Director Fundador: João Ruivo    Director: João Carrega    Publicação Mensal    Ano XIII    Nº145    Março 2010

Entrevista

PRÉMIO DE MÉRITO ENSINO MAGAZINE

Aluno de Leiria estuda na China

João Teixeira foi um dos estudantes que, no último ano lectivo, receberam um dos prémios de mérito do Ensino Magazine, no valor de 500 euros. A frequentar o curso de Tradução e Interpretação de Portruguês-Chinês e Chinês-Português, João Teixeira foi um dos melhores alunos do IPL no último ano lectivo, estando neste momento a estudar na China. Em entrevista ao Ensino Magazine explica as mais valias de ter ido até ao Oriente e a satisfação por ter ganho o prémio do nosso jornal.
 

É um dos melhores alunos de um curso inovador em Portugal. O que é que o levou a escolher essa formação?

Para ser sincero, a princípio a oportunidade de viajar e viver no extremo oriente e o facto de poder experienciar toda essa cultura tão distante e tão diferente, começando por Macau (no 2º ano do curso) e depois Beijing (no 3º ano, que frequento agora), eram os factores mais aliciantes. Porém, não o faria por essas razões, qualquer que fosse o curso. Neste caso, aliando todo esse sonho de aventura à possibilidade de aprender uma língua cuja importância no mundo tem vindo a aumentar exponencialmente e que me poderá “abrir portas” no futuro - futuro este que se tem mostrado muito difícil para os recém-licenciados - a decisão de ingressar neste curso foi fácil e rápida.
 

O facto de estudar na China, que mais valias lhe está proporcionar?

As mais valias de estudar na China são tremendas. Eu sou da opinião que para estudar uma língua estrangeira é muito importante fazê-lo num país em que essa seja a língua oficial. Só com a prática diária se pode verdadeiramente aprender uma língua e, se no caso da língua inglesa isso não é assim tão relevante (pelo fácil acesso a materiais de estudo que permitem a prática diária, como livros, revistas, jornais, música, filmes, etc., e a pessoas com quem praticar: amigos, colegas, turistas, etc.), no caso da língua chinesa é-o de facto. Acredito mesmo que, para se ser fluente em chinês (mandarim), estudar e viver na China durante alguns anos é fundamental.
 

Na sua perspectiva que diferenças encontra entre o ensino na China e em Portugal?

As diferenças entre o ensino na China e em Portugal são muito grandes. Não esquecer que apenas me refiro ao nível universitário, aquele que estou a frequentar.

O ensino na China é mais exigente (por exemplo, para ser aprovado a uma disciplina são necessários 12 valores, não apenas 10 como em Portugal); é mais metódico, o que no caso particular do ensino de chinês a estrangeiros, devido a anos de desenvolvimento, está muito bem definido e produz excelentes resultados; provê um apoio real dos professores aos alunos, com vista ao sucesso escolar dos mesmos, o que, infelizmente, muitas vezes não sucede em Portugal. No entanto, tem um lado menos bom, sendo este que o ensino na China esta vocacionado para a memorização das matérias, para a mecanização do raciocínio, e menos para o pensamento intuitivo, aventureiro, descobridor… se bem que no caso específico da aprendizagem do mandarim a fórmula não seja de todo má, antes pelo contrário.
 

Depois de concluir a licenciatura, qual é o passo seguinte? Mercado de Trabalho? Mais formação?

Essa questão há muito que é tema de conversa entre os que aqui estão a estudar chinês, mas ainda não existe uma resposta concreta.

Posso dizer que, pela minha experiência até ao momento, para se ser tradutor de português-chinês, ou melhor, para se saber suficiente de chinês para se poder ser tradutor de chinês, mais formação não é opcional, é fundamental. A língua chinesa exige bastantes anos de estudo e, por melhor que um curso seja, quatro anos muito dificilmente são suficientes.

No meu caso, posso acrescentar que mais formação será o mais provável, mas quando, como e onde, não sei. Há várias possibilidades, algumas interessantes, como o mestrado que o IPL estará para abrir, se bem que é cedo para uma decisão, pois ainda tenho o quarto e último ano, que decorrerá em Leiria, para reflectir sobre o assunto.
 

Como é que a sua família reagiu ao facto de ir estudar para a China?

Bastante bem, melhor do pensava. É bom não esquecer que quando entrei para o curso não tinha acabado de sair do ensino secundário, ou acabado de fazer 18 anos. Quando ingressei já tinha 24 anos e alguma maturidade e experiência na mochila. Este curso não é apenas inovador tanto em Portugal como no resto da Europa; é também visionário, atento a um mundo cada vez mais próximo, no qual a China acabará por tomar o lugar de maior superpotência e onde o domínio do mandarim será uma clara mais valia. Se a isto juntarmos a dificuldade em arranjar emprego nos dias que correm, a escolha de frequentar o curso parece muito acertada. Com tudo isto, a reacção da minha família e dos meus amigos foi a que esperava, apoio total e incondicional.
 

O que é que significa para si ser distinguido com o Prémio de Mérito do Jornal Ensino Magazine?

Orgulho. Receber este prémio foi o culminar de um grande ano académico. Tudo correu bem. A mudança do Porto para Leiria foi menos custosa do que imaginava, tendo-me adaptado rapidamente. O interesse pelo mandarim surgiu do nada mas nunca mais parou de crescer. Fiz alguns bons amigos. Tudo correu muito bem. Gostaria só de lembrar uma pessoa muito especial e agradecer-lhe, porque sem ela jamais teria tido o sucesso que tive e, consequentemente, não teria sido distinguido com este prémio. Obrigado Tián Yuán.

 

 

FERNANDO PÓVOAS, EM ENTREVISTA

Médico de Corpo e Alma

O mais recente livro de Fernando Póvoas tem a palavra sucesso impressa na capa, e promete saúde e beleza aos portugueses. Em entrevista ao Ensino Magazine, o médico fala do livro Emagrecer com Sucesso, resultado de uma experiência de mais de 20 anos na área de nutrição, de dúvidas e erros alimentares, e da importância maior de ouvir e compreender a história de cada homem e cada mulher que procuram a sua ajuda nas consultas.

Vice-presidente do Futebol Clube do Porto, não esquece os anos como médico do clube e como as preocupações alimentares dos jogadores foram motivação para a sua carreira. As preocupações do homem e do médico não se esgotam com as pessoas, e o curso de ginecologia-obstetrícia que trocou por medicina desportiva e pelo Futebol Clube do Porto é agora aplicado com os muitos animais que tem, e que gosta de ver nascer.
 

Emagrecer com Sucesso, chancela da (Esfera dos Livros) é o seu mais recente livro. Qual é o factor determinante para emagrecer com sucesso?

Emagrecer com Sucesso relata a experiência de 20 anos nesta área e é a capacidade de cultivar as pessoas para uma dieta. A prescrição de uma dieta pouco rígida, fácil de fazer nos dias de hoje, dias stressantes e com pouco tempo, e o conseguir também cultivar as pessoas para um certo estilo de vida. O sucesso de tudo isto depende da capacidade do médico saber ouvir. Muito mais importante que um bom medicamento é saber ouvir, ter tempo para perceber quais foram as causas que levaram aquela mulher, ou aquele homem, a aumentar uns quilos. Não será concerteza a base de qualquer consulta, mas é a base do sucesso de uma consulta de obesidade.
 

Quais são os principais erros alimentares cometidos pelos portugueses?

Os principais erros alimentares dos portugueses passam por não respeitar os horários das refeições, saltar as horas das refeições, muitas vezes saltam e dizem “comi muito pouco ao almoço”, ou “até nem almocei” e depois no jantar comem quase a comida de um dia numa refeição, e sempre na pior refeição, o jantar. Esquecerem-se da necessidade que há em fazer pequenas refeições intercalares, comem poucos legumes, exageram na carne, bebem pouca água, exageram no álcool, e fundamentalmente também são demasiadamente sedentários, mexem-se muito pouco. Arranjam mil e uma desculpas para não fazer exercício, e sempre, ou quase sempre, porque tem falta de tempo.
 

O ritmo das sociedades modernas permite ter uma alimentação equilibrada?

As sociedades modernas são terríveis. A velocidade com que se vive, e as exigências hoje do dia-a-dia dificultam uma alimentação equilibrada e variada. A mulher que antigamente era dona de casa, mãe, amante, professora, acompanhava os filhos nos trabalhos de casa, hoje já não existe, praticamente está extinta. A mulher tem de ser tudo isto, mas também tem de trabalhar, então sobra-lhes muito pouco tempo para pensar no quadro alimentar para a semana. Chega tarde a casa, já tem os filhos e o marido sentados no sofá em frente à televisão, a pedir que querem comer. Então o que é que elas fazem? o mais fácil e mais rápido é fazer fritos - os fritos são muito mais calóricos, mais ricos em gordura. Ou então para ser mais prático, e para todos ficarem felizes, manda vir uma pizza, ou comida pré-fabricada de fora. Tem todos os “convenientes”, nem suja tantos pratos e é uma alegria para casa. Estes são erros que os portugueses fundamentalmente vão cometendo, e a curto prazo vamos ter crianças mais gordas, adultos mais obesos.
 

A grande motivação para uma dieta passa mais pelo factor estético, ou porque existe uma preocupação com a saúde?

Ambos são verdadeiros. Os homens vem mais à consulta porque já estão diabéticos, são hipertensos, ou porque o vizinho de cima morreu de enfarte de miocárdio. As mulheres porque a sociedade faz algum desgaste emocional, a ditadura da beleza. Hoje as mulheres têm de ser esbeltas, altas, bonitas e bem-vestidas, e quem não estiver dentro desses padrões, está fora do álbum. O que é extremamente injusto e ridículo. Aos homens ainda toleram a barriguinha, às mulheres já não toleram. As mulheres vão muito por problemas estéticos, porque a sociedade assim obriga, e porque as amigas estão sempre a lembrar “Estás mais gordinha”, - mas se estiver mais magra também dizem «toma cuidado, estás magra de mais».

O problema da obesidade, para além do problema estético, que não deixa de ser, é um problema de saúde. A obesidade arrasta muitas doenças, problemas de tensão, diabetes, Acidentes Vasculares Cerebrais, que são hoje uma das causas principais de morte e de invalidez.
 

Quais são as grandes dúvidas que os seus pacientes levam para as consultas?

Há muitos mitos e muitas coisas consideradas verdadeiras que são falsas e falsas que são verdadeiras. Uma delas é se devem beber muita água, qual a quantidade de peixe que devem comer, se devem tirar a batata, a massa, e o arroz, da alimentação o que é completamente errado, porque também fazem falta. Há alimentações extremamente restritivas e punitivas que depois não conseguem manter durante muito tempo. Quantas peças de fruta é que podem comer por dia, quais as frutas que devem comer por dia, se o café engorda ou não engorda, se o chá verde é bom para emagrecer. Há um certo número de perguntas que me fazem todos os dias e que o livro transmite. Por isso dividi o livro em três partes importantes. Uma é a desmistificação dos mitos que existem na obesidade, dos lights, dos diets etc; outra parte do livro, que me deu algum gozo fazer, foi a das histórias verídicas. Tenho lá 20 ou 30 histórias reais, apenas com nomes fictícios. São histórias que se repetem quase diariamente, em que muitas pessoas vão ler e dizer “eu sou a Bárbara”, “eu sou o Vasco”, “eu sou a Maria”. A história está escrita numa página só, e depois tem a vantagem de no fim da história dizer quais são as causas porque esta Bárbara, esta Maria, teve aumento de peso. Depois tem outro item que diz quais são as funções para combater este aumento de peso. São dicas para ajudar a que essas funções sejam mais fáceis e tenha prémio incorporado. O emagrecimento se não tiver prémio ao fim de uma semana, ao fim de 15 dias, as pessoas desistem com facilidade se não houver resultados imediatos, porque já estão a fazer uma “dieta injusta”.
 

Foi Médico e é vice-presidente do Futebol Clube do Porto. Que memórias guarda como médico do clube?

Fui médico do Futebol Clube do Porto durante 21 anos. Como médico ligado ao futebol sénior e ao futebol júnior grandes jogadores passaram por mim, e foi aí que comecei a ter uma das principais motivações relacionadas com a alimentação dos atletas. Para as boas performances dos atletas não chega só um bom índice físico, também é preciso uma boa alimentação, para antes dos jogos, para depois dos jogos, durante os Prémios. Aprendi alguma coisa sobre alimentação; Fui tirar o curso. Recordo muitas vitórias, estágios divertidos com os jogadores, que são sempre gente jovem com um grande espírito de brincadeira. Fiz bons amigos até hoje, e alguns de antigamente são meus sócios, é o caso de Vítor Baía. Somos sócios em várias lojas, temos coisas em comum, e vi-o crescer. O Vítor Baia e o Domingos chegaram ao Futebol Clube do Porto tinham eles 13 anos e somos amigos até aos dias de hoje. Passamos fins de semana juntos, passamos férias juntos, e já lá vão mais de 20 anos. Um Futebol de aprendizados. Tenho amigos em todos os clubes, e tenho muito gosto em dizer «tenho amigos em todos os clubes», é com muita estima.
 

Como começa a história do amor pelos animais?

Sempre em minha casa se gostou muito de animais, sempre tivemos animais. Eu gosto muito de ver nascer. Uma das minhas frustrações foi exactamente estar a tirar a especialidade ginecologia-obstetrícia e deixar a meio por causa de medicina;
desportiva, do Futebol Clube do Porto. Deixei de fazer partos que era das coisas que mais gostava. Hoje tenho a possibilidade de ajudar os animais que posso. Vê-los nascer, criá-los, dar-lhe uma boa alimentação. Tenho uma cerva grávida, tenho muitos cangurus bebés, muitos mais a criarem, e fico feliz de eles nascerem e ver aquele carinho que os pais têm pelos filhos. Podia-me dar para pior, mas é um hobby extremamente gratificante e nunca mais acaba. Tenho os animais que tenho, mas não tenho a colecção completa. Tenho cerca de seiscentos animais mas faltam-me muitos. Arranjo energia para a semana quando estou com eles, e o carinho que me dedicam, e a memória que eles têm, são de modo geral muito gratificantes.
 

Houve algum caso clínico que o tenha marcado em particular?

Na minha vida profissional há muitos caso que me marcaram. Em cada doente há um amigo, e todos aqueles a quem melhorei a sua auto-estima, a sua saúde, são pessoas importantes. Mas há sempre um que não esquece, por exemplo a minha primeira doente, que foi grande motivação para entrar no mundo dos gordos. Era médico no Centro de Saúde de São Pedro da Cova e ela era uma doente muito deprimida, jovem, nunca tinha arranjado namorado, tinha 114 quilos, não gostava dela, e de ninguém, isolava-se, veio pedir ajuda. Naquela altura o que fazíamos era passar um C1, mandar para o hospital, e esperar uma cirurgia 2 ou 3 anos. Como era muito tempo de espera resolvi receitar-lhe uma dieta, um plano alimentar e uma medicação para ajudar. Depois foi muito gratificante, para além de vê-la passar dos 114 quilos para os 70 quilos, a evolução que ela foi tendo. Começou a gostar mais dela, a ajeitar-se, a ir ao cabeleireiro, a vestir-se com mais gosto, a usar roupas mais justas, a usar mais mini-saia, e finalmente arranjar um namorado. Hoje é minha paciente, já é mãe de 2 filhos e é uma mulher feliz, completamente diferente daquela mulher que eu conheci há 15 anos. Estava mal com ela, estava mal com a anatomia dela e hoje é uma mulher feliz e com outra imagem.
 

Um conselho de nutrição...

Ensinem os vossos filhos a gostarem de legumes.

Eugénia Sousa
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