LIVROS
Tom Wolfe

“Roger e o advogado branco especializado em Direito Criminal de Faireek Fanon, Julian Salisbury, e o advogado deste também com uma especialização em Direito Criminal, Don Pickett, deixaram-se ficar numa das antecâmaras da biblioteca de Wringer, Fleason & Tick a observar umas tantas alimárias desgrenhadas espalharem-se pela grande sala de leitura desta. Era a colecção de pessoas mais mal-amanhada e mais mal parida que alguma vez se havia reunido aqui no quadragésimo andar de Peachtree Olympus. E denominava-se… Imprensa. Wes Jordan tinha tido toda a razão. Em menos de um fósforo, a história de Fairek Fanon – o nome da rapariga não era mencionado – tinha saltado da Internet para os jornais (…)”.
In Um Homem em Cheio
Tom Wolfe nasceu em Richmond, Virgínia, em 1931. Estudou na Universidade de Washington and Lee onde tirou o bacharelato em letras. Doutorou-se depois em Estudos Americanos na Universidade de Yale. No início de 60 foi para Nova Iorque trabalhar como repórter no Herald Tribune. Colaborou nas revistas Esquire e New Yorker. Foi um dos criadores do que ele próprio denominou de new
journalism.
Começou por escrever obras de não-ficção. O seu primeiro romance foi A Fogueira das Vaidades, adaptado ao cinema por Brian de Palma.
Wolfe continua a viver em Nova Iorque.
Da sua bibliografia constam as obras: The Kandy-Kolored Tangerine-Flake Streamline Baby (1965), The Pump House Gang (1968), The Electric Kool-Aid Acid Test (1968), Radical Chic & Mau-Mauing the Flak Catchers (1970), The Painted Word (1975), Mauve Gloves & Madmen (1976), Clutter & Vine (1976), The Right Stuff (1979), In Our Time (1980), From Bauhaus to Our House (1981), The Bonfire of the Vanities (1987) e A Man in Full (1998).
O LIVRO.
A Man in Full - Um Homem em Cheio. Charlie Croker, antigo jogador de futebol americano denominado o «homem dos sessenta minutos» é agora um homem de sessenta anos, corrector imobiliário em Atlanta, dono de um vasto património e casado por segunda vez com uma mulher trinta anos mais jovem.
Quando Croker entra em colapso financeiro é pressionado pelo banco a entregar os seus bens pessoais.
Faireek Fanon jogador negro de futebol americano, o «canhão», é acusado de ter violado a filha de um branco influente. Wes Jordan, o mayor de Atlanta, propõe a Croker dar uma conferência de imprensa em defesa de Fanon. Com este acordo Jordan tenta evitar os conflitos raciais na cidade e Croker deixa de ser pressionado pelo PlannersBanc. Mas na vida de Croker entra Conrad, este sim um Homem em Cheio, «seguidor» de uma estranha filosofia contida no livro Os Estóicos que modifica Charlie Croker.
Eugénia Sousa
Florinda Baptista
Novidades
Europa-América. As Publicações Europa-América editaram, do escritor Antonio Sarabia, Os Convidados do Vulcão. Maria Joya, conhecida como Joyita, tem o ofício de ervanária em Guayacán, povoado encaixado entre vulcões; o Vulcão de Fogo e o Nevado de Colima. Em Guayacán, Joyita é iniciada na irmandade dos Convidados do Vulcão. Eles possuem o dom de entrar nos sonhos dos homens e «descobrir, através daquilo que mais desejam, amam ou temem, a essência da sua natureza». Acerca dos Convidados do Vulcão o escritor Luís Sepúlveda diz «É um enorme prazer poder apresentar um livro de um grande narrador latino-americano».
PIAGET. O Instituto Piaget publicou O Evangelho de um Livre Pensador - Deus seria laico? de Gabriel Ringlet . O Envangelho e o Livre-pensamento tem andado, ao longo da história, de “costas voltadas”. Contudo, ambos procuram conduzir o homem à liberdade. O autor acredita numa necessária renovação espiritual, tanto no mundo laico como no Cristianismo. Com esta obra lança um apelo ao diálogo entre «aqueles que crêem no céu e aqueles que não crêem».
Gabriel Ringlet é sacerdote e vice-reitor na Universidade Católica de Lovaina.
LIVROS DO BRASIL. A Editora “Livros do Brasil” inicia um processo de renovação nas colecções existentes e segue com novas publicações. As publicações antigas: «Dois Mundos», «Livros do Brasil» e «Vida Cultural» preparam novos títulos. A colecção «Miniatura» que apresentou ao público português escritores como Camus, Hemingway, Steinbeck, Proust, Mann, Faulkner, ressurge em três séries autónomas: Literatura, Ideias e Fixações. As novas colecções de Livros do Brasil reúnem obras de Suspense, Magia Esoterismo, Mistério, Sociedades Secretas, História, Astrologia, Erotismo e chamam-se «Suores Frios», «Mundo Ibérico», «O Despertar dos Mágicos» e o «Jardim das Tormentas».
Eugénia Sousa
CINEMA
No
centenário de Buñuel

Não podíamos deixar chegar ao fim 2000 sem falar de Luís Buñuel, cujo centenário de nascimento se comemorou este ano, um cineasta a quem se deve a mais importante contribuição de Espanha à arte cinematográfica. Almodovar, ainda terá que filmar muito, e bem, para chegar aos calcanhares deste mestre.
Nascido em Calanda, Aragão, a 2 de Fevereiro de 1900, serão os anos de Madrid, na Residência dos estudantes, contagiado pelo ambiente e pelos amigos, de que se destacam, Alberti, Lorca e Dali, que marcarão decisivamente o percurso de Buñuel. Como ele próprio disse, os anos de formação e encontros, as nossas conversas, o nosso trabalho, os nossos passeios, as nossas bebedeiras, os bordéis de Madrid (sem dúvida os melhores do mundo) e as nossas longas noitadas na Residência. Totalmente conquistado pelo jazz. E pelo cinema, acrescentamos nós.
A sua paixão pelo cinema tornou-se mais intensa em Paris, para onde foi em 1925, e ingressou na Academie du Cinema, conseguindo trabalhar como assistente de realização de Jean Epstein.
O ano de 1928 marca a sua entrada triunfal na 7ª arte, co-realizando com Salvador Dali o célebre Un Chien Andalou, uma curta – metragem invulgar, com imagens guiadas pela fantasia, justamente considerado a primeira grande manifestação surrealista no cinema. Dois anos depois produz e dirige L’ Age D’Or. Embora partindo de um guião começado com Dali, a personalidade do cineasta aragonês impôs-se inequivocamente no resultado final. Segundo André Breton o único filme autenticamente surrealista de toda a história do cinema, uma sátira anti – burguesa da mais extrema virulência, que provocou em Paris, aquando da sua exibição, algumas manifestações de protesto, o que levou o prefeito da polícia a proibir o filme.
Em 1932 realiza o seu primeiro filme espanhol Las Hurdes, região agreste, aqui para as bandas de Cáceres. Um documen-tário etnográfico, sob uma óptica surrealista, imbuído de um grande desencanto, o que levou à sua proibição no país vizinho.
Pouco depois do início da Guerra Civil abandona Espanha e desembarca em Hollywood. Na terra das oportunidades as que lhe dão são poucas. Pelo seu passado revolucionário e provocador, Buñuel, tido como persona non grata, vê-se obrigado a partir para o México onde inicia uma nova etapa da sua carreira que duraria quase 30 anos. Aí, além de ter que dirigir produções comerciais, apesar dos fracos argumentos, quase sempre impostos, teve o mérito de os transformar ideias rudimentares em filmes extraordinários, casos de Susana (1950), El (1952), freudiano retrato da paranóia, Ensaio para um crime (1955) ou Nazarin (1958), adaptação do romance de Benito Pérez Galdós, uma violenta reflexão sobre a moral cristã.
O ano de 1961 marca o regresso do cineasta ao seu país natal para trabalhar em Madrid numa produção espanhola, Viridiana, mais uma sátira à burguesia, utilizando a linguagem do fantástico. A mão da censura foi pesada e o filme provocou que escândalo e esteve proibido em Espanha até à morte de Franco, foi galardoado com a Palma de Ouro em Cannes.
Depois de uma breve passagem pelo México, ruma a França onde inicia a última e, dizemos nós, mais rica fase da sua carreira, com toda a liberdade, de ideias e de meios. Quando se pensava que cada filme era o último, eis que se seguia outro. Foi assim que, quase sempre acolitado pelo
argumentista Jean-Claude Carrière, nos deixa filmes que vão de Diário de uma Criada de Quarto (1964), remake do título de Jean Renoir, com Jeanne
Moreau, a criada, perversa, como só Buñuel a podia retratar, Belle de Jour (1966), onde o realizador verte todo o seu interesse pelo fetichismo e que se revelará o maior êxito comercial da sua filmografia o qual, disse atribuo mais às prostitutas do filme que ao meu trabalho e obviamente, à belíssima Séverine, Catherine Deneuve e caixinha do japonês mais os segredos (?) que ela esconde e Tristana (1969), ainda com Deneuve, o filme mais perversamente belo da história do cinema.
Aos 72 anos Buñuel inicia uma admirável trilogia fílmica. O Charme Discreto da Burguesia (1972), Oscar para o melhor filme em língua estrangeira, O Fantasma da Liberdade (1974) e , três anos depois, Este Obscuro Objecto do Desejo. Neste último, já com 77 anos, concretiza um projecto antigo de adaptação da obra de Pierre Louys, La femme et le pantin. No papel de Conchita, duas actrizes, Angela Molina e Carole Bouquet. Neste, como em quase todos os seus filmes, realidade e fantasia são conceitos inqualificáveis. Pela sua obra perpassa um estilo carregado de ironia e humor negro, de sonho e de fantasia. Apetece dizer, apelando a um dos seus títulos, que Luís Buñuel filmou, sempre, o charme discreto da
ambiguidade.
Luís Dinis da Rosa
com Joaquim Cabeças
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