Director: João Ruivo    Publicação Mensal    Ano VIII    Nº93    Novembro 2005

Dossier - Instituto Politécnico de Portalegre

NUNO OLIVEIRA, PRESIDENTE DO POLITÉCNICO DE PORTALEGRE

"Esta região anda distraída"

As forças vivas de Portalegre deveriam criar pontes entre si e com o Politécnico para formarem um lobby que pudesse fazer pressão junto da Administração Central, no sentido de captar investimentos para a região. Essa seria uma forma de ajudar ao desenvolvimento regional de uma área do País que tem pouco peso político, mas muitas potencialidades.

A opinião é do presidente do Instituto Politécnico de Portalegre, Nuno Oliveira, o qual garante tudo ter feito para estabelecer essas pontes, mas lamenta que não haja esforço idêntico por parte de outras instituições. “Esta região anda muito distraída em relação ao seu instituto politécnico. Algo que acontece também com algumas instituições. Estamos cansados de tentar lançar pontes e de não termos correspondência. Há variadíssimos exemplos disso, de propostas que lançámos e que não tiveram resposta, ou que tiveram respostas de algum modo hostil”.

Nuno Oliveira só entende essas respostas como resultantes de “alguma sede de protagonismo” da qual diz não ser portador. “Esta instituição, com a sua dimensão, com os seus quadros que constituem a principal massa crítica da região, talvez amedronte alguns dos actores desta região. Eu gostaria que não fosse assim, gostaria de não dizer isto. Mas isso acontece. E para não entrar por outros caminhos, digo apenas que as pessoas andam distraídas”.

Na opinião daquele responsável, essa distracção chega também às populações, pois “uma instituição que representa 25 por cento da população desta zona e que injecta aqui cerca de um terço do rendimento disponível, é desagradável ver que essas pontes não se conseguem concretizar”.

Nuno Oliveira conclui: “Não tenho qualquer problema pessoal com ninguém. Relaciono-me bem com as pessoas, nunca tive conflitos, nem o Instituto os teve. Mas, como portalegrense e como dirigente da instituição, fico triste e desencantado de não sermos capazes de, em conjunto, darmos um abanão, pois temos possibilidades que poderiam e deveriam ser aproveitadas”.

OBRAS. Preocupado com o facto das acções realizadas com vista ao desenvolvimento serem “desgarradas, isoladas”, bem como com “a falta de um lobby que se faça sentir junto do poder central e dos órgãos decisores”, Nuno Oliveira diz que tal poderá explicar algumas realidades como “a ausência de população nesta zona”, além de outros fenómenos sociais, culturais. “Era bom que esse fenómeno pudesse ser analisado do ponto de vista sociológico. Por exemplo, dos 230 deputados da Assembleia, apenas dois são de Portalegre, quando há pouco tempo eram quatro”.

Dada a falta de peso regional, o Politécnico tem procurado fazer obras com os próprios meios e tem conseguido algumas melhorias, como aconteceu na recuperação do sótão e de outras áreas do edifício dos serviços centrais. “A necessidade é mestra de engenho. Já tive oportunidade de agradecer publicamente aos funcionários da instituição a forma dedicada como se empenharam na recuperação do edifício dos serviços centrais e noutras actividades”.

Outro exemplo é a Escola Agrária de Elvas, que passou a funcionar no Quartel do Trem devido à disponibilidade dos funcionários para desempenharem outras tarefas. “Desde os auxiliares de manutenção aos vigilantes, até aos seguranças, passando pelos jardineiros, toda a gente se disponibiliza, em função dos seus conhecimentos, para fazer a recuperação dos edifícios. Por isso não temos necessidade de recorrer a adjudicações a empresas exteriores, a não ser em casos pontuais”.

Nuno Oliveira fala ainda “numa gestão feita de forma cuidada”, além da contribuição do gabinete técnico composto por um arquitecto, um engenheiro e um desenhador, que permite “fazer este tipo de trabalhos com custos reduzidos”. A prova está no Quartel do Term. “Inicialmente era um projecto de um milhão de contos e o Politécnico de Portalegre conseguiu instalar lá a escola em condições dignas, tendo gasto, até este momento, 60 mil contos”.

Este ano avançará porém a cantina da Superior de Educação, uma obra que durará quatro a cinco meses e que será financiada no âmbito do POSI. Com esta obra, a Superior de Educação fica com o actual espaço de refeitório livre, podendo ali instalar gabinetes de docentes e salas de aula. Ao mesmo tempo, o espaços que a ESE ocupa na residência do Secundário, podendo aí aumentar a capacidade de alojamento.

Falta agora porém que seja resolvido o problema do orçamento do Politécnico, que neste momento “é igual ao de há cinco anos atrás, quando só nesse ano, a instituição cresceu 40 por cento em número de alunos”. Por isso, Nuno Oliveira está contra os cortes cegos na despesa, pois neste momento o Politécnico tem “um buraco orçamental na ordem dos 800 mil euros”, ou seja, o dobro do ano passado, uma vez que o orçamento se manteve, mas o IVA aumentou, os professores progrediram na carreira e houve actualizações salariais.

Atendendo a que os serviços centrais apenas ficam com 10 por cento das propinas, indo o restante para as escolas, as receitas próprias não permitem compensar as falhas do orçamento. E como a redução de orçamentos será uma realidade futura, Nuno Oliveira considera que as escolas têm de trabalhar no sentido de gerarem receitas próprias. Já o Politécnico aposta nos contratos-programa porque não tem outro modo de obter receitas próprias.

ALUNOS. Obras à parte, Nuno Oliveira ficou satisfeito com a taxa de colocação de novos alunos nas escolas do Politécnico, que ultrapassou os 75 por cento. “Tivemos uma taxa muito elevada que nos garante uma posição agradável entre todas as instituições, incluindo as não politécnicas. Podemos dizer que tivemos a melhor taxa de colocação do Interior”, afirma. E juntando os candidatos que entraram através dos concursos especiais, especialmente os reingressos, “a taxa será da ordem dos 95 por cento”.

Como razões que explicam este sucesso, o presidente da instituição aponta a divulgação dos cursos, nomeadamente o road show que o Politécnico fez em conjunto com a Delta Cafés em todas as secundárias dos distritos de Portalegre, Évora, Beja, Setúbal, Santarém, Castelo Branco, Guarda e Viseu. “Isso teve alguns efeitos, até porque foi feito em conjunto com uma empresa de referência”, afirma.

Aponta ainda a página web actualizada, a oferta formativa e as condições de trabalho oferecidas aos alunos. “A nossa oferta é privilegiada ao nível da alimentação, do alojamento, das bolsas de estudo, da prática desportiva, acções culturais, apoio médico e psico-pedagógico, a biblioteca científica, os campus virtuais. Neste campo, os nossos melhores embaixadores são os alunos. Como diz o povo, o bem soa e o mal voa. O nosso bem tem soado”.

Nuno Oliveira destaca ainda o equilíbrio da oferta formativa. “Excepção feita a alguns cursos da área da educação e do ensino agrário, os outros cursos têm as vagas que estão adaptadas à procura dos alunos. Daí as taxas de ocupação serem elevadas”. Algo que, apesar de tudo, não aconteceu com o chamado ano preparatório, destinado a alunos que concluíram o 12º Ano e não entraram no Superior.

“Preparámos todos os elementos com muito cuidado, com o envolvimento das escolas e alargámos até aos alunos que nem sequer tinham terminado o 12º Ano. Divulgámos como pudemos, mas quando chegámos ao prazo limite, tínhamos apenas seis candidatos”, algo que não atribui ao preço praticado, pois “fazendo as contas, cada hora de formação, partindo do princípio que os alunos assistiam às aulas previstas, custava um euro”.

ASSOCIAÇÃO. Os alunos do Politécnico de Portalegre devem organizar-se rapidamente no sentido de colocarem em funcionamento a Associação Académica, pois essa será a forma de ganharem poder negocial, com todas as vantagens que tal lhes poderá trazer. “A Associação está constituída, mas não funciona. Os alunos perdem poder negocial e não têm força, não têm expressão. São frágeis no seu conjunto. Muitas vezes, vão-me perdoar eu dizer isto, não são levados a sério”, esclarece o presidente do Politécnico.

 

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