Director: João Ruivo    Publicação Mensal    Ano IV    Nº42    Agosto 2001

Reportagem

ACABAR O CURSO E FICAR SEM EMPREGO

Licença para desempregar

A situação dos licenciados e bacharéis desempregados em Portugal está a tornar-se cada vez mais preocupante. No final do ano passado, estavam inscritos nos centros de emprego do País cerca de 23 mil, quando no final de 99 estava pouco acima dos 20 mil. E se é certo que até ao final de Junho as inscrições não chegavam aos 19 mil e 400, a verdade é que esse número deverá aumentar já no final deste mês e nos seguintes, dado que muitos dos formados este ano lectivo não conseguirão emprego e optarão por se inscrever nos centros.

Os números não são nada bons, sendo certo que, na realidade, deverão ser mais elevados, pois muitos dos licenciados e bacharéis continuam em estágios ou em cursos de formação ou pós-graduação, pelo que não se inscrevem nos centros de emprego. De qualquer modo, estamos em querer que estes sejam os dados mais fiáveis da situação do desemprego entre as pessoas que têm formação de nível superior.

No caso do Distrito de Castelo Branco, e no final de Maio, estavam inscritos nos três centros de emprego, Castelo Branco, Covilhã e Sertã, 380 licenciados e bacharéis, sendo que 221 se inscreveram no Centro de Castelo Branco. Segue-se a Covilhã, com 129, e a Sertã, com 30 inscritos.

Curiosamente, à medida que crescem os ficheiros dos centros de emprego, do mercado de trabalho chegam queixas da falta de pessoal com formação superior para desempenhar determinadas funções. O Distrito de Castelo Branco não é excepção e todos os dias chegam solicitações de empresas à Universidade da Beira Interior e ao Politécnico de Castelo Branco. As empresas pretendem contratar formados, só que nem sempre os há.

ENGENHEIROS. O caso mais flagrante de falta de diplomados é o das engenharias, nomeadamente da Engenharia Informática em Castelo Branco, cujos alunos conseguem emprego mesmo antes de concluírem o curso. Na Covilhã há grande procura de diplomados em Engenharia Informática, Engenharia de Produção e Gestão Industrial, Engenharia Electrotécnica e Gestão. Verifica-se ainda o caso caricato da Engenharia Têxtil.

É caso para dizer que «engenheiros têxteis, procuram-se». O curso funciona, mas não há dúvida que o falso mito instalado segundo o qual o sector têxtil está em crise leva a que muitos alunos não optem por aquele curso. A realidade, essa, é outra: “Muitas vezes os formados nem respondem às ofertas de emprego que temos na Univa porque dispõem de outras, e conseguem até mudar de emprego com muita facilidade”, refere Manuela Afonso, da Unidade de Inserção na Vida Activa da Universidade da Beira Interior.

A directora do Centro de Formação de Castelo Branco, Arminda Teixeira refere, na mesma linha, que “todos os diplomados em qualquer engenharia, contabilidade e gestão, e em economia, mesmo só com bacharelatos, têm facilidade de integração a nível de estágios e grande parte deles têm ficado a trabalhar nas empresas”.
Existe depois o reverso da medalha. Os cursos tradicionalmente chamados de Letras continuam a formar pessoas que terão dificuldade em conseguir colocação. Na edição de terça-feira do Diário de Notícias podia mesmo ler-se que hoje os formados em Direito têm até dificuldade em encontrarem patrono para a realização de estágio. Outro exemplo será o da Sociologia, cujos diplomados “vêem os seus lugares ocupados por formados em Gestão e em Ciências da Comunicação”, diz Manuela Afonso, da UBI.

Já Arminda Teixeira adianta que “o grande problema do Centro está nos licenciados em cursos no âmbito da agricultura, sociologia, psicologia, história e francês, cujas colocações são difíceis mesmo no que diz respeito a estágios”. No caso dos cursos agrícolas, os estágios são feitos na Direcção Regional de Agricultura da Beira Interior, a qual não tem capacidade para absorver todos os formados.

SOLUÇÕES. Alguns cursos têm estágios curriculares, mas é sobretudo com os estágios profissionais que os formados conseguem entrar no mundo do trabalho e é aí que os centros de emprego têm uma palavra a dizer, dado que são os responsáveis pela execução do programa de estágios profissionais, ao abrigo do qual os formados auferem o equivalente a duas vezes o salário mínimo nacional, na sua maioria suportado pelo Centro e não pela empresa.

Os licenciados e bacharéis são os que mais têm beneficiado daquele sistema. O estágio tem a duração de nove meses e pode ser prorrogado por mais três, desde que justificado pela empresa, a qual deve também demonstrar interesse na continuidade da pessoa em causa. Nesse tempo, os formados adaptam-se à empresa ou instituição, aos horários, ao mundo do trabalho.

“Há muitos formados que ficam colocados nas empresas e instituições, seja em regime de avenca, contratos a termos certo ou mesmo até nos quadros. Outros entram através de concursos públicos quando as instituições a isso estão obrigadas. Muitos já vão para estágio com a indicação de que poderão ficar se não houver qualquer problema e o certo é que até hoje nunca tivemos uma queixa que fosse das empresas relativamente aos estagiários”, diz Arminda Teixeira.

No caso do centro de emprego de Castelo Branco, a média anual destes estágios ronda os 300 a 400, mas este ano ainda não foi além dos 157, dado que as verbas para estes programas pararam em Abril, podendo voltar a ser disponibilizadas em Setembro ou no início do próximo ano. “Algumas empresas já nem se candidataram, mas vão faze-lo assim que voltar a haver verbas”, diz a directora do Centro.

UNIVA. A trabalhar de perto com o Centro de Emprego está a Unidade de Inserção na Vida Activa do Politécnico de Castelo Branco, cujo responsável, Ricardo Batista, considera que os estágios profissionais são a grande porta de entrada dos formados pelas escolas da instituição.

“Temos uma boa interacção com o Centro de Emprego, Centro de Juventude, escolas, empresas, bancos, sociedades agrícolas e associações e disponibilizamos a informação às escolas, associações de estudantes, além de contactarmos os formados que temos no nosso ficheiro, seja por telefone ou por carta”, explica.
No caso concreto dos alunos dos cursos de Tradução e Relações Internacionais e de Línguas e Secretariado existe um estágio curricular, os quais são fáceis de encontrar. Já o estágio profissional, “normalmente tem-se conseguido, mas este ano foi mais difícil porque a verba do Centro de Emprego terminou em Abril e não houve possibilidade de realizar estágios”.

Ricardo Batista fala ainda no Pejene, um programa de estágios destinados a alunos que estão no último ano. Os alunos inscrevem-se e fazem um estágio directamente relacionado com o seu curso, ao longo de dois ou três meses, no Verão. “A remuneração é pequena, mas a experiência é importante e assim, no final do curso, se interessar às duas partes, podem fazer um estágio profissional na empresa”.
A Univa procura ainda informação na Internet para disponibilizar a alunos e a formados, indica formados a empresas que o solicitam, faz sessões de esclarecimento nas escolas, explicando aos alunos alguns aspectos importantes como a elaboração de um currículo, de uma carta de apresentação, a preparação de uma entrevista.
O Politécnico dispõe ainda de um Gabinete de Relações Internacionais que pode ajudar os alunos a conseguirem um estágio no estrangeiro, o que tem acontecido em várias áreas, sobretudo na de contabilidade e gestão, e nomeadamente em países como Espanha e França, mas também na Bélgica e na Grécia, entre outros.

UBI. No que vai de ano, a Unidade de Inserção da Vida Activa da Universidade da Beira Interior já recebeu cerca de 350 solicitações de empresas para que os formados da instituição ali ingressassem em estágios profissionais ou mesmo para emprego efectivo. A confirmação é de Manuela Afonso, responsável por aquele órgão da Universidade.

Segundo diz, a maioria das solicitações diz respeito a formados em engenharia. “De um modo geral, um aluno de engenharia não tem dificuldade de colocação no mercado de trabalho. A par dos formados em Gestão, a colocação pode demora até um máximo de três meses”. A excepção é a Engenharia Industrial, mas a mudança do nome do Curso para Engenharia Química deverá ajudar, uma vez que isso se verifica nos outros cursos existentes a nível nacional.

Na região da Beira Interior, a maior procura surge nas áreas de Engenharia da Produção e Gestão Industrial, Engenharia Electrotécnica e Gestão. A procura ao nível dos diplomados em Engenharia Têxtil e Informática é nacional, indo muitos alunos para fora da região, muitas vezes para zonas de onde são naturais.

No geral, a média de colocação dos formados inscritos na Univa é de três a seis meses e existem outras formas que não os estágios profissionais, os quais representam porém “a grande medida de colocação dos licenciados da UBI”. Os estágios do Prodep são uma delas, embora a remuneração atribuída tenha baixado para cerca de metade em relação ao ano passado. Existem ainda os estágios do Programa REDE, que têm a duração de seis meses e uma bolsa semelhante às dos estágios profissionais.

 

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