NUNO GUERREIRO À
CONVERSA COM JOAQUIM CARDOSO DIAS
O melhor anjo

Para que ninguém tenha dúvidas, assim posso começar: esta entrevista é um caso de admiração e amizade. E sem responder venho dizer que a nostalgia da sinceridade é acessível como uma ilusão. Severa como um sorriso de criança ou uma história de duendes que guarda o tempo a partir de uma rosa abandonada aos pés de uma estátua. Assim, escrevo com os mesmos erros. Falo do perigo de escrever para encontrar o segredo das palavras. E escrever é sempre aquele desejo demasiado inocente. Às vezes fazia-me falta o mar e a sabedoria das sensações que enlouquecem as profecias. Mas eu digo, escrevo, oiço, com a certeza de que o amor, absoluto é ao mesmo tempo necessário e impossível. Como a amizade. Sei-o há muito tempo. Lembro-me do milagre de curar uma mentira com este mar por detrás dos vidros . Ao longe, descendo, na inquietação dos dias, neste exacto momento do filme: o barulho do mar é uma noite infindável. E o ar sobe ao fogo. E amanhã vou comprar chocolates para oferecer aos loucos de Lisboa. E a cor da terra circula sob a alma dividida. E os rios nascem no mar. E a terra gira ao contrário. E depois começo a escrever.
Do que pretendo falar é de uma voz. Da invulgar e extraordinária voz da Ala dos Namorados. Mas depois da entrevista, de quase cinco horas, não sei o que é uma voz. Será adornar o som com o olhar de um anjo? Nuno Guerreiro é aos 27 anos uma estranha força da natureza e no álbum “Carta de Amor” interpreta canções acima de qualquer suspeita. Durante o tempo desta conversa falámos de tudo e de nada. Andámos pelas ruas de Lisboa e fomos, também, alvo de todos os olhares. Mas falámos, rimos e lanchamos no café Rosso - o Nuno pagou a conta. O Nuno nasceu em Loulé, no dia 5 de Setembro de 1972. Mora em Lisboa, na Graça, e diz-me que é muito bonito contemplar o rio Tejo, ao fim da tarde. Nuno Guerreiro ocupa, neste momento, o primeiro lugar na lista de preferências musicais em Tóquio. Nuno Guerreiro fala com desenvoltura, mas numa mistura de timidez com simplicidade. E deixem-me que sublinhe ainda que o Nuno é um ser humano apaixonante. O futuro vai dar-lhe razão. E sem mais palavras, deixo-vos com a voz convidada e que consegui eleger para a edição de aniversário do Ensino Magazine.
Vamos começar com uma pequena provocação. Porquê essa mudança radical no teu visual?
A mudança de cor do meu cabelo não tem uma razão muito especial. Mas há pelo meio uma história, que começou pelo pircing, e um espectáculo que a Ala dos Namorados foi fazer ao Brasil. Eu sempre quis fazer um pircing, principalmente na sobrancelha ,que é onde eu o tenho. Mas não tinha coragem. Quem me ajudou foi a Sara Tavares. (Risos) Ela encorajou-me a fazê-lo. É quase um adorno. E eu gosto de me olhar no espelho e ver qualquer coisa de novo. E esta foi também a razão porque mudei a cor do meu cabelo. Gosto de acordar de manhã, olhar para mim - não é que eu não goste da minha pessoa. Aliás, eu gosto muito de mim -, e dizer: “ Olá Nuno. Estás diferente.” (Risos) É uma razão simples, sem nada de especial. Eu gosto muito de mudar. Há uns tempos atrás vestia-me sempre de preto. Hoje já me visto com mais cores...
Mas em três dos teus cinco discos o teu rosto aparece na capa quase como um espécie de ícone. E o teu rosto funcionava muito bem assim. Alterar a tua imagem, se bem percebo é também, assim, um modo de mudar a tua maneira de estar e de ser.
Eu acho que o meu rosto funciona muito bem assim. É simplesmente diferente. Ás vezes as imagens que os artistas dão ao grande público não são as verdadeiras. Eu sou assim, mas também sou de outra maneira. Há o Nuno, artista e o Nuno, pessoa. Eu não gosto de parecer distante, mas tantas vezes a distância é necessária. Por vezes, sou muito próximo do meu público e gosto de sentir o meu público, muito perto.
A tua própria sensibilidade ensinou-te a ser assim?
O que eu sei é que a minha sensibilidade é assim. E muito mais outras coisas (Risos). A minha sensibilidade é o meu ponto forte e também o mais fraco.
Como a maior parte das pessoas, não é?
Mas algumas pessoas escondem essa sensibilidade, porque não a querem mostrar ou têm medo de se revelarem assim. Eu não. Sou assim. Não tenho problemas de mostrar como sou. Sou um rapaz bastante sensível, em muitas coisas. Ás vezes, e nalgumas situações tento escondê-la, mas é impossível. E um cantor também tem de representar; ser actor de uma vida, num palco. Eu sou um personagem que não tem maldade. E as pessoas abusam dessa sensibilidade. Mas gosto de mim, assim, como sou. Um dia hei-de ser recompensado.
Mas os cantores, os músicos não são anjos caídos, como os de Wim Wenders, em As Asas do Desejo?
Olha, Quim, em todos os espectáculos que a Ala dos Namorados fez lá fora, as críticas falam “ a voz de um anjo”; “desceu um anjo à terra” e consideram-me sempre um anjo. Será que o sou? (Risos) Não, porque sou muito
reguila...
A sério, Nuno?
Sim. Sou. Sou um anjo muito reguila. Chamam-me anjo, mas eu não quero ser anjo. Quero ser uma pessoa. A minha voz é a voz que Deus me deu, e quero continuar a trabalhar e a explorar esta minha voz o melhor que souber. E tentar transmitir todas as emoções que estão dentro de mim. Quando canto em cima de um palco, e se fecharem os olhos verdadeiramente e me ouvirem cantar, conhecem-me. Acho que se consegue perceber a pessoa que está ali. Eu sinto que consigo ser mais transparente quando estou a cantar.
Transparente, como...
Transparente, sabes... Nítido.
A tua voz é uma declaração de independência?
O meu corpo é que é a minha independência. A voz faz parte do meu corpo; faz parte da exteriorização. No meu corpo, a minha voz é um ponto muito poderoso... Assim como o meu olhar também é.(Silêncio) A independência é aquilo que cada um transporta em pleno voo. A independência é a própria pessoa.
E a tua independência aconteceu aos 16 anos quando deixas-te o teu Algarve, para vires para Lisboa?
É assim. Eu desde muito pequeno que sempre gostei de cantar, de dançar. Sempre adorei imitar cantores, bailarinos, actores... E eu sempre disse à minha mãe :”Mãe, um dia a minha vida vai ser no palco.” E quando chegou a altura em que comecei a dançar disse:” Mãe, tenho de ir para Lisboa. Lá é que estão as coisas que eu quero.” E os meus pais com muito esforço deixaram-me ir. Era muito novo, mas deixaram-me.
Mas não és filho único?
Não. Tenho um irmã. Uma irmã mais velha dez anos e meio. Eu nasci por acaso, como sabes.
Ainda bem...
(Risos) Sempre quis utilizar a minha voz. Cantar. Desde pequeno que tinha voz... uma voz. A minha mãe perguntava-se a ela própria: “ Que voz é esta que o meu filho tem? Mas o que é que é isto?”
Eu... eu nunca pensei muito seriamente na minha voz e ser cantor. Eu vim para Lisboa para ser bailarino. Entrei para a Companhia Nacional e dançava. O meu professor foi o António
Laginha...
E nos primeiros tempos estar longe na distância doeu muito?
Os amigos não eram muitos, mas deixei algumas pessoas. Eu não fui uma pessoa de deixar muitas raízes, no Algarve, porque era um miúdo muito incompreendido. Talvez por ser diferente. E eu era muito diferente. Às vezes era um pouco gozado. Mas não tenho mágoas nenhumas. Eu até percebo que as pessoas não têm cultura suficiente para perceber certas coisas. São ambientes
sozinhos, fechados. As pessoas querem e têm uma vida rotineira. Não têm grandes ambições. Estão ali. Param ali. Eu não. Eu sempre quis ir mais além. A minha visão era diferente de tudo e de todos. A minha maneira de ser era diferente. Mas tenho sempre muitas saudades da minha terra, que é Loulé. Eu vivi lá. Tenho saudades dos meus pais, da minha irmã . Mas fui um miúdo que ao fim de dois ou três meses estava perfeitamente adaptado a Lisboa, e já não queria outra coisa (Risos).
E eu insisto: foi doloroso ou um desafio de liberdade?
Foi um desafio à minha liberdade, sim... Agora gostei dessa (Risos). Foi mesmo. Eu sou uma pessoa livre. Sinto-me livre. Sou uma pessoa como te disse há pouco, muito sensível, muito frágil mas quando quero sei, também, ser muito forte. E eu acho que tenho algum valor. Eu não gosto de me achar o máximo, porque ninguém é o máximo, mas sinto que tenho muito para dar na minha voz. Só é doloroso é que algumas pessoas não olhem para mim e reconheçam esse valor. Tenho muitas ideias que quero trabalhar. Tenho vontade de pôr tudo isso cá para fora. E vou conseguir. Eu quero muito tudo isso.
É por isso esse brilho nos teus olhos?
Há muita coisa no brilho dos meus olhos e é melhor que não queiras ir por aqui (Risos).
Mas no Algarve fizeste um curso de dança. Não acreditavas muito no poder da tua voz?
Eu sempre acreditei muito em mim e na minha voz. Mas há alturas e momentos. Hoje acredito muito.
Eu não.
(Risos) Eu sei que estás a brincar… Cada dia acredito mais nas asas da minha voz. Quando canto no estrangeiro e vejo plateias inteiras de pé, a aplaudirem-me… E pessoas que vêm ter comigo a chorar, depois dos espectáculos e me dizem coisas que me deixam introvertido. Há pouco tempo fiz um concerto no Casino da Figueira da Foz e emocionei-me muito com uma miúda de 12 ou 13 anos, que teve a prenda de aniversário que ela mais queria: ir ao meu concerto. Reparei que ela gosta muito de mim. Nunca mais me hei-de esquecer da expressão dela quando se viu ali ao pé de mim. Aquele brilho nos olhos; o estar no meu camarim. Dei-lhe dois beijinhos… E não sei explicar. Adorei a maneira como me olhava. Foi muito bonito. E são estas coisas que me fazem viver e me fazem acreditar que sempre tenho algum valor.
Mas a tua voz a princípio dividiu o público.
A minha voz… A minha voz até para mim é um mistério. Quando era pequeno eu era uma menina a falar. Fui muito gozado. Eu mudei muito tarde a minha voz. Até pensava que tinha problemas de voz, mas nunca fiz terapia vocal. Sabes que ao princípio ficava muito triste. Mas ao mesmo tempo isso foi um desafio enorme. Porque tenho a certeza de que toda a gente gostava… Pronto, a minha voz odeia-se ou ama-se. Mas, no fundo, ninguém fica indiferente à minha voz. Pelo contrário. Eu canto com o coração e com tudo aquilo que tenho dentro de mim. Mas havia muitas pessoas que tinham problemas em dizer que gostavam. O nosso país é ainda muito conservador. Os horizontes têm de ser abertos, lentamente.
Para um cantor com o teu poder vocal é mais difícil aperfeiçoar ou realçar certos pormenores?
Eu sou um perfeccionista. Eu penso que está sempre tudo mal. Quando acabo um espectáculo, às vezes, sinto que foi horrível; que a minha voz não esteve bem. Estou sempre preocupado. Uma voz como a minha tem de ser trabalhada, explorando-a com aulas de canto, e com a ajuda da minha professora, aquela mulher fabulosa que ainda agora vimos, naquele jipe, perto da Praça do Comércio, a Maria Cristina de Castro. Ela é uma pessoa que eu adoro, e admiro e amo. Ajuda-me muito. É a única pessoa que conhece realmente o meu poder vocal.
Mas inventar harmonias vocais não é procurar o lado perfeito das coisas?
Nós na vida, ou a maior parte de nós, buscamos a perfeição. E ela não existe. Ela corre à nossa frente. E no dia que uma pessoa achar que é perfeita, essa pessoa acabou. Então cada harmonia é um bocadinho a busca dessa perfeição… Cada canção, cada letra, cada gesto, cada postura. O espelho para um artista é a busca dessa perfeição. A interpretação é a busca de um caminho, de uma luz…
Vou insistir por outro caminho. Como é que inicias a eterna descoberta da tua própria renovação?
Essa pergunta é muito espiritual e muito filosófica. Não sei se sei responder-te. É muito profunda. É tão interna… O que é que me queres tirar com essa pergunta? Achas que tenho de renovar alguma coisa em mim?
Tu é que tens de me responder. Responde-me.
(Longo Silêncio) As pessoas mudam. Tudo muda. A mudança é constante. Hoje estou com o cabelo branco; amanhã posso estar com ele pintado de azul. Às vezes estou muito desgostoso com as pessoas. As pessoas são tão más umas para as outras. São tão cínicas. A vida poderia ser tão mais fácil sem tudo isso. A vida é já tão complicada e a as pessoas por coisas insignificantes magoam, odeiam, invejam, fazem bichos-de-sete-cabeças. Eu se pudesse simplificava a minha vida numa pequena pluma voando, caindo em cima de uma onda no meio do mar, e que me levasse a um caminho infinito, sem saber onde.
Vou tentar por outras palavras. A tua voz é a mais original e versátil do panorama musical português. Mesmo assim não temes, como alguns defendem, que a tua voz de contratenor se torne cansativa devido à sua própria originalidade?
(Silêncio) Sim. Aceito essa crítica. Aceito…
Mas, Nuno, esta pergunta não é uma crítica.
Desculpa mas, em parte, é uma crítica. A minha voz pode tornar-se demasiado forte devido a ser diferente. Eu quero encontrar cada vez mais capacidades dentro da minha voz, para essa versatilidade viver mais e melhor. E quero que me deixes acrescentar só mais uma coisa: de há cinco anos para cá sou outra voz…
O João Gil diz que “Nós temos na mão um pássaro”. Tu és esse pássaro. Sentes o peso dessa responsabilidade que tem asas?
É uma responsabilidade. Mas sou um pássaro que quer voar. Sinto, às vezes, uma necessidade imensa de voar. Quero voar. Tenho necessidades constantes de voar e olhar o mundo à minha volta. Gostava de ter esse poder.
E como é que te defines musicalmente?
(Silêncio muito longo) É muito fácil. Tento sempre ser versátil. Eu canto um género de canção com a Ala, mas posso cantar outras coisas. Muitas coisas completamente diferentes. Um dia quando fizer alguma coisa a solo quero ir por outros caminhos. Por outras ondas sonoras.
Por exemplo?
Gosto muito de Soul, da Índia e das sonoridades indianas. Quero fazer uma busca entre esta mistura sublime de Soul e R&B. Sou uma pessoa que tem muitas misturas aqui dentro. E quero que os meus trabalhos sejam diferentes. Gosto muito de espirituais negros. As minhas vozes favoritas são negras.
Mas os álbuns da Ala dos Namorados são uma forma de respirar em português?
Respirar é uma palavra tão bonita. A música da Ala é o ar de muitas inspirações e muitas expirações. A nossa música é única porque é nossa: minha, do Manuel Paulo e do João Gil. É o nosso trabalho…
Mas é mais teu, Nuno, não concordas?
Sim, talvez. Mas eu não era ninguém sem eles. Eu sou só a voz da Ala dos Namorados e sou também o Nuno Guerreiro…
E a certa altura, em 1992 apareceste num espectáculo de Carlos Paredes. Como surgiu esse convite e como aconteceu no teu caminho a Ala dos Namorados?
Estava no Kremlin, a dançar e estava a cantar uma canção… (e o Nuno canta-me essa música)… Atrás de mim estava o Paulo Abelha, dos Sétima Legião. Ouviu-me cantar e mais tarde chegou ao pé de mim e disse-me : “Sabes que tens uma voz fabulosa. Mais tarde posso ter um trabalho para ti”. No meio da noitada dei-lhe o meu contacto, mas não mais me lembrei. Um mês depois ele ligou-me; perguntou-me se me lembrava dele e disse-me: “Na próxima semana vens ter comigo para experimentares cantar umas coisas com um grupo”. Mas não disse mais nada. Lembro-me que foi numa quarta-feira e no Teatro S. Luís. Era um concerto dos Diva, inserido no Festival de Outono. Eu achei muita piada, porque sempre gostei muito de uma canção deles “Amor Errante” (e canta para mim essa canção…) Então os Diva convidaram-me a participar nos espectáculos deles. Cantava em dueto com a Natália (Casanova). E era sempre um sucesso. Um belo dia, a Natália foi convidada para participar nesse espectáculo, de que tu me falavas, do Carlos Paredes. E eles (os Diva) foram muito queridos comigo: fizeram-me uma armadilha, levaram-me a um ensaio sem eu saber quem ia lá estar. Eu estava a cantar e o mestre Carlos Paredes perguntou quem eu era. Depois chamou-me e eu fiquei tão corado. Convidou-me logo para cantar, dizendo-me: “O amigo tem que participar neste espectáculo e cantar com a Natália”. Ele é uma pessoa maravilhosa, simples. Trata toda a gente por amigo. E foi assim. Foi tudo numa semana.
Conta-me como surgiu mesmo a Ala dos Namorados.
No seguimento desse concerto do Carlos Paredes, o Manuel Paulo que hoje é o pianista da Ala estava presente nesse espectáculo a tocar a canção que cantava com a Natália. Ele ouviu. Ficou com o meu número de telefone e mais tarde contactou-me. Fui a casa do Manel e o João Gil também lá estava. Eles já tinham feito os temas e eu cantei-os. A princípio eles queriam fazer um disco com várias vozes, mas depois de me ouvirem acharam que havia uma união que fazia todo o sentido. Assim, desta forma, surgiu um grupo que hoje se chama Ala dos Namorados.
Então 1994 foi o grande ano da tua carreira. Gravar o primeiro álbum foi o alterar irreversível da tua existência?
Mudou completamente a minha vida, graças a Deus…
Só isso?
Não. Foi tudo muito rápido. Foi uma dor de cabeça… muitos nervos. Quando saiu o disco eu lidei muito mal com a fama. As pessoas reconhecerem-me na rua era horrível, porque eu era muito tímido… E às vezes ainda sou. Mas tudo isto me ajudou a mudar. E mudei muito.
E já passaram cinco anos.
Mas cinco anos maravilhosos. Nem imaginas… É uma benção.
O que é que isso quer dizer?
Foi o destino… Estava marcado para mim, assim. E mais o que virá… Não sei. Acho que quando nascemos todos nós já temos o destino marcado. Há um fado que eu costumo cantar, e que a Amália cantava que se chama “O Fado de Cada Um”… “Bem pensado todos temos o nosso fado/ E quem nasce mal fadado/melhor fado não terá/ Fado é sorte/ E do berço até à morte/ninguém foge por mais forte/ Ao destino que Deus dá “ (e o Nuno volta a cantar para mim). É isto… Eu acho que é isto. E fico por aqui.
Como tu quiseres… A ascensão da Ala dos Namorados foi rápida. Não tens receio de tudo ter sido quase irreal?
Não foi assim tão rápida. Como sabes já existimos há cinco anos e só agora é que demos um grande salto. Mas lutámos muito por este salto. Mas vem aí um disco novo. Tudo na Ala dos Namorados foi na altura certa.
Enquanto te ouvia falar, lembrei-me de te perguntar se pensas em cada disco com a confirmação de um talento?
Essa pergunta é difícil (Silêncio) A gravação de um disco é um registo que vai ficar para sempre. E isso é muito importante… É a nossa cara; é o nosso corpo. Amanhã vou começar a gravar o novo disco da Ala… E este disco vai ser uma surpresa para toda a gente…
Porquê, Nuno? Que certeza têm as tuas palavras?
Porque é diferente e vai ter algumas surpresas muito boas. Eu acredito muito neste disco novo (um duplo álbum), que deverá sair em Abril, Maio. Espero que o público tenha vontade de o conhecer. Nós vamos dar tudo neste trabalho. Eu agora sinto-me mais preparado. Sinto-me mais maduro. E como eu já te disse, eu agora sou muito diferente.
Mas a maturidade dos vossos álbuns está intimamente ligada à procura da simplicidade.
A maturidade é uma coisa tão relativa, não é? Mas a nossa música é uma música sem grandes elaborações… E como tu dizes, subtil. Mas tem o seu lado sério e erudito. A nossa música transmite magia e mistério. E tudo é mais evidente ao vivo… E isto é um convite para tu nos ires ver ao vivo. Tu tens o mau gosto de nunca teres posto os pés nos nossos concertos (Risos). Mas a música da Ala é essa constante procura.
Mas, mesmo assim, a Ala mais facilmente conquistou o mundo do que o seu próprio país. Será por serem considerados um grupo de culto?
(Longo silêncio) Até a um tempo atrás éramos considerados, como tu dizes. Mas nós não queremos continuar com esse rótulo. Eu quero que a nossa música atinja todo o tipo de público e esforçamo-nos para isso. E repara que não é pelas vendas… É um orgulho. Eu quero cantar para o meu país.
Então como é que aconteceu gravarem a banda sonora de uma telenovela japonesa?
Queres que conte toda a história?
Adivinha?
(Risos) Olha, foi assim e já agora vou contar-te, porque esta história relaciona-se com a saída depois de amanhã do meu disco “Carta de Amor”. No Japão foi editada uma colectânea que se chama “Respirar”, que tinha canções da Ala dos Namorados, Michael Nyman, Madredeus, Dulce Pontes, Ryuichi Sakamoto, Sinead O`Connor, entre outros. E o compositor japonês Akira Senju ouviu a minha voz, e adorou, e disse: “ Eu quero aquela voz”. Procuram-me e surgiu o convite para eu gravar o “When the Saints go Marchin`in”, que ia ser o tema principal dessa telenovela. Foi um sucesso enorme e chegou ao quinto lugar do top. Depois fiz vários programas de televisão. Logo depois os discos da Ala foram editados no Japão, com um grande êxito. Por fim, convidaram-me para gravar um disco a solo, com o Senju. E é este disco que saiu em Portugal, dia 10 de Dezembro (de 1999). Esta é a história. É um disco Nuno Guerreiro, com temas como “Love Letters”, “My Funny Valentine”, “Ao Sul” , “Manhã de Carnaval” ou “When the Saints go Marchin`in”. Mas não quero que as pessoas entendam este disco como a minha saída da Ala dos Namorados. Este trabalho é apenas fruto de um convite, de que muito me orgulho. Quando começar a minha carreira a solo eu vou dizer. No futuro eu quero sempre mais.
A experiência de cantares à “Cappella” com as “Vozes da Rádio”, “Can`t Help Falling in Love” e os hinos “Perdidamente” e “Solta-se o Beijo”, em dueto com a Sara Tavares é a prova de que a tua voz dá-se bem com boas companhias.
Que outras vozes gostarias que te acompanhassem? O George Michael...
Isso é um sonho quase impossível. Eu queria muito. Ele é uma das minhas maiores referências. Adoro-o como artista; adoro a evolução; a voz. Tudo. Mas também gostaria que isso acontecesse com a Aretha Franklin, Dulce Pontes, Teresa Salgueiro, Caetano Veloso. Gosto muito de cantar em dueto...
E cantares com um rapaz chamado Nuno Guerreiro?
Fazer um dueto comigo próprio? (Risos) Era engraçado e original. Obrigado pela ideia. Talvez um dia, quem sabe.
E um dueto com a fabulosa Maria João?
Mas eu já cantei com a Maria João e é com um orgulho imenso que te digo isso. Aconteceu no primeiro espectáculo que a Ala deu no Centro Cultural de Belém. Foi inesquecível...
Vamos terminar com uma grande provocação. Porque é que tu dizes que a Sara Tavares é a mulher mais bonita do mundo?
(Silêncio. Risos) Será que tenho mesmo de responder a esta tua pergunta?
Tens. É uma ordem.
(Risos) Olha, para já a Sara... eu não sei se devo dizer isto, mas vou dizer-te... apetece-me. A Sara era a única mulher com quem eu me casava. Não é que eu seja contra o casamento. Mas com ela eu casava-me. A Sara é a pessoa mais bonita que eu conheci na minha vida. Eu sou um apaixonado pela Sara. Ela é muito serena, com um interior muito bonito. E é dona de um talento extraordinário, sempre em evolução e em construção. Tem uns olhos lindos... Um olhar ternurento que me arrepia. E vou dizer-te outra coisa: Gostava de ter um filho dela. É uma declaração que lhe faço a ela, pela beleza nítida das tuas perguntas. Só isto.
Joaquim Cardoso Dias
MÁRIO RAPOSO,
VICE-REITOR DA UBI
Alunos
têm de criar empresas
PÓLOS NÃO SE JUSTIFICAM
Bastam
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COM OS NOVOS CURSOS
Mão-de-obra
vem da UBI
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