da notícia
Licenciada em Arquitectura de Design de
Moda pela Universidade Técnica de Lisboa, Helga Carvalho frequentou
também o Centro de Formação Profissional da Indústria de Vestuário e
Confecção, em Lisboa, onde obteve formação em áreas como Marketing de
moda, Gestão de produção, Preparação, Criação e Realização de Colecções,
bem como Desenvolvimento de Aptidões de Chefia.
Actualmente trabalha, em regime de free lancer, em Lisboa, onde tem
desenvolvido vários trabalhos na área de Styling de Moda e Publicidade.
Directora e Fundadora da revista Pure Magazine (www.puremagazine.pt),
colabora também como Stylist nas revistas Vogue, Portugal, Máxima, Dif,
Umbigo, LA Mag (Lanidor), Alice, Op, Happy Women, Click In, NS, Parq e
NEO2. É autora do Styling e coordenação de Casting para Catálogos de
Moda de marcas como Tiffosi, Salsa, Cheyenne e Cinnelli Studio (Itália).
Fez também o Styling para campanhas publicitárias de fotografia e filme,
como Antena 3, Caixa Geral de Depósitos, EDP, BES, Axa Accumulator, Blue
(Angola), BFA (Angola), NIKE, Água Serra da Estrela, Axe, Liga
Portuguesa Contra o Cancro, Galp, Fundação Portuguesa de Cardiologia,
Compal, Braga Parque, Leite Celta (Espanha), Belga.Com (Bélgica), Sumol
Z, Yorn, Optimus Home, Sapo, AMB 3 E, Brisa, Fita Azul, Sagres e Pepsi.
É editora de Moda da Revista Magnolia e da revista Número Magazine.
Em Paris, onde esteve cinco anos, até final de 2004, trabalhou também em
regime de free lancer na área de Styling de Moda, Televisão e
Publicidade. Trabalhou em revistas como a ChicK Magazine, no suplemento
da Madame Figaro, Complot Magazine, Première Magazine, L’Express, e
Stolnick (Rússia). Fez também campanhas publicitárias de marcas como o
Intermarché, Lacoste Parfuns, Andros e Peugeot.
DE 16 A 19 DE FEVEREIRO
Fórum ESART
O designer argentino Norberto Chaves, o
estilista José António Tenente, a directora de marketing da Quebra Mar
Presentes Manuela Cordeiro, o escultor José Simão e muitos outros nomes
das diversas áreas das artes estarão, em Castelo Branco, entre os dias
16 e 19 de Fevereiro, no Fórum ESART 2009. O objectivo é colocar
frente-a-frente o trabalho de alunos e profissionais do meio.
A Escola Superior de Artes Aplicadas (ESART) do Instituto Politécnico de
Castelo Branco (IPCB) promove, entre 16 e 19 de Fevereiro, o Fórum ESART
2009. A iniciativa congrega todas as grandes áreas de formação desta
escola, servindo de montra do trabalho desenvolvido pelos alunos da
instituição, que assim podem contactar com profissionais do meio
empresarial.
Como já é habitual, durante a realização do evento as actividades
lectivas serão interrompidas, de forma a que os estudantes possam
assistir às palestras, ateliês e iniciativas transversais aos vários
cursos, este ano repartidos pelas instalações da ESART, Escola Superior
Agrária, Serviços Centrais do IPCB, Cine-Teatro Avenida e centro da
cidade.
A manhã do primeiro dia do Fórum ESART 2009 será dedicada às palestras
temáticas, destacando-se a intervenção do designer argentino Norberto
Chaves, referência no contexto do design contemporâneo e da identidade
corporativa, que irá falar sobre “Gestão da Marca”, bem como de Moreira
da Silva, professor associado da Faculdade de Arquitectura da
Universidade Técnica de Lisboa e coordenador do mestrado em Design
naquela instituição, o qual abordará o tema “A Cor no Design”.
“Marketing de Moda” é a temática a explorar pelo estilista José António
Tenente, por Manuela Furtado, directora da empresa de comunicação
BirdSong, e por Marta Cordeiro, directora de marketing da Quebra Mar
Presentes. Já Albert Culleré marcará presença com “Identidade”, enquanto
que Ricardo Andrade e Bruno Aleixo, ambos pertencentes ao departamento
de auto-promoção da RTP, farão uma “Viagem ao Mundo louco da
Auto-Promoção em Televisão”. Finalmente, Eduardo Afonso Dias abordará o
tema “”UniTeam e Gestão do Design”, enquanto que Vitor Murtinho se
concentra em “Trompe l’oeil: Espaço e/ou Ilusão”.
Encadernação, maquetização, webdesign, design de informação, iluminação,
ilustração, design de acessórios ou styling são algumas das áreas a
abordar nos workshops com especialistas nacionais e internacionais.
Durante três dias, profissionais da moda, design e multimédia como Paulo
Alcobia (professor do ISEC), Rafael Marques (empresa Design Público) ou
Elga Carvalho (especialista em styling de moda) irão trabalhar com os
alunos de Design de Moda e Têxtil, Design de Comunicação e Produção
Audiovisual e Design de Interiores e Equipamento da escola de artes do
IPCB.
Os Troféus ESART, concebidos pelo escultor José Simão, serão atribuídos
ao melhor aluno de cada curso da escola no dia 16 de Fevereiro.
Quanto às intervenções públicas, realce para a instalação multimédia
“Castelo Branco…”, a ter lugar na zona da devesa, em Castelo Branco, no
dia 17, a partir das 21 horas, e para a mostra de vídeo, programada para
o dia seguinte, à mesma hora, mas no Cine-Teatro Avenida, prevendo-se a
exibição de curtas-metragens realizadas pelos alunos da ESART.
Recorde-se que a organização do Fórum ESART 2009 envolve professores e
estudantes de várias licenciaturas da ESART, da concepção dos suportes
gráficos à realização dos produtos audiovisuais.
BOLSAS DE MÉRITO ESART
Conheça os alunos
premiados
Artes da Imagem – Silvana Tavares
Delgado
Design de Moda e Têxtil – Ana Rita Martins Antunes
Design de Interiores e Equipamento – Sofia Vieira Rebelo
Música variante de Instrumento – Luís Pereira da Silva Bastos
Machado
Música variante de Formação Musical – José António Oliveira Horta
Música variante de Música Electrónica e Produção Musical – Miguel
Urbano Couceiro de Figueiredo
Música variante de Canto – Sandra Cristina Ramos Chorão.
VÍTOR MURTINHO,
ARQUITECTO E INVESTIGADOR
Quando os desenhos
enganam o olhar
Vítor Murtinho é professor na
Universidade de Coimbra. Arquitecto é também investigador no CES (Centro
de Estudos Sociais) e os seus interesses centram-se nas metodologias de
abordagem conceptual do projecto e especificamente naquilo que pode ser
designado como as arquitectónicas da forma. No Fórum Esart vai abordar o
tema Trompe l’Oeil: Espaço e/ou Ilusão. Afinal como é que o desenho
engana o nosso olhar? As respostas aqui ficam.
Como é que se pode usar o desenho e
a representação para se enganar o olhar?
Em termos históricos aquilo que designamos como artes plásticas, é
alicerçada na procura do engano dos olhos. Se pegarmos num qualquer
manual de História da Arte, todas as representação que aí se encontram
são imagens que remetem para uma outra realidade: a realidade pintada.
Por exemplo, quando observamos uma fotografia aquilo que se nos
apresenta é um determinado referente e não a coisa em si. De facto
aquilo que estabelecemos é um protocolo, aceitamos que a coisa real e a
representação da coisa possam ser encaradas como o mesmo. Como se
admissivelmente lhe reconhecêssemos as mesmas propriedades, as mesmas
qualidades, o mesmo valor.
Outra coisa é a questão de podermos utilizar a representação para
prolongar o espaço. Ou seja utilizar o desenho como instrumento para
destruir o plano de representação para fazer crer que existe espaço
tridimensional dentro do plano: é o caso da pintura ilusionista em
trompe l’oeil. Mas também podemos ter uma situação de ilusão na
percepção do próprio espaço. Com o recurso a subterfúgios ópticos
podemos dilatar ou comprimir o espaço.
Quais as vantagens de se recorrer a
essa técnica?
Mais do que o problema da vantagem, aquilo que interessa é encarar a
questão no campo dos resultados. Qualquer estratégia que tenha como
efeito a indução de espaço terá certamente nos mecanismos ópticos um
valente e importante aliado. Ou seja para a implementação de um
determinado efeito temos na génese uma causa: a utilização dos preceitos
perspécticos.
No fundo através dessa técnica
cria-se um espaço de ilusão, onde quem observa um determinado trabalho
vê aquilo que lá não está, podendo ser induzido, por exemplo, a adquirir
um determinado produto?
Respondendo à primeira parte da questão, é verdade que pelo engano dos
olhos pode-se suscitar um espaço de ilusão, mas numa vertente mais
filosófica o que interessa é podermos acreditar que estamos perante uma
ilusão de espaço, ou que aceitamos reconhecer tridimensionalidade, mesmo
que confinados à bidimensionalidade do plano.
Quanto à segunda parte da pergunta e apesar da minha formação ser mais
no âmbito da arquitectura, penso que a invenção do marketing, por si só,
acaba por pressupor a adopção de determinadas escolhas nem sempre
baseadas a partir de critérios funcionais ou de qualidade. É óbvio que
uma boa imagem é também sinónimo de qualidade e que isso pode vender um
produto, muitas vezes mais do que o valor intrínseco deste. Quantas
vezes não escolhemos um produto somente por ter uma imagem apelativa ou
por termos sido seduzidos por uma boa publicidade.
Da sua experiência enquanto docente
universitário, esse engano do olhar, tem sido bem utilizado na área
comercial, para a promoção de determinados produtos ou marcas?
Se pensar numa lógica meramente apelativa julgo que sim. Todavia, numa
perspectiva mais consonante com o tema da ilusão julgo que existe toda
uma área ainda por explorar. É verdade que se pensarmos na questão da
realidade virtual e não nos efeitos da utilização simultânea de imagens
reais e virtuais, o mercado publicitário tem feito grandes avanços. No
caso da indústria automóvel têm aparecido exemplos absolutamente
notáveis. Todavia quer na exploração de ilusões ópticas quer na
utilização de, por exemplo, hologramas, são efeitos arredados do mercado
publicitário. Como sabem os hologramas são genericamente imagens
sobrepostas desfasadamente e que por visão binocular o cérebro junta-as
criando o efeito de espaço. Existem casos absolutamente fascinantes.
Com as novas tecnologias e programas
informáticos pode dizer-se que é mais fácil produzir conteúdos gráficos
que nos enganem, ou pelo contrário nós, enquanto consumidores estamos
mais atentos àquilo que nos apresentam?
É óbvio que as novas tecnologias têm implementado melhorias
substanciais. Cada nova ferramenta que se cria possibilita o
desenvolvimento de novas ferramentas e assim sucessivamente. Só assim se
compreende o enorme desenvolvimento que temos assistido nos tempos
actuais, criando velocidades vertiginosas e também por isso muito
perigosas. O processo de industrialização com diminuição de mão-de-obra
e a robotização dos processos construtivos tem conduzido a melhores
rendimentos mas paralelamente a menos necessidades de operários, o que é
igual a menos empregos. Para quê produzir se não temos consumidores com
poder de compra?
Quando o homem precisou de comunicar
fez do som palavra, criou códigos e signos estritos de reconhecimento.
Tornou legíveis as coisas e fez dos seus registos as mensagens. E hoje,
como é que as mensagens são construídas para chegarem a um determinado
público?
No início do mundo, os primeiros homens usavam a comunicação como forma
de dialogarem, de fazerem partilha de informação. Acontece que talvez
por culpa de Adão e Eva, passámos a viver com o estigma do pecado e da
tentação. E, tendo pecado uma vez, se calhar não temos problemas de
consciência em voltar a fazê-lo. O que quero dizer é que se em primeira
instância as mensagens eram mais puras e mais genuínas, com o tempo
foram-se refinando os argumentos, foi-se exaltando a mensagem em
detrimento do produto. Na sociedade moderna, deixámos de consumir para
satisfazer uma necessidade, antes inventámos necessidades porque o que
temos de fazer é consumir.
Cara da notícia
Vítor Murtinho nasceu em Ansião, em 1964.
Arquitecto pela Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de
Lisboa em 1988.
Professor Associado no Departamento de Arquitectura da Faculdade de
Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, tendo sido nesta
instituição Presidente das Comissões Científica e Executiva. Desde 2002
e até à actualidade exerce o cargo de Vice-Presidente da Faculdade de
Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra.
Doutorado em Arquitectura pela Universidade de Coimbra na especialidade
de Teoria e História da Arquitectura, em 2002, com a dissertação “La piú
Grassa Minerva. A Representação do Lugar”. Entre outras publicações, é
autor do livro “Perspectivas: O Espelho Maior ou o Espaço do Espanto”,
eDARQ-FCTUC, Coimbra, 2000.
Escreve com regularidade e tem proferido diversas conferências quer de
apresentação da sua obra arquitectónica quer sobre as problemáticas
referentes aos processos compositivos em arquitectura. Actualmente
prepara uma monografia, para a Editora Dafne, sobre o arquitecto
renascentista António Averlino conhecido como O Filarete.
É investigador no CES (Centro de Estudos Sociais) e os seus interesses
centram-se nas metodologias de abordagem conceptual do projecto e
especificamente naquilo que pode se designado como as arquitectónicas da
forma.
Exerce regularmente arquitectura desde 1988 sendo autor de obras
publicadas em diversas revistas da especialidade.
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