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Director: João Ruivo    Publicação Mensal    Ano III    Nº28    Junho 2000

 

Cultura

 


GENTE & LIVROS

Arturo Perez-Reverte

«Guardou o bloco no bolso do sobretudo ao mesmo tempo que se levantava, pendurando ao ombro a bolsa de lona. Não pude deixar de apreciar o seu aspecto equivocamente sereno, com aqueles óculos de aros de metal sempre instáveis sobre o nariz. Mais tarde soube que vivia só, entre livros próprios e alheios, e além de caçador de aluguer era perito em jogos de simulação napoleónicos (…). Devo admitir que, evocando assim, Corso parece desprovido do mínimo atractivo. E, no entanto, mantendo-se fiel ao rigor com que narro esta história, devo admitir que, com a sua desajeitada aparência, precisamente devido àquela lentidão que podia ser – ignoro como o conseguia – cáustica e desamparada, ingénua e agressiva ao mesmo tempo, possuía aquilo a que as mulheres chamam um quê e os homens simpatia. Sentimento positivo que se esfuma quando apalpamos o bolso e verificamos que acabam de nos roubar a carteira.

in O Fim da Aventura

 

Arturo Pérez-Reverte nasceu em Cartagena em 1951. Herdou do avô uma biblioteca com cerca de cinco mil livros e do pai o gosto pelas viagens marítimas. Mas, citando o escritor numa entrevista à Visão “A aventura é possível, mesmo sem sair de uma biblioteca. É algo que procurei em todos os meus livros. Estou convencido de que não é preciso subir ao Everest ou ir aos confins do mundo para sentir a aventura. Resta outro tipo de aventura que é pessoal, incluindo a quotidiana. Viver cada dia pode ser uma aventura. A aventura, hoje em dia, consiste em ir de um ponto ao outro e voltar transformado, mais lúcido…”

Péres-Reverte começou a escrever em 1977 num jornal espanhol. Trabalhou também em rádio e na televisão estatal espanhola como repórter, fazendo a cobertura dos últimos conflitos internacionais, nomeadamente a Bósnia.

Abandonou o jornalismo para escrever livros, «thrillers culturais».

Dos seus sete livros destacamos: O Mestre de Esgrima (1988); A Tábua de Flandres (1990)- adaptado ao cinema e realizado por Jim Mcbride; O Clube Dumas (1993)- adaptado ao cinema com o título A Nona Porta e realizado por Roman Polansky; A Pele do Tambor e A Carta Esférica – o seu mais recente livro.

O LIVRO. Em O Clube Dumas Lucas Corso é uma espécie de detective, mercenário ou caçador de livros a quem entregam duas missões. Autenticar um capítulo dos “Três Mosqueteiros” e descobrir qual o verdadeiro exemplar, de A Nona Porta do Reino das Sombras. Varo Borja, biblíofilo ocultista, incumbe Corso da investigação deste livro que, no século XVII, condenou o seu impressor Aristide Torchia à fogueira. Na demanda da “obra maldita” seguimos Corso e Irene Adler (o seu anjo bom ou mau?) por Toledo, Sintra, Paris… onde se cruzam com os personagens que encarnam os de Alexandre Dumas, Milady, Rochefort, Richelieu...

Eugénia Sousa

Maria F. Baptista

 

 

 

Novidades

EUROPA-AMÉRICA. As Publicações Europa-América acabam de editar, na sua colecção “Forum da Ciência”, O Sentimento de Si, do neurologista e humanista António Damásio. O Sentimento de Si - O Corpo, a Emoção e a Neurobiologia da Consciência, repete já o êxito editorial que foi o primeiro livro do autor, O Erro de Descartes, aclamado com as melhores críticas da comunidade científica e artística. A obra organizada em quatro partes e vários capítulos conduz o leitor na procura do seu “mesmo” conhecimento. Este livro é uma magnífica ponte até ao nosso cérebro, dá-nos a real dimensão da nossa consciência, uma nova luz sobre o “Sentir-nos”. 

PIAGET. O Instituto Piaget publicou As Pedagogias da Apredizagem de Marguerite Altet. Toda a pedagogia tem como meta possibilitar a apredizagem mas já em 1959 Roger Cousinet utilizava esta expressão para substituir «pedagogia do ensino por uma pedagogia de aprendizagem que ajude os alunos a aprender». Baseando o seu estudo na análise das actuais classificações de diferentes pedagogias, Marguerite Altet desenvolve uma corrente pedagógica centrada na aprendizagem. Uma concepção construtiva da aprendizagem, uma centração na actividade do aluno durante a aprendizagem, um desenvolvimento das estratégias metacognitivas são alguns dos objectivos propostos. Um livro indespensável.

 


 


BOCAS DO GALINHEIRO

Shall We Dance?

Temos andado para aqui às voltas com realizadores e temáticas que são muito caras ao cinema, e a nós. Hoje vamos variar. No tema e na forma. O tema é a dança. Na forma, porque vamos colocar em segundo plano os realizadores e centrarmos toda a nossa atenção num dos expoentes máximos do género no cinema: Fred Astaire. Fred Astaire e os seus pares, é claro. Porque nisso de escolher o seu par, o bailarino não pedia meças a ninguém.

Em 1927 os Astaire Child, Fred e a sua irmã Adele, transformaram-se no mais famoso par da América com Funny F ace, composta por Gershwin. Mais de um ano na Broadway e seis meses em Londres. A Paramount quis levar a peça ao cinema, (o que só veio a acontecer quase trinta anos depois, com Fred Astaire e Audrey Hepburn!) porém o screen test foi negativo, muito por causa do parecer do olheiro sobre Fred. De antologia: “Não sabe representar. Não sabe cantar. É ligeiramente calvo. Dança menos mal”. Do mal o menos. Dava uns passos. Há males que vêm por bem? É possível. Nas suas memórias, Fred Astaire reconhece que esta opinião foi fundamental. Ainda tinha muito que aprender. E de que maneira o fez. Smiles, de 1930 e The Band Wagon, um êxito fenomenal, marcam as últimas aparições dos manos Astaire. Adele, bem casada, retirou-se. Tinha 34 anos. Fred, dezoito meses mais novo, iniciava uma carreira fulgurante.

Gueorgui Balanchine, disse que o maior bailarino do século XX era Fred Astaire. Espantoso e surpreendente. Mas o russo estava a ser sincero. Gene Kelly, outro monstro do musical, vaticinou na altura que, daqui a 50 anos o único a ser lembrado será Fred Astaire. Falsa modéstia? Não só. O par Ginger Rodgers/Fred Astaire, valeu um filme notável de Fellini, Ginger and Fred, lembram-se? Claro que sim. Terá sido, porventura, o mais recordado, porque inesquecíveis foram os filmes, mas, lembramos outras mulheres que com este bailarino de excepção partilharam enormes êxitos, de Eleanor Powell a Joan Fontaine, passando por Rita Hayworth ou Cyd Charisse.

Mas, o talento de Astaire não se limitava à sua forma esguia e elegante de dançar. Muitas das coreografias eram de sua autoria, apesar de raramente aparecer nos genéricos, e há mesmo quem diga que alguns realizadores se limitaram a filmar as suas criações, levando-os a filmar continuamente e a não cortar os pés dos dançarinos, plano comum nos primeiros musicais.

Em 1933 entra em Dancing Lady/O Turbilhão da Dança, de Robert Z. Leonard, com Joan Crawford e em Flying Down To Rio/Voando para o Rio de Janeiro, de Thorton Freeland, com Ginger Rogers. Nos principais (?) papéis deste último lá estavam um hoje esquecido Gene Raymond e a fogosa Dolores Del Rio, a então eleita de Selznick, na altura à frente da RKO. Na fita de Leonard uma das estrelas era Clark Gable. Fred, desiludido com estas experiências cinematográficas vai para Londres fazer nos palcos The Gay Divorcee. Porém, porque estreado mais tarde, Flying Down To Rio estava a ser um tremendo êxito, não por Dolores ou por Raymond, mas sim pelo par de dançarinos. A RKO vai buscá-los e coloca o par na versão para cinema de The Gay Divorcee/A Alegre Divorciada, realizado em 1934 por Mark Sandrich. O êxito foi estrondoso e o par virou imparável. Foi o abono de família da produtora. Segue-se Roberta, em 35, de William Seiter. No principal papel estava Irene Dunne. Mas, já adivinharam, Fred e Ginger é que deram vida ao filme. Ainda nesse ano Top Hat/Chapéu Alto, de Mark Sandrich, consagra definitivamente o par. E o êxito continuou com Follow The Fleet/Siga a Marinha, 1936, de Sandrich, Swing Time/Ritmo Louco, do mesmo ano, realizado por George Stevens e Shall We Dance/Vamos Dançar, de 37 e de novo de Sandrich. O par entrou na história do musical e catapultou os dois para o mais alto estrelato, em que a estrela maior era sem dúvida Astaire. Os filmes eram de Fred Astaire, não com Fred Astaire.

Perfeitos como dançarinos, não o terão sido tanto como parceiros. O par desfez-se. Astaire, que engrandecia as estrelas que com ele partilhavam os passos, lançou-se noutras parcerias. Começou com Joan Fontaine em A Damsel in Distress/Uma Donzela em Perigo, 1937, de George Stevens. O filme foi um êxito, mas faltava ali qualquer coisa. Não espanta que o par se voltasse a juntar em Carefree/Quero Sonhar Contigo, de Mark Sandrich, 1938 e The Story of Vernon and Irene Castle/O Bailado da Saudade, de H. C. Potter,. Mas, depressa voltou a outras parcerias. 1940 é o ano de Broadway Melody of 1940/Idílio Musical, de Norman Taurog, com Eleanor Powell, numa partitura inesquecível de Cole Porter e de Second Chorus, de H.C. Potter, com Paulette Godard , a que se segue You’ll Never Get Rich/Nunca Serás Rico, de Sidney Lanfield, 1941, com Rita Hayworth e canções de Cole Porter.

Arthur Freed, produtor da Metro, contratou-o e saem os fabulosos Yolanda and The Thief/Yolanda e o Vigarista, com Lucille Bremer e Ziegfield Follies/As Mil Apoteoses de Ziegfield, com Judy Garland, ambos dirigidos em 1946 por Vincent Minnelli. No auge de fama anuncia a sua retirada, mas regressa triunfal, substituindo Gene Kelly em Easter Parade, de Charles Walters, 1948, com Judy Garland e música de Irving Berlin, um marco da década. Maior êxito só em 1953 com The Band Wagon/ A Roda da Fortuna, de Minnelli, naquele que é considerado um dos melhores filmes musicais de sempre, com Cyd Charisse, as melhores pernas de Hollywood, onde arrancou uma das suas máximas criações e o seu último na Metro. A hipótese de ser a chave de ouro do seu brilhante soneto cinematográfico voltou a colocar-se. Apesar de caminhar para os 60, o jovem que dança menos mal ainda nos brindou, em 1955, com Daddy Long Legs/ O Papá das Pernas Altas, de Jean Negulesco, com Leslie Caron, espécie de estágio para mais dois momentos de antologia, em 1957: o tal Funny Face/ Cinderela em Paris, de Stanley Donen, com Audrey Hepburn e Silk Stockings/Meias de Seda, de Rouben Mamoulian, de novo com Cyd Charisse, um remake de Ninotchka, outra das suas inesquecíveis criações.
Depois, quando as pernas já não ajudavam, voltou ao cinema como actor apenas. Também aqui não se saiu mal. Mas é como bailarino que o queremos recordar. A ele e aos seus pares. A propósito, quando lhe perguntaram qual foi o par de que mais gostou, a resposta foi surpreendente, ou não tanto, tendo em conta a lista distinta das actrizes: Gene Kelly!

Luís Dinis da Rosa

 

 

 

ARIANO SUASSUNA, POETA E DRAMATURGO BRASILEIRO

Se fosse alemão... era mudo

 

 

PORTUGAL ENVOLVIDO NO ANO EUROPEU DAS LÍNGUAS

Mais línguas, mais Europa


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