INSTITUTO POLITÉCNICO DE
BEJA
O preço da
interioridade

O Instituto Politécnico de Beja ressentiu-se da crise que afecta o ensino superior no interior do país, ficando o preenchimento das vagas aquém das expectativas. Numa altura em que assinalou mais um aniversário, o IPB prepara-se para enfrentar o futuro com determinação, criando novos desafios à região em que está inserida. José Luís Ramalho, presidente do Politécnico explica que “o Instituto foi afectado pela sua localização. Estamos numa zona que tem apenas cinco por cento da população do país, onde a desertificação cresce de dia para dia. A nossa preocupação de fixar quadros superiores é grande, mas não temos tido muito êxito, pois os nossos diplomados nem sempre encontram mercado de trabalho nesta região”.
José Luís Ramalho entende que deve existir uma acção concertada entre as diversas forças vivas do Distrito. “Muitos dos nossos diplomados querem ficar por cá”, diz, para depois acrescentar: “as colocações de alunos deste ano não foram muito boas, mas mexeu com as instituições, pois tomámos consciência da necessidade de reestruturar as instituições e de redefinir estratégias. Mas a falta de alunos é um problema que não afecta só o Politécnico, mas sim a cidade e a região, pelo que a solução para enfrentar isto deve ser encontrada pelo instituto e pelos seus parceiros”. O presidente do Politécnico lembra “o que era Beja antes da chegada do ensino superior e depois dele ter chegado. Certamente que ninguém quer que o tempo volte para trás. Por isso, a nossa preocupação é, através do Conselho Consultivo – que envolve as forças vivas -, reflectir sobre o que é melhor para o Instituto, criando Beja mais atractiva”.
A solução poderá passar pela resposta às perguntas “o que é que poderá levar os alunos a escolherem Beja? O que é que as autarquias podem fazer para fixar os alunos do Distrito na região? É importante convencermos os alunos do distrito a estudarem em Beja, pois caso consigamos isso, vamos também fixar esses futuros quadros superiores na região”. A estratégia a seguir vai ser estudadas de forma global, garante José Luís Ramalho.
FORMAÇÃO. Ao nível interno, as soluções poderão passar pela apresentação de novas valências. “Não podemos continuar a fazer mais do mesmo. Temos que procurar alternativas. Neste momento temos vagas exageradas que não foram preenchidas na sua totalidade, as quais foram impostas pelos anteriores ministérios da tutela e agora, de forma injusta, fazem-se rankings sobre as colocações”, diz. José Luís Ramalho adianta: “se se quer fazer um ranking é preciso avaliar uma série de parâmetros, como as condições de trabalho, formação do corpo docente ou a nossa intervenção junto da comunidade e não apenas a questão das vagas. A missão das instituições de ensino superior do interior do país, não passa apenas pela formação inicial, mas também pelos cursos de pós-graduação, de especialização, disciplinas isoladas e formação ao longo da vida”. Por isso, José Luís Ramalho sublinha “que as instituições de ensino superior não se resumem à formação inicial”.
O trabalho com vista a obter resultados mais positivos já começou no IPB. “Já reunimos com docentes e não docentes e com todos os conselhos científicos, os quais nos vão apresentar propostas dos cursos que poderão encerrar e daqueles que poderão abrir. Temos que ser mais realistas e ser mais incisivos junto da população para os nossos jovens optarem pelo Politécnico de Beja”. A proposta de novos cursos na área da saúde pode ser uma aposta. “Temos que tirar proveito da Escola Superior de Saúde. Vamos criar cursos que possam beneficiar dos espaços específicos e dos recursos humanos que dispomos”. As apostas poderão abranger as áreas da saúde ambiental, técnicos de saúde pública ou terapia ocupacional. “As propostas estão a ser preparadas pelas Escolas Superior de Saúde e Agrária”. Uma coisa é certa, “não vamos criar cursos com currículos que tenham por finalidade arranjar disciplinas para o docente A ou
B”.
BOLONHA. A implementação da Declaração de Bolonha é outro desafio que José Luís Ramalho quer aproveitar. “Essas alterações vão mexer com o número de alunos. Pessoalmente gostaria que o primeiro ciclo seja de três anos e o segundo ciclo de dois anos. Isto, a confirmar-se vai fazer com que muitos dos alunos que concluam o primeiro ciclo não prossigam automaticamente para o segundo”.
José Luís Ramalho, considera, no entanto, que “os Politécnicos podem levar vantagem sobre as universidades, se souberem aproveitar as suas especificidades”. Algo que no entender do presidente do IPB nem sempre aconteceu, pois “houve alguns politécnicos que tentaram imitar aquilo que era feito nas universidades”.
CRÍTICAS. O presidente do Instituto Politécnico de Beja não consegue compreender o não cumprimento, por parte do Governo, do contrato programa assinado há um ano com o Ministério da Ciência e do Ensino Superior, o qual visava a construção da nova escola Superior de Tecnologia e Gestão e da melhoria das explorações agrícolas da Superior Agrária. “O actual ministério, em Agosto, garantiu-me que o Estado era uma pessoa de bem e que iria respeitar os compromissos assumidos. Só que no Piddac não fomos considerados, e as razões nunca me foram explicadas”.
José Luís Ramalho não aceita que na origem desta decisão tenha estado a diminuição do número de alunos. “É abusivo pensar-se isso, até porque não fazemos apenas formação inicial. Por outro lado, é importante lembrar que todos os nossos cursos exigiam a matemática como disciplina de ingresso. E não temos outros cursos que não exigem a matemática, porque não temos espaço físico para crescer”.
José Luís Ramalho lembra que “estes contratos de desenvolvimento não podem ser anulados unilateralmente, pelo que terá que haver negociações. Compreendo que o país atravessa dificuldades, mas não podemos deixar de lutar pelas nossas causas e razão. Já convidámos o senhor ministro a vir cá, para que possa verificar que os mais de 1300 alunos poderiam ter aulas nas outras escolas, como na Agrária, como o seu ministério sugeriu. É que no caso concreto da ESA, as suas instalações são grandes, mas integra muitos laboratórios e salas de aula que não são suficientes para os 700 alunos da Agrária”. O presidente do IPB acredita que “quando o ministro visitar o IP Beja, vai cumprir o contrato, pois não podemos continuar com aquelas instalações na
ESTIG”.
JOSÉ LUÍS RAMALHO
PREPARA FUTURO
Beja terá pólos de
excelência
O Instituto Politécnico de Beja está a criar a Região do conhecimento, envolvendo empresas e diversas entidades. “Temos várias empresas que se disponibilizaram a aceitar os doutoramentos-empresas”. Uma aposta que permite aos doutorandos integrarem empresas, desenvolvendo aí projectos, sendo uma parte do seu vencimento pago pelas firmas e a outra pela FCT. A ideia é que o doutoramento desses quadros superiores seja feito dentro das próprias empresas. Esta foi uma das novidades anunciadas por José Luís Ramalho, na comemoração de mais um aniversário do Politécnico de Beja, ao qual preside.
Esta aposta envolve também as autarquias e poderá avançar em breve, embora a região a envolver possa ser mais ampla que apenas o Baixo Alentejo e ao Alentejo Litoral. “Nós temos uma boa relação com a Universidade do Algarve, pelo que a nossa candidatura vai envolver também o Algarve. Em conjunto vamos ter mais valências e vamos dar continuidade ao trabalho que temos vindo a desenvolver em conjunto”.

Estg quer escola

O presidente da Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Beja considera fundamental a construção de novas instalações para aquele estabelecimento de ensino, tal como garantiu a anterior titular do Ministério de Ciência e Ensino Superior, Maria Graça Carvalho. “O processo emperrou, mas não perdi a esperança da construção da escola, Pois quer as verbas venham do Piddac, do Feder ou de uma outra forma, a construção da escola continua a ser fundamental para nós e para o desenvolvimento de toda a região”.
O aparecimento de outras ofertas formativas na ESTIG fica também comprometido, já que o contrato de desenvolvimento assinado com o Governo permitiria à Escola avançar para outras áreas. “Esse era um dos pressupostos do contrato, pois permitiria à ESTIG apresentar outro tipo de cursos, como pós-graduações ou de especialização, e também projectos para a comunidade”, refere. O presidente da Escola não percebe, por isso, as razões do não cumprimento do contrato. “Não é por haver uma quebra de alunos na formação inicial, neste momento, que se tira a ilacção que as novas instalações não devem ser construídas”.
Ainda assim, a ESTIG arrancou com duas pós-graduações. “A primeira em Segurança e Higiene no Trabalho e a segunda em Fiscalidade, esta última em parceria com a Universidade do Algarve. Já no que respeita aos cursos de especialização tecnológica, a situação torna-se mais difícil devido à falta de instalações”.
No que respeita à entrada de novos alunos, aquele responsável esclarece que “a nota mínima de 9,5 acabou por prejudicar todas as instituições que exigiam a matemática como disciplina de entrada. Penso que essa imposição foi feita numa altura em que o próprio ensino secundário não estava preparado”.
Em termos de oferta formativa, o presidente da ESTIG garante que a “escola já criou comissões de análise de reestruturação de cursos, de acordo com o Processo de Bolonha. Esperamos ter o processo concluído em Janeiro, cumprindo assim o prazo estabelecido”.

ESCOLA SUPERIOR DE
EDUCAÇÃO
ESE resiste bem
A Escola Superior de Educação de Beja conseguiu uma taxa de colocações de 77 por cento, a qual está ao nível da média em termos nacionais para escolas semelhantes e está a ministrar formação em áreas vitais para o Politécnico de Beja, tais como as artes, as tecnologias e a multimédia, áreas estas cujas vagas postas a concurso foram totalmente preenchidas. Nesse sentido, o presidente da instituição, Vito Carioca, considera que a oferta formativa está adequada ao público.
“As opções dos últimos dois anos incidiram nas áreas que consideramos de excelência em termos nacionais e até internacionais. Há toda uma formação ao nível da introdução do multimédia nas aprendizagens formais”, adianta aquele responsável, para quem “a escola ultrapassou até os números esperados pelo Ministério, que esperava 672 alunos e agora temos 680”. Nesse sentido, fala também em “boas expectativas” para os próximos anos, nos quais “deverá haver uma estabilidade em número de alunos e uma aposta na qualidade”.
O equilíbrio desejado entre o número de alunos, o financiamento e qualidade do ensino deverá ser atingido na ESE de Beja “dentro de um ou dois anos”, o que vai permitir apostar ainda mais na investigação e na formação dos docentes, sobretudo em termos de doutoramentos. Para já estão a avançar os planos de restruturação dos cursos tendo em conta as directivas de Bolonha, para implementar nos anos que se seguem.
Já em termos de pós-graduações, a Superior de Educação tem, desde há quatro anos, alguns mestrados em funcionamento, em colaboração com a Universidade de Évora e a Universidade do Algarve. “São mestrados na área da educação, os quais nos tem dado um know-how do que é trabalhar em pós-graduações, pelo que temos uma comissão responsável por apresentar um relatório que indique as áreas de excelência em que possam abrir mestrados já no próximo ano”.
Estes mestrados inserem-se no espírito do segundo ciclo definido na Conferência de Bolonha, sendo que deverão “abrir mais dois ou três cursos”, sobretudo em áreas como o desporto, as artes e a multimédia, além da área do serviço social. “Estamos a elaborar currículos para o segundo ciclo, para que os alunos possam prosseguir estudos na nossa instituição, em continuidade científica com a formação inicial”.

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