GENTE & LIVROS
David Nicholls
«Os convidados
reuniam-se agora na tenda, amontoados de roda da disposição de lugares
como se fossem os resultados dos exames. Dexter e Emma encontraram-se na
multidão.
- Mesa cinco - disse Dexter.
- Eu estou na mesa vinte e quatro - disse Emma. - A mesa cinco é bem
perto da noiva. A vinte e quatro é lá fora, perto das casas de banho
portáteis.
- Não deves levar isso a peito.
- Qual é o prato principal?
- A fábrica de boatos diz que é salmão.
- Salmão. Salmão, salmão, salmão, salmão. Como tanto salmão em
casamentos, que duas vezes por ano sinto um impulso de nadar rio acima.
- Vem para a mesa cinco. Trocamos os nomes dos cartões.
- Sabotar a disposição de lugares? Aqui fuzila-se gente por menos que
isso. Têm uma guilhotina lá fora.
Dexter riu-se.
- Falamos depois, sim?
- Vem procurar-me.
- Ou podes vir tu procurar-me.
- Ou vens tu procurar-me.
- Ou procuras-me tu. (...)»
In Um Dia
David Nicholls nasceu em Hampshire, Inglaterra, em 1966. Estudou
Literatura Inglesa e Drama na Universidade de Bristol, onde entrou em
1985. Após terminar o curso começa a trabalhar como actor. Parte para os
Estados Unidos ao ganhar uma bolsa de estudo na Academia Americana de
Música e Drama e só regressa a Londres em 1991. Aceita vários trabalhos
em bares e restaurantes. Nos próximos oito anos vai representando
esporadicamente. Volta a estudar, desta vez Teatro, na Royal National
Theatre, durante três anos. Quando termina o curso é para se dedicar à
escrita de guiões para televisão. Escreve para o canal britânico BBC uma
versão moderna da peça de William Shakespeare, Much Ado About Nothing, e
Tess of the D`Ubervilles.
É duas vezes nomeado para os prémios BAFTA, pelos guiões de televisão e
cinema. Dos guiões televisivos destacam-se pelo seu sucesso a terceira
série de Cold Feet, Rescue Me e I Saw You.
A primeira incursão na escrita dos romances é bem sucedida. O primeiro
romance Starter For Ten foi selecionado para o Prémio Richard and Judy
Book Club, em 2004, e adaptado ao cinema em 2006. Em Portugal o filme
tem o título de Concurso Viciado.
O seu mais recente romance, Um Dia (2009), é um bestseller aclamado pela
imprensa internacional - em Portugal tem a chancela da Civilização
Editora. Um Dia encontra-se em fase de produção para o cinema, e o
próprio Nicholls escreveu o guião. A realização do filme está a cargo de
Lone Scherfig e os papéis principais pertencem à actriz Anne Hathaway (o
casamento de Rachel e Alice no País das Maravilhas) e o actor Jim
Sturgess (Duas irmãs, um Rei e Crossing Over).
O escritor vive no Norte de Londres, com a esposa Hannah e os dois
filhos, Max e Romy.
Um Dia. Emma e
Dexter conhecem-se a 15 de Julho de 1988, na noite em que terminam o
curso. A partir desse dia eles seguem destinos diferente. Mas durante 20
anos, e sempre a 15 de Julho, o leitor acompanha a vida deles. Emma tem
um percurso ascendente: começa por trabalhar num restaurante, mas acaba
por conseguir o que sempre quis escrever. Apesar de um ou outro
“romance” amoroso falhado, Emma avança. Dexter arranca profissionalmente
como apresentador de televisão num programa de sucesso. Mas, quando a
fama o abandona, arranja um emprego que não o realiza e enfia-se por um
casamento que não resulta. E Vinte anos depois, ainda haverá tempo para
Emma e Dexter ficarem juntos? 
Eugénia Sousa
LIVROS
Novidades literárias
D. QUIXOTE. Aristóteles e
Alexandre, de Annabel Lyon. Ano 342 a.C. O famoso filósofo Aristóteles
decide, por fim, ser tutor de Alexandre, o Grande, o futuro herdeiro do
trono da Macedónia. Perante uma corte cheia de perigosas intrigas, a
presença e sabedoria do filósofo tornam-se uma questão vital para o
jovem Alexandre. O romance é Prémio de Ficção Rogers Writers`Trust.
ACADEMIA DO LIVRO. A Arte de
Ensinar, de Alan Haigh. São vários os objectivos que o autor propõe aos
professores com este guia prático: Ensinar com Precisão; Estabelecer
limites e orientações claros; proporcionar um ambiente seguro e de
confiança; ensinar os alunos a pensarem; avaliar e ponderar o seu
ensino.
difel. A Chave Maldita, de James Rollins. Um geneticista morre num
laboratório biológico de alta segurança, na Universidade de Princeton.
Um arqueólogo do Vaticano é encontrado morto na Basílica de São Pedro.
Em África, o filho de um senador americano é morto num acampamento da
Cruz Vermelha. Cometidos em três continentes diferentes os homicidios
tem uma ligação: as três vítimas exibem a mesma marca na carne. Só o
comandanete Gray Pierce e a Força Sigma poderão trazer a luz sobre estes
crimes.
OBJECTIVA. Caderneta de Cromos,
de Nuno Markl, com ilutração de Patrícia Furtado. Os ouvintes
coleccionadores dos cromos de Nuno Markl podem agora ser também leitores
coleccionadores, a caderneta de cromos passou das ondas da Rádio
Comercial para as páginas de um livro imperdível. Se teve a sorte, ou
não, de crescer nos anos 70 e 80 então vai mesmo querer ler “Retalhos da
vida de um quarentão”.
EUROPA-AMÉRICA. O Coleccionador
de Chuva, de Julia Stuart. Balthazar Jones é guarda na Torre de Londres
e vive aí com a esposa Hebe e com a Sr. Cook, uma tartaruga centenária.
É neste cenário que vamos encontrar uma interessante galeria de
personagens com os seus conflitos, onde não falta o fantasma de Sir
Walter Raleigh.
ESFERA DOS LIVROS. Mulheres que
Amaram Demais, de Helena Sacadura Cabral. O que tem em comum Marie
Curie, Gabrielle Chanel, Marguerite Yourcenar, Gala Dalí, Jacqueline
Kennedy Onassis, Wallis Simpson, Marlene Dietrich, Golda Meïr, e Madre
Teresa de Calcutá? Todas elas foram mulheres que amaram demais, tenha
sido a ciência, a arte, o poder, os outros, e Deus.
OFICINA DO LIVRO. Contos de
Andersen, para crianças sem medo, de Alice Vieira, e ilustrações de
Carla Nazareth. Alice Vieira partiu de alguns contos do famoso escritor
dinamarquês Hans Christian Andersen e deu-lhes uma nova roupagem e um
novo encanto.
CAVALO DE FERRO. Os Peixes
também Sabem Cantar, de Halldór Laxness. O jovem Álfgrímur vive uma
infância tranquila ao lado da avó adoptiva. Os trabalhos na quinta, as
lições de latim, as sagas islandesas que a avó recita e as histórias que
os vizinhos contam ao serão preenchem as suas horas. Álfgrímur sonhava
ser pescador como o avô até os seus propósitos serem abalados pela
chegada de um cantor lírico que outrora foi famoso e agora esconde um
segredo. Halldór Laxness é Prémio Nobel da Literatura de 1955.

PELA OBJECTIVA DE J.
VASCO
Lord of the Dance em
Portugal

Voltaram a Portugal entre 13 e 24 de
Outubro. Primeiro em Lisboa e depois no Porto. Assinado por Michael
Flatley, trata-se de um espectáculo onde o bem e o mal se confrontam.
Toda a história parte do folclore irlandês, onde, na dança, o rigor dos
movimentos está associado a um elevado sincronismo que exprime toda a
força da cultura tradicional irlandesa. Foto de ensaio.

Música

Hurts - Happiness. Os Hurts são
uma das grandes revelações deste ano de 2010. Esta dupla de Manchester,
composta por Adam Anderson e Theo Hutchcraft, pisou pela primeira vez um
palco no passado Verão num conhecido festival Português. A edição do
álbum foi antecipada pelos singles “Wonderful life” e “Better than love”
que constituiram 2 grandes sucessos radiofónicos.
No íncio deste mês de Novembro foi conhecida a terceira aposta do
trabalho, a escolha recaiu sobre “Happiness” o tema que dá título ao
registo. Kylie Minogue é a convidada especial no tema “Devotion”, a
Australiana fez uma óptima parceria no tema. Os Huts apresentam uma
sonoridade pop rock com influências da década de oitenta à mistura com
incursões na música electrónica, e em alguns temas com uma melancolia
muito própria.
As músicas foram muito bem construídas, percebe-se que houve muitos
cuidados na produção do disco, e a frequente utilização de refrões
possantes que ficam no ouvido. O potencial deste projecto é enorme, esta
dupla poderá juntar-se à galeria dos maiores nomes do rock da
actualidade. Destaque para os singles : “Better than love”, “Wonderful
life” , “Stay” e o tema “Devotion”.

Bandon Flowers - Flamingo. A voz
dos The Killers aproveitou a pausa da carreira da sua banda para lançar
um disco em nome próprio. Bandon Flowers estreou-se a solo com
“Flamingo”, o novo trabalho que teve como cartão de visita o single “Crossfire”.
Este novo registo conta com diversas participações de peso, como Jenny
Lewis dos Kiley, Stuart Price, Daniel Lanois e Bredan O´Brien. O video
do primeiro single tem outra convidada bem especial, trata-se da
conhecida actriz Charlize Theron.
A primeira amostra do trabalho, o tema “Crossfire” foi muito bem
recebido pela critíca e pelas rádios, recentemente foi extraído o
segundo single que é o tema “Only the young”. O ponto fraco deste álbum
é a colagem ao som da sua banda, em algumas faixas parece que estamos a
ouvir os Killers! Mas para compensar esse facto, encontramos ao longo do
disco outros temas com bons rasgos de genialiade, um rock soft capaz de
embalar numa noite de Outono como é o caso do primeiro single. Os temas
fortes deste trabalho são os singles ,“Crossfire” ,“Only the young”,”Hard
enough” e “Was it something i said”. Esperemos que o voo deste
“Flamingo” não seja o fim dos The Killers!

30 Seconds to Mars – This Is War.
Este álbum é sem sombra de dúvidas um dos melhores álbuns rock dos
últimos tempos! “This is war” é o terceiro álbum da banda de Los Angeles
liderada por Jared Leto. Deste registo já foram retirados vários singles
como é o caso de “This is war”, “Kings and Queens” e “Closer to the Edge”.
A sonoridade das novas canções é na linha condutora do anterior registo,
mas com mais profundidade nas letras e acordes que deram origem a um
resultado final deslumbrante! O trabalho merece nota máxima a nivel
criativo, as letras são de intervenção em algumas áreas importantes da
actualidade, com refrões fascinantes à mistura com uma base instrumental
muito poderosa. É já no próximo mês de Dezembro que a banda regressa a
Portugal, no dia 16 este trio vai subir de novo ao palco do Pavilhão
Atlântico em Lisboa. Mas as boas notícias não ficam por aqui, no dia 2
do corrente mês chegou às lojas um reedição do álbum como muitas
surpresas, a versão deluxe acompanhada de novos temas e um dvd como
videos e algumas gravações ao vivo. Não é necessário destacar os
melhores temas, porque vale a pena ouvir da primeira a ultima faixa!

Hugo Rafael
BOCAS DO GALINHEIRO
"Um acontecimento no
cinema Português"

A “Cultura Vibra” brindou-nos nas
últimas semanas com dois momentos altos de cinema. Dois momentos que, a
avaliar pelo notável número de assistentes, espero, tenha reconciliado a
cidade com a sétima arte, passe o chavão. Quando há oferta, e se insiste
nela, os frutos, mais tarde ou mais cedo aparecem. E foi o que se viu.
Ainda bem.
Primeiro com “Os Mistérios de Lisboa”, uma soberba adaptação de um
folhetim de Camilo Castelo Branco publicado entre 1853 e 1855, pelo
chileno Raúl Ruiz, que nesta sua incursão no cinema português o faz com
uma clarividência e uma sensatez invejáveis. O argumento de Carlos
Saboga, absorve a grande capacidade de Camilo para efabular narrativas,
de compreender e observar a sociedade, partindo daí para narrativas ora
românticas, ora sarcásticas, sobretudo imaginativas, normalmente sem
poupar o pedantismo da aristocracia decadente, nem o novo-riquismo da
burguesia. E, tudo isto perpassa neste filme imenso, na valia e na
duração. São mais de quatro horas que se passam sem dar por elas, numa
história cheia de histórias. A de um menino sem nome num colégio
católico, que à medida que cresce, crescem também os mistérios da sua
vida e a daqueles que o rodeiam, numa sequência absorvente de crimes,
vinganças, viagens e morte. Uma das grandes e belas homenagens do cinema
a Camilo Castelo Branco. Para quem não foi ao Cine-Teatro Avenida e não
consiga ver o filme, a RTP vai exibir uma versão em formato de série.
Não é a mesma coisa, mas decerto valerá a pena.
Outro momento alto foi a exibição da cópia restaurada pela Cinemateca
Portuguesa de “Maria do Mar”, filme mudo, de 1930, com realização de
Leitão de Barros, acompanhado ao vivo por Bernardo Sassetti, autor da
música, ao piano e pela Orquestra Filarmonia das Beiras, sob a direcção
do maestro Vasco Pearce de Azevedo, uma viagem aos primeiros tempos do
cinema, em que os filmes eram exibidos sempre com acompanhamento musical
e durante bastante tempo por narradores.
Sobre Maria do Mar não resisto a respigar dos textos de dois homens a
quem o cinema português tanto deve. Félix Ribeiro, primeiro director da
Cinemateca Portuguesa, e João Bénard da Costa, que a dirigiu até à sua
morte, há bem pouco tempo. Escreveu Félix Ribeiro na sua obra “Filmes,
Figuras e Factos da História do Cinema Português, 1896-1949”: “um
importante acontecimento vai registar agora o cinema português – a
apresentação de ‘Maria do Mar’, e quanto a nós, uma obra de excepção,
que ficaria sendo, a par de ‘Os Lobos’, um dos filmes capitais da
história do cinema mudo português, marcos impagáveis na senda modesta,
mas efectiva e teimosa, da nossa cinematografia. Leitão de Barros, que
em ‘Nazaré, Praia de Pescadores’ abordara inteligentemente e com grande
sentido do significado e do poder da imagem cinematográfica, o
documentário, e que em ‘Lisboa’ nos oferecia o quadro impressivo e
palpitante da existência duma grande capital, apresenta-nos com ‘Maria
do Mar’ a sua primeira obra de grande fôlego e autêntico prestígio”. Por
seu lado Bénard da Costa refere que “foi a partir das obsessivas imagens
de ‘Nazaré’ - certamente - das mais obsessivas de todo o cinema
português - que Leitão de Barros, crescentemente influenciado pelo
cinema soviético (e obras de Pudovkine ou Eisenstein de menor conteúdo
propagandístico) e que conhecera melhor numa viagem ao estrangeiro em
1929, empreendeu o ‘documentário romanceado’ ‘Maria do Mar, estreado em
1930 e que foi unanimemente considerado o maior acontecimento havido até
então no cinema português”.
O filme saiu dos estúdios da Lusitânia Filmes, fundada em 1918 por “uma
meia dúzia de rapazes, alguns acabados de sair do liceu”, onde Leitão de
Barros era preponderante e realizou os seus primeiros filmes, a maior
parte deles de reconstituição histórica, desde logo “Malmequer”, como
também haveriam de ser muitos dos seus filmes já no sonoro, “A Severa”,
“Bocage” ou Inês de Castro”. Um filme que, na senda do documentário
sobre a Nazaré, retrata o dia-a-dia dos pescadores e da dureza da vida
do mar. Envolto em tragédia, o naufrágio e morte dos pescadores, o drama
passional, os amores proibidos de Maria do Mar e Manuel. Um filme que
foi uma lufada de ar fresco na cinematografia lusitana, com um toque de
modernidade e de audácia, claramente revelado nas cenas envolvendo os
dois amantes quando ele a salva do mar, o vestido molhado colado ao
corpo e o plano fugaz do seio desnudo. Estávamos no Portugal de 1930.
Foi obra. Apesar de alguns pontos fracos, desde logo a capacidade
interpretativa dos actores, muito desigual, passados estes anos todos
não envelheceu, o que num filme é o que se lhe exige.
Até à próxima e bons filmes.

Luís Dinis da Rosa
Educação às tiras

Cartoon: Bruno Janeca
Argumento: Dinis Gardete
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