Director: João Ruivo    Publicação Mensal    Ano V    Nº54    Agosto 2002

Universidade

DEBATE SOBRE SERVIÇO PÚBLICO NA UBI

Mais independência

Debater o serviço público de televisão em Portugal, bem como o futuro da RTP foram os objectivos que reuniram na UBI especialistas e leigos sobre uma questão que é de todos os portugueses. Manter os dois canais e garantir a independência da RTP são dois pontos que reúnem o consenso dos participantes que apontaram algumas soluções para o futuro deste serviço de utilidade pública.

O debate decorreu na Universidade da Beira Interior no início de Julho e contou com a presença de Pedro Mariano, responsável pelo Centro de Emissão Regional de Castelo Branco, José Manuel Barata Feyo, jornalista da RTP e João Correia, docente da UBI, numa discussão moderada por António Fidalgo e promovida pelo grupo de reflexão informal sobre o serviço público de televisão.

A importância de um serviço público de televisão em Portugal, que neste momento a RTP “presta o menor possível com dois canais, num país europeu”, defende Barata Feyo, ficou bem vincada durante a sessão. Uma necessidade num tempo em que, em média, na Europa, as crianças vêem entre 1200 a 1400 horas de televisão contra as cerca de 900 horas que passam na escola.

“Falar sobre serviço público é falar também sobre cidadania. Questões que dizem respeito a todos não devem ser decididas apenas por quem tem maioria parlamentar, mas deve haver um debate amplo”, defende Pedro Mariano. Por isso têm sido realizados debates por todo o País, no sentido de dar a conhecer aos portugueses “o que está em jogo quando se fala em serviço público de televisão”, referiu.

Barata Feyo aponta vários aspectos necessários à prestação de um serviço público de qualidade por parte da RTP, bem como para a sua sobrevivência, como é o caso da independência que, segundo o jornalista nunca existiu. “A RTP sempre teve vocação para ser a voz do dono, e nunca faltou quem quisesse ser dono da RTP”, defende. Começou com a ditadura, em que era a voz do salazarismo e do partido único, e depois continuou com os partidos políticos a seguir ao 25 de Abril que “nunca deixaram que a RTP tivesse a sua própria voz, porque sempre quiseram que ela fosse a voz do partido no poder”, explica.

CULPAS. Outro dos problemas prende-se com o financiamento, uma vez que a taxa de televisão, abolida pelo governo de Cavaco Silva, era uma fonte de financiamento importante, bem como a venda dos retransmissores, que se revelou um mau negócio para a televisão pública. Vendidos na altura por cinco milhões de contos (25 milhões de euros) são agora alugados anualmente por 2 milhões de contos (dez milhões de euros).

A RTP dependia da taxa de televisão e da publicidade, da qual detinha o monopólio, antes do aparecimento dos canais privados. Mesmo nessa altura “era tão mal gerida que dava prejuízo”, refere o jornalista.

Também as receitas oriundas da publicidade sofreram um duro golpe. O Canal 2 passou a ter apenas publicidade institucional e reduziu-se, no Canal 1 de 12 para sete minutos, “retirando receitas na ordem dos 10 milhões de contos”, comenta o jornalista, acrescentando que o novo governo não resolveu o problema. “Fez uma descoberta do arco da velha “acaba-se com um canal e resolve-se o problema”. Governo atacou o problema da pior maneira possível”, defende.

Na opinião de Barata Feyo, a RTP “presta o menor serviço público que é possível prestar com dois canais, num país europeu”. Se houve alturas em que a RTP esteve “quase a corresponder a esse anseio de serviço público de qualidade, ultimamente tem vindo a degradar-se e a seguir o caminho das televisões comerciais”. O jornalista acredita que, um caminho que devia ser de referência, está muito aquém daquilo que devia ser e fazer. No entanto, alerta, não se pode pensar a RTP em abstracto porque “ela é quem nela sempre mandou, os sucessivos governos portugueses. É a eles que temos de ir pedir contas, como portugueses que somos e como pessoas que têm direito a um serviço público de televisão de qualidade”, salienta e acrescenta, “os portugueses têm o serviço público de televisão que merecem”, porque não pedem contas sobre o que tem sido feito na RTP. Para Barata Feyo, a opinião pública tem de perceber que há outras formas de fazer serviço público de televisão e lutar por elas.

“Como sociedade civil, podemos receber do estado uma propriedade e a responsabilidade de a gerir. Através das instituições cívicas e de cidadania, podemos tomar nas nossas mãos a RTP. Temos muito poder, às vezes temos é medo de o utilizar”, afirma, e salienta, “se várias pessoas, antes da questão do possível fecho do segundo canal tivesse protestado, dentro e fora da televisão, sobre o serviço que a RTP estava a prestar, teríamos hoje uma maior autoridade moral”.

A independência da RTP é apontada como uma das condições indispensáveis para resolver o problema da estação. É necessária independência governamental, tanto quanto financeira.

Além da taxa de televisão, é necessário que o Estado pague o que deve ao canal, “no total são 120 milhões no mínimo. Todo o défice da RTP vem daí”, refere.

“Atravessar o problema dos media televisivos em Portugal é manter o serviço público, com os dois canais. Para isso é preciso um público exigente e uma política forte que não temos em Portugal”, defende João Correia.

Ana Maria Fonseca

 

 

 

SENADO DA UBI CONTESTA

Cinema exige-se

O Senado da Universidade da Beira Interior elaborou uma moção de protesto para apresentar ao Ministério da Ciência e do Ensino Superior. É que depois da decisão de não abrir Cinema na UBI, por alegadas contenções orçamentais, duas licenciaturas ligadas a esta área vão abrir em Coimbra e Lisboa.

A Moção de Protesto foi elaborada pelo Senado da UBI no final de Julho e surge no seguimento da não abertura de vagas para a Licenciatura em Cinema da UBI, decidida pelo ministro da Ciência e do Ensino Superior, Pedro Lynce. Tudo por alegadas contenções de despesas necessárias neste momento, perante os gastos que seriam feitos com laboratórios e equipamentos para a licenciatura da UBI.
Prometendo não penalizar instituições do Interior, Pedro Lynce acabou por decidir pela abertura de vagas para as licenciaturas em Artes do Espectáculo na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e de Estudos Artísticos na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.

Tal facto é considerado pelo Senado da Universidade da Beira Interior como discriminatório relativamente “a novos cursos similares em universidades do Litoral”, altamente prejudicial ao desenvolvimento da Unidade de Artes e Letras da UBI e um “empecilho à criação de um centro de excelência na área do estudo, do ensino e da investigação da imagem nesta universidade”, referem, na moção de protesto.

Apesar destas licenciaturas que abrirão vagas já no próximo ano lectivo serem diferentes do curso de Cinema da UBI, uma vez que têm um carácter mais teórico, o senado da UBI considera que a decisão do Ministério da Ciência e do ensino Superior “defrauda as enormes expectativas que a nova licenciatura criou em muitos jovens portugueses que tencionavam candidatar-se já este ano”, acrescentando que é “lesiva dos interesses nacionais na medida em que promoveria a língua e a cultura portuguesas”, concluem. A Licenciatura em Cinema deverá entrar em funcionamento na UBI em 2003/2004
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Ana Maria Fonseca

 

 

 

DOUTORAMENTO EM FÍSICA

A qualidade do papel

Um método inovador de análise da qualidade do papel desenvolvido na UBI, através duma tese de doutoramento, atrai várias indústrias papeleiras nacionais à universidade beirã. A investigação foi apresentada por Mário José Pereira, durante as suas provas de doutoramento, as quais decorreram no passado dia 10 e consiste num novo método para quantificar a orientação das fibras no papel. Sob o título “Reconhecimento do padrão óptico da estrutura da folha de papel”, a tese apresenta um método rápido, preciso e com resultados fiáveis sobre a orientação directa da estrutura das fibras, uma análise da qualidade do papel.

Desenvolvido em colaboração com o Centro de Óptica e o Departamento de Ciência e Tecnologia do Papel, utilizou papéis produzidos na sua maioria no Departamento de Papel e outros vindos da indústria papeleira. “O que nos limitámos a fazer foi obter a réplica dos diferentes tipos de papel para obter os padrões e analisar a estrutura do papel”, explica o doutorado, acrescentando que este é um método que a indústria do papel necessitava com urgência.

Várias empresas têm procurado o Centro de Óptica da UBI para analisar os papéis que fabricam. “É importante saberem o que estão a produzir, na diferença entre uma superfície e outra”, refere Mário Pereira.

Soporcel, Inapa, Portucel, as mais importantes empresas de papel portuguesas já vieram à UBI analisar o seu papel.

 

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