Director Fundador: João Ruivo    Director: João Carrega    Publicação Mensal    Ano XIV    Nº155   Janeiro 2011

Entrevista

GENERAL LOUREIRO DOS SANTOS

"Vence a guerra quem domina
as auto-estradas da informação"

Na era da informação ganha a guerra quem domina as tecnologias e a gestão das percepções. Quem o diz é o especialista em questões militares, Loureiro dos Santos, que refere que as revelações da Wikileaks demonstraram as fragilidades dos Estados Unidos como um gigante com pés de barro. Sobre temas domésticos, Loureiro dos Santos afiança que não dá votos investir nas forças armadas, que a compra dos submarinos não era prioritária e defende que os jovens cumpram um serviço cívico nacional de forma a compensar o fim do serviço militar obrigatório. O membro do Conselho Geral da Universidade Nova de Lisboa receia que alguns estabelecimentos de ensino superior não sobrevivam ao aumento dos padrões de rigor e competitividade.

Lançou em Dezembro «História concisa de como se faz a guerra», que descreve como um livro de um militar destinado a todos aqueles que se interessam pela evolução da guerra. Que principais etapas analisou, dos primórdios à actualidade?

Debrucei-me sobre como a evolução técnica e a forma de fazer política condicionaram a maneira de os estados dirimirem questões pelo uso da força, bem como por via da coacção económica, política, psicológica, etc. Tudo isto faz parte da guerra. No livro percorro a história, em função da cadência da evolução tecnológica, e chamo ao primeiro período o de evolução técnica lenta e, a partir da invenção da pólvora, denomino evolução técnica rápida. Tive também a preocupação de o ilustrar com campanhas militares concretas, como por exemplo as desenvolvidas por Napoleão.

Em que medida a sofisticação tecnológica condicionou as estratégias e a forma de fazer a guerra?

O desenvolvimento tecnológico foi aumentando em ritmo exponencial, com especial destaque para os séculos XX e XXI. Da década de 80 do século passado até aos nossos dias, a evolução tecnológica foi de tal ordem que revolucionou a forma de fazer a guerra.
É aquilo a que eu chamo a era da informação que sucede à era electrónico-nuclear, que perdurou até cerca de 1990. Entretanto, surgem novos teatros de operações a acrescentar aos tradicionais, o terrestre, naval e aéreo. São eles o ciberespaço, o espaço exterior e o espaço mediático. Estas novas realidades alteraram por completo a forma de fazer a guerra. Por isso digo que vence a guerra quem domina as auto-estradas da informação.

Pode-se afirmar que estamos perante guerras mais “assépticas”?

A guerra é uma forma de um actor político fazer com que o outro actor actue de acordo com a sua vontade. Para obter isto, não se parte logo para o confronto, há um jogo de condicionamento e persuasão prévio. Só em último caso é que se recorre ao combate. Actualmente, a globalização da informação, a posse e o conhecimento dos conteúdos informativos revelam-se quase uma obsessão colectiva. Logo, quem controla as plataformas por onde circula a informação tem vantagem relativamente aos seus opositores. Pretende-se neutralizar ou eliminar os espaços virtuais onde circula a informação que o inimigo utiliza ou, noutra perspectiva, pretende-se usar de forma suficientemente hábil a informação que circula de modo a produzir nas pessoas a percepção que mais nos convém...

Já estamos no domínio da propaganda…

É a gestão das percepções. Veja que boa parte da guerra do Afeganistão centra-se ao nível da gestão das percepções. Há outro caso, a guerra de Gaza, em que os israelitas venceram o conflito militar, mas por terem cometido muitos erros do ponto de vista informativo isso permitiu que à escala planetária fossem conhecidos pormenores ocorridos na Palestina e que eram desfavoráveis a Israel. Perante isto, deve-se concluir que o mais importante na guerra não é propriamente a realidade, mas sim a percepção que cada um de nós tem dela. A informação assume hoje em qualquer conflito uma importância essencial. Dizia o filósofo da guerra, Sun Tzu, há mais de dois mil anos, que «a suprema arte da estratégia é sendo-se fraco, convencer os outros que se é forte». A ilação óbvia é que o fundamental é derrotar o inimigo sem combater.

Por falar em informação, as últimas semanas foram dominadas pelas revelações do Wikileaks. A quem aproveita estas filtrações que minaram a confiança entre diplomacias?

Este caso veio mostrar a importância da informação e de que forma é que um actor, Julian Assange, praticamente isolado e com escassos apoios, pode colocar em xeque uma nação poderosíssima como os Estados Unidos. Eu não sei a quem é que interessa este processo, mas em termos objectivos o Wikileaks constituiu uma forte ofensiva contra os Estados Unidos, pondo a nu toda as trocas diplomáticas deste país durante os últimos tempos e diversos líderes políticos.

Grande parte do que foi revelado não foi especialmente novo…

De facto não se pode dizer que as revelações foram bombásticas. Eu no passado escrevi que existia uma «aliança» entre Israel e os países árabes contra o Irão, mas não se sabia que o rei Al Saud tinha dito isso aos americanos.

Como é possível que um país tão poderoso permita uma fuga massiva de informação classificada como «top-secret»?

Foi uma fragilidade de carácter operacional provocada por falta de cautelas suficientes. Segundo informações veiculadas, as autoridades americanas reuniram na mesma plataforma documentos díspares, desde assuntos absolutamente secretos a outros mais corriqueiros. Para além disso, banalizaram-se os graus de segurança atribuídos a determinados assuntos. Será algo, certamente, a ser corrigido imediatamente. Daqui para a frente estou em crer que os americanos vão blindar todas as suas informações. Assange disse que este processo era em prol da transparência, mas acredito que vai funcionar ao contrário. O Wikileaks só conseguiu aceder a estas informações com origem em nações democráticas, mas certamente será mais difícil obter informações noutras potências que também vão estar mais atentas a certos detalhes de segurança.

No seu livro anterior, «As guerras que já aí estão e as que nos esperam – se os políticos não mudarem» mostra-se pessimista com os líderes que temos. Porquê?

As guerras são uma constante da história. Só que há umas necessárias e que se justificam. É o caso do conflito do Afeganistão. Os Estados Unidos reagiram em legítima defesa depois do ataque do 11 de Setembro, acção respaldada pelas próprias Nações Unidas.

Já o mesmo não se pode dizer da guerra do Iraque…

É um caso diferente. Resulta de uma escolha de objectivos e da forma de os alcançar. Era uma guerra evitável e que expôs as fragilidades e a falta de força dos Estados Unidos, retirando-lhes respeitabilidade e a sensação de poder que todos os países estavam convencidos de que tinha. O resto já se sabe, veio ao de cima. As torturas de Abu Ghraib, os presos de Guantánamo, etc.

Quais os verdadeiros propósitos da guerra do Iraque?

Os americanos queriam controlar os preços do petróleo na região e criar uma plataforma que lhes permitisse colocar em respeito todos os países daquela área. Nomeadamente, Israel e o Irão. Acontece que os objectivos saíram furados. O peso dos Estados Unidos diminuiu. Ao invés, a Rússia fortaleceu-se.

Pelo menos na teoria o clima de «guerra fria» está enterrado, mas as tensões geopolíticas existem. Pensa que pode eclodir no médio prazo um conflito de grande intensidade?

As sociedades actuais são muito frágeis porque estão organizadas em rede e dependem de espaços virtuais. Se houver um ciberataque que anule as comunicações e o fornecimento de energia, essa acção concertada faz com que o governo e as forças armadas deixem de funcionar. Por outro lado, qualquer ataque que empregue força desproporcionada terá de imediato impacto à escala global fruto da sociedade de comunicação em que habitamos. Logo, os conflitos do futuro serão assimétricos e maioritariamente de pequena e média intensidade. Explico: as grandes potências vão tentar estimular insurreições que desgastem os seus adversários.
Por isso, não acho provável que no espaço europeu e americano ecludam guerras convencionais do tipo das que ocorreram no século XX. Eventualmente na Ásia isso é mais plausível, com a transferência de poder a ser acompanhada em paralelo por uma transferência da conflitualidade para aquelas paragens. A China mantém relações tensas com países ribeirinhos daquela zona da Ásia, caso do Japão e das Coreias. A ameaça que o aumento do poderio chinês representa para muitos países, como a Indonésia e as Filipinas, reforçam a influência dos Estados Unidos na região, promovendo alianças com várias nações. A tendência é que vamos ter menos guerras convencionais prolongadas e mais equilíbrios de forças e estratégias de dissuasão.

O 11 de Setembro de 2001 alterou a forma como os cidadãos vivem em sociedade e pôs termo à ordem unipolar instalada. O terrorismo pode assemelhar-se a uma doença crónica das sociedades modernas?

É muito difícil extirpar esta ameaça. Veja que a Al-Qaeda surgiu com um objectivo meramente territorial, que era restaurar o Califado. Bin Laden foi transformado num herói para todos os muçulmanos. Que adorariam que em vez de ser explorados, passassem a explorar os outros. Contudo, esta organização não conseguiu substituir qualquer governo, nem mesmo muçulmano. Com o tempo perdeu capacidade para promover grandes atentados. Aqui surge um fenómeno paradoxalmente interessante e perigoso: os seus objectivos foram interiorizados por muitos muçulmanos que passaram a organizar-se por mera inspiração, mobilizando-se e financiando-se para o ataque. É uma espécie de pandemia da violência. Trata-se de um problema que nos vai acompanhar durante muito tempo. A insegurança provocada pela ameaça terrorista está para durar.

Justifica-se a paranóia securitária que vemos em certos países do mundo, nomeadamente nos aeroportos?

A essa pandemia tem que se responder, mas preferencialmente de forma equilibrada. É preciso evitar que se limitem totalmente os nossos direitos, liberdades e garantias. Sob pena de os cidadãos começaram a pensar que se calhar valeria a pena ser tão fundamentalista como os outros são. Contudo, importa ressalvar que existe um notório desequilíbrio entre a maneira de proceder em matéria securitária nos Estados Unidos e na Europa. Isso depende muito mais das opiniões públicas, do que propriamente dos líderes políticos. Nos Estados Unidos o medo é tal que as pessoas aceitam tudo. Na Europa os procedimentos de segurança são algo mais aligeirados, muito por causa de motivos culturais.

Tem-se assistido a um aumento do poder das potências emergentes com a China, a Índia, a Rússia e o Brasil a ganharem terreno aos Estados Unidos como «ilhas de poder global». O século XXI vai marcar o fim da supremacia americana?

Os Estados Unidos a seguir ao fim da «guerra fria» eram claramente a única potência. Neste momento, o diferencial de poder entre os EUA e essas nações está cada vez mais atenuado. A globalização levou a que problemas de diversa natureza, nomeadamente económico-financeiros, políticos, ecológicos, logo de carácter transversal, não possam ser unicamente resolvidos por apenas um país, por muito poderoso que este seja. O mundo em termos poder está a derivar para uma ordem internacional multipolar. Os Estados Unidos continuarão a ser, nos próximos 20 ou 30 anos, a potência directora na medida em que são os únicos que continuam a marcar a agenda. O que não invalida que a meio deste século a China, a Índia ou o Brasil não possam ocupar esse lugar.

Que balanço faz do desempenho de Obama em termos de política externa?

Procurou resolver os problemas e as tensões através de negociações e entendimentos. Só usar a força quando necessário, reflectir de forma sábia sobre as questões delicadas e fomentar alianças. Demora tempo, mas é preferível assim do que repetir o que Bush fez, partindo logo para o conflito e o resultado está à vista.
Obama também acaba por sofrer com o facto de as expectativas estarem muito altas em comparação com o desastre provocado pelo seu antecessor. Ele nunca podia ser o Deus, que alguns sonhavam, iria resolver todos os problemas do Planeta.

É uma das vozes mais respeitadas quando se fala em Forças Armadas, tendo participado em jantares de apoio aos militares que se consideravam injustiçados pelo poder político. A classe castrense é o parente pobre da sociedade?

Há desinvestimento nas forças armadas, nomeadamente ao nível do equipamento. Quanto aos investimentos programados poucos se têm concretizado, com a maior parte a eternizar-se no tempo. Constato que não dá votos investir nas forças armadas.

Quanto aos vencimentos que auferem, os militares sentem-se injustiçados perante outras classes, quando têm uma profissão muito específica e que exige muitos sacrifícios. Seria natural uma recompensa de natureza moral e material por esse esforço. Isso não se tem passado.

A crise veio ajudar a justificar os atrasos, mas não explica tudo. Há muito tempo que o governo cativa as verbas para as forças armadas. Os apertos também são gerais noutros países europeus. A NATO define o patamar de 2% do PIB para o sector da Defesa, mas hoje em dia o único país da União Europeia que gasta esse valor ou mais é a França.

É perante este desinvestimento que a Europa conta cada vez menos na hora de tomar as grandes decisões geoestratégicas.

A compra de submarinos era uma prioridade?

Um país marítimo como o nosso deve ter meios para explorar a zona económica exclusiva. Quando a Lei de Defesa Militar deu prioridade à aquisição de submarinos, achei que devíamos ter helicópteros, espingardas G-3, etc. Os submarinos eram um investimento de segunda prioridade. Mantenho essa visão.

O fim do serviço militar obrigatório afastou os jovens da causa castrense?

Na altura do debate não concordei com o fim do serviço militar obrigatório. Defendi a criação de forças armadas mistas que tivessem uma componente profissional, preservando, ao mesmo tempo, o serviço militar obrigatório, até por ser em termos financeiros mais barato, devido à dimensão nacional.
Teria o efeito de criar uma ligação, uma educação e uma experiência aos jovens que melhorasse os seus valores no que diz respeito ao sentimento de autoridade, espírito de servir, disciplina, solidariedade, etc.

Esses valores estão a cair em desuso?

Eu preconizo a criação de um serviço cívico nacional, já existente em muitos países europeus, em que os jovens, de ambos os sexos, ao longo de 6 a 8 meses, prestem uma espécie de serviço comunitário, a ser cumprido preferencialmente entre o final do ensino secundário e a entrada no ensino profissional ou superior. Seriam os jovens a escolher se preferiam estar nas forças armadas, nas forças de segurança, serviço nacional de protecção civil, protecção de património, ambiente, etc.

Obrigatório seria a permanência 1 semana nas forças armadas para contactar com os valores nacionais, o sentimento de pátria e a necessidade de auto-governo.

Esta experiência podia ajudar os jovens a ter uma noção mais afectiva de certos valores completamente arredados da sociedade.

É professor em várias instituições e membro do Conselho Geral da Universidade Nova de Lisboa. Sente que a escola caminha, na lógica dos valores, em sentido contrário da instituição castrense?

De uma forma geral, observo o que se passa em termos do quadro dos valores do ensino com uma grande tristeza.

Os comportamentos de certos jovens não são próprios de um cidadão consciente. Por isso, o serviço cívico que atrás falei podia ajudar a recuperar certos valores.

Pronunciando-me na minha condição de membro do Conselho Geral da Universidade Nova de Lisboa, acho que a legislação recentemente publicada sobre a necessidade de maior rigor e competitividade das entidades de ensino superior é um passo muito positivo. Temos gente com muita qualidade e com reconhecimento internacional.

Deu-se um passo importante no investimento na componente de investigação e desenvolvimento. O outro lado da medalha deste progresso é colocar em xeque alguns estabelecimentos universitários, na medida em que a livre circulação de estudantes no ensino aumentou a competição pela procura dos melhores valores. Se não prestarmos bons serviços os melhores alunos abandonarão o país visto que têm lugar em qualquer universidade ou posto de trabalho do mundo.

Está céptico ou confiante?

Tenho as minhas sérias dúvidas que todos os estabelecimentos de ensino universitário nacional sobrevivam a esta lógica competitiva que está em marcha. Não me parece razoável que o Estado português mantenha instituições deficitárias. O dinheiro pode ser aplicado noutras infraestruturas.

A crise é cada vez mais funda. Até onde pode chegar o potencial de conflito se as tensões sociais se agravarem?

Escrevi um artigo no «Público» em Dezembro que intitulei de «Turbilhão geopolítico ameaça a Europa», e em que falo da possibilidade da multiplicação de convulsões sociais em toda a Europa e inclusive em Portugal.

Em boa verdade os reais efeitos da crise só agora vão começar a ser sentidos. Julgo que a partir do Verão é que o cenário pode ser mais gravoso.

Nuno Dias da Silva

 


Cara da Notícia
 

José Loureiro dos Santos é dono de um esmerado currículo, tanto a nível académico como a nível militar. O general é uma personalidade internacionalmente reconhecida nas áreas da Estratégia, Segurança e Defesa. Natural de Vilela do Douro, concelho de Sabrosa, no distrito de Vila Real, onde nasceu a 2 de Setembro de 1936, começou por se tornar conhecido do grande público pelos seus comentários televisivos na guerra do Iraque e no 11 de Setembro. Desempenhou, entre outros, o cargo de Chefe do Estado Maior do Exército, Vice-Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas e Ministro da Defesa Nacional dos IV e V Governos Constitucionais. Fez doutoramento em Ciências Militares e foi professor em várias instituições (IAEM, IAEFA e ISCSP). Conferencista muito solicitado, escreve regularmente na imprensa generalista e especializada. É colaborador permanente no «Correio da Manhã» onde assina uma coluna regular. A sua editora de sempre é a Europa-América onde já lançou sete livros, o último dos quais «História concisa de como se faz a guerra». É membro cooptado do Conselho Geral da Universidade Nova de Lisboa.
 

 

 

VALTER LEMOS, SECRETÁRIO DE ESTADO DO EMPREGO E FORMAÇÃO PROFISSIONAL

As Novas Oportunidades do País

O Secretário de Estado do Emprego e da Formação Profissional, Valter Lemos, classifica o programa Novas Oportunidades como uma mais valia para a formação dos portugueses e para a economia nacional. Em entrevista ao Ensino Magazine, aquele membro do Governo mostra-se satisfeito com os resultados divulgados pelo PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) e revela que um dos problemas que afectam o país é dizer mal de si próprio.

Recentemente o Programa Novas Oportunidades foi alvo de uma avaliação externa. Quais os resultados desse estudo?

Foi uma avaliação externa internacional efectuada por um grupo de trabalho da Universidade Católica, dirigido pelo engenheiro Roberto Carneiro e que contou com a participação de peritos internacionais que testaram os resultados. Entre esses peritos esteve o director geral da educação para adultos da Unesco, o qual classificou o programa como o de maior dimensão em termos internacionais. Este programa tem uma importância estratégica para Portugal. É pena que a pequena política seja impeditiva de ver as implicações de tudo isto.

O Programa Novas Oportunidades é uma questão estrutural que remedeia um problema de atraso de décadas no nosso País, mas que ainda precisa de ser acelerado. Em 2005 se continuássemos a trabalhar ao mesmo ritmo, as contas demonstravam que nós demoraríamos 70 anos para poder alcançar a média europeia. Se nós utilizarmos os dados do progresso feito entre 2006 e 2008, verificamos que Portugal reduziu para 30 anos esse período. É evidente que ainda é preciso acelerar tudo isto. Os nossos atrasos eram de tal forma grandes que é necessário colocar mais velocidade neste processo, formando e qualificando mais gente.

Não há nada de paralelo na história portuguesa, não só para com os adultos, mas também para a formação dos jovens.

A diminuição da taxa de abandono escolar acabou por estar ligada ao aparecimento desse programa?

Foi este programa que permitiu, por exemplo, a criação dos cursos de educação formação nas escolas públicas. Mais, foi este programa que permitiu que tivéssemos, em 2009, a maior queda de abandono escolar da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico), quando éramos o país com maior taxa de abandono. E como sabemos o abandono escolar transforma-se em atraso.

O Programa Novas Oportunidades já certificou centenas de milhares de pessoas, mas não se resume ao sistema de Reconhecimento Validação e Certificação de Competências (RVCC). Este programa tem o eixo dos adultos e o dos jovens. E é por ser um programa global e integrador que consegue atingir estes números. Além do RVCC, surgem os cursos de educação-formação de adultos, as formações modelares escolares e profissionais, o ensino recorrente, os sistemas de conclusão do ensino secundário (por exames extraordinários), a formação profissional, bem como, no caso dos jovens, o alargamento das chamadas vias de dupla qualificação. E hoje estamos quase a atingir a meta de ter todos os jovens na escola até aos 18 anos de idade, o que era considerado uma miragem em 2005 por todos os especialistas. Mas estas metas foram alcançadas porque existe o Programa Novas Oportunidades, porque há alternativas de formação para os jovens.

O nosso objectivo foi o de actuar em dois sentidos. Por um lado, não deixar os jovens para trás na sua formação, e por outro lado ir buscar os adultos e reconvertê-los para dentro da pirâmide da qualificação usando todos os instrumentos disponíveis.

Há muitos analistas que criticam o programa classificando-o como promotor do facilitismo…

Esse tipo de críticas tem duas razões. Uma é a ignorância. São críticas feitas por pessoas que nunca se deram ao trabalho de ir ver como aquilo é, de assistir, de participar e de ver as provas finais. Ou seja são críticas como arma de arremesso político. E esse tipo de críticas resolve-se com o esclarecimento. A outra razão é o ciúme social. São críticas feitas por aqueles que acham que as outras pessoas não devem alcançar aquilo que eles já alcançaram. É um tipo de críticas que se alimenta com facilidade. É o mesmo argumento que leva ao aparecimento de críticas do género «não é a mesma coisa fazer aquilo do que quando se estuda na escola secundária». E é claro que não é nem pode ser. É errada a ideia de que um adulto com 40 anos tinha que fazer o mesmo percurso escolar que o seu filho de 15, como se o adulto não soubesse nada tal como o seu filho. E este foi um dos problemas em Portugal, onde se gastaram milhões e milhões e se deixaram os portugueses desqualificados. O programa Novas Oportunidades tem uma metodologia diferente e é hoje matéria de estudos internacionais.

Mas a avaliação externa também apontou algumas fraquezas…

E estamos a corrigi-las, como a questão do RVCC profissional, e do acesso dos desempregados. Mas indicou também que mais de 96 por cento do total de pessoas que se inscreveram no programa (num universo de mais de um milhão de pessoas) garantiram estarem satisfeitas com as Novas Oportunidades.

E as empresas têm sabido aproveitar esse programa?

Essa é a maior certeza de que o Programa é uma mais valia para a economia portuguesa. As grandes empresas nacionais todas têm programas de qualificação no âmbito das Novas Oportunidades. São exemplos disso, a Sonae, Jerónimo Martins, Portugal Telecom, etc. Recentemente estive na entrega de certificados da Jerónimo Martins, a 500 funcionários. Esse grupo emprega 25 mil pessoas, das quais mais de três mil já fizeram o programa novas oportunidades. Neste momento temos 100 grandes empresas e três mil pequenas e médias empresas (PME’s) aderentes às Novas Oportunidades.

Durante cinco anos exerceu o cargo de Secretário de Estado da Educação, numa época em que se procederam a muitas alterações no sistema de ensino. Agora o PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) revela que os alunos portugueses, em 2009, tiveram a evolução mais expressiva nas áreas da leitura, matemática e ciências, desde que Portugal aderiu a esse programa. Qual o significado destes dados?

Essa foi uma das notícias, em toda a minha vida, que me deu mais alegria. Por duas razões: eu estive no Ministério da Educação no período em que decorreram as alterações nesse programa e sei o que foi a batalha para conseguir as alterações efectuadas. Poucos políticos têm a sorte de ver os resultados do trabalho imediatamente a seguir. A outra razão, a mais importante de todas, é a razão nacional. Isto é muito importante para o País. O País percebeu que não estamos condenados. A ideia de que nós estávamos condenados a ter um sistema educativo com baixa qualidade e com resultados negativos, estava enraizada nos portugueses. A partir de agora já não haverá a ideia que não é possível fazer melhor. Por outro lado, provou-se que não é necessário esperar uma eternidade para mudar as coisas.

Foi essa a nossa convicção e para além das medidas tomadas pelo Governo, há um aspecto muito importante: os professores e os alunos trabalharam mais e melhor. A estruturação da actividade escolar é completamente diferente daquilo que foi em 2005. O número de horas de aula para os alunos, o tempo que eles passam nas salas e no recreio, e o número de horas que os professores passam na escola é diferente. Não tenho nenhuma dúvida que hoje se trabalha mais e melhor na escola.

Com estes resultados as exigências são maiores?

A nossa progressão foi a melhor de sempre e a melhor registada nos países da OCDE. Em 2006 estávamos nos últimos lugares e hoje estamos na média. É verdade que temos muito que melhorar, só que com a diferença de aspirar a estar no topo. E temos obrigação de ter essa aspiração. Isto revela também que as políticas implementadas na área da educação fazem diferença.

Nós já tivemos outros dados positivos como a melhoria dos resultados dos exames e do sucesso escolar, e a diminuição do abandono escolar. E as críticas que ouvimos foram sempre as mesmas, ou porque houve manipulação, ou porque os professores passam mais facilmente os alunos, ou ainda porque os exames são mais fáceis. Críticas, com as quais obviamente não concordo, feitas porque as medidas eram internas. Só que agora surgem resultados externos e internacionais. O PISA está para a educação como os sistemas indicadores da OCDE estão para a economia.

O efeito destes resultados demonstram que as políticas públicas são importantes e podem ser decisivas na mudança da realidade. No dia em que deixarmos de acreditar nisso deixamos de acreditar na democracia e no sistema. O que acontece muitas vezes é que se tenta vender o descrédito dos políticos para vender o descrédito das políticas e em último caso do sistema democrático.

O Primeiro Ministro e a anterior Ministra da Educação mereciam isto. As políticas foram implementadas com muita adversidade e o Primeiro Ministro nunca hesitou em apoiar o ministério. Não tenho dúvidas que hoje os professores olhando para estes resultados se sintam recompensados pelo trabalho desenvolvido.

Ao nível da formação profissional Portugal conquistou 9 medalhas de ouro, 12 de prata e 9 de bronze, sagrando-se Campeão Europeu das Profissões...

O campeonato europeu decorreu em Lisboa num evento extraordinário que acabou por não ter a atenção devida por parte da comunicação social nacional. A própria televisão portuguesa não esteve presente quando lá estiveram nove canais internacionais. Digo isto não só pela quantidade de medalhas que obtivemos, mas porque passaram pela FIL 60 mil jovens portugueses. Já na última vez, em Roterdão, tínhamos conquistado o título do melhor entre os melhores, com um jovem de Castelo Branco. Isto demonstra que em termos internacionais temos competitividade na área da formação profissional, como temos em muitos outros sectores. O nosso problema é que passamos demasiado tempo a dizer mal de nós próprios, quando em termos internacionais somos capaz de fazer melhor que os outros. Temos é um problema grave de maledicência nacional que já vem do século passado. E isso penaliza-nos. Para dizer mal do Governo não é preciso dizer mal do País!

Ao longo da nossa conversa fico com a ideia de que por vezes os portugueses desconfiam das suas próprias capacidades...

Volto a dizê-lo o nosso maior problema em Portugal é dizer sempre mal de nós próprios. Somos bombardeados todos os dias não só com as más notícias como com as faces piores e a menorização das boas notícias. Os telejornais e os títulos dos jornais anunciam todos os dias o caos. A comunicação social nacional puxa constantemente o país para baixo e é, em regra, antipatriótica. Já não é só a ânsia de dizer mal do Governo. É ânsia de dizer mal, simplesmente. Eu acredito que nós, os portugueses somos muito melhores do que nos querem impingir a todo o custo. É preciso perceber que, sob a capa de pretensa informação, há na comunicação social, muita gente a ganhar muito dinheiro a dizer mal de Portugal e dos portugueses! Essa é também uma importante razão pela qual em 2001 precisamos de dar o nosso melhor!

 

 

NILTON EM ENTREVISTA

Somos um povo que sabe rir de si próprio

Nilton é um dos humoristas portugueses mais reconhecidos pelo público e está de volta à televisão com o arranque da quarta série do programa 5 para a Meia-Noite, na RTP 2. As Redes Sociais indicam a sua popularidade e os seus posts são lidos por cerca de 700 mil pessoas, diariamente. Escreve de forma disciplinada e nas bancas tem um novo livro a que deu o título Paga o que Deves. O autor de As Teorias de Nilton e O Pai Natal não Existe afirma que os portugueses em geral até reagem bem a declarações como “Eu Amo Você”, têm sentido de humor e sabem rir deles próprios. A sério são as razões que o levaram a ser mandatário para a Juventude na Candidatura de Fernando Nobre nas eleições para a presidência da República.

É autor dos livros O Pai Natal Não Existe, As Teorias do Nilton e mais recentemente publicou Paga o Que Deves. Se fosse um crítico literário (imparcial) o que diria de Paga o que Deves?

Diria que não é um livro, é um conjunto de textos de qualidade discutível e ainda por cima assinados por um indivíduo com nome de jogador de futebol brasileiro da segunda divisão.

O facto de sermos um país endividado pesou na escolha do título deste livro?

Sim, foi acima de tudo a pensar nas pessoas que querem que lhes paguem as dívidas mas não sabem como pedir o pagamento aos credores. Assim enviam o livro e tudo se resolve da melhor forma.

Escreve de uma forma disciplinada? Diariamente?

Sim, para quem queira viver da escrita não há outra forma. Como me disse um dia o Raul Solnado, escrever por inspiração é para amadores.

Na 4ª série do 5 para a Meia-Noite, que estreou este mês de Janeiro na RTP2, vai haver novidades em relação à série anterior?

Há sempre! Nós próprios obrigamo-nos a inovar, no meu caso terei todas as rubricas novas. Apenas mantenho o personagem que anda na rua a perguntar às pessoas que andam a fazer, fora isso é tudo novo!

Quais as razões que o levaram a ser mandatário para a juventude de Fernando Nobre, na candidatura à presidência da República?

É a primeira vez que dou a cara por uma campanha política precisamente porque vejo jovens desacreditados na política, alienados de um dever cívico tão importante como o voto. Jovens que perderam o orgulho no país e desacreditaram que seremos capazes de vingar enquanto nação.

Voto porque precisamos de fazer mais e melhor, mas precisamos acima de tudo mudar de rumo, mas principalmente de timoneiros.

Aceitei acima de tudo porque acho que o país precisa de novos agentes na política. Os tempos que se aproximam são difíceis e está provado que falhámos grande parte das metas a que nos propusemos nos últimos 36 anos.

Eu Amo Você é uma expressão que popularizou. Os portugueses reagem sempre bem a declarações de amor?

Sim, desde que não sejam indivíduos do Porto sentados a pescar a meio da tarde e que se levantam e me dão um calduço valente numa orelha. Fora isso os portugueses reagem bem!

Quais são os humoristas que mais o inspiram?

Cresci a ver o Herman mas depois descobri o Robin Williams, o Denis Leary, o Seinfeld e aí decidi que a minha vida seria dedicada à stand up comedy.

Além disso temos em Portugal excelentes comediantes com quem tenho o prazer de trabalhar.

Os portugueses são um povo melancólico que gosta de humor?

Somos um povo que sabe rir de si próprio e isso é essencial para quem faz humor. Só assim é possível que tenhamos sucesso, é a primeira condição.

As redes sociais são importantes para um humorista?

O humorista deve estar onde estão as pessoas e as redes sociais são a melhor forma de divulgar o nosso trabalho. No meu caso tenho cerca de 700 mil pessoas por dia a ler os meus posts e isso dá-me uma satisfação muito grande.

Lida sempre bem com a popularidade, ou existem algumas situações em que preferia não ser conhecido?

Em Portugal só há dois famosos, o Ronaldo e o Figo. Tudo o resto são pessoas que são reconhecidas. Quem se convencer do contrário está enganado. Contudo irrita-me que falem de mim sem me conhecerem e façam juízos de valor, ainda assim não deixo de dormir descansado por isso.

Eugénia Sousa
Direitos Reservados

 

 

 

LEOPOLDO GUIMARÃES FALA DA QUALIFICAÇÃO E DO ENSINO EM PORTUGAL

Os caminhos da mobilidade nacional

Leopoldo Guimarães é o presidente da Comissão Consultiva da Futurália. Professor Catedrático e Reitor Aposentado da Universidade Nova de Lisboa, explica ao Ensino Magazine como vai ser a Futurália 2011. Revela ainda que os caminhos dos jovens devem ser os da mobilidade nacional e internacional e nunca os da crise. Nesta entrevista, Leopoldo Guimarães aborda ainda a questão da oferta formativa em Portugal.

A Futurália 2011 está já a ser preparada. Que respostas este evento procura dar aos jovens portugueses?

Na Futurália pretende-se essencialmente, mostrar aos jovens e também a quem de alguma forma se preocupa verdadeiramente com eles, que existem opções distintas, formas diferentes de orientar os seus percursos de vida, ajudando-os a tomar as decisões que o seu imaginário, tendências e visão do futuro neles projectam, fazendo isso munidos de conhecimento correcto, completo e organizado.

O “Conhecimento”, assume sempre uma superior importância para que as necessárias opções sejam tomadas na altura certa, sem imposições nem informações polarizadas ou distorcida.

A Futurália 2011, fiel ao compromisso Educação/Formação, privilegia os eventos ligados a este importante binário, aliando-os ao empreendorismo e ao desenvolvimento de competências direccionados aos jovens, desde os que frequentam o 9º ano de escolaridade, o 12ºano, licenciatura, mestrado e doutoramento, até aos que se interessam por enriquecer o seu percurso através de programas nacionais e internacionais de investigação científica.

A frase A vida é tua - descobre o teu caminho volta a ser o lema da Futurália. Com que caminhos se deparam hoje os jovens portugueses?

Certamente que não são os caminhos da crise em curso, nem a desilusão por ela criada, nem os antídotos actualmente propostos. São sim os caminhos da mobilidade nacional e internacional, da formação alargada e contínua, da iniciativa individual ou em grupo, da assumpção do risco, da não submissão ao insucesso, assumindo que ele faz parte de qualquer processo.

Para este ano estão previstas algumas novidades, como o dedicar um dos dias à família. Qual o objectivo dessa iniciativa?

O espaço de interacção e participação nas temáticas que envolvem o binómio Educação/Formação, exige cada vez mais ser preenchido com os seus protagonistas naturais, ou seja os jovens, os pais e os professores, com responsabilidades partilhadas. A rápida mutação dos parâmetros que em dado momento caracterizam a sociedade, obrigam a um conhecimento e posterior aceitação dos métodos e conteúdos educacionais que no seu ritmo próprio, procuram ponderadamente, livres de pressões externas ao sistema, responder às exigências. A família, sendo parte integrante do fenómeno educacional, encontra na Futurália uma oportunidade rara para reflectir em conjunto com os seus jovens, na presença dos professores e dos representantes das instituições ligadas ao ensino e à investigação científica, propostas e perspectivas de futuro.

Concorda com a ideia de que a qualificação dos portugueses é um dos maiores desafios que se coloca ao país?

Sem dúvida. É talvez o maior dos maiores desafios. Mas falar em qualificação sem falar educação, cultura, ética e cidadania, é favorecer um percurso muito incompleto na formação do indivíduo. Somente conjugando todos aqueles factores, se poderá caminhar para o humanismo na competência, cultura na qualificação, bom senso na decisão, que no conjunto, constituem grande parte do património estrutural da nação, muitas vezes esquecido na hegemonia importante mas monocórdica, dos factores económicos prevalecentes.

Na sua perspectiva, enquanto professor catedrático, as instituições de ensino têm sabido responder aos desafios e às novas exigências do mercado?

Permita que aborde a questão da seguinte forma: “As relações mercado de trabalho, economia, indústria-universidade, têm-se desenvolvido confrontadas com pontos de vista e perspectivas paradoxais. Esta situação deriva particularmente de se pretender comparar realidades que só parcialmente coexistem, não se aceitando como natural, que grande parte dos objectivos e mesmo do enquadramento sociológico são diferentes e que assim deverão permanecer. Cada um tem o seu papel a desempenhar, num relacionamento próximo e consequente”.

“É do domínio público que a actual oferta de ensino superior mostra ainda sinais preocupantes de grande dispersão e de alguma inconsistência não obstante o esforço que tem sido desenvolvido para melhorar a situação. As designações dos cursos são muitas vezes escolhidas por critérios ligados à compreensível preocupação das instituições de tornarem as suas ofertas curriculares atractivas, procurando dar satisfação a uma procura que se tem mostrado particularmente condescendente para com as imagens promocionais de determinadas áreas temáticas”.

“A relação entre o nome e o conteúdo de alguns cursos apresenta-se frequentemente desajustada: uma mesma denominação pode dar abrigo a perfis de formação muito heterogéneos e designações diferentes podem corresponder a perfis muito próximos. Daqui resulta uma certa opacidade, quer para os candidatos ao ensino superior, quer para os próprios empregadores”.

O sistema de acreditação levará o seu tempo a acertar esta configuração tendo em consideração as consequências da introdução do “Processo de Bolonha”, que merecem, neste aspecto, uma profunda reflexão.

E no que respeita ao Secundário?

O ensino secundário, por seu turno, foi durante muito tempo essencialmente organizado na perspectiva do ingresso na universidade, com prejuízo do ensino profissional que tardou muito a ser recuperado, prejudicando assim uma importantíssima parte das respostas a dar ao mundo empresarial e consequentemente às exigências do mercado de trabalho.

Outro factor a ter em linha de conta, refere-se à necessidade de articular as condições de acesso ao ensino superior, em face das novas formações que irão surgir, com a formação dos jovens a nível do secundário, nomeadamente com a duração da formação neste nível, aproximando e harmonizando, dentro do possível, a situação nacional com a situação a nível europeu, evitando ao mesmo tempo rupturas e descontinuidades que certamente causarão enormes prejuízos aos estudantes, podendo contribuir com elevado peso para o insucesso dos estudantes no ensino superior.

Como presidente da Comissão Consultiva da Futurália, qual a mensagem que deixa aos jovens portugueses?

Em primeiro lugar que não olhem o futuro apenas com a visão do passado recente e mesmo do presente. Os parâmetros de vida mudam rapidamente. O que era ontem uma oportunidade poderá hoje deixar de ser. O que poderia parecer um caminho fechado poderá abrir-se num arco-íris de possibilidades. Não esperem passivamente a chegada do emprego, da ajuda remota, da amizade sem confiança. Vão ao encontro de tudo isso, embrenhem-se na vida, abram-se à informação, com os olhos postos no conhecimento, para atingirem a meta da sabedoria, que se assume como a meta do bem estar convosco e com os outros.


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