GENERAL LOUREIRO DOS
SANTOS
"Vence a guerra
quem domina
as auto-estradas da informação"
Na era da informação ganha a guerra quem
domina as tecnologias e a gestão das percepções. Quem o diz é o
especialista em questões militares, Loureiro dos Santos, que refere que
as revelações da Wikileaks demonstraram as fragilidades dos Estados
Unidos como um gigante com pés de barro. Sobre temas domésticos,
Loureiro dos Santos afiança que não dá votos investir nas forças
armadas, que a compra dos submarinos não era prioritária e defende que
os jovens cumpram um serviço cívico nacional de forma a compensar o fim
do serviço militar obrigatório. O membro do Conselho Geral da
Universidade Nova de Lisboa receia que alguns estabelecimentos de ensino
superior não sobrevivam ao aumento dos padrões de rigor e
competitividade.
Lançou em Dezembro «História concisa de como se faz a guerra», que
descreve como um livro de um militar destinado a todos aqueles que se
interessam pela evolução da guerra. Que principais etapas analisou, dos
primórdios à actualidade?
Debrucei-me sobre como a evolução técnica e a forma de fazer política
condicionaram a maneira de os estados dirimirem questões pelo uso da
força, bem como por via da coacção económica, política, psicológica,
etc. Tudo isto faz parte da guerra. No livro percorro a história, em
função da cadência da evolução tecnológica, e chamo ao primeiro período
o de evolução técnica lenta e, a partir da invenção da pólvora, denomino
evolução técnica rápida. Tive também a preocupação de o ilustrar com
campanhas militares concretas, como por exemplo as desenvolvidas por
Napoleão.
Em que medida a sofisticação tecnológica condicionou as estratégias e
a forma de fazer a guerra?
O desenvolvimento tecnológico foi aumentando em ritmo exponencial, com
especial destaque para os séculos XX e XXI. Da década de 80 do século
passado até aos nossos dias, a evolução tecnológica foi de tal ordem que
revolucionou a forma de fazer a guerra.
É aquilo a que eu chamo a era da informação que sucede à era
electrónico-nuclear, que perdurou até cerca de 1990. Entretanto, surgem
novos teatros de operações a acrescentar aos tradicionais, o terrestre,
naval e aéreo. São eles o ciberespaço, o espaço exterior e o espaço
mediático. Estas novas realidades alteraram por completo a forma de
fazer a guerra. Por isso digo que vence a guerra quem domina as
auto-estradas da informação.
Pode-se afirmar que estamos perante guerras mais “assépticas”?
A guerra é uma forma de um actor político fazer com que o outro actor
actue de acordo com a sua vontade. Para obter isto, não se parte logo
para o confronto, há um jogo de condicionamento e persuasão prévio. Só
em último caso é que se recorre ao combate. Actualmente, a globalização
da informação, a posse e o conhecimento dos conteúdos informativos
revelam-se quase uma obsessão colectiva. Logo, quem controla as
plataformas por onde circula a informação tem vantagem relativamente aos
seus opositores. Pretende-se neutralizar ou eliminar os espaços virtuais
onde circula a informação que o inimigo utiliza ou, noutra perspectiva,
pretende-se usar de forma suficientemente hábil a informação que circula
de modo a produzir nas pessoas a percepção que mais nos convém...
Já estamos no domínio da propaganda…
É a gestão das percepções. Veja que boa parte da guerra do Afeganistão
centra-se ao nível da gestão das percepções. Há outro caso, a guerra de
Gaza, em que os israelitas venceram o conflito militar, mas por terem
cometido muitos erros do ponto de vista informativo isso permitiu que à
escala planetária fossem conhecidos pormenores ocorridos na Palestina e
que eram desfavoráveis a Israel. Perante isto, deve-se concluir que o
mais importante na guerra não é propriamente a realidade, mas sim a
percepção que cada um de nós tem dela. A informação assume hoje em
qualquer conflito uma importância essencial. Dizia o filósofo da guerra,
Sun Tzu, há mais de dois mil anos, que «a suprema arte da estratégia é
sendo-se fraco, convencer os outros que se é forte». A ilação óbvia é
que o fundamental é derrotar o inimigo sem combater.
Por falar em informação, as últimas semanas foram dominadas pelas
revelações do Wikileaks. A quem aproveita estas filtrações que minaram a
confiança entre diplomacias?
Este caso veio mostrar a importância da informação e de que forma é que
um actor, Julian Assange, praticamente isolado e com escassos apoios,
pode colocar em xeque uma nação poderosíssima como os Estados Unidos. Eu
não sei a quem é que interessa este processo, mas em termos objectivos o
Wikileaks constituiu uma forte ofensiva contra os Estados Unidos, pondo
a nu toda as trocas diplomáticas deste país durante os últimos tempos e
diversos líderes políticos.
Grande parte do que foi revelado não foi especialmente novo…
De facto não se pode dizer que as revelações foram bombásticas. Eu no
passado escrevi que existia uma «aliança» entre Israel e os países
árabes contra o Irão, mas não se sabia que o rei Al Saud tinha dito isso
aos americanos.
Como é possível que um país tão poderoso permita uma fuga massiva de
informação classificada como «top-secret»?
Foi uma fragilidade de carácter operacional provocada por falta de
cautelas suficientes. Segundo informações veiculadas, as autoridades
americanas reuniram na mesma plataforma documentos díspares, desde
assuntos absolutamente secretos a outros mais corriqueiros. Para além
disso, banalizaram-se os graus de segurança atribuídos a determinados
assuntos. Será algo, certamente, a ser corrigido imediatamente. Daqui
para a frente estou em crer que os americanos vão blindar todas as suas
informações. Assange disse que este processo era em prol da
transparência, mas acredito que vai funcionar ao contrário. O Wikileaks
só conseguiu aceder a estas informações com origem em nações
democráticas, mas certamente será mais difícil obter informações noutras
potências que também vão estar mais atentas a certos detalhes de
segurança.
No seu livro anterior, «As guerras que já aí estão e as que nos
esperam – se os políticos não mudarem» mostra-se pessimista com os
líderes que temos. Porquê?
As guerras são uma constante da história. Só que há umas necessárias e
que se justificam. É o caso do conflito do Afeganistão. Os Estados
Unidos reagiram em legítima defesa depois do ataque do 11 de Setembro,
acção respaldada pelas próprias Nações Unidas.
Já o mesmo não se pode dizer da guerra do Iraque…
É um caso diferente. Resulta de uma escolha de objectivos e da forma de
os alcançar. Era uma guerra evitável e que expôs as fragilidades e a
falta de força dos Estados Unidos, retirando-lhes respeitabilidade e a
sensação de poder que todos os países estavam convencidos de que tinha.
O resto já se sabe, veio ao de cima. As torturas de Abu Ghraib, os
presos de Guantánamo, etc.
Quais os verdadeiros propósitos da guerra do Iraque?
Os americanos queriam controlar os preços do petróleo na região e criar
uma plataforma que lhes permitisse colocar em respeito todos os países
daquela área. Nomeadamente, Israel e o Irão. Acontece que os objectivos
saíram furados. O peso dos Estados Unidos diminuiu. Ao invés, a Rússia
fortaleceu-se.
Pelo menos na teoria o clima de «guerra fria» está enterrado, mas as
tensões geopolíticas existem. Pensa que pode eclodir no médio prazo um
conflito de grande intensidade?
As sociedades actuais são muito frágeis porque estão organizadas em rede
e dependem de espaços virtuais. Se houver um ciberataque que anule as
comunicações e o fornecimento de energia, essa acção concertada faz com
que o governo e as forças armadas deixem de funcionar. Por outro lado,
qualquer ataque que empregue força desproporcionada terá de imediato
impacto à escala global fruto da sociedade de comunicação em que
habitamos. Logo, os conflitos do futuro serão assimétricos e
maioritariamente de pequena e média intensidade. Explico: as grandes
potências vão tentar estimular insurreições que desgastem os seus
adversários.
Por isso, não acho provável que no espaço europeu e americano ecludam
guerras convencionais do tipo das que ocorreram no século XX.
Eventualmente na Ásia isso é mais plausível, com a transferência de
poder a ser acompanhada em paralelo por uma transferência da
conflitualidade para aquelas paragens. A China mantém relações tensas
com países ribeirinhos daquela zona da Ásia, caso do Japão e das Coreias.
A ameaça que o aumento do poderio chinês representa para muitos países,
como a Indonésia e as Filipinas, reforçam a influência dos Estados
Unidos na região, promovendo alianças com várias nações. A tendência é
que vamos ter menos guerras convencionais prolongadas e mais equilíbrios
de forças e estratégias de dissuasão.
O 11 de Setembro de 2001 alterou a forma como os cidadãos vivem em
sociedade e pôs termo à ordem unipolar instalada. O terrorismo pode
assemelhar-se a uma doença crónica das sociedades modernas?
É muito difícil extirpar esta ameaça. Veja que a Al-Qaeda surgiu com um
objectivo meramente territorial, que era restaurar o Califado. Bin Laden
foi transformado num herói para todos os muçulmanos. Que adorariam que
em vez de ser explorados, passassem a explorar os outros. Contudo, esta
organização não conseguiu substituir qualquer governo, nem mesmo
muçulmano. Com o tempo perdeu capacidade para promover grandes
atentados. Aqui surge um fenómeno paradoxalmente interessante e
perigoso: os seus objectivos foram interiorizados por muitos muçulmanos
que passaram a organizar-se por mera inspiração, mobilizando-se e
financiando-se para o ataque. É uma espécie de pandemia da violência.
Trata-se de um problema que nos vai acompanhar durante muito tempo. A
insegurança provocada pela ameaça terrorista está para durar.
Justifica-se a paranóia securitária que vemos em certos países do
mundo, nomeadamente nos aeroportos?
A essa pandemia tem que se responder, mas preferencialmente de forma
equilibrada. É preciso evitar que se limitem totalmente os nossos
direitos, liberdades e garantias. Sob pena de os cidadãos começaram a
pensar que se calhar valeria a pena ser tão fundamentalista como os
outros são. Contudo, importa ressalvar que existe um notório
desequilíbrio entre a maneira de proceder em matéria securitária nos
Estados Unidos e na Europa. Isso depende muito mais das opiniões
públicas, do que propriamente dos líderes políticos. Nos Estados Unidos
o medo é tal que as pessoas aceitam tudo. Na Europa os procedimentos de
segurança são algo mais aligeirados, muito por causa de motivos
culturais.
Tem-se assistido a um aumento do poder das potências emergentes com a
China, a Índia, a Rússia e o Brasil a ganharem terreno aos Estados
Unidos como «ilhas de poder global». O século XXI vai marcar o fim da
supremacia americana?
Os Estados Unidos a seguir ao fim da «guerra fria» eram claramente a
única potência. Neste momento, o diferencial de poder entre os EUA e
essas nações está cada vez mais atenuado. A globalização levou a que
problemas de diversa natureza, nomeadamente económico-financeiros,
políticos, ecológicos, logo de carácter transversal, não possam ser
unicamente resolvidos por apenas um país, por muito poderoso que este
seja. O mundo em termos poder está a derivar para uma ordem
internacional multipolar. Os Estados Unidos continuarão a ser, nos
próximos 20 ou 30 anos, a potência directora na medida em que são os
únicos que continuam a marcar a agenda. O que não invalida que a meio
deste século a China, a Índia ou o Brasil não possam ocupar esse lugar.
Que balanço faz do desempenho de Obama em termos de política externa?
Procurou resolver os problemas e as tensões através de negociações e
entendimentos. Só usar a força quando necessário, reflectir de forma
sábia sobre as questões delicadas e fomentar alianças. Demora tempo, mas
é preferível assim do que repetir o que Bush fez, partindo logo para o
conflito e o resultado está à vista.
Obama também acaba por sofrer com o facto de as expectativas estarem
muito altas em comparação com o desastre provocado pelo seu antecessor.
Ele nunca podia ser o Deus, que alguns sonhavam, iria resolver todos os
problemas do Planeta.
É uma das vozes mais respeitadas quando se fala em Forças Armadas,
tendo participado em jantares de apoio aos militares que se consideravam
injustiçados pelo poder político. A classe castrense é o parente pobre
da sociedade?
Há desinvestimento nas forças armadas, nomeadamente ao nível do
equipamento. Quanto aos investimentos programados poucos se têm
concretizado, com a maior parte a eternizar-se no tempo. Constato que
não dá votos investir nas forças armadas.
Quanto aos vencimentos que auferem, os militares sentem-se injustiçados
perante outras classes, quando têm uma profissão muito específica e que
exige muitos sacrifícios. Seria natural uma recompensa de natureza moral
e material por esse esforço. Isso não se tem passado.
A crise veio ajudar a justificar os atrasos, mas não explica tudo. Há
muito tempo que o governo cativa as verbas para as forças armadas. Os
apertos também são gerais noutros países europeus. A NATO define o
patamar de 2% do PIB para o sector da Defesa, mas hoje em dia o único
país da União Europeia que gasta esse valor ou mais é a França.
É perante este desinvestimento que a Europa conta cada vez menos na hora
de tomar as grandes decisões geoestratégicas.
A compra de submarinos era uma prioridade?
Um país marítimo como o nosso deve ter meios para explorar a zona
económica exclusiva. Quando a Lei de Defesa Militar deu prioridade à
aquisição de submarinos, achei que devíamos ter helicópteros,
espingardas G-3, etc. Os submarinos eram um investimento de segunda
prioridade. Mantenho essa visão.
O fim do serviço militar obrigatório afastou os jovens da causa
castrense?
Na altura do debate não concordei com o fim do serviço militar
obrigatório. Defendi a criação de forças armadas mistas que tivessem uma
componente profissional, preservando, ao mesmo tempo, o serviço militar
obrigatório, até por ser em termos financeiros mais barato, devido à
dimensão nacional.
Teria o efeito de criar uma ligação, uma educação e uma experiência aos
jovens que melhorasse os seus valores no que diz respeito ao sentimento
de autoridade, espírito de servir, disciplina, solidariedade, etc.
Esses valores estão a cair em desuso?
Eu preconizo a criação de um serviço cívico nacional, já existente em
muitos países europeus, em que os jovens, de ambos os sexos, ao longo de
6 a 8 meses, prestem uma espécie de serviço comunitário, a ser cumprido
preferencialmente entre o final do ensino secundário e a entrada no
ensino profissional ou superior. Seriam os jovens a escolher se
preferiam estar nas forças armadas, nas forças de segurança, serviço
nacional de protecção civil, protecção de património, ambiente, etc.
Obrigatório seria a permanência 1 semana nas forças armadas para
contactar com os valores nacionais, o sentimento de pátria e a
necessidade de auto-governo.
Esta experiência podia ajudar os jovens a ter uma noção mais afectiva de
certos valores completamente arredados da sociedade.
É professor em várias instituições e membro do Conselho Geral da
Universidade Nova de Lisboa. Sente que a escola caminha, na lógica dos
valores, em sentido contrário da instituição castrense?
De uma forma geral, observo o que se passa em termos do quadro dos
valores do ensino com uma grande tristeza.
Os comportamentos de certos jovens não são próprios de um cidadão
consciente. Por isso, o serviço cívico que atrás falei podia ajudar a
recuperar certos valores.
Pronunciando-me na minha condição de membro do Conselho Geral da
Universidade Nova de Lisboa, acho que a legislação recentemente
publicada sobre a necessidade de maior rigor e competitividade das
entidades de ensino superior é um passo muito positivo. Temos gente com
muita qualidade e com reconhecimento internacional.
Deu-se um passo importante no investimento na componente de investigação
e desenvolvimento. O outro lado da medalha deste progresso é colocar em
xeque alguns estabelecimentos universitários, na medida em que a livre
circulação de estudantes no ensino aumentou a competição pela procura
dos melhores valores. Se não prestarmos bons serviços os melhores alunos
abandonarão o país visto que têm lugar em qualquer universidade ou posto
de trabalho do mundo.
Está céptico ou confiante?
Tenho as minhas sérias dúvidas que todos os estabelecimentos de ensino
universitário nacional sobrevivam a esta lógica competitiva que está em
marcha. Não me parece razoável que o Estado português mantenha
instituições deficitárias. O dinheiro pode ser aplicado noutras
infraestruturas.
A crise é cada vez mais funda. Até onde pode chegar o potencial de
conflito se as tensões sociais se agravarem?
Escrevi um artigo no «Público» em Dezembro que intitulei de «Turbilhão
geopolítico ameaça a Europa», e em que falo da possibilidade da
multiplicação de convulsões sociais em toda a Europa e inclusive em
Portugal.
Em boa verdade os reais efeitos da crise só agora vão começar a ser
sentidos. Julgo que a partir do Verão é que o cenário pode ser mais
gravoso.
Nuno Dias da Silva
Cara da Notícia
José Loureiro dos Santos é dono de
um esmerado currículo, tanto a nível académico como a nível militar.
O general é uma personalidade internacionalmente reconhecida nas
áreas da Estratégia, Segurança e Defesa. Natural de Vilela do Douro,
concelho de Sabrosa, no distrito de Vila Real, onde nasceu a 2 de
Setembro de 1936, começou por se tornar conhecido do grande público
pelos seus comentários televisivos na guerra do Iraque e no 11 de
Setembro. Desempenhou, entre outros, o cargo de Chefe do Estado
Maior do Exército, Vice-Chefe do Estado Maior General das Forças
Armadas e Ministro da Defesa Nacional dos IV e V Governos
Constitucionais. Fez doutoramento em Ciências Militares e foi
professor em várias instituições (IAEM, IAEFA e ISCSP).
Conferencista muito solicitado, escreve regularmente na imprensa
generalista e especializada. É colaborador permanente no «Correio da
Manhã» onde assina uma coluna regular. A sua editora de sempre é a
Europa-América onde já lançou sete livros, o último dos quais
«História concisa de como se faz a guerra». É membro cooptado do
Conselho Geral da Universidade Nova de Lisboa.
VALTER LEMOS, SECRETÁRIO
DE ESTADO DO EMPREGO E FORMAÇÃO PROFISSIONAL
As Novas Oportunidades
do País
O Secretário de Estado do Emprego e da
Formação Profissional, Valter Lemos, classifica o programa Novas
Oportunidades como uma mais valia para a formação dos portugueses e para
a economia nacional. Em entrevista ao Ensino Magazine, aquele membro do
Governo mostra-se satisfeito com os resultados divulgados pelo PISA
(Programa Internacional de Avaliação de Alunos) e revela que um dos
problemas que afectam o país é dizer mal de si próprio.
Recentemente o Programa Novas Oportunidades foi alvo de uma avaliação
externa. Quais os resultados desse estudo?
Foi uma avaliação externa internacional efectuada por um grupo de
trabalho da Universidade Católica, dirigido pelo engenheiro Roberto
Carneiro e que contou com a participação de peritos internacionais que
testaram os resultados. Entre esses peritos esteve o director geral da
educação para adultos da Unesco, o qual classificou o programa como o de
maior dimensão em termos internacionais. Este programa tem uma
importância estratégica para Portugal. É pena que a pequena política
seja impeditiva de ver as implicações de tudo isto.
O Programa Novas Oportunidades é uma questão estrutural que remedeia um
problema de atraso de décadas no nosso País, mas que ainda precisa de
ser acelerado. Em 2005 se continuássemos a trabalhar ao mesmo ritmo, as
contas demonstravam que nós demoraríamos 70 anos para poder alcançar a
média europeia. Se nós utilizarmos os dados do progresso feito entre
2006 e 2008, verificamos que Portugal reduziu para 30 anos esse período.
É evidente que ainda é preciso acelerar tudo isto. Os nossos atrasos
eram de tal forma grandes que é necessário colocar mais velocidade neste
processo, formando e qualificando mais gente.
Não há nada de paralelo na história portuguesa, não só para com os
adultos, mas também para a formação dos jovens.
A diminuição da taxa de abandono escolar acabou por estar ligada ao
aparecimento desse programa?
Foi este programa que permitiu, por exemplo, a criação dos cursos de
educação formação nas escolas públicas. Mais, foi este programa que
permitiu que tivéssemos, em 2009, a maior queda de abandono escolar da
OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico), quando
éramos o país com maior taxa de abandono. E como sabemos o abandono
escolar transforma-se em atraso.
O Programa Novas Oportunidades já certificou centenas de milhares de
pessoas, mas não se resume ao sistema de Reconhecimento Validação e
Certificação de Competências (RVCC). Este programa tem o eixo dos
adultos e o dos jovens. E é por ser um programa global e integrador que
consegue atingir estes números. Além do RVCC, surgem os cursos de
educação-formação de adultos, as formações modelares escolares e
profissionais, o ensino recorrente, os sistemas de conclusão do ensino
secundário (por exames extraordinários), a formação profissional, bem
como, no caso dos jovens, o alargamento das chamadas vias de dupla
qualificação. E hoje estamos quase a atingir a meta de ter todos os
jovens na escola até aos 18 anos de idade, o que era considerado uma
miragem em 2005 por todos os especialistas. Mas estas metas foram
alcançadas porque existe o Programa Novas Oportunidades, porque há
alternativas de formação para os jovens.
O nosso objectivo foi o de actuar em dois sentidos. Por um lado, não
deixar os jovens para trás na sua formação, e por outro lado ir buscar
os adultos e reconvertê-los para dentro da pirâmide da qualificação
usando todos os instrumentos disponíveis.
Há muitos analistas que criticam o programa classificando-o como
promotor do facilitismo…
Esse tipo de críticas tem duas razões. Uma é a ignorância. São críticas
feitas por pessoas que nunca se deram ao trabalho de ir ver como aquilo
é, de assistir, de participar e de ver as provas finais. Ou seja são
críticas como arma de arremesso político. E esse tipo de críticas
resolve-se com o esclarecimento. A outra razão é o ciúme social. São
críticas feitas por aqueles que acham que as outras pessoas não devem
alcançar aquilo que eles já alcançaram. É um tipo de críticas que se
alimenta com facilidade. É o mesmo argumento que leva ao aparecimento de
críticas do género «não é a mesma coisa fazer aquilo do que quando se
estuda na escola secundária». E é claro que não é nem pode ser. É errada
a ideia de que um adulto com 40 anos tinha que fazer o mesmo percurso
escolar que o seu filho de 15, como se o adulto não soubesse nada tal
como o seu filho. E este foi um dos problemas em Portugal, onde se
gastaram milhões e milhões e se deixaram os portugueses desqualificados.
O programa Novas Oportunidades tem uma metodologia diferente e é hoje
matéria de estudos internacionais.
Mas a avaliação externa também apontou algumas fraquezas…
E estamos a corrigi-las, como a questão do RVCC profissional, e do
acesso dos desempregados. Mas indicou também que mais de 96 por cento do
total de pessoas que se inscreveram no programa (num universo de mais de
um milhão de pessoas) garantiram estarem satisfeitas com as Novas
Oportunidades.
E as empresas têm sabido aproveitar esse programa?
Essa é a maior certeza de que o Programa é uma mais valia para a
economia portuguesa. As grandes empresas nacionais todas têm programas
de qualificação no âmbito das Novas Oportunidades. São exemplos disso, a
Sonae, Jerónimo Martins, Portugal Telecom, etc. Recentemente estive na
entrega de certificados da Jerónimo Martins, a 500 funcionários. Esse
grupo emprega 25 mil pessoas, das quais mais de três mil já fizeram o
programa novas oportunidades. Neste momento temos 100 grandes empresas e
três mil pequenas e médias empresas (PME’s) aderentes às Novas
Oportunidades.
Durante cinco anos exerceu o cargo de Secretário de Estado da
Educação, numa época em que se procederam a muitas alterações no sistema
de ensino. Agora o PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos)
revela que os alunos portugueses, em 2009, tiveram a evolução mais
expressiva nas áreas da leitura, matemática e ciências, desde que
Portugal aderiu a esse programa. Qual o significado destes dados?
Essa foi uma das notícias, em toda a minha vida, que me deu mais
alegria. Por duas razões: eu estive no Ministério da Educação no período
em que decorreram as alterações nesse programa e sei o que foi a batalha
para conseguir as alterações efectuadas. Poucos políticos têm a sorte de
ver os resultados do trabalho imediatamente a seguir. A outra razão, a
mais importante de todas, é a razão nacional. Isto é muito importante
para o País. O País percebeu que não estamos condenados. A ideia de que
nós estávamos condenados a ter um sistema educativo com baixa qualidade
e com resultados negativos, estava enraizada nos portugueses. A partir
de agora já não haverá a ideia que não é possível fazer melhor. Por
outro lado, provou-se que não é necessário esperar uma eternidade para
mudar as coisas.
Foi essa a nossa convicção e para além das medidas tomadas pelo Governo,
há um aspecto muito importante: os professores e os alunos trabalharam
mais e melhor. A estruturação da actividade escolar é completamente
diferente daquilo que foi em 2005. O número de horas de aula para os
alunos, o tempo que eles passam nas salas e no recreio, e o número de
horas que os professores passam na escola é diferente. Não tenho nenhuma
dúvida que hoje se trabalha mais e melhor na escola.
Com estes resultados as exigências são maiores?
A nossa progressão foi a melhor de sempre e a melhor registada nos
países da OCDE. Em 2006 estávamos nos últimos lugares e hoje estamos na
média. É verdade que temos muito que melhorar, só que com a diferença de
aspirar a estar no topo. E temos obrigação de ter essa aspiração. Isto
revela também que as políticas implementadas na área da educação fazem
diferença.
Nós já tivemos outros dados positivos como a melhoria dos resultados dos
exames e do sucesso escolar, e a diminuição do abandono escolar. E as
críticas que ouvimos foram sempre as mesmas, ou porque houve
manipulação, ou porque os professores passam mais facilmente os alunos,
ou ainda porque os exames são mais fáceis. Críticas, com as quais
obviamente não concordo, feitas porque as medidas eram internas. Só que
agora surgem resultados externos e internacionais. O PISA está para a
educação como os sistemas indicadores da OCDE estão para a economia.
O efeito destes resultados demonstram que as políticas públicas são
importantes e podem ser decisivas na mudança da realidade. No dia em que
deixarmos de acreditar nisso deixamos de acreditar na democracia e no
sistema. O que acontece muitas vezes é que se tenta vender o descrédito
dos políticos para vender o descrédito das políticas e em último caso do
sistema democrático.
O Primeiro Ministro e a anterior Ministra da Educação mereciam isto. As
políticas foram implementadas com muita adversidade e o Primeiro
Ministro nunca hesitou em apoiar o ministério. Não tenho dúvidas que
hoje os professores olhando para estes resultados se sintam
recompensados pelo trabalho desenvolvido.
Ao nível da formação profissional Portugal conquistou 9 medalhas de
ouro, 12 de prata e 9 de bronze, sagrando-se Campeão Europeu das
Profissões...
O campeonato europeu decorreu em Lisboa num evento extraordinário que
acabou por não ter a atenção devida por parte da comunicação social
nacional. A própria televisão portuguesa não esteve presente quando lá
estiveram nove canais internacionais. Digo isto não só pela quantidade
de medalhas que obtivemos, mas porque passaram pela FIL 60 mil jovens
portugueses. Já na última vez, em Roterdão, tínhamos conquistado o
título do melhor entre os melhores, com um jovem de Castelo Branco. Isto
demonstra que em termos internacionais temos competitividade na área da
formação profissional, como temos em muitos outros sectores. O nosso
problema é que passamos demasiado tempo a dizer mal de nós próprios,
quando em termos internacionais somos capaz de fazer melhor que os
outros. Temos é um problema grave de maledicência nacional que já vem do
século passado. E isso penaliza-nos. Para dizer mal do Governo não é
preciso dizer mal do País!
Ao longo da nossa conversa fico com a ideia de que por vezes os
portugueses desconfiam das suas próprias capacidades...
Volto a dizê-lo o nosso maior problema em Portugal é dizer sempre mal de
nós próprios. Somos bombardeados todos os dias não só com as más
notícias como com as faces piores e a menorização das boas notícias. Os
telejornais e os títulos dos jornais anunciam todos os dias o caos. A
comunicação social nacional puxa constantemente o país para baixo e é,
em regra, antipatriótica. Já não é só a ânsia de dizer mal do Governo. É
ânsia de dizer mal, simplesmente. Eu acredito que nós, os portugueses
somos muito melhores do que nos querem impingir a todo o custo. É
preciso perceber que, sob a capa de pretensa informação, há na
comunicação social, muita gente a ganhar muito dinheiro a dizer mal de
Portugal e dos portugueses! Essa é também uma importante razão pela qual
em 2001 precisamos de dar o nosso melhor!
NILTON EM ENTREVISTA
Somos um povo que sabe
rir de si próprio
Nilton é um dos humoristas portugueses
mais reconhecidos pelo público e está de volta à televisão com o
arranque da quarta série do programa 5 para a Meia-Noite, na RTP 2. As
Redes Sociais indicam a sua popularidade e os seus posts são lidos por
cerca de 700 mil pessoas, diariamente. Escreve de forma disciplinada e
nas bancas tem um novo livro a que deu o título Paga o que Deves. O
autor de As Teorias de Nilton e O Pai Natal não Existe afirma que os
portugueses em geral até reagem bem a declarações como “Eu Amo Você”,
têm sentido de humor e sabem rir deles próprios. A sério são as razões
que o levaram a ser mandatário para a Juventude na Candidatura de
Fernando Nobre nas eleições para a presidência da República.
É autor dos livros O Pai Natal Não Existe, As Teorias do Nilton e
mais recentemente publicou Paga o Que Deves. Se fosse um crítico
literário (imparcial) o que diria de Paga o que Deves?
Diria que não é um livro, é um conjunto de textos de qualidade
discutível e ainda por cima assinados por um indivíduo com nome de
jogador de futebol brasileiro da segunda divisão.
O facto de sermos um país endividado pesou na escolha do título deste
livro?
Sim, foi acima de tudo a pensar nas pessoas que querem que lhes paguem
as dívidas mas não sabem como pedir o pagamento aos credores. Assim
enviam o livro e tudo se resolve da melhor forma.
Escreve de uma forma disciplinada? Diariamente?
Sim, para quem queira viver da escrita não há outra forma. Como me disse
um dia o Raul Solnado, escrever por inspiração é para amadores.
Na 4ª série do 5 para a Meia-Noite, que estreou este mês de Janeiro
na RTP2, vai haver novidades em relação à série anterior?
Há sempre! Nós próprios obrigamo-nos a inovar, no meu caso terei todas
as rubricas novas. Apenas mantenho o personagem que anda na rua a
perguntar às pessoas que andam a fazer, fora isso é tudo novo!
Quais as razões que o levaram a ser mandatário para a juventude de
Fernando Nobre, na candidatura à presidência da República?
É a primeira vez que dou a cara por uma campanha política precisamente
porque vejo jovens desacreditados na política, alienados de um dever
cívico tão importante como o voto. Jovens que perderam o orgulho no país
e desacreditaram que seremos capazes de vingar enquanto nação.
Voto porque precisamos de fazer mais e melhor, mas precisamos acima de
tudo mudar de rumo, mas principalmente de timoneiros.
Aceitei acima de tudo porque acho que o país precisa de novos agentes na
política. Os tempos que se aproximam são difíceis e está provado que
falhámos grande parte das metas a que nos propusemos nos últimos 36
anos.
Eu Amo Você é uma expressão que popularizou. Os portugueses reagem
sempre bem a declarações de amor?
Sim, desde que não sejam indivíduos do Porto sentados a pescar a meio da
tarde e que se levantam e me dão um calduço valente numa orelha. Fora
isso os portugueses reagem bem!
Quais são os humoristas que mais o inspiram?
Cresci a ver o Herman mas depois descobri o Robin Williams, o Denis
Leary, o Seinfeld e aí decidi que a minha vida seria dedicada à stand up
comedy.
Além disso temos em Portugal excelentes comediantes com quem tenho o
prazer de trabalhar.
Os portugueses são um povo melancólico que gosta de humor?
Somos um povo que sabe rir de si próprio e isso é essencial para quem
faz humor. Só assim é possível que tenhamos sucesso, é a primeira
condição.
As redes sociais são importantes para um humorista?
O humorista deve estar onde estão as pessoas e as redes sociais são a
melhor forma de divulgar o nosso trabalho. No meu caso tenho cerca de
700 mil pessoas por dia a ler os meus posts e isso dá-me uma satisfação
muito grande.
Lida sempre bem com a popularidade, ou existem algumas situações em
que preferia não ser conhecido?
Em Portugal só há dois famosos, o Ronaldo e o Figo. Tudo o resto são
pessoas que são reconhecidas. Quem se convencer do contrário está
enganado. Contudo irrita-me que falem de mim sem me conhecerem e façam
juízos de valor, ainda assim não deixo de dormir descansado por isso.
Eugénia Sousa
Direitos Reservados
LEOPOLDO GUIMARÃES FALA
DA QUALIFICAÇÃO E DO ENSINO EM PORTUGAL
Os caminhos da
mobilidade nacional
Leopoldo Guimarães é o presidente da
Comissão Consultiva da Futurália. Professor Catedrático e Reitor
Aposentado da Universidade Nova de Lisboa, explica ao Ensino Magazine
como vai ser a Futurália 2011. Revela ainda que os caminhos dos jovens
devem ser os da mobilidade nacional e internacional e nunca os da crise.
Nesta entrevista, Leopoldo Guimarães aborda ainda a questão da oferta
formativa em Portugal.
A Futurália 2011 está já a ser preparada. Que respostas este evento
procura dar aos jovens portugueses?
Na Futurália pretende-se essencialmente, mostrar aos jovens e também a
quem de alguma forma se preocupa verdadeiramente com eles, que existem
opções distintas, formas diferentes de orientar os seus percursos de
vida, ajudando-os a tomar as decisões que o seu imaginário, tendências e
visão do futuro neles projectam, fazendo isso munidos de conhecimento
correcto, completo e organizado.
O “Conhecimento”, assume sempre uma superior importância para que as
necessárias opções sejam tomadas na altura certa, sem imposições nem
informações polarizadas ou distorcida.
A Futurália 2011, fiel ao compromisso Educação/Formação, privilegia os
eventos ligados a este importante binário, aliando-os ao empreendorismo
e ao desenvolvimento de competências direccionados aos jovens, desde os
que frequentam o 9º ano de escolaridade, o 12ºano, licenciatura,
mestrado e doutoramento, até aos que se interessam por enriquecer o seu
percurso através de programas nacionais e internacionais de investigação
científica.
A frase A vida é tua - descobre o teu caminho volta a ser o lema da
Futurália. Com que caminhos se deparam hoje os jovens portugueses?
Certamente que não são os caminhos da crise em curso, nem a desilusão
por ela criada, nem os antídotos actualmente propostos. São sim os
caminhos da mobilidade nacional e internacional, da formação alargada e
contínua, da iniciativa individual ou em grupo, da assumpção do risco,
da não submissão ao insucesso, assumindo que ele faz parte de qualquer
processo.
Para este ano estão previstas algumas novidades, como o dedicar um
dos dias à família. Qual o objectivo dessa iniciativa?
O espaço de interacção e participação nas temáticas que envolvem o
binómio Educação/Formação, exige cada vez mais ser preenchido com os
seus protagonistas naturais, ou seja os jovens, os pais e os
professores, com responsabilidades partilhadas. A rápida mutação dos
parâmetros que em dado momento caracterizam a sociedade, obrigam a um
conhecimento e posterior aceitação dos métodos e conteúdos educacionais
que no seu ritmo próprio, procuram ponderadamente, livres de pressões
externas ao sistema, responder às exigências. A família, sendo parte
integrante do fenómeno educacional, encontra na Futurália uma
oportunidade rara para reflectir em conjunto com os seus jovens, na
presença dos professores e dos representantes das instituições ligadas
ao ensino e à investigação científica, propostas e perspectivas de
futuro.
Concorda com a ideia de que a qualificação dos portugueses é um dos
maiores desafios que se coloca ao país?
Sem dúvida. É talvez o maior dos maiores desafios. Mas falar em
qualificação sem falar educação, cultura, ética e cidadania, é favorecer
um percurso muito incompleto na formação do indivíduo. Somente
conjugando todos aqueles factores, se poderá caminhar para o humanismo
na competência, cultura na qualificação, bom senso na decisão, que no
conjunto, constituem grande parte do património estrutural da nação,
muitas vezes esquecido na hegemonia importante mas monocórdica, dos
factores económicos prevalecentes.
Na sua perspectiva, enquanto professor catedrático, as instituições
de ensino têm sabido responder aos desafios e às novas exigências do
mercado?
Permita que aborde a questão da seguinte forma: “As relações mercado de
trabalho, economia, indústria-universidade, têm-se desenvolvido
confrontadas com pontos de vista e perspectivas paradoxais. Esta
situação deriva particularmente de se pretender comparar realidades que
só parcialmente coexistem, não se aceitando como natural, que grande
parte dos objectivos e mesmo do enquadramento sociológico são diferentes
e que assim deverão permanecer. Cada um tem o seu papel a desempenhar,
num relacionamento próximo e consequente”.
“É do domínio público que a actual oferta de ensino superior mostra
ainda sinais preocupantes de grande dispersão e de alguma inconsistência
não obstante o esforço que tem sido desenvolvido para melhorar a
situação. As designações dos cursos são muitas vezes escolhidas por
critérios ligados à compreensível preocupação das instituições de
tornarem as suas ofertas curriculares atractivas, procurando dar
satisfação a uma procura que se tem mostrado particularmente
condescendente para com as imagens promocionais de determinadas áreas
temáticas”.
“A relação entre o nome e o conteúdo de alguns cursos apresenta-se
frequentemente desajustada: uma mesma denominação pode dar abrigo a
perfis de formação muito heterogéneos e designações diferentes podem
corresponder a perfis muito próximos. Daqui resulta uma certa opacidade,
quer para os candidatos ao ensino superior, quer para os próprios
empregadores”.
O sistema de acreditação levará o seu tempo a acertar esta configuração
tendo em consideração as consequências da introdução do “Processo de
Bolonha”, que merecem, neste aspecto, uma profunda reflexão.
E no que respeita ao Secundário?
O ensino secundário, por seu turno, foi durante muito tempo
essencialmente organizado na perspectiva do ingresso na universidade,
com prejuízo do ensino profissional que tardou muito a ser recuperado,
prejudicando assim uma importantíssima parte das respostas a dar ao
mundo empresarial e consequentemente às exigências do mercado de
trabalho.
Outro factor a ter em linha de conta, refere-se à necessidade de
articular as condições de acesso ao ensino superior, em face das novas
formações que irão surgir, com a formação dos jovens a nível do
secundário, nomeadamente com a duração da formação neste nível,
aproximando e harmonizando, dentro do possível, a situação nacional com
a situação a nível europeu, evitando ao mesmo tempo rupturas e
descontinuidades que certamente causarão enormes prejuízos aos
estudantes, podendo contribuir com elevado peso para o insucesso dos
estudantes no ensino superior.
Como presidente da Comissão Consultiva da Futurália, qual a mensagem
que deixa aos jovens portugueses?
Em primeiro lugar que não olhem o futuro apenas com a visão do passado
recente e mesmo do presente. Os parâmetros de vida mudam rapidamente. O
que era ontem uma oportunidade poderá hoje deixar de ser. O que poderia
parecer um caminho fechado poderá abrir-se num arco-íris de
possibilidades. Não esperem passivamente a chegada do emprego, da ajuda
remota, da amizade sem confiança. Vão ao encontro de tudo isso,
embrenhem-se na vida, abram-se à informação, com os olhos postos no
conhecimento, para atingirem a meta da sabedoria, que se assume como a
meta do bem estar convosco e com os outros.
|