Director: João Ruivo    Publicação Mensal    Ano VII    Nº82    Dezembro 2004

Dossier

POLITÉCNICO DA GUARDA

O futuro mora aqui

O Instituto Politécnico da Guarda, com cerca de 3500 alunos, assinalou, no passado dia 6, mais um aniversário. Uma data que ficou marcada pela inauguração das novas instalações da Escola Superior de Turismo e Telecomunicações de Seia. Jorge Mendes, presidente do IPG, traça ao Ensino Magazine, os objectivos do instituto que dirige, as metas a atingir e explica aquilo que já foi feito.

O Instituto Politécnico da Guarda assinala mais um aniversário da melhor maneira. A inauguração das novas instalações da Escola de Seia era um objectivo antigo...

Exacto. A Escola Superior de Turismo e Telecomunicações, em Seia esteve durante três anos a funcionar em instalações provisórias e só no último semestre do ano lectivo 2003/2004 é que passou a usufruir da nova casa. A colocação da escola num edifício moderno e funcional era um objectivo do Politécnico da Guarda, pois o número de actividades desenvolvidas pela escola, quer internamente, quer para a comunidade, são imensas.

Relativamente às ofertas formativas, quais foram os passos dados pelo Instituto Politécnico da Guarda, para o aparecimento de novos cursos?

Fizemos um conjunto de várias propostas para diversos cursos, ao nível das escolas. A ESE apresentou três novas ofertas, tendo sido aprovado um novo curso de desporto. No caso de Seia foram apresentadas duas propostas, uma na área de gestão hoteleira e outra nas telecomunicações, sendo que esta última não foi aprovada. Ou seja, conseguimos aprovar dois novos cursos. No entanto é importante que se diga que quer a Escola Superior de Enfermagem, quer a Superior de Tecnologia e Gestão não apresentaram candidaturas a cursos novos. A de enfermagem, porque ainda não foi reconvertida em Superior de Saúde, e a de Tecnologia por opção. 

Ao nível das tecnologias continua a haver menos candidatos. Este é um problema para resolver...

Nós temos cursos, nomeadamente nas engenharias mecânica e topográfica, onde estão a entrar menos alunos. A Escola Superior de Tecnologia e Gestão está já a trabalhar para apresentar, no próximo ano propostas concretas para cursos de tecnologia, havendo a possibilidade de podermos vir a encerrar um ou dois cursos na escola, em troca com os novos.

Ainda no que respeita à oferta formativa, o Politécnico da Guarda está atento à implementação da Declaração de Bolonha?

É preciso sabermos quais são as decisões do Governo nesta matéria. E esta é uma questão que nos preocupa, pois continuamos sem saber qual o modelo a adoptar, se é de três anos para a licenciatura e dois para um segundo ciclo equivalente ao mestrado, ou se será de quatro anos de formação inicial mais um para o mestrado. Por outro lado, também não sabemos se vai haver flexibilidade consoante as áreas de saber e se o segundo ciclo de formação vai ser financiado. Por isso, é importante que haja uma decisão política sobre esta matéria. A partir do momento que isto seja feito, o problema da apresentação de novos cursos fica mais facilitada. Se isso não acontecer pode estar-se a inviabilizar a autorização de novas ofertas, com o discurso que ainda não se sabe como será implementada a Declaração de Bolonha. De qualquer modo, nós vamos apresentar novos cursos, e muito provavelmente com alternativas aos modelos em discussão.

Qual é a sua posição face ao modelo a adoptar?

Eu não defendo nenhum em concreto. A discussão ficou inquinada, pelo próprio ministério, quando se veio a discutir, a público, o número de anos, quando o que se deveria ter debatido eram os créditos. Se a discussão fosse por créditos, a questão da duração dos cursos estaria resolvida. No entanto, como se foi por esse caminho, e como a intenção do ministério é aplicar os três anos de formação inicial mais os dois de mestrado, os Institutos Politécnicos tem a sua missão mais facilitada.

Subjacente a esta questão está o financiamento das instituições?

Esse é outro aspecto que está a inquinar o processo. Nós deveríamos discutir todo o processo sem estarmos preocupados com a questão dos financiamentos às instituições, sobretudo para o segundo ciclo. O que leva a que muitas instituições defendam o modelo de quatro anos de formação inicial, mais um de mestrado, garantindo assim, pelo menos quatro anos de financiamento.

Esse segundo ciclo de formação deveria ser financiado pelo Estado, ou pelos alunos como acontece actualmente com os mestrados?

O Estado deve suportar esse financiamento, sobretudo nas áreas em que as Ordens venham a exigir esse segundo ciclo, como acontece na advocacia ou nas engenharias, por exemplo. Admito que noutros casos isso não aconteça. 

Isto significa que a Lei do Financiamento não é a melhor?

A Lei do Financiamento tem alguns problemas, pois quando se defende que uma parte substancial das verbas das instituições é definida pelo número de alunos, origina uma luta fratricida entre as diversas instituições. O que leva ao aparecimento de cursos light, que permitam angariar um maior número de alunos, independentemente das saídas profissionais. Ou seja, começamos a verificar situações interessantes. Na área do turismo, onde no país não há muitas escolas, começaram a surgir nas universidades cursos ligados ao turismo em instituições que não estão vocacionadas para essa área. Ao invés temos cursos, como a mecânica topográfica, onde apenas entram nove alunos, mas a empregabilidade é de 100 por cento. A questão que se coloca é se o estado não tem a responsabilidade nas áreas das tecnologias - fundamentais para o País e em especial para o Interior -, em vez de optar por regras cegas em que refere que os cursos com menos de 10 alunos fecham. Com este tipo de actuação estão-se a desviar os alunos das áreas carenciadas, para outras onde há excessos. Depois chegamos ao ponto de, o mesmo Ministério que aprova 200 vagas em diversos cursos, é o mesmo que vem propor às instituições cursos de reconversão profissional. Ou seja, permite que os jovens se licenciem e depois como estão desempregados há seis anos opta por fazer a sua reconversão. Seria mais correcto financiá-los à partida para cursos de áreas prioritárias. 

O facto das engenharias terem menos procura tem por trás o factor matemática, ou é também uma questão de moda?

São as duas coisas. No nosso caso concreto temos situações diversas. Mas há um aspecto que deve ser tido em conta. As instituições não estão a jogar com as mesmas regras do jogo. Para engenharia civil, por exemplo, nós temos como disciplina de entrada a matemática ou a física. Mas já temos universidades e politécnicos onde para se entrar em engenharia exigem a matemática, ou física, ou geometria descritiva, ou biologia e há até um caso de português. O que quer dizer que nessas instituições os alunos escolhem outras disciplinas para concorrer, entrando, no entanto com a mesma média negativa a matemática. No Politécnico da Guarda isso não acontece. Agora, das duas uma, ou há condições de ingresso idênticas, ou se não há, entramos numa área de «chico espertismo», onde cada um tenta arranjar as provas específicas que mais lhe convêm. 

Essa situação pode ficar agravada no próximo ano, se com a intenção do Ministério em exigir positiva nas provas específicas?

É outro problema, pois passa a ser exigida a média de 9,5 à prova ou provas específicas exigidas. O que irá afastar muitos alunos do ensino superior, pois a questão de exigir qualidade aos alunos na entrada no ensino superior é falsa. Primeiro, porque os resultados das específicas passam a ser a grande nota a ter em conta, em vez das obtidas em todo o percurso escolar no secundário. Isto é, passa a haver apenas uma eliminatória. Com esta lógica eu posso ter um aluno que tem uma média de 18 valores e que na prova especifica a matemática tem apenas 8 valores, ficando afastado do ensino superior. Se esta medida for avante o efeito que vai ter nos próximos anos, é que os alunos deixam de fazer exames às disciplinas em que reprovam, entrando para o ensino superior noutras áreas que não são as prioritárias. E eu pergunto: quantos alunos entraram no ensino superior com negativa na prova especifica de matemática e hoje são engenheiros? Muitos seguramente. Eu concordo que se deve exigir a média mínima de 9,5 para candidatura e não na nota da prova especifica. 

Mudando de assunto, a transformação da Escola Superior de Enfermagem em Escola Superior de Saúde poderá ser feita quando?

Gostaria de lhe poder responder. Ainda no Governo de Durão Barroso, a senhora ministra teve o cumprimento da sua parte de que as escolas de Leiria, Viseu, Guarda e Beja, para que essas escolas fossem transformadas. Quando tomou posse no novo governo, houve algum recuo da sua posição, alegando que deveria ter um parecer do conselho consultivo. Esse parecer foi de que se tinha de reordenar a rede e uma primeira comissão de análise para afirmar onde fazem sentido essas escolas. No entanto, ainda com o Governo socialista houve a criação da Escola em Castelo Branco, e já com o PSD em Bragança. A senhora ministra continua a dizer que os processos da Guarda, Leiria, Portalegre, Beja, Viseu e Santarém carecem de parecer. No entanto, não se coíbe de noutras áreas abrir escolas, como a Superior de Turismo do Fundão. Esta não é uma crítica para o Politécnico de Castelo Branco, nem para a Câmara do Fundão, pois cada um faz o seu papel. Ora como a diminuição dos candidatos aos cursos de turismo também é visível, e vamos ter uma escola no Fundão que vai captar alunos na sua área de influência, que hoje é abrangida pela Escola de Seia. No caso concreto da Saúde nós garantimos que essas áreas não serão iguais às ministradas em Castelo Branco. 

O plano de desenvolvimento do IPG integra a criação de mais alguma unidade orgânica?

Neste momento não, o que não quer dizer que não venha a ser discutida. A nossa aposta é a Escola de Saúde, a consolidação da Escola Superior de Turismo e Telecomunicações de Seia, com a abertura de novas áreas, e criar alternativas na Escola Superior de Tecnologia e Gestão com novos cursos. Além disso, vamos apostar na formação pós-graduada e para as empresas. A Escola de Seia tem apostado nesta área, e dentro em breve vai avançar com uma formação em enologia A Superior de Tecnologia também tem quatro cursos de especialização tecnológica aprovados, e a própria ESE tem muitas possibilidades neste tipo de formação pós graduada. No caso da Superior de Enfermagem propôs um curso de pós-graduação de enfermagem médico-cirúrgica.

A ministra do Ensino Superior afirmou que o futuro dos jovens passa maioritariamente pelos Politécnicos. Concorda com essa ideia?

Os politécnicos cresceram muito, e a diferença entre os alunos que entram em cada um dos subsistemas diminuiu muito. Mas apesar de todo o trabalho feito pelos politécnicos e pela empregabilidade dos cursos, ainda há um preconceito cultural muito grande. Gostaria que essa informação viesse a confirmar-se, mas isso depende muito das medidas que forem adoptadas para o sector. Se aquilo que se pretende é uma igualdade entre os dois sistemas, o que na prática não tem sido, mas se as políticas apontarem nesse sentido, então o ensino politécnico vai afirmar-se na sociedade. Convém referir que esta ministra tem estado muito atenta a essa questão, tendo um comportamento correcto para com os politécnicos.

Como é que vê a possível criação da universidade de Viseu?

A nossa posição foi sempre contra, pois continuo a considerar que é uma universidade virtual, da qual ainda não se conhece em concreto qual o modelo a adoptar. Esta foi mais uma decisão política. Não seria mais fácil a passagem do Politécnico de Viseu a Universidade? Se o problema é o nome, então chamem-lhe universidade, mas mudem a todos. No entanto, o importante nesta matéria, é que haja igualdade entre os dois subsistemas, e que sejam definidos os requisitos para ministrar determinado grau. Quem os tem ministra esse grau, quem não os tem não os dá. 

Como é que o Politécnico é visto pelas forças vivas da Região?

Do ponto de vista do discurso as referências são sempre positivas. Do ponto de vista prático, as coisas nem sempre são tão simples. Aquilo que eu sinto, é que uma das grandes diferenças que nós temos para com Castelo Branco, é que o IPCB tem um forte apoio do presidente Joaquim Morão e das forças vivas da cidade. Mas convém referir que em relação ao meio empresarial e social o Politécnico da Guarda tem ganho muito. Em termos políticos penso que estamos perante um problema estrutural, pois a Guarda tem pouco peso político e isso reflecte-se no Politécnico, no Hospital e noutras entidades. Não quero com isto fazer nenhuma crítica a ninguém.

 

 

 

ESTT DE SEIA

Consolidar o futuro

A Escola Superior de Turismo e Telecomunicações de Seia começou o ano lectivo da melhor maneira com a inauguração das suas novas instalações. Com todas as vagas preenchidas, a ESTT começa a firmar-se como o motor de desenvolvimento da região onde está inserida. “Nós já estávamos a funcionar nas novas instalações desde Dezembro do ano passado. São instalações fundamentais que permitem o crescimento da escola e o desenvolvimento de diferentes actividades”, explica o director da instituição João Brás.

Aquele responsável lembra ainda que “neste ano lectivo foi aberto uma nova licenciatura em gestão hoteleira. Algo que só foi possível com as novas instalações”. O director da ESTT considera que o facto da escola estar instalada em Seia é benéfico para os alunos. “Parte substancial do projecto educativo da escola envolve as áreas do turismo e da gestão hoteleira. Ou seja, estamos a falar de turismo rural, ambiental, do desporto de animação e lazer ou da restauração, integrados num espaço com características próprias como é a Serra da Estrela, o que permite um desenvolvimento integrado da escola e da Região”.

O director da ESTT lembra ainda que é objectivo da escola a abertura de novas ofertas formativas. “Temos três áreas fundamentais na escola, o turismo, a gestão hoteleira e as telecomunicações, pelo que a abertura de cursos nestas áreas é fundamental. Esperamos que venha a ser aprovado um curso na área das telecomunicações”. Já no que respeita a outro tipo de cursos, como os de especialização tecnológica, João Brás recorda o acordo “existente com uma escola profissional para o desenvolvimento de um curso de gestão de animação turística. Além disso temos projectos próprios para esse tipo de cursos, como também de formação de activos no mercado de trabalho ou de pós-graduação”.

No ensino o director da Escola lembra o processo de Bolonha. “Vamos aguardar pela reestruturação do ensino superior, mas uma coisa é certa avançaremos sempre para o segundo ciclo”. De referir que a ESTT tem mais de 300 alunos e pretende alcançar os 600 estudantes.

 

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