POLITÉCNICO DE BEJA
DEIXA 25 MIL CONTOS POR DIA NA CIDADE
A força da
Instituição
O Politécnico de Beja, no seu conjunto, deixa cerca de 125 mil euros (25 mil contos) por dia na cidade. As contas são do presidente da instituição, José Luís Ramalho, para quem o desenvolvimento económico, social e cultural da cidade está intimamente ligado ao Politécnico. A título de exemplo, fala da noite da urbe. “Beja, à noite, era como que uma aldeia. Hoje tem um movimento impressionante, o que só acontece porque temos cerca de quatro mil alunos”.
Mas se o potencial é grande, os apoios necessários para um avanço mais rápido e sustentado da instituição, nem sempre são suficientes. “Os nossos políticos nem sempre se lembram de nós, pelo que temos de fazer uma pressão constante junto do poder, pois temos de ser reconhecidos, devemos ser um parceiro privilegiado da autarquia e de todas as iniciativas realizadas na região”.
Defende assim a criação de parcerias entre todas as instituições, uma vez que Beja tem “pouca força política, dado que não vamos além de três deputados. E é esse pouco peso político, empresarial, social e cultural que sentimos quando temos de negociar com a tutela. Logo, se não houver uma parceria forte, as nossas instituições poderão vir a ter dificuldades, pelo menos a médio prazo”.
Uma das dificuldades será sem dúvida a da redução do número de alunos no ensino superior. Neste momento, cerca de 50 por cento dos estudantes são naturais do Distrito e 38 por cento vivem no Concelho, vindo os restantes sobretudo de Évora, Setúbal e Faro. Já os alunos do Distrito que vão estudar para fora, já não optam por Lisboa, mas escolhem sobretudo a Universidade do Algarve, como demonstra um estudo do Politécnico realizado junto das escolas secundárias.
QUADROS. Num distrito como o de Beja e à semelhança do que acontece no Interior, o Politécnico tem ainda um papel fundamental na fixação de quadros superiores na região, o que é fundamental para que se possam instalar novas empresas, além de fazer movimentar o tecido produtivo, em virtude de alguns dos alunos criarem as suas próprias empresas.
“Temos um estudo sobre empregabilidade relativo aos alunos formados pelo Politécnico de Beja entre 95 e 2000, o qual mostra que a grande maioria ficou a trabalhar na região, sobretudo em posições intermédias, sendo que alguns criaram empresas. Ainda assim, há fuga de quadros, pois, enquanto temos apenas 3,5 por cento de alunos provenientes de Lisboa, verificamos que, após o curso, 10,5 por cento dos alunos partem para Lisboa ou Setúbal”.
O balanço global é porém positivo, dado que muitos dos alunos que ficam são provenientes de famílias de um nível sócio-cultural e económico pouco elevado. Logo, se não existisse o Politécnico, dificilmente teriam possibilidade de estudar fora. Assim seria ainda mais difícil ter quadros na região. “Mais que não fosse, só por esta razão, já valia a pena a criação do Politécnico, o qual foi mal entendido de início, porque, para muitas pessoas, não significava a mobilidade social ascendente, a qual estava mais ligada à universidade”.
Hoje, a mentalidade mudou, mas coloca-se o problema da redução do número de alunos, pelo que o Politécnico tem de encontrar soluções para cativar outros públicos, alargando o seu leque de formação. “O futuro passa por uma nova filosofia. Por isso, a formação ao longo da vida tem de ser assumida verdadeiramente. Estamos por isso a criar bases de dados dos nossos formados para que eles se habituem a vir à instituição para receberem formação”.
CURSOS. Outro dos caminhos passa pela “criação de cursos não conducentes a diploma. Mas mesmo neste aspecto, no Interior haverá mais dificuldades em cativar pessoas, uma vez que a população será diminuta. Nesse sentido, abrimos cursos nocturnos, os quais têm uma grande procura nos primeiros anos, mas depois acabam porque as pessoas que reuniam condições já fizeram a formação e não há outras”.
Nesta área, cabe ainda ao Politécnico saber junto das empresas as áreas de formação mais necessárias, sensibilizando depois os empresários para agirem no sentido dos seus trabalhadores poderem receber mais formação. “O problema é que o nosso tecido empresarial é fraco, suporta as suas práticas em conhecimentos ancestrais e nem sempre aceita as mudanças. Mas algumas mudanças estão a acontecer e as mentalidades estão a mudar e vão concerteza mudar”.
Uma mudança que acontece porque as potencialidades da região também estão a aumentar com a concretização de projectos como o do Porto de Sines, o alargamento da base aérea e o Alqueva. “Esperamos que eles provoquem outro dinamismo empresarial e que tragam pessoas como uma outra visão, competindo-nos a nós ajudar no que for possível, formando uma bolsa de quadros superiores. Depois, temos as escolas profissionais, as quais vão formando quadros intermédios”.
Já em relação aos cursos cuja procura tem sido progressivamente menor, casos dos cursos de formação de professores ministrados nas superiores de educação, José Luís Ramalho afirma que chegou a hora de, a nível superior ser definida uma rede, para que não existam os mesmos cursos em todas as escolas. “Tem de haver uma coordenação nacional e alguns cursos têm de ser reconvertidos”. E esta lógica de rede deve ser também aplicada às escolas superiores de saúde, para que não surja dentro de alguns anos o mesmo problema que sucede actualmente com a formação de professores, ou seja, a formação para o desemprego.
Disponível para ficar
O presidente do Instituto Politécnico de Beja, José Luís Ramalho, de 50 anos de idade, está disponível para se recandidatar ao cargo, caso os eleitores assim o entendam. Benfiquista, natural da Vidigueira, licenciado em História, mestre e doutorando em Antropologia, aquele docente da Superior de Educação foi professor do Secundário e passou para o superior aquando da criação do Politécnico.
Já no Politécnico foi o primeiro presidente eleito do Conselho Directivo da Superior de Educação e o segundo presidente eleito do Politécnico de Beja, tendo sido eleito em 99, um mandato que termina no próximo mês de Junho e ao qual se pode seguir uma recandidatura. “Da minha parte e da equipa, a qual é excelente, há disponibilidade para continuar o trabalho. Mas é preciso que as escolas se pronunciem. Se for no sentido de continuarmos é isso que faremos. Se quiserem mudança, também estamos disponíveis para sair”.
Cauteloso e afirmando que não está agarrado ao poder, diz que não afirma que se recandidata, mas sim que quer saber o que pensam as pessoas que vão eleger o presidente. “As escolas devem avaliar o nosso trabalho para se poderem pronunciar. Já da nossa parte, temos consciência que há muito por fazer, mas sabemos que fizemos algumas coisas, apesar da instabilidade política que levou a várias mudanças de ministro da Educação”.
Apesar de falar assim, adianta que no Politécnico há condições para garantir a estabilidade do ensino e dos docentes, o que resulta “de uma convivência excelente com os órgãos de gestão de todas as escolas. Todas as decisões tomadas pela direcção foram aprovadas por unanimidade. Apenas a divisão do orçamento de Estado para este ano teve o voto contra de uma das escolas, mas esse voto não foi contra a presidência do Politécnico, mas sim contra o orçamento em si, o qual é decidido pelo Ministério”.
FORMANDOS QUEREM
PROSSEGUIR ESTUDOS
Mestrados precisam-se
A possibilidade dos politécnicos ministrarem cursos de mestrado seria também uma boa ajuda para que os antigos formados regressassem às instituições, a fim de adquirirem mais formação. Essa é porém uma tarefa exclusiva das universidades, conseguindo os politécnicos avançar apenas através de acordos com instituições universitárias.
Em Beja, porém, têm surgido vários acordos nesse sentido até porque “num estudo feito entre os diplomados do Politécnico, a maioria fala em prosseguir estudos num mestrado e não num doutoramento. Alguns já conseguiram concluir esse grau, outros estão inscritos e terceiros aspiram a frequentar o mestrado”.
Neste âmbito, o presidente do Politécnico defende a possibilidade de realização de mestrados mais vocacionados para o mundo do trabalho. “Se as nossas licenciaturas estão muito voltadas para a inserção no mercado de trabalho, não se entende que o mestrado seja muito científico. A componente científica é imprescindível, mas os nossos mestrados precisam de ter uma vertente prática significativa”.
O exemplo vem dos Estados Unidos, onde existe uma grande ligação entre as universidades e as empresas e pode avançar em Portugal. “Estão criadas as condições para que os mestrados comecem a ser uma realidade no Politécnico, bem como acontecerá com os doutoramentos. Tem de haver uma maior abertura. Se as universidades têm cada vez mais cursos de cariz politécnico, porque é que os politécnicos não poderão criar cursos de cariz universitário?”
Enquanto tal não acontece, o Politécnico tem estreitado laços com outras instituições, nomeadamente com a Universidade da Extremadura, o que permite a formação de docentes, o ministrar de cursos e até a nível de pós-graduações a ministrar em Beja, o que poderá acontecer em breve em virtude da revisão do protocolo de cooperação já existente. Há depois uma boa relação com a Universidade do Algarve. “Há uma parceria excelente, com respeito mútuo, a qual levou à criação de um curso de mestrado, podendo abrir outros cursos de mestrado já no próximo ano, designadamente na área da educação.
FALTAM LUGARES DE QUADRO
Professores vão-se
embora
Um dos problemas que neste momento mais preocupam José Luís Ramalho é a fixação dos próprios quadros do Politécnico, dado que alguns professores partem rumo a outras instituições, onde conseguem progredir mais depressa na carreira. É que uma das metas é a questão da qualidade da formação, a qual perde com a partida dos professores com graus académicos mais avançados.
O caso não é alarmante, mas preocupa, ainda mais numa altura em que o número de alunos está a decrescer, permitindo uma melhoria da qualidade. “A redução do número de alunos não me preocupa porque as instituições cresceram sempre e chegaram ao ponto ideal, pelo que chegou a hora de consolidar instituições e apostar na qualidade”.
Para que tal aconteça, defende que é imperioso aumentar os quadros do pessoal docente e não docente. “Acontece que o Politécnico apoia a formação avançada dos docentes, mas quando estes estão a terminar essa formação, não têm lugar de quadro. Isso provoca, para além da desmotivação e insegurança profissional, que fiquem vulneráveis a concursos ou a aliciamentos de outras instituições. E isso é natural, dado que noutras instituições têm mais garantias”.
A título de exemplo, na Universidade do Algarve há vários professores que passaram pelo Politécnico de Beja, alguma delas naturais do Alentejo, e que optaram por partir, uma vez que tinham lugares de quadro. “Não se compreende que uma das nossas escolas tenha previstos 80 lugares de quadro, mas que apenas tenha 26. Tem que haver uma maior abertura, têm de existir condições de garantia de empregabilidade, porque ela é fundamental para garantir a qualidade”.
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