Director Fundador: João Ruivo    Director: João Carrega    Publicação Mensal    Ano XIV    Nº155   Janeiro 2011

Cultura

GENTE & LIVROS

Lao Tzu

Sheng - Sagrado

«Não enchas a taça até transbordar. / É melhor que te detenhas antes.
Se afiares demasiado uma lâmina, ela não durará muito tempo.
Se armazenares ouro em tua casa, não conseguirás defendê-lo.
Se te vangloriares de riquezas e honrarias, atrais sobre ti o infortúnio.
Quando o trabalho está terminado, retira-te.
Esta a lei do céu.»

In Tao Te Ching
 


O filósofo Lao Tzu nasceu no século VI a.C numa região do Sul da China, situada no vale do rio Yang Tzé. Lao Tzu, literalmente Velho Mestre, foi responsável pelos arquivos históricos e conselheiro da corte imperial de Chou e autor de uma das obras mais emblemáticas do Taoísmo, o Tao Te Ching.

Segundo uma antiga lenda, após a queda do império Chou, Lao Tzu deixou a cidade e dirigiu-se para o desfiladeiro ocidental de Han-Ku (no Tibete), onde foi reconhecido pelo guarda fronteiriço. Este terá pedido ao mestre que escrevesse sobre o verdadeiro caminho e a sabedoria. Lao Tzu terá escrito durante toda a noite o Tao Te Ching, usando apenas cinco mil caracteres. Quando terminou, entregou o manuscrito ao guarda e partiu em direcção ao sol-poente.

O Tao Te Ching está dividido em duas partes: até ao poema 37 fala do Tao, (o caminho, a via); do poema 38 ao 81 fala do Te (sabedoria, virtude). A obra tem a sua génese no interior do denominado movimento das «Cem Escolas de Filosofia».

Lao Tzu foi contemporâneo de Confúcio, e de acordo com algumas crónicas, os dois filósofos chegaram a encontraram-se e a discutir as respectivas filosofias. Confúcio terá mesmo afirmado que Lao Tzu seria «um dragão no mundo dos homens, porque voava pelos céus, levado pelo vento e pelas nuvens».

Enquanto figura divinizada, Lao Tzu faz parte do panteão das entidades taoístas tutelares.

Tao Te Ching – O Livro do Caminho e da Sabedoria está editado em Portugal pela Editorial Presença.

Eugénia Sousa

 

 

 

LIVROS

Novidades literárias

D. Quixote. A Beleza e a Tristeza, de Yasunary Kawabata. Keiko, uma jovem misteriosa, discípula do artista Oki Toshio, quer levar a cabo uma vingança erótica contra o mestre. Determinada em vingar a humilhação sofrida por Ueno Otoko, a discípula reclusa de Toshio, Keiko irá usar a sua beleza como arma para concretizar o seu plano.
Yasunary Kawabata é Prémio Nobel da Literatura.
 

Cavalo de Ferro. Uma Biblioteca da Literatura Universal, de Hermann Hesse. Laureado com o Prémio Nobel da Literatura em 1946, o escritor alemão Hermann Hesse conduz-nos num périplo por algumas das grandes obras que marcaram a Literatura Universal. Para o escritor « Um elenco de livros cuja leitura seja absolutamente necessária e sem os quais não haja saúde nem cultura, não existe. Em vez disso, há para cada homem um notável número de livros nos quais precisamente ele, o indivíduo pode encontrar satisfação e prazer. (...).» É em busca desse livros que partimos nas páginas de Hesse.
 

Europa-América. Uma Ponta de Verdade, de Jeffrey Archer. Durante seis anos de viagens pelo mundo o autor reuniu várias histórias verídicas, inspirando-se em alguns dos seus escritores preferidos - F. Scott Fitzgerald, Maupassant e Somerset Maugham. Uma Ponta de Verdade é o celebrado regresso do mestre do suspense e dos finais surpreendentes.
 

Bertrand. Comer Animais, de Jonathan Safran Foer. De forma inteligente, directa, e bem-humorada o autor expõe ao leitor os verdadeiros custos ambientais, e não só, de se ser omnívoro e dando resposta a inúmeras questões ligadas à alimentação. Afinal é mesmo saudável comer animais? Até que ponto os animais são tratados como meros produtos industriais? É uma opção viável manter uma indústria agropecuária extremamente poluente? Comer Animais é uma leitura marcante que levou o escritor J.M Coetzee a afirmar: «Se alguém continuar a consumir os produtos da indústria depois de ler o livro de Foer, poderá dizer-se que não tem coração ou que é insensível à razão, ou ambos.»
 

Presença. Fama - Romance em Nove Histórias, de Daniel Kehlmann. Quantas histórias são precisas para fazer um romance? No caso de Fama são Nove. Histórias dentro de histórias para construir uma teia de ligações que retratam a sociedade contemporânea e as suas contradições. E a noção de identidade num mundo em que a tecnologia nem sempre simplifica a vida e as relações?
 

Piaget. Moisés Contado pelos Sábios, de Edmond Fleg. O autor recolheu os vários textos dispersos pelo Talmude para construir uma biografia de Moisés, o homem de Deus, apresentando ao leitor um profeta vivo e para o nosso tempo.
 

Porto Editora. Herança do Vazio, de Kiran Desai. Nesta obra vencedora do Man Booker Prize cruzam-se Jemubhai, um velho juiz amargurado a sonhar com reforma; a sua neta órfã Sai, o namorado nepalês de Sai, Gyan, envolvido numa revolta; e Biju, filho do cozinheiro de Jemubhai, que foge aos serviços Imigração. Em comum eles trazem uma herança de humilhação e desespero.
oficina do livro. Mandela - A Construção de um Homem, de António Mateus. Mandela é um belo encontro entre o leitor e aquele, que nas suas próprias palavras, se tornou o homem mais solitário do mundo. A sofrer um cativeiro de quase três décadas, Nelson Mandela nunca desistiu de um sonho de liberdade para a África do Sul, abriu caminho à esperança e ao entendimento entre os povos.
 

Ulisseia. Novelas Exemplares, de Miguel de Cervantes. Tal como Dom Quixote as novelas Exemplares de Cervantes são dos maiores clássicos da literatura europeia e por isso um verdadeiro acontecimento editorial. No intervalo entre a publicação das duas partes que constituem o Dom Quixote, o autor deu a editar, em Madrid, no ano de 1613, doze novelas «exemplares» que se encontram reunidas nesta obra para gosto e proveito de gerações de leitores.
 

 

 

PELA OBJECTIVA DE J. VASCO

Foz do Cobrão

Quem vai pela A23 a caminho de Castelo Branco, faça favor de fazer um pequeno desvio, sair para Vila Velha de Ródão, seguir pela estrada municipal 545 e ir até à Foz do Cobrão. O caminho é bom e vale a pena. A não perder!

 

 

 

Música

Mastiksoul - The Album. Dance music com carimbo nacional no novo trabalhado de Mastiksoul que recebeu o título “The Album”. Mastiksoul é actualmente um dos Dj´s produtores mais credenciados, em solo nacional e no estrangeiro, tendo obtido vários prémios na área da produção, nos últimos anos.

A sonoridade dos seus temas é facilmente identificável pela sua batida inspirada nas raízes da sonoridade Africana. A primeira aposta foi o tema “ When i fall in love” que tem os vocais de Angélico Vieira e colaboração de Dada, outro produtor bem credenciado.
O primeiro single surpreendeu pela textura musical. A sonoridade foge ao habitual cunho do produtor e entra no denominado estilo “Club”, uma das ramificações mais comercias da house music.

Mastiksoul conta com um interessante naipe de convidados especiais neste trabalho, Buraka Som Sistema, Diego Miranda, Akon, Dj Malvado e TC. Destaque para o single “When i fall in love” e os temas “Bang it all”, Summer disco pimps” e “Morning rise”.

Em breve vão surgir mais novidades de Mastiksoul, nesta altura ele encontra-se em estúdios a colaborar com o Bob Sinclair.

Trata-se de um álbum para escutar com o volume no máximo!

 

Aurea - Aurea. A jovem Aurea de apenas 23 anos é uma das mais agradáveis surpresas da produção nacional, dos últimos tempos.

O primeiro single foi “Okay alright” que praticamente passou despercebido do público em geral. Sorte bem diferente teve o segundo single “Busy (For me)” que em poucas semanas tomou se assalto as Play list´s das rádios. Aurea tem uma voz poderosa e contagiante que não fica atrás das grandes divas da Soul, é enorme o talento desta jovem cantora que poderá construir uma sólida carreira na música em Portugal e não só!

No final de 2010 Aurea foi convidada a gravar um dueto com “Elvis Presley” para ser incluído na versão Portuguesa do álbum de aniversário “Viva Elvis”. Na agenda de espectáculos destaque para a actuação, no 31 de Março, no Castelo de São Jorge, em Lisboa, naquela que vai ser a primeira grande apresentação do disco ao vivo.

Recentemente o álbum homónimo de estreia da cantora atingiu o galardão de ouro em Portugal, por ter vendido mais de dez mil unidades. O temas fortes do álbum são a super balada “Busy (For me)” e os temas” The main things about me”, “The only thing that i wanted” e a versão de “Be my baby”.

Aurea é uma estrela que promete brilhar e encantar!

 

James Blunt – Some Kind of Trouble. James Blunt regressou aos discos com “Some Kind of Trouble”, o seu terceiro álbum de estúdio. O cantor foi umas das grandes revelações do ano de 2007. O tema “You´re beautiful”, retirado do seu primeiro álbum “Back to bedlam”, colocou-o rapidamente como uma estrela à escala global. No currículo de James Blunt estão incluídos vários prémios, desde os Brit Awards até aos Mtv Music Awards, e vários milhões de cópias vendidas.

O primeiro avanço deste registo foi o single “Stay the night”, que foi muito bem recebido pela crítica e pelas rádios. Neste trabalho o cantor deixou a melancolia que apresentou no último álbum e apresentou uma dinâmica diferente nas canções.

A surpresa do álbum é a última faixa onde surge uma batida acelerada, com um ritmo que James Blunt nunca tinha utilizado.

Nota-se que houve um grande trabalho nos arranjos dos novos temas que são brindados pela voz inconfundível do cantor.

Destaque para o single “Stay the night” e os temas “Dangerous”, “Best laid plans” e “Superstar”.

James Blunt voltou à sonoridade do seu álbum de estreia, redescobrindo as suas canções com mais energia e positivismo!

Hugo Rafael

 

 

 

BOCAS DO GALINHEIRO

Desapareceu o pai da Pantera Cor-de-Rosa

Tenho para mim que o Inspector Jacques Clouseau, versão Peter Sellers, é uma das mais desconcertantes e brilhantes personagens do cinema. Daí que, ao saber da morte de Blake Edwards, o seu criador, não podemos deixar de o trazer a esta coluna. Inicialmente pensada para Peter Ustinov, esta personagem do filme “A Pantera Cor-de-Rosa” (1963) foi entregue a Peter Sellers e deu a Edwards a notoriedade que merecia, mas que ainda verdadeiramente não alcançara e que dá início a uma das primeiras sagas de comédia e seguramente uma das melhores da história do cinema. As refinadíssimas interpretações de Peter Sellers, e os magistrais disfarces que, principalmente a partir do segundo filme “Um Tiro às Escuras” (1964) passam a ser imagem de marca do desajeitado e ingénuo inspector, e a sua avassaladora atracção por objectos que se atravessam no seu caminho e lhe provocam todo o tipo de infortúnios de que sai sempre bem, qual personagem do burlesco em ambiente de desenho animado, deram corpo a uma personagem irrepetível, malgrado as tentativas feitas até hoje. Em suma, hilariante e imperdível e que Edwards vai aproveitar de forma magistral em “The Party” (A Festa) de 1968, fita em que Sellers é o indiano Hrundi V. Blashki, um homem que deseja ter sucesso social e, convidado para uma festa, inocentemente a destrói, numa sucessão de gags que se vão apoderando da narrativa, numa interessante película que critica o universo de Hollywood e que Blake trataria mais acidamente, na comédia negra “SOB” (Tudo boa gente), de 1980. À Pantera Cor-de-Rosa voltaria com “A Volta da Pantera Cor-de-Rosa” (1974), “A Pantera Cor-de-Rosa Volta a Atacar” (1976) e “ A Vingança da Pantera Cor-de-Rosa” (1978), todos com Peter Sellers. Um crítico dizia “uma das coisas que me espanta nesta feliz aliança de Blake Edwards com Peter Sellers é saber-se hoje que os dois homens cordialmente se foram detestando durante os seis filmes que fizeram juntos.” Em 1982, já depois da morte do actor aparece “Na Pista da Pantera Cor-de-Rosa”, um filme em que são aproveitadas cenas não editadas e alguns excertos de filmes anteriores que mereceram uma reacção judicial dos herdeiros de Sellers, que, diga-se, pela sua grandeza não merecia esta falhada “homenagem”.

Nascido William Blake Crump em Tulsa, a 26 de Julho de 1922, aos 4 anos passou a chamar-se Blake Edwards. Filho do realizador J. Gordon Edwards, do início do cinema mudo, entrou para a 7ª arte como actor com pequenos papéis em que por vezes o seu nome nem sequer figurava no genérico. “Ten Gentlemen from West Point”, de Henry Hathaway (1941) foi um dos filmes em que participou, vindo a ser actor principal em “Stranger of the Swamp”, de Frank Wisbor (1946). Com uma carreira de quase meio século, foi produtor e argumentista de sete filmes do realizador Richard Quine (quatro especialmente para Mickey Rooney). De começo modesto, cedo revelou ter talento para sequências cómicas, aliás, era admirador confesso da comédia burlesca americana. E é definitivamente na comédia que todo o seu talento vem ao de cima e que será a imagem de marca de uma carreira recheada de êxitos, alguns também nas incursões que fez noutros géneros.

“Bring Your Smile Along” (1954) e “He Laughed Last (1956) são as duas primeiras películas realizadas por Edwards, ambas interpretadas pelo cantor muito em voga naqueles anos Frankie Laine, especialista em baladas do Oeste. Mas é em 1961 com “Boneca de Luxo”, que Blake Edwards ganha renome internacional, uma adaptação do conto de Truman Capote “Breakfast at Tiffany’s”, uma pequena narrativa que transforma numa película altamente romântica, mas atravessada por algum cinismo e que consagra Audrey Hepburn no papel Holly Golighly uma jovem “call girl” sofisticada mas vulnerável e George Peppard, no de Paul, um jornalista vizinho de Holly que vive à custa de uma amante rica, figuras vivendo um certo submundo nova-iorquino, numa obra que para além de boas situações de comédia, não se coíbe de criticar a futilidade da socialite. Uma fita marcada ainda pelo excelente tema musical, de Henry Mancini, “Moon River”, compositor que durante muitos anos colabora com Edwards, canção que viria a ganhar um Oscar, o primeiro de quatro em filmes de Edwards, voltando a vencer com a canção “Days of Wine and Roses”, do filme “Escravos do Vício”, uma película que começa num tom de comédia, mas que retrata com intensidade e sensibilidade o desespero de um casal mergulhado no drama do alcoolismo, com Jack Jemmon (o seu actor preferido) e Lee Remick.

“Experiment in terror (1962) (Uma Voz na Escuridão), um bom “thriller” policial e de suspence, dirigida com mão segura e com uma inteligente utilização da câmara, com Glenn Ford e Lee Remick e “Wild Rovers”, uma incursão no western, com uma boa interpretação de William Holden, um cow boy veterano que se une a um jovem Ryan O’Neal para roubarem um banco, são alguns pontos de referência na carreira de Edwards, a que poderíamos juntar “The Great Race”, de 1965, uma película próxima de “Os gloriosos malucos das máquinas voadoras”, ou as que fez com a mulher, Julie Andrews, “Darling Lilith”, de 1970, ou “Victor/Vitoria”, de 1995, a última que dirigiu.

Morreu no dia 15 do passado mês de Dezembro aos 88 anos, num hospital de Santa Mónica, na Califórnia.

Luís Dinis da Rosa
com Joaquim Cabeças

 

 

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