Director: João Ruivo    Publicação Mensal    Ano IV    Nº45    Novembro 2001

Politécnico

GERARD DOHERTY, DA ROYAL SCOTTISH ORCHESTRA

Maestro very scottish

Chama-se Gerard Doherty e é maestro residente da Royal Scottish Orchestra, na Escócia. A convite da Escola Superior de Artes Aplicadas esteve em Castelo Branco, participou num seminário, orientou a orquestra da ESART e num sábado de manhã, aceitou conversar com o Ensino Magazine, um dia depois do espectáculo realizado no Cine Teatro Avenida. Dois ou três minutos antes das 11 horas Gerard Doherty chegou ao local combinado. Ainda antes da entrevista houve tempo para um café na esplanada da frente. Só depois, já com a presença de Augusto Trindade, docente da Esart, começou uma conversa a três vozes.

O ensino e a formação de jovens músicos serviu de ponto de partida para uma conversa que se proporcionou ser agradável. Projectos como a Orquestra de Jovens de Santa Maria da Feira, foram apresentados àquele responsável. A perspectiva que está presente na Escócia no que respeita a essa matéria passa por formar jovens para as orquestras. “Isso é fundamental, pelo que a constituição de orquestras compostas por jovens é imprescindível”. Mas Gerard Doherty vai mais longe e em sua opinião a entrada de mais jovens para o mundo da música está relacionada com a própria educação que as crianças recebem em casa e da sociedade. “Há cerca de 20 anos estive na Polónia e fiquei impressionado porque os bilhetes do concerto estavam esgotados, e na sua maioria o público era composto por crianças que ouviam atentamente o concerto. Este é um bom exemplo que é preciso educar as pessoas. A música clássica não é como a música pop em que se ouve e depois de deita fora. A música clássica é muito mais séria”.

É por esse motivo que Gerard Doherty considera “projectos como o Crescer com a Música são muito importantes, pois a música é como aprender uma língua e quanto mais cedo aprendermos um idioma mais fácil se torna a sua aprendizagem. Por outro lado, a adesão do público à música clássica passa pela educação das pessoas. Porque quando há uma recessão económica, a área da cultura é a primeira a ressentir-se”.

Para o responsável da Real Orquestra da Escócia é importante o aparecimento de orquestras compostas por jovens. “É muito importante que isso aconteça. Isto porque os alunos instrumentistas não podem tocar individualmente, pois para se tocar numa orquestra é preciso saber-se ouvir, não basta apenas estudar individualmente e chegar ao fim dos estudos com a ideia de que depois é só entrar para uma orquestra”. Gerard Doherty frisa mesmo que “as orquestras de jovens, como as que existem em Portugal, são importantes nesse sentido. É importante os jovens apreenderem a saber estar numa orquestra e os seus repertórios. Na Escócia, por exemplo, já existem orquestra divididas por escalões etários e de qualidade. Os jovens começam muito cedo a ter contacto com as orquestras, depois progressivamente vão subindo de escalão até chegarem às orquestras nacionais”.

A Escola Superior de Artes Aplicadas e o desafio que lhe foi lançado foi o tema seguinte. “Os objectivos desta iniciativa foram largamente ultrapassados. Aquilo que verifiquei é que houve uma evolução muito grande ao longo do nosso trabalho. Além disso, em toda a Europa há muitas orquestras onde os jovens têm muita técnica, o que também verifiquei aqui, mas com uma diferença, é que os alunos souberam interpretar de forma exemplar as obras”.

Augusto Trindade, docente da Esart, também sublinhou a importância deste tipo de iniciativas. “Trata-se de uma actividade importante, pois a maioria dos alunos que estudam na escola fazem-no também para integrarem orquestras. Os seminários revelam-se importantes, quer a nível pedagógico, já que os seus participantes vão aprender repertórios que fazem parte da formação geral dos músicos, quer a nível prático, pois aprendem a tocar em conjunto. Além disso, os seminários têm contado com a presença de especialistas convidados, o que vai dar outras referências aos alunos da escola e não só”. Augusto Trindade lembra também que este tipo de iniciativas permite a que alunos do ensino secundário “venham à escola e conheçam o seu funcionamento”.

Uma das apostas da escola passa pela Orquestra da Esart. Uma orquestra ainda jovem, mas que no entender de Augusto Trindade “tem tido uma grande evolução. Isso é unânime e tem sido demonstrado pelos programas apresentados. Para já é a orquestra da cidade, mas vai evoluir muito”.

 

 

DIA DO POLITÉCNICO EM VISEU

Mais qualidade face à concorrência

Nos últimos 15 anos, só entre investimento concretizado ou adjudicado, o Politécnico de Viseu aplicou 10 milhões de contos em infraestruturas, uma verba grande, mas ainda assim considerada insuficiente para as aspirações do Instituto e da região onde se insere. A opinião é do presidente do Politécnico, João Pedro de Barros, e foi avançada na comemoração do Dia do Politécnico, a 16 de Novembro, a qual, por motivos de contenção financeira, coincidiu este ano com a abertura oficial do ano lectivo.

A cerimónia assinalou os 18 anos de existência do Instituto e realizou-se na aula magna do novo edifício dos Serviços Centrais, o qual deverá ser inaugurado no início do próximo ano, e foi aproveitada por João Pedro de Barros para recontar o historial do campus politécnico, o qual ainda irá crescer mais nos próximos tempos, com a construção da terceira residência de estudantes, que custará cerca de 345 mil contos e cujas obras se iniciarão no próximo ano.

Mas as obras em perspectiva nas escolas do Politécnico não ficam por aqui, já que foi lançada a ampliação e remodelação da Escola Superior de Enfermagem, orçadas em 730 mil contos, na qual será ainda criado um bloco de demontração que custará 80 mil contos. Além disso, na Quinta da Alagoa estão a ser reconstruídas instalações para serviços administrativos, laboratórios, biblioteca, salas de aula e serviços da presidência da Escola Superior Agrária. Também o edifício central da escola, orçado num milhão e 250 mil contos, vai avançar.

Em Lamego foram beneficiadas e conservadas as instalações da Superior de Tecnologia e Gestão, o que custou cerca de 92 mil contos, e “decorrem negociações com a autarquia para a construção de um campus que vai alojar a Tecnologia e o Pólo da Educação, o qual deverá ser transformado numa unidade orgânica. Alguns quiseram impedir o avanço do pólo de Lamego, mas agora há projectos para as duas escolas”, afirma o presidente da Instituição.

Cumpridos alguns desígnios, o Politécnico lança-se agora no cumprimento de outros objectivos, os quais João Pedro de Barros referiu aproveitando a presença do chefe de gabinete do secretário de Estado do Ensino Superior. Entre eles está a transformação da Escola Superior de Enfermagem em Escola Superior de Saúde. Outro objectivo é a criação da Escola Superior de Comunicação e Artes, um projecto apresentado ao Ministério em 1998, mas que ainda continua a aguardar resposta.

“É incrível que ainda não tenhamos uma resposta a este pedido, uma vez que se trata de uma escola onde irão funcionar cursos no âmbito do teatro, televisão, dança e cinema e que deve servir um enorme grupo de jovens que até agora tem de se deslocar para outros centros do país. Insistiremos neste propósito mil vezes”, adianta João Pedro de Barros.

Mais certa será a transferência da Escola Superior de Educação para um novo edifício a criar no campus. “Somos homens de fé e temos a certeza que a ESEV estará no campus o mais rapidamente possível. Como Viseu continua a ser Portugal, continuaremos a lutar para alcançar esses objectivos”, diz João Pedro de Barros, o qual pretende ainda melhorar as instalações desportivas e construir um pavilhão multiusos.

PERTURBAÇÕES. A hora é de confiança, mas ainda assim, o presidente do Politécnico quer arrepiar caminho e fazer face a tempos conturbados que se avizinham no sector educativo. Em causa estão sobretudo, e na sua expressão, a perda de identidades e valores, a desestabilização da personalidade e o reforço do individualismo, o que pode pôr em causa o actual sistema educativo.

Mas João Pedro de Barros vai mais longe, ao afirmar: “Caminha-se em nosso entender para uma entropia preocupante na educação. Vivemos tempos conturbados que se repercutem na vida interna da instituição, a qual tem vindo a trilhar os caminhos da credibilização científica e académica junto das comunidades do género, nacionais e internacionais, conseguindo até agora criar um espaço próprio à custa de um trabalho notável de professores, funcionários e alunos”.

Por esta razão e apesar dos tempos conturbados de que fala, aquele responsável afirma que a equipa de trabalho continua a procurar cumprir como objectivo principal o facto de ministrar uma formação vocacionada para o mercado de trabalho, de forma a contribuir para o desenvolvimento regional e nacional. “Até hoje, tê-mo-lo conseguido”, afirma.

Nesta lógica de desenvolvimento regional, o Politécnico tem contado com a colaboração de muitas instituições da região de Viseu, as quais foram distinguidas com a medalha de ouro por mérito, atribuída pelo Instituto Politécnico de Viseu. Entre eles contam-se o presidente da Câmara de Viseu, Fernando Ruas, o presidente da Associação Empresarial de Viseu, Almeida Henriques, o empresário Armando da Silva Pereira, o presidente da Associação de Comerciantes, José Alberto Oliveira. Foi ainda distinguida a Confraria de Santo António, que disponibilizou os terrenos para a Superior Agrária, e que esteve representada na cerimónia pelo Cónego Arménio.

Antes da atribuição das condecorações, teve porém a palavra Almeida e Costa, o presidente do Concelho Nacional de Avaliação do Ensino Superior, o qual estudou em Viseu e deixou duas mensagens. Em seu entender, “o ensino politécnico é hoje uma realidade devidamente afirmada como alternativo e complementar do ensino universitário. Mas é igualmente digno. Apenas tem uma matriz diferente. Porém, refere que “ainda não existe nos politécnicos a ideia de que a avaliação deve ser algo permanente, que deve envolver toda a instituição e não apenas os professores que elaboram os relatórios”.

Além disso, no entender daquele responsável, “a avaliação deve ter consequências e são elas que conduzem à melhoria da qualidade”. Espera por isso que esta premissa se generalize no ensino politécnico e faz votos para que “o Instituto Politécnico de Viseu, com toda a sua pujança, seja um dos primeiros a desenvolver o espírito de avaliação permanente”. Uma matéria que seria abordada por Veiga Simão, o antigo ministro da educação, que proferiu uma oração de sapiência acerca da necessidade de rumar à qualidade evitando desperdícios de esforços no sector educativo em Portugal.

 

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