MARIANO GAGO, MINISTRO DO
ENSINO SUPERIOR
Nova rede do superior
em 2009
O ministro da Ciência e do Ensino
Superior considera que até ao final de 2008 a questão da reorganização
das ofertas formativas na rede de ensino superior deve estar concluída
no seu essencial, para que em 2009 entre em funcionamento uma nova
etapa. Mariano Gago respondia a uma questão colocada pelo Ensino
Magazine, em Peniche, depois de ter participado na sessão de abertura do
ano escolar do Politécnico de Leiria.
Mariano Gago explica que “a nossa responsabilidade (Governo), sem querer
prejudicar a vida das instituições que neste momento estão a organizar
os seus estatutos e portanto a reorganizar-se, é de durante 2008, com as
instituições, encontrarmos uma solução para a reorganização do essencial
das ofertas formativas, para que no ano lectivo 2008/09 os estudantes já
tenham à sua disposição uma rede mais coerente”.
O ministro esclarece que “durante 2008 o processo de reorganização da
rede de ensino superior deve ser feito no seu essencial. Para que o
processo tivesse avançado, foi necessário, em primeiro lugar, que o novo
regime jurídico, e que todo o dispositivo legislativo de Bolonha e da
mobilidade de estudantes estivessem em vigor, o que já acontece. Era
também necessário que os elementos externos de internacionalização e
controlo de garantia de qualidade estivessem concluídos”.
Potenciar. No que respeita à
reorganização da rede de ensino superior, Mariano Gago refere que “a
opção do Governo foi a de aproveitar e potenciar o investimento feito
nas diferentes áreas. Não foi a de encerrar instituições, concentrar os
recursos humanos nas outras e vender o património. Isto pela vantagem
importante da localização das instituições, numa estratégia de expansão
do número de estudantes do ensino superior, que passa por um
recrutamento de proximidade muito alargado”. Para Mariano Gago aquela é
a parte mais fácil da opção. “A mais difícil está por fazer. Todos
sabemos que temos escolas a mais e cursos a mais. Cursos a mais face à
qualidade do corpo docente para cada um deles. Escolas a mais face aos
recursos administrativos e burocracia que cada instituição a mais
acarreta para a formação dos estudantes. E esta é a parte difícil, a
qual está em cima da mesa”.
No entender do ministro, “o primeiro passo cabe às próprias
instituições, agora que vão elaborar os seus estatutos. Mas que fique
claro que esta reforma tem dois pilares: o trabalho das próprias
instituições e o trabalho do Governo. E que não haja dúvidas, o Governo
fará essa reorganização, esperando naturalmente, pelas propostas das
instituições”.
Mariano Gago lembra que é “importante a existência de consórcios entre
as instituições, para que tenhamos um ensino de qualidade, para que não
haja numa mesma região três ou quatro cursos semelhantes, cada um deles
sub-dotado em termos de pessoas competentes, e os estudantes dispersos.
Isso não é razoável”. O ministro sublinha que “cada uma das instituições
continuará a existir. Um consórcio significa que duas ou três
instituições acordam entre si que em determinadas matérias decidem em
conjunto. O objectivo último é que haja melhor formação para os nossos
estudantes”.
Avaliação. No seu discurso, o
Ministro lembrou apesar da evolução que o ensino superior registou em
Portugal e da modernização das instituições, com marcas importantes como
a abertura social ou o estímulo da mobilidade de estudantes, ainda há um
longo caminho a percorrer em matéria de reformas educativas. “O processo
de reformas no Ensino Superior ainda não acabou”, disse, para depois
exemplificar com “a avaliação das instituições - não as avaliações
simpáticas -, mas aquelas que coloquem problemas e desafiem as
instituições a alterar aquilo que deve ser mudado; e com o factor da
empregabilidade - o problema do primeiro emprego não é apenas dos recém
diplomados, mas também dos Politécnicos e Universidades.
Mariano Gago foi claro na necessidade de co-existirem os dois
sub-sistemas de ensino superior. “Em Portugal devem funcionar
Universidades e Politécnicos. A resposta dos estudantes foi clara nessa
matéria. Apesar de haver um crescimento na entrada de novos alunos nos
dois sub-sistemas, no Politécnico esse aumento foi de 24 por cento e nas
universidades de 11 por cento”.
Competição. O Ministro lembrou
ainda que durante muitos anos o ensino superior português viveu na
ilusão de que “não tinha competição internacional externa, nalgumas
zonas mais notadas da pós-graduação. As instituições vão ter que se
bater por estudantes contra instituições estrangeiras que, nalguns casos
lhes oferecem melhores condições não apenas de formação, mas também de
acolhimento social. Mas vão ter que se bater também por terem bons
professores. É portanto uma questão de sobrevivência do ensino superior
português que está em cima da mesa”. A qualidade da formação é
classificada como decisiva para Mariano Gago. “No futuro os nossos
estudantes não terão um mercado de trabalho tão local como estavam
habituados. Podem ter sido formados numa região próxima da residência
dos seus pais, mas o mais provável é que durante a sua vida profissional
vivam noutras regiões do país ou do estrangeiro. Vão estar cada vez mais
em contacto e em competição com outros diplomados que tiraram os seus
cursos noutros países. A nossa responsabilidade é dar-lhes, sem nenhum
facilitismo, as melhores condições para a formação que os vai acompanhar
ao longo da vida”.
MANUEL VILLAVERDE
CABRAL, EX-VICE REITOR DA UL
Abriu a caça aos
professores
O sociólogo denuncia que os professores
estão a ser maltratados, especialmente os do pré-escolar, básico e
secundário. Villaverde Cabral diz ainda que se houvesse uma elite
económica, moderna e inovadora que assumisse o risco de investir sem o
respaldo estatal, a Universidade evoluiria mais rapidamente. O
ex-vice-reitor da UL está convencido que os cortes orçamentais vão
continuar e que os estabelecimentos de ensino superior correm o risco de
se desarticular. Sobre a sociedade, Villaverde Cabral entende que desta
tem vindo a apoderar-se um «inquietante abrasileiramento» e que o
“centrão” político, dominado por PS e PSD, confiscou a representação
democrática.
Há mais de meio século que Portugal
não conhecia uma crise económica tão profunda. A depressão, que a todos
mais ou menos afecta, é meramente estatística ou resvala também para o
campo dos estados de alma e da falta de valores e referências válidas?
A crise não tem causas exclusivamente nem principalmente económicas,
como se demonstra aliás pelo «desvio» da economia portuguesa em relação
à da UE. A crise é eminentemente política, causada pela instabilidade
governativa latente entre duas claques partidárias marcadas,
basicamente, pelo clientelismo, a corrupção, o tráfico de influências e
a incompetência (estou a falar do PS e do PSD, i.e, do «centrão» que há
muito tempo confiscou a representação democrática em Portugal), que têm
alternado no Poder sem alternativas políticas genuínas: alternâncias
inopinadas, por abandono ou incapacidade das pseudo-lideranças
(Guterres, Durão Barroso, Santana Lopes), sem alternativa real.
O mal reside apenas na política e
nos que executam essas políticas?
Por esta via, a crise é também social, ou seja, uma «crise de valores»
própria de uma sociedade que ficou a meio-caminho do seu processo de
modernização e se encontra, há sete anos seguidos, numa verdadeira
espiral regressiva, tanto no plano dos direitos materiais como sociais.
As recentes manifestações organizadas pela CGTP são, contudo, um sinal -
até certo ponto surpreendente, dado o declínio da «velha esquerda» - que
a «depressão», melhor dizendo: a anomia, não é completa e pode estar a
chegar ao fim, quem sabe?
O aparecimento de candidaturas independentes dos partidos capazes de
atrair votação significativa (estou a pensar em Manuel Alegre nas
presidenciais e em Helena Roseta nas intercalares de Lisboa) vai no
mesmo sentido. E até a vitória/boa votação de candidatos acusados de
corrupção contra os seus partidos de origem (Fátima Felgueiras, Valentim
Loureiro, Isaltino, Carmona) é mais um sinal da decadência – na minha
opinião irreversível – do actual sistema político-partidário, o que,
sendo perigosíssimo, não deixa também de ser esclarecedor.
Os momentos de exaltação da pátria
coincidem, quase sempre, com a realização de eventos futebolísticos de
dimensão europeia ou mundial. Isso é sintoma da crise de valores ou é da
opinião que para além do futebol nada mais é motivo de orgulho?
Não creio que seja nem uma coisa nem outra. A «mídia» é que exagera o
lugar do futebol no imaginário lusitano, possivelmente por falta de
outras matérias que estão fora do seu – dela, «mídia» - horizonte
cultural. No fundo, a importância do futebol é inversamente proporcional
ao nível de instrução da população e só serve para «tapar» tanto o bom
como mau da nossa sociedade.
Se o futebol tivesse alguma coisa que ver com o desenvolvimento social e
económico, o Brasil não seria a maior potência futebolística do mundo.
Aliás, o lugar que o futebol acabou por conquistar na «mídia»
pós-revolução, digamos, de 1986 para cá, é mais um sinal do estranho e
inquietante «abrasileiramento» da sociedade portuguesa, que se parece
cada vez mais com o que o Brasil tem de pior: as telenovelas, os
condomínios fechados, a ostentação das pseudo-elites, a distância
social, as desigualdades económicas crescentes, etc.
Os três últimos primeiros-ministros
saíram do cargo a meio, os deputados do Parlamento estão desacreditados
e, ainda assim, é o Presidente da República que salva “a honra do
convento”, gozando das maiores taxas de popularidade. Faltam-nos líderes
carismáticos que façam um exercício de poder responsável aos olhos da
opinião pública?
O «carisma» não é um fenómeno individual, como se crê, mas sim social,
colectivo: não é «carismático» quem quer, mas sim quem a sociedade – ou
determinados grupos sociais com peso e influência numa determinada
altura – investe com essa propriedade. Em Portugal, confunde-se
«carisma» com notoriedade e esta última, hoje em dia, é conferida
sobretudo por esse electrodoméstico que nos faz esquecer momentaneamente
das agruras da vida, a televisão, mas o esquecimento é só momentâneo.
A verdade é que nem em Portugal nem em qualquer país minimamente moderno
existe hoje pathos social susceptível de conferir «carisma» a quem quer
que seja, muito menos carisma político. Por exemplo: considerando que
uma pessoa como José Mourinho seria hoje o português com mais «carisma»,
alguém acredita que ele seria eleito presidente da República ou
primeiro-ministro? O único indivíduo que, entre nós, acredita no seu
próprio «carisma» é o Sr. Santana Lopes… Isso diz tudo sobre o assunto!
As sondagens não têm nada a ver com o «carisma» mas sim com as
alternativas políticas existentes. A figura do Presidente da República
teve sempre boas sondagens por causa daquele que é, porventura, o maior
paradoxo do sistema político português, ou seja, a popularidade do P.R.
deve-se ao facto de não exercer o Poder e, simultaneamente, de a maioria
das pessoas gostar que ele exercesse mais Poder, mas é claro que, no dia
em que ele começasse a exercer o Poder, começaria a perder a
popularidade…
O aparelhismo partidário, o
carreirismo político e a gula incessante por “tachos” políticos,
nomeadamente no seio dos partidos do arco do poder, está a matar as
forças partidárias?
Não estão a matar, já mataram; só falta enterrá-las!
Os partidos são máquinas de Poder
que têm por objectivo primordial a captura de votos no eleitorado. Que
receita advoga para que os partidos mudem esta face interesseira,
propagandística e se ocupem realmente de resolver os problemas dos
cidadãos?
Só a pressão de baixo, dos cidadãos e não meramente dos «eleitores», é
que pode conter a oligarquia partidária, e mesmo assim só por momentos,
pois é bem conhecida a «lei de ferro» que faz dos partidos aquilo que
eles são. Em alternativa à pressão de baixo, pode-se imaginar um
improvável poder emanado de igualmente improváveis elites
extra-partidárias, tal como aquele que alguns presidentes da República
podem ter exercido no passado, aqui e além pelo mundo, por exemplo no
caso do General De Gaulle durante partes dos seus mandatos… Em Portugal,
não se vislumbra, por ora, nem uma nem outra alternativa à oligarquia
partidária – e por isso é que os cidadãos se abstêm e os partidos têm
cada vez menos apoio, para não falar de prestígio e simpatia!
A hibridez ideológica faz com que já
não se distinga onde têm origens as políticas de esquerda e direita, se
em PS ou PSD. O actual primeiro-ministro é acusado pela oposição de
governar à direita, quando o seu governo reclama ser socialista. A
tentação pelo “centrão” está a tornar o panorama político indiferenciado
e desinteressante, levando os eleitores a abster-se e a procurarem
soluções alternativas?
É isso mesmo e a única consolação que nos resta é que, nos outros países
europeus, a situação não é substancialmente diferente: basta pensar na
oligarquia política que confiscou o poder na União Europeia e na sua
recente fuga a referendar o tal «tratado» que ela diz ser tão importante
para «gerir a Europa» mas insuficientemente importante para o submeter à
aprovação dos cidadãos. Se é tão bom para nós, porque é que não podemos
votar?
Em Portugal, como aliás na Itália e na maioria dos países de Leste, a
situação é ainda mais grave, porque as respectivas oligarquias
partidárias nacionais são ainda mais fechadas, incompetentes, corruptas
e clientelares.
O interior está desertificado, a
indústria está a perder terreno, a construção naval também, a
agricultura definha a olhos vistos e até os têxteis, sofrem o efeito da
deslocalização. De que vamos viver daqui a uma década? O turismo vai ser
a nossa eterna “galinha dos ovos de ouro”?
Julgo que ninguém sabe ao certo e os «futurólogos» menos do que os
outros!
É provável, contudo, que o turismo seja uma das actividades económicas
com mais futuro, mas sem indústria avançada, sem serviços de qualidade,
sem formação profissional, etc., só poderá ser aquele «turismo de
massas» que ninguém quer e que, de facto, não terá grande futuro porque
os nossos preços, como no resto da economia, não são competitivos.
Concorda com o ex-ministro das
Finanças, o Prof. Ernâni Lopes, que afirmou este gigantesco paradoxo,
que «os portugueses produzem como os marroquinos e gastam como os
alemães»?
Se o Prof. Ernâni Lopes disse isso, fica-lhe muito mal, porque nunca se
deve falar dos «Portugueses» como se nós não fizéssemos parte deles,
como se estivéssemos fora e acima deles… Como não é possível «mudar de
povo», então a responsabilidade pelas suas eventuais deficiências só
pode ser das elites às quais o Prof. Ernâni Lopes pertence…
Foi vice-reitor da UNL e actualmente
preside ao conselho directivo do ICS. Pela experiencia do meio
académico, queria que me dissesse se acha que a Universidade continua
muito distante das necessidades do mundo real e laboral?
E podia dizer-se o inverso: as elites económicas e empresariais estão
muito longe da universidade, isto é, do mundo moderno, tecno-científico
e cultural…
Penso, com toda a certeza, que os estímulos imprimidos à sociedade e à
própria economia portuguesas pela Universidade são objectivamente
superiores aos estímulos provenientes do mundo financeiro, comercial e
industrial, o qual sempre preferiu e continua a preferir mão-de-obra
barata, como é bem sabido!
Isto, sim, é que constitui o maior óbice ao desenvolvimento do país,
contribuindo indirectamente para a transformação da universidade numa
fábrica de diplomados sem emprego, que é o último drama que acaba de nos
atingir, acrescentando-se ao «abrasileiramento» de que eu falava a acima
e do qual, obviamente, os brasileiros não têm culpa nenhuma. Sob a
pressão de uma elite económica moderna e inovadora, que assumisse o
risco de investir sem a protecção do Estado (i.e, dos governos e dos
partidos), seguramente que a Universidade evoluiria mais rapidamente.
O Conselho de Reitores veio a
terreiro queixar-se dos cortes e do desinvestimento orçamental, para
além do teor do regime jurídico aprovado para as instituições do ensino
superior. Que opinião tem da política seguida pelo actual ministro
Mariano Gago?
Os cortes são bem reais e vão continuar. Quanto à política do ministro
Mariano Gago, um amigo de velha data com quem tenho tido o prazer de
colaborar frequentemente ao longo dos anos, é preciso dizer que ninguém
fez mais do que ele pelo desenvolvimento da investigação científica em
Portugal, incluindo nas Ciências Sociais; nos últimos anos, contudo, o
aumento da «massa crítica» prosseguido por ele não foi acompanhado pela
necessária diferenciação «bottom up», como de resto acontece
recorrentemente em Portugal, que se massifica sem se diferenciar. Seja
ao nível das bolsas, dos projectos e das avaliações, não evoluímos ainda
do «quantitativo» para o «qualitativo», do institucional para o
individual e o «grupal».
Quanto às universidades, acabou por se perceber que não era por acaso
que o Professor Mariano Gago não queria ocupar-se do ensino superior. De
facto, até agora não só não propôs uma nova fórmula de financiamento
perante os «cortes» ditados pelo défice orçamental como também não
reformou o estatuto da carreira docente – os únicos instrumentos que
permitiriam melhorar de forma significativa a relação entre investigação
e docência nas universidades.
Em vez disso, concentrou-se na destruição do alegado sistema de poder
das universidades, coarctando a sua necessária autonomia e colocando,
por assim dizer, a investigação contra a docência; do mesmo passo, abriu
o caminho a uma improvável privatização das unidades de investigação e
pós-graduação melhor classificadas, através de um «regime fundacional»
que ainda não se compreendeu como é que funcionaria e que foi recusado
pela própria instituição à qual se dirigia, o Instituto Superior
Técnico. Entretanto, em vez de se promover a diferenciação de uma forma
consolidada, gerou-se nas universidades o risco de um processo de
desarticulação sem vantagens aparentes para ninguém. Vamos ver como é
que as universidades reagem a uma lei aprovado exclusivamente pelo PS. A
desarticulação é tamanha que o risco maior é que, por inércia defensiva
perante o ataque governamental, «fique tudo na mesma»!
Num âmbito mais alargado,
extravasando o que são as universidades, existe o sector educativo,
propriamente dito. Mais de duas dezenas de ministros nos últimos 30
anos, um rosário interminável de políticas avulsas e experimentalismos
vários não ajudaram a dar frutos, colocando-nos na cauda da Europa. Um
pacto de regime para a Educação, como recentemente aconteceu na Justiça,
podia ajudar a inverter o rumo desse sector ou crê que seria mais um
exercício de retórica?
No sistema de ensino pré-primário, primário e secundário parece reinar a
«caça aos professores», combinada com o encerramento de escolas,
soi-disant sem escala pedagógica, como as melhores estratégias para
cortar despesas e, uma vez mais, reduzir o défice orçamental.
Entretanto, anunciam-se «melhorias de alguns pontos percentuais» dos
indicadores que nos envergonham universalmente, como o abandono e o
insucesso escolares… Quanto ao «pactos de regime», já existem os mais
sólidos dos «pactos» entre os partidos do «centrão», como sejam o pacto
do défice, o pacto do não-referendo europeu, em suma, o pacto PS-PSD da
alternância sem alternativa.
O “caso Maddie” tem dominado os
espaços informativos nos últimos meses. A dimensão do caso deve-se à sua
semelhança com uma telenovela da vida real, o pão e circo das sociedades
modernas, e ao facto de ter sido alimentado por jornalistas ávidos em
obter audiências rápidas e sem esforço?
Também se deve a isso, seguramente, mas deve-se muito ao facto de se
tratar de uma menina estrangeira – britânica, para mais! – e de o crime
afectar a indústria do turismo. A prova é que, quando se tratou de uma
menina portuguesa, no mesmo Algarve mas sem relação com o turismo,
ninguém se afligiu sobremaneira, a começar pelo governo e pelo
Ministério Público…
A Comunicação Social, como poder
fáctico, têm uma preponderância fundamental nos tempos actuais, sendo a
maior parte dos órgãos propriedade de grupos económicos que dominam
praticamente todo o panorama mediático no nosso Pais. Confia na
independência jornalística a 100 por cento?
Nem a 100 por cento nem a 50 por cento... A «mídia» portuguesa sofre não
só de pressões de todo o género, a começar pelas do governo e dos
patrões, como sofre também de falta de dimensão e de diferenciação,
sobretudo ao nível da televisão, que sofre por seu turno a concorrência
desleal da TV estatal. Os chamados «jornais de referência», porque têm
muito pouca audiência, viram-se para dentro e tornam-se demasiado
confidenciais, acabando por provocar o afastamento do público. Em suma,
a «mídia» funciona em círculo, mais ou menos fechado, correndo
permanentemente atrás da «notícia» em vez de produzir opinião
qualificada.
Nuno Dias da Silva
CARA DA NOTÍCIA
E se do Palácio de
Belém
saísse um partido político?
Manuel Villaverde Cabral é um dos
académicos mais respeitados do País. Nasceu na ilha de São Miguel, nos
Açores, em 1940.
Concluiu o Curso Geral dos Liceus em 1957, tendo ingressado no mesmo ano
no curso de Arquitectura da Escola Superior de Belas Artes de Lisboa,
que abandonou em 1958 para iniciar a vida profissional, primeiro como
funcionário público e, depois, como quadro editorial (Jornal do Foro,
Publicações Europa-América e Editorial Ulisseia).
Exilado político desde Novembro de 1963 até ao 25 de Abril de 1974 em
França, onde continuou a desenvolver actividades profissionais nos meios
editoriais (quadro, empregado de livraria, tradutor, consultor, revisor
de provas, etc.) e onde retomou os estudos universitários como
trabalhador-estudante no ano lectivo 1965-66.
Em paralelo com a investigação, leccionou ao nível da pós-graduação
várias disciplinas no âmbito das ciências sociais.
Foi investigador/docente visitante de diversas universidades do mundo,
entre elas, a de Winscosin, nos Estados Unidos, e o King’s College de
Londres.
Foi professor universitário no ISCTE e na Faculdade de Letras da UL.
Desde 1988, é investigador coordenador do Instituto de Ciências Sociais
(ICS), instituição onde já exerceu e exerce as seguintes funções:
presidente do conselho científico (1991-1997 e 2004-2007), presidente do
conselho directivo (desde este ano).
Desempenhou o cargo de vice-reitor da Universidade de Lisboa
(1998-2002).
Foi director da Biblioteca Nacional (1985-1990).
Em 1997, foi um dos coordenadores do programa de investigação “Atitudes
Sociais dos Portugueses”.
Em 1998, foi distinguido com a Ordem da Liberdade.
Colabora regularmente na comunicação social, escrita, radiofónica e
televisiva, e frequentemente é convidado para debates sobre questões
político-partidárias.
No ultimo verão, foi um dos entrevistados do “Diário Económico” e,
curiosamente, um dos mais polémicos, ao sugerir que se criasse um
partido político a partir de Belém, sugestão que gerou intenso debate,
tanto nos jornais como na blogosfera.
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