Director: João Ruivo    Publicação Mensal    Ano V    Nº49    Março 2002

Entrevista

JOÃO MAIA ABREU, JORNALISTA DA TVI

SIC e TVI fazem serviço público

As estações privadas estão a exercer o serviço público que a RTP não é capaz de cumprir. É o que defende João Maia Abreu, jornalista da Televisão Independente e um dos seus “pivots” da informação mais conhecidos. Em entrevista ao «Ensino Magazine», enalteceu o profissionalismo dos “fabricantes das notícias” dos canais nacionais e apontou como grande vantagem da «guerra de audiências» o estímulo à melhoria da qualidade. Sobre os jovens jornalistas , João Maia Abreu não tem dúvidas de que trazem «sangue novo» às televisões.

Na sua perspectiva, garra e agressividade não faltam à informação actual mas, como diz, ainda não se ultrapassou o limite da boa educação e de níveis básicos de correcção.

De que modo avalia o momento actual da informação televisiva?

Está muito mais agressiva, no sentido mais positivo da expressão. A informação apresenta-se agora com mais garra, sem ser mal-educada, nem passar certos limites de dignidade e de respeito para com o público que é, afinal, o seu destino final. Quem ganha com isso são os telespectadores, que passam a dispor de produtos televisivos de qualidade mais elevada. Naturalmente que há diferenças de estilos e de modos de fazer informação no nosso país. Cada canal tem as suas linhas próprias, mas, em termos genéricos, os resultados finais apresentados são de aplaudir. Penso que o público português tem informação completa, rigorosa e bem produzida, disponível nos diversos canais.

O futuro passa pelos directos?

São uma boa aposta. Os directos constituem um excelente complemento de informação. Neles, o jornalista encontra-se no local da notícia no momento e transmite-a na primeira pessoa. Há um imediatismo que é único neste género de informação e que não pode ser subaproveitado, mas antes rentabilizado e explorado, dentro de certos limites e parâmetros de bom senso. No entanto, não se deve sobrevalorizar a importância dos directos. É que, pode ser mais útil uma “peça” bem feita na redacção e objecto do tratamento devido. Permite, muitas vezes, um aprofundamento da informação e a obtenção de novos ângulos da questão que estiver a ser analisada. Por isso, não se deve considerar o directo em si mesmo como o tipo de produto de excelência, como se os restantes fossem subalternos ou menos relevantes. A existência em paralelo dos directos e de outras formas de produtos informativos é positiva e fornece ao público as perspectivas em quantidade e variedade indispensáveis para ficar com um conhecimento adequado ao tema em questão.

Há espaço, em Portugal, para um canal inteiramente dedicado à informação, como o SIC Notícias?

Não conheço o modo de funcionamento dessa estação. Mas, à partida, acredito que há espaço para um canal do género, desde que não se assuma como megalómano. Porém, não sei se deve ser transmitido 24 horas por dia e talvez deva apostar numa diversidade grande de temas e de formatos televisivos. Desde que colocado “no ar” com os meios adequados e bem organizado, um canal noticioso tem hipóteses de se afirmar no mercado.

O público gosta de estar bem informado e de assistir no momento exacto àquilo que de mais importante se passa no país e no mundo. Agora, naturalmente que caberá ao mercado determinar a viabilidade de projectos desse tipo e isso é irrefutável.

Como encara a actual «guerra de audiências» entre estações?

É benéfica para os telespectadores. Faz com que os profissionais não estejam acomodados e procurem a melhoria da qualidade do seu trabalho. Mas, creio que é sobretudo ao nível da programação que essa concorrência mais agressiva ocorre. A competição é vantajosa, uma vez que estimula os profissionais a se esforçarem a realizar um trabalho mais aprimorado. A consequência natural é a obtenção de um melhor produto final. É assim que se consegue a evolução do meio televisivo. São permitidos avanços de grande relevância através de disputas de mercado. É um princípio básico da economia não apenas válido para a área televisiva, como também para o conjunto dos sectores económicos. Não significa isto que se tenha de gostar de tudo o que é apresentado. Cada pessoa tem os seus gostos e padrões de qualidade. Eu, por exemplo, aprecio os telejornais e programas informativos em geral e um ou outro filme que me desperte maior interesse, mas não gosto de ver novelas, nem concursos.

Uma estação privada pode realizar funções de serviço público?

Quando uma estação estatal não cumpre as suas obrigações em termos de serviço público televisivo, os canais privados têm de preencher essa lacuna. É mesmo uma mais-valia deles, que devem aproveitar com claro benefício para o público. Em Portugal, é isso que se passa: a RTP não tem desempenhado convenientemente a sua missão de serviço público e as estações privadas são obrigadas a fazê-lo. Se realizarem esse papel de forma conveniente, terão exercido uma espécie de missão extra que lhes foi conferida. Se, pelo contrário, não o conseguirem, ficará por preencher uma lacuna.

O que faz falta à televisão nacional?

Na minha perspectiva, não há propriamente nenhum tipo de programa que faça falta. Temos já um pouco de tudo. Existe uma grande variedade de produtos, que vão de encontro aos mais diversos gostos e interesses dos telespectadores. É apenas necessário apostar numa maior qualidade dos géneros que existem, na busca constante de uma elevação dos níveis de qualidade. É por aí que as estações devem seguir. Mas, sempre numa linha de pleno respeito pelo público, procurando introduzir nos programas elementos inovadores que lhes confiram modificações maiores ou menores mas no sentido do seu refinamento e sofisticação. O objectivo último tem de ser sempre o mesmo: disponibilizar aos telespectadores os melhores produtos que as estações consigam apresentar num determinado momento.

A criação de canais temáticos por cabo é uma boa alternativa de expansão da RTP, SIC e TVI?

Sim. É muito positivo o surgimento de novos canais por cabo, porque alarga o leque de opções dos telespectadores, permitindo o acesso a uma vasta gama de conhecimentos e de informação. É mesmo uma das vias do futuro do meio televisivo em Portugal, estou convicto disso. O meio hertziano está plenamente utilizado, daí que seja preciso encontrar modos diversos de expansão das televisões, através dos quais possam desenvolver emissões diferenciadas e mais específicas, portanto, que escapem à lógica de canal generalista. Por outro lado, a cada vez maior adesão dos portugueses à TV por cabo é muito positiva, possibilitando um alargamento da sua visão do mundo e o conhecimento de outras formas de fazer televisão. Num país como o nosso em que a necessidade da população alcançar níveis de formação e educação superiores é reconhecida, a TV por cabo permite alcançar tal meta. Quantos mais portugueses acederem a essa forma de difusão comunicacional, maior será a propagação de conteúdos culturais e informativos e mais vasta será também a capacidade de surgimento, afirmação e consolidação de novos e já existentes projectos televisivos em tal domínio.

Como avalia a nova geração de jornalistas nas redacções das televisões?

Trazem sangue novo, o que é bom para as empresas e para o conjunto do sector. Não conheço muito bem e em pormenor os trabalhos que executam, mas, pelos dados que disponho, demonstram possuir qualidade. Fazem falta às redacções, tal como os mais velhos, que têm uma vasta experiência que é, igualmente, muito importante para o produto final obtido. É da conjugação e complementaridade dos contributos de ambas as gerações que nasce a riqueza do trabalho produzido. Não há nenhum choque, mas antes perspectivas diferenciadas. Todavia, não são antagónicas; conjugam-se de forma saudável para a obtenção de um resultado global que, desde que seja harmonioso, só tem a ganhar em termos de qualidade. Claro que se prevê que nem todos os jovens que querem ser jornalistas nas televisões poderão ser. Mas, esse é um processo de selecção que não é exclusivo do sector. Em tantas outras áreas sucede o mesmo...

Jorge Azevedo

 

 

JAMILA MADEIRA E AS METAS DA JS

Portugal tem leis a mais

Jamila Madeira quer a criação de um sistema de avaliação das necessidades de formação do país para um período de 20 anos. Em entrevista exclusiva ao «Ensino Magazine», a secretária-geral da Juventude Socialista aponta a prevenção primária como a prioridade, em termos de luta contra a toxicodependência e afirma a necessidade de trazer os jovens para a política, pois, esta «é tudo».

Como explica o afastamento crescente dos jovens pela acção política?

Não é um afastamento maior do que noutras épocas. Lemos os clássicos, como Sócrates, e já aí vemos uma certa desilusão em relação à política. Em todo o caso, é inegável que tal afastamento existe ainda hoje. Devemos combatê-lo através da informação, chamando a atenção dos jovens para a relevância do seu papel enquanto cidadãos. Todos têm de contribuir para a melhoria da sociedade em geral e das condições de vida dos portugueses. Os mais novos são, de facto, o futuro do país e são eles que o irão dirigir; é necessário consciencializá-los disso. A política é tudo, é a tomada de decisões que afectam a nossa vida no quotidiano e condiciona o futuro colectivo. Hoje, os jovens têm à sua disposição um conjunto muito diversificado de atractivos: Internet, novas tecnologias, formas de entretenimento, tudo atractivos que os “puxam” para outras actividades que não a da política. Daí que seja, actualmente, particularmente difícil cativar os mais novos para a participação em algo que tantas vezes os desilude.

Nesse contexto, qual é o papel das juventudes partidárias?

São, essencialmente, plataformas muito próximas, em termos ideológicos dos respectivos partidos, mas que, pelo menos no caso da Juventude Socialista (JS), demonstra uma grande abertura em relação à realidade do mundo e uma capacidade para influenciar as tomadas de posição do partido. Dou-lhe um exemplo apenas: em matéria de toxicodependência, o PS tinha, há 10 anos, uma posição diametralmente diferente da que adopta hoje. Ora, a JS não mudou de atitude, mas influenciou o partido a alterar ideias. Cabe-nos contribuir, sempre que necessário, para a modificação de mentalidades, o que me parece inclusivamente uma obrigação das juventudes partidárias…de todas elas. Têm de marcar a diferença e dizer aos jovens que são essenciais à construção do país e não podem passar ao lado das suas responsabilidades enquanto cidadãos activos.

A Juventude Socialista tem-no conseguido?

Até ao momento, pensamos que sim. A evolução das posições do partido em variadas matérias testemunha-o. Devo salientar que os deputados eleitos pela JS têm o compromisso de prestar uma atenção constante às evoluções da sociedade e àquilo que em cada momento se apresenta como a exigir mais rápidas transformações. Os nossos parlamentares dispõem de uma grande liberdade de consciência e de actuação. Não lhes compete serem meros retransmissores das posições oficiais do PS, mas antes intervirem no sentido que melhor julgarem, após uma reflexão sobre as questões e a conclusão acerca das formas adequadas para corrigir problemas. Enquanto jovens que somos e com responsabilidades, cabe-nos, se preciso for, incomodar os partidos – o nosso e os outros. É necessário, às vezes, marcarmos uma posição firme na defesa daquilo que consideramos melhor para o conjunto da sociedade portuguesa.

Como encara a responsabilidade específica que os deputados da JS têm enquanto jovens políticos certamente com diferenças em relação aos mais velhos?

Naturalmente, com um sentido da relevância que a nossa actuação pode exercer. Aos deputados pertencentes à Juventude Socialista cabe fazerem um esforço para quebrar a tendência dominante do Parlamento para que as questões sejam tratadas internamente nos gabinetes. Temos vindo a percorrer Portugal, conhecendo os problemas concretos do país real, ouvindo as pessoas, o que desejam, que expectativas possuem e quais as propostas que têm a apresentar aos governantes. Defendemos que esta postura deve ser comum a todos os deputados. A JS, pelo seu lado, dá – cremos – um bom exemplo. O que há mais em Portugal é legislação. Precisamos é de ver a utilidade da mesma, em que medida as leis existentes podem ajudar a melhorar a vida dos portugueses. É isto que as pessoas querem! E convém que tenhamos todos consciência de que assim é.

Quais são as medidas que advoga na questão da toxicodependência?

Deixe-me, antes de mais, salientar que a Juventude Socialista nunca considerou a criação das salas de injecção assistida como a forma de resolver, como por magia, toda este vasto e complexo problema. É apenas a medida que defendemos para os toxicodependentes que se encontram numa situação de não recuperação, mas que merecem ter o direito a uma dignidade própria como seres humanos e doentes. A outro nível, pensamos que a grande e crucial aposta tem de ser realizada na prevenção primária, nomeadamente junto dos jovens das escolas, uma população-alvo prioritária. Para a JS, o problema passa também por uma distinção clara entre as drogas leves e as duras, mas a sociedade não está, neste momento, preparada para decidir esta questão.

Porquê?

Porque os próprios cientistas ainda não conseguem definir com todo o pormenor indispensável a separação entre as drogas leves e as duras. É um domínio em que persistem algumas incertezas. Por exemplo: o “ecstasy” pertence a que grupo? Possivelmente, até é uma droga leve, mas com efeitos como se fosse dura. O problema continua a ser complexo…

Portugal necessita de mais jovens qualificados mas tem muitos licenciados desempregados. Como se pode ultrapassar este paradoxo?

Continuam a funcionar cursos superiores de que nem os próprios alunos compreendem bem o que farão com a formação que estão a receber e que lhes conferirá uma Licenciatura. É uma situação que vem até de Governos muito anteriores e que tem de ser modificada. Por outro lado, em Portugal, as empresas ainda recrutam poucos licenciados para nelas trabalharem.

Na minha perspectiva, é preciso que o país identifique quais as suas necessidades de formação num período de cerca de 20 anos. A partir daí, os estudantes possuirão uma base sólida para, então, tomarem livremente as suas decisões. Mas, é essencial construir este sistema que muito auxiliará e orientará não apenas os alunos, como também os agentes económicos portugueses. Não queremos jovens frustrados, sem emprego nem perspectivas profissionais de futuro, depois de terem investido fortemente na sua formação, preparando-se para funções que, depois, acabam por não poder exercer. É inadmissível que tal suceda num país como Portugal que precisa de possuir recursos humanos qualificados para poder ser competitivo no panorama internacional, num mundo marcado pela globalização, pela concorrência cada vez mais aguerrida e por desafios crescentemente mais exigentes para a Educação, enquanto base de preparação dos futuros profissionais.

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