Director: João Ruivo    Publicação Mensal    Ano VI    Nº68    Outubro 2003

Dossier

23 ANOS DE POLITÉCNICO

Só há um caminho: crescer

O Politécnico de Castelo Branco, acaba de assinalar 23 anos de vida e Valter Lemos considera que ainda pode crescer muito. “A minha ambição não é manter os cinco mil alunos. É ter cá 10 ou 15 mil. A ideia de que já temos o suficiente tem de ser combatida. Não é por Portugal andar deprimido, que temos de baixar as nossas expectactivas. Ainda não fizemos o turning point. Estamos longe disso”.

Considera que neste momento as instituições têm das melhores condições possíveis para desenvolverem a sua actividade, além de estarem mais amadurecidas, terem um corpo docente mais qualificado, o que lhes garante solidez científica e tecnológica, fruto de um esforço nacional ao longo de 20 anos, pelo que será impensável voltar para trás. E dá um exemplo: “Neste momento temos mais doutorados na ESE do que a esmagadora maioria das universidades têm nos seis departamentos de educação. Mas neste momento, as ESE´s estão sujeitas a fechar ou a fazerem formações para as quais os professores não estão preparados”.

Não aceita assim que o Interior do País tenha de pagar mais numa situação depressiva. “Se há menos dinheiro e menos candidatos ao Ensino Superior, por que razão fazem todos os possíveis por os tirarem ao Interior? Se os politécnicos recebem metade do dinheiro que recebem as universidades para a formação do corpo docente, porque razão dizem depois que nos dão menos dinheiro porque temos um corpo docente menos qualificado?”.

É contra situações destas “de uma desonestidade intelectual sem qualificação” que Valter Lemos considera ser preciso lutar, pois “as instituições do Interior estão a funcionar bem, conseguiram resultados únicos, alguns a nível mundial, apesar deste tipo de decisões. Nesta matéria não há que transigir. As coisas são o que são e as pessoas têm de assumir as responsabilidades das decisões”.

 

 

 

HÁ ESCOLAS A MAIS

Porque não fecha Lisboa

Valter Lemos considera que as escolas do Politécnico estão a formar bem, uma vez que “a qualidade dos diplomados em Castelo Branco nada deve à qualidade dos diplomados em Lisboa, Porto ou Coimbra”, como o prova o seu trabalho desenvolvido em diferentes instituições ou empresas.

O Politécnico tem acordos com vários organismos e empresas, algumas delas multinacionais, “com as quais trabalha a diversos níveis e com grande satisfação delas”, pelo que entende que as escolas devem continuar o seu trabalho, embora a tarefa não seja fácil.

“As escolas podem fazer as suas propostas no sentido de reconverterem as formações existentes, além de proporem outras novas e definirem possibilidades de aplicação do seu potencial noutras áreas que não a formação inicial. O problema central porém, é que o Governo, pura e simplesmente, não aceita nada. As ESE´s e as ESA´s estão com alguma crise em certos sectores, mas nada das suas propostas tem sido aceite e o que foi aceite em algumas escolas é inimaginavelmente mau”.

Aquele responsável não concorda com o encerramento de cursos de formação de professores, para abrir, em troca, cursos de animadores culturais, comunicadores. “Alguém sério considera que esta é uma melhor opção estrutural para o País e para o Superior?”.

Já a “possibilidade das superiores de educação enveredarem pela formação pós-graduada de uma forma séria, ou de intervirem nos sectores da formação de professores onde há necessidades objectivas, como na informática” é encarada com bons olhos por Valter Lemos, só que “são inventadas muitas razões para não se avançar nesse sentido”.

Perante estes dados, admite que o Governo considere que haja escolas superiores de educação a mais e que algumas tenham de encerrar, mas pergunta: “Se há superiores de educação a mais, porque é que não fecha a de Lisboa. Se é um problema exclusivo de procura, até pode fechar a do Porto ou as do Interior todas. Não é possível ter uma política nacional assente numa perspectiva destas, e ainda mais com uma lógica de ser inevitável”
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ACÇÃO SOCIAL

Desigualdade tremenda

A qualidade de ensino do Politécnico de Castelo Branco tem vindo a melhorar, os cursos estão a ser avaliados de forma muito positiva, quer interna quer externamente e a acção social tem crescido exponencialmente. Só no ano lectivo anterior o Politécnico teve mil e 200 bolseiros, 310 dos quais alojados em residências e serviu 115 mil refeições. Isto com um orçamento total da ordem dos três milhões de euros, do qual cerca de 60 por cento se destina a bolsas.

Desde dia 28 conta também com uma nova residência de estudantes, com capacidade para mais de 100 camas, a qual inclui uma cantina que servirá todos os alunos do Instituto. A obra custou cerca de um milhão e 750 mil euros e está junto às duas residências já existentes, que dispõem ainda de um campo de jogos. No total, com a residência existente em Idanha, conta hoje com cerca de 420 camas.

Apesar dos números Valter Lemos considera que continuam a existir desigualdades enormes entre instituições, como é o facto do Politécnico receber do Estado e para acção social, cerca de 84 euros por aluno, quando a Universidade de Coimbra recebe 351. “Quem toma estas decisões, não deveria ficar no lugar que ocupa, nem mais um minuto. Vivemos nesta miserável desigualdade durante anos e depois ainda vêm dizer que não há dinheiro para construir a Escola de Artes. Isto é inqualificável”. Nesse sentido, considera inevitável a existência de uma discriminação positiva para as instituições do Interior
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