IDANHA-A-NOVA
Na rota do progresso

Só com a realização do Boom Festival passaram pelo concelho de Idanha-a-Nova cerca de 15 mil pessoas, vindas de todas as partes do Mundo. A realização daquele festival foi um dos pontos altos de promoção turística de um concelho que tem condições ímpares para essa vertente. A autarquia tem investido nessa área, como uma forma de fixar gente no concelho. A grande aposta na recta final do Verão é a Feira Raiana, que entre 19 de Setembro e 22 do mesmo mês, promete trazer até à vila e à Região milhares de pessoas. Álvaro Rocha, o novo presidente da autarquia, mostra-se satisfeito com o trabalho desenvolvido ao longo deste ano e faz o balanço dos cerca de oito meses de governação.
Nos últimos meses a autarquia tem promovido diversas actividades, de forma dar um novo dinamismo ao concelho. Tem sido uma aposta ganha?
Penso que todas as acções até agora desenvolvidas têm cumprido o seu papel. A nós cabe-nos apoiá-las, já que todas elas vieram da iniciativa privada. Exemplos disso, foi o apoio que prestámos ao Campeonato da Europa de Tiro com Armas de Caça, os campeonatos nacionais de Pentatlo, o Triatlo Internacional e recentemente o Boom Festival. A imagem que as pessoas levaram daqui foi muito positiva, pelo que certamente regressarão e trarão mais gente ao nosso concelho, que é isso que também queremos.
O Boom Festival foi talvez uma das maiores organizações de sempre realizadas no Distrito?
O site da organização foi consultado por mais de um milhão e meio de visitantes, e por aqui passaram cerca de 15 mil pessoas. Do inquérito que temos feito à população, resultam dados satisfatórios, e no caso dos comerciantes eles ressalvaram a forma educada como os novos visitantes os trataram, apesar de se apresentarem com trajes pouco comuns. Mesmo após o festival, muitas pessoas ficaram por aqui mais algum tempo, o que em termos económicos também foi muito bom para os comerciantes da Região, cujas vendas ultrapassaram as melhores expectativas.
Foi difícil montar uma estrutura que correspondesse às ambições do concelho?
A autarquia tem uma estrutura que tem como objectivo fundamental dedicar parte da nossa actividade a realização de iniciativas que promovam o turismo no concelho, uma vez que em termos de infraestruturas esta região tem-se vindo a destacar nos últimos 20 anos. Há um aspecto que não se pode negar: o concelho de Idanha precisa do Turismo e esse é um assunto que já se andava a falar há cerca de 50 anos. Da nossa parte estamos disponíveis em apostar nele, de forma a trazer novas pessoas para a Região, que permitam a criação de novas empresas e mais postos de trabalho. Ainda a propósito do Festival Boom, houve um comerciante que afirmou que se essa realização fosse feita uma vez por ano, ele estaria disposto em criar mais quatro ou cinco postos de trabalho. Certamente que o próximo festival correrá melhor e criaremos estruturas para que não surjam problemas.
A Feira Raiana vai ser um forte contributo para o desenvolvimento do Concelho?
Neste momento aquilo que nos interessa é fazer uma promoção correcta do Concelho. Até hoje nunca tivemos tantos meios interessados em promover a iniciativa, desde as televisões, às rádios e aos jornais, pelo que esta será a Feira Raiana mais bem organizada de sempre, com mais expositores, que certamente irá marcar positivamente o concelho e o distrito.
Isso obriga um grande investimento por parte da autarquia?
Um dos nossos objectivos é lançar o concelho na senda do desenvolvimento turístico, pois essa é uma das formas de combater a desertificação, de permitir que novas empresas sejam formadas e por conseguinte novos postos de trabalho. Penso que aposta está a dar frutos e que Idanha-a-Nova voltou a estar na moda.
Ainda na área do turismo, a autarquia vai fazer um grande investimento no parque de Campismo...
É fundamental que nós possamos receber bem as pessoas. O Parque de Campismo de Idanha-a-Nova já tem 12 anos, pelo que com a sua utilização foi-se deteriorando. Por isso, vamos encerrar o Parque, durante o Inverno, para que na Primavera possamos apresentar um Parque renovado, com estruturas renovadas e mais qualidade.
Voltando à Feira Raiana. Sendo Idanha um concelho com ligação a Espanha certamente que há relações privilegiadas com o lado de lá da fronteira. O que é que está a ser feito no domínio das relações transfronteiriças?
Além dos factores culturais, os próprios programas de candidatura a financiamentos comunitários obrigam-nos a trabalhar em conjunto. Penso que nunca houve, como agora, relações tão estreitas entre Portugal e Espanha. De quinze em quinze dias reúno-me com os meus congéneres espanhóis, pois os próprios programas nos obrigam a isso, até porque entre Vila Velha Ródão, Penamacor, Castelo Branco e Idanha vão ser investidos cerca de cinco milhões de contos. E esse investimento só é possível através de uma boa colaboração entre as autarquias dos dois lados da fronteira.
Idanha destaca-se também pelo Ensino Superior...
Hoje há centenas de pessoas que se deslocam à Escola Superior de Gestão do Politécnico de Castelo Branco, que está na sede de concelho, e outras centenas que aqui ficam instaladas. Da nossa parte vamos arranjar mais e melhores condições para que essas pessoas aqui possam ficar, pelo que estamos a pensar aumentar o número de quartos existentes para os jovens, com a construção de uma pousada para jovens na zona velha da vila. Idanha não pode perder população e essa população, apesar de circulante é muito importante para o desenvolvimento do concelho. Já no capítulo educativo, a Escola Superior de Gestão ministra cursos de qualidade, e isso fica demonstrado com o excelente desempenho profissional dos diplomados que ali são formados.
No caso do desporto, e mais concretamente do futebol. Muitos clubes dependem das câmaras. Qual é a política a seguir?
Continuo a manter aquilo que defendi na campanha eleitoral e quando tomei posse, pois considero que aposta deve ser feita nos jovens. Por exemplo, se o Clube União Idanhense justificar, através da criação de escolas de formação, a necessidade de ser mais apoiado, estaremos disponíveis. Agora nunca aumentaremos esse apoio se for para o futebol sénior e para as suas aspirações à subida de divisão. Entendemos que é com a aposta nos jovens que um dia mais tarde poderemos ter essas aspirações. Nas condições actuais penso que a equipa deveria ter na sua maioria jogadores do concelho, que sintam a camisola, de forma a evitar fazer gastos excessivos com jogadores que não estão fixados no concelho. Portanto a nossa aposta vai para a formação, não só no futebol, mas em muitas outras modalidades desportivas e culturais. E aí sim, estaremos empenhados em ter um concelho desportivo, com atletas da região e acompanhados por técnicos especializados.

CARLOS ANDRADE MOSTRA
CAVALOS
Da Agrária até à
Feira

A tradição da equitação na região de Idanha renasceu no início dos anos 90, mas tem vindo a perder-se de ano para ano, com a não realização de passeios e raides que já começavam a ganhar muitos adeptos. Ainda assim, há provas que continuam e os amantes deste desporto não desistem do praticar, pelo que a nona edição da Feira Raiana vai ter uma componente forte na área da equitação.
Carlos Andrade, professor da Superior Agrária, em Castelo Branco, onde é também responsável pela área do picadeiro e criação de raças autóctones, está na organização dum raide e dum passeio a cavalo, que decorrem no âmbito do certame.
“A Feira é única na região e é uma boa montra para os criadores mostrarem o que sabem fazer, além de participarem nas actividades de equitação previstas. É que as oportunidades para praticar este desporto são muito poucas na região, seja em termos profissionais ou amadores. Por isso, só mesmo as pessoas que são muito dedicadas se mantêm a praticar”.
A ideia é potenciar a modalidade na Feira e, de futuro, avançar com outras actividades, talvez mais localizadas, como o salto de obstáculos, provas de equitação à portuguesa ou provas de equitação de trabalho, as quais atraem sempre mais público. Sobretudo as duas últimas actividades terão de ser defendidas, uma vez que são aquelas onde mais se recorre ao cavalo lusitano, uma raça que está reconhecida em termos mundiais.
“O puro sangue lusitano evidencia-se essencialmente na arte do toureio, mas, sem necessitar do touro, na equitação à portuguesa e na equitação de trabalho, consegue-se levar o cavalo a obedecer, ganhando um novo equilíbrio que não tinha quando estava em liberdade”. E quem quiser ver um puro sangue lusitano, não precisará de assistir ao raide ou ao passeio, já que estarão alguns exemplares em exposição na área da Feira.
AGRÁRIA. Da Escola Agrária para a Feira Raiana segue uma égua já afilhada, enquanto que Carlos Andrade leva também um cavalo ou uma poldra da sua própria criação. Estes exemplares juntam-se depois aos de outros criadores nacionais, os quais não são muitos, mas ainda assim os suficientes para responder ao mercado, o qual tem vindo a estar cada vez mais exigente.
“As pessoas compram cavalos que já sabem fazer alguma coisa e olhando a determinada actividade desportiva. Os criadores devem por isso trabalhar os seus cavalos de acordo com uma das modalidades, o que depende da afinidade de cada criador. No caso da equitação à portuguesa, a preparação do cavalo é demorada e dispendiosa. No caso da resistência já é mais fácil. Há ainda os saltos de obstáculos e outras modalidades...”.
No caso da Agrária, a criação de cavalos acontece apenas há dois anos, mas já ali existem duas éguas e duas crias, pelo que a Escola já tem ferro próprio e está inscrita na Associação de Puro Sangue Lusitano. O picadeiro poderá assim funcionar como um pólo de atracção para muitos alunos de várias regiões do país, bem como o próprio curso de engenharia das ciências agrárias, no ramo animal.
“Ao nível das disciplinas técnicas, o curso tem uma componente interessante ligada aos cavalos, dado que existem três disciplinas, uma obrigatória e duas de opção. Ou seja, tem tantas disciplinas na área dos cavalos como o Curso de Gestão Equína de Santarém, com a diferença que o curso da Agrária é mais abrangente, porque também fala em todas as outras espécies animais domésticas”.
O picadeiro tem ainda a vantagem de permitir demonstrar na realidade as temáticas abordadas nas aulas. “É diferente mostrar algo ou dar apenas um exemplo. O professor sabe o que quer transmitir, mas nem todos os alunos entendem facilmente. Com a possibilidade de demonstrar, facilita-se essa comunicação”.
ALUNOS. Outra das vantagens do picadeiro é que os alunos que tenham cavalos, podem deixá-los na escola, onde serão tratados por um preço mais acessível do que acontece nos centros hípicos. “Por outro lado, não pensam tanto em sair daqui para irem a casa montar a cavalo e estão mais atentos nos estudos”.
E a verdade é que há mais alunos com interesse nos cavalos do que se pensa à partida. “50 por cento dos alunos escolhem a opção de Modalidades Equestres, a qual funciona no 4º ano. Já o do 5º ano, a Psicologia do Desenvolvimento do Cavalo, já funcionou uma vez, apesar do leque de opções ser vasto e serem necessários 15 alunos para que funcione”.
Em termos de funcionamento, o que poderia estar melhor são os centros hípicos. “No Distrito temos dois centros no Fundão, um em Castelo Branco e um na Idanha. São poucos e parece que funcionam virados para dentro, dando a sensação que, se abrir outro, ficam de costas voltadas. Ora, hoje em dia não há monopólio, mas sim intercâmbios, porque essa é a via para desenvolver a modalidade, até porque as pessoas têm um maior leque de escolha”.
A ideia passa assim por mudar mentalidades, até porque a prática da equitação cresceu nos últimos anos, mas a falta de ligação das diferentes estruturas terá limitado o crescimento. “No início dos anos 90 organizámos a primeira prova de resistência equestre, da qual nasceu a Associação de Criadores de Cavalos da Beira. Daí para cá sempre se organizou essa prova. De há quatro anos para cá, a Associação participa na organização do festival equestre da Escola Agrária. Mas se em 95 existiam muitos raides e passeios, eles foram morrendo e hoje pouco mais há que as provas da Associação e a da escola”.

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