MIGUEL STANLEY, DENTISTA
E ESCRITOR
Faltam hábitos de
higiene oral

Miguel Stanley, provavelmente o dentista
mais conhecido dos portugueses, estreou-se na escrita com o livro Saúde,
no Caminho para a Felicidade. A promover o conceito White Life Design
diz que os portugueses ainda têm os piores índices de higiene oral da
União Europeia, mas defende que o país deu passos significativos na
medicina dentária.
O seu trabalho não fica por aqui, e pelo mundo tem divulgado uma técnica
cirúrgica pioneira que desenvolveu com a sua equipa. Homem de causas,
autor de muitos sorrisos anónimos, e também de alguns sorrisos famosos,
afirma que ajudar os outros tem sido a grande motivação para o que
conseguiu fazer até hoje.
A ideia de escrever Saúde, no
Caminho para a Felicidade surgiu como?
Porque gosto de ajudar as pessoas. Como médico dentista, vivo estas
histórias todos os dias e posso afirmar que há um padrão directo entre a
falta de saúde e a tristeza. Pretendo mostrar que as pessoas podem mudar
a sua vida para melhor através da saúde. Toda a gente sabe isto, mas
muitas vezes se esquecem disso.
Os leitores vão identificar-se com
os Oliveira, a família que dá vida ao livro?
O livro retrata casos reais, embora as personagens sejam fictícias.
Depois de 12 anos a tratar de pessoas, aprendi muito sobre as pessoas.
Enquanto médico dentista aprendi muito sobre o que realmente se passa
com a nossa população e as doenças que mais nos afectam. Julgo que todos
os portugueses se vão identificar com o meu livro, pois todos procuramos
uma vida saudável.
Como avalia a Medicina Dentária que
se pratica hoje em Portugal?
Portugal tem os piores índices de higiene oral da União Europeia e ainda
relega a saúde oral para 2º plano. Os pais ainda acham que dentes de
leite não se tratam e que não vale a pena gastar dinheiro para os
tratar, quando a cárie é considerada pela Organização Mundial de Saúde a
doença mais prevalente no Mundo.
É importante levar as crianças pequenas ao consultório do dentista para
se ambientarem e desmistificar o negativismo inerente aos dentistas. As
pessoas ignoram os sinais de alerta (porque muitas vezes não têm dor) e
não há muita informação para lidar com estes sinais, deixando arrastar
problemas de cáries, por exemplo.
Por isso criei uma linha de apoio gratuita no Portal SAPO -
www.linhadentaria.blogs.sapo.pt - para ajudar a responder a dúvidas. Tem
tido um enorme sucesso.
Desenvolveu o conceito White Life
Design. Em que consiste esse conceito?
Aquilo que hoje vemos é um conceito que se foi desenvolvendo de uma
forma orgânica. Viajo muito e privo com muitos médicos de outras
comunidades, com outros estilos de vida. Fui-me apercebendo das
principais necessidades das pessoas e dos seus principais problemas de
saúde.
Depois de muita investigação, percebi que a beleza, a beleza interior,
felicidade e saúde são complementares e partes de um todo. O conceito
Life Design serve para ajudar os portugueses a sentirem-se bem com a sua
saúde. A WHITE baseia-se na filosofia Anti-Ageing, que procura prolongar
a qualidade da vida de cada pessoa.
Para tal, temos serviços personalizados e criamos tratamentos
individuais, que vão desde a estrutura molecular de cada pessoa, até ao
seu exterior rosto e corpo. Para isto temos mais de 7 especialidades
médicas, como a cirurgia plástica, nutrição, medicina dentária,
dermatologia, entre outros.
O Programa da TVI Dr. Preciso de
Ajuda tornou-o conhecido do grande público.
Quais foram os prós e os contras desta experiência televisiva?
O programa “Dr. Preciso de Ajuda” contribuiu para dar mais visibilidade
ao meu trabalho, mas acima de tudo foi um bom meio para chamar a atenção
da importância da estética e da saúde oral e desmistificar os receios em
relação aos dentistas e cirurgiões plásticos.
Este programa teve uma vertente educacional e de sensibilização, que são
fundamentais quando procuramos mudar hábitos e atitudes em relação a
estas áreas em Portugal. Mais de metade dos portugueses apenas vai ao
dentista quando já tem problemas avançados de dentição e poucos são os
que apostam na prevenção e numa higiene oral correcta. A meu ver, esta
experiência apenas trouxe benefícios.
Tem um projecto de tratamento
dentário gratuito a crianças e a lares desfavorecidos. Como funciona
esse Programa?
Há mais de uma década que eu ando a apostar na educação dentária. Em
2003 criei um programa de educação dentária gratuita para as escolas que
foi muito difícil implementar. Penso que o Estado não é solução, mas sim
os médicos dentistas que, todos juntos, podem dar mais informação à
população. Recentemente fui convidado para dar a cara pelo projecto Dr.
Risadas, da Entreajuda, um dos programas do Banco Alimentar contra a
Fome. Espero com isto mostrar que as crianças merecem a nossa
generosidade, pois são o futuro. Não nos custa nada, e dá tanto a quem
recebe.
Realiza com a sua equipa uma técnica
pioneira de colocação de implantes dentários em casos de degeneração
óssea. Tem trabalhado muito nessa técnica e na sua divulgação?
Esta técnica cirúrgica, pioneira a nível nacional e internacional, vem
garantir aos médicos dentistas uma elevada taxa de sucesso e
previsibilidade de resultados, permitindo regenerar o osso e a gengiva
em zona estética com apenas uma intervenção. Isto é um grande conforto
para o paciente e para o médico.
Tenho vindo a apresentar esta nova técnica cirúrgica nos mais variados
países, em; todo o mundo, como Itália, Lituânia, Bogotá, Colômbia e no
Irão. Fui também o primeiro dentista português, e um de apenas 12
Europeus a ser convidado a colaborar no mais prestigiado site de
educação dentária do Mundo, o Portal DentalXP - www.dentalxp.com.
A sua entrada em Medicina Dentária
aconteceu por um feliz acaso?
Sempre quis ser médico porque adoro ajudar as pessoas. A Medicina
Dentária foi um acidente de percurso pelo qual estou muito feliz e
orgulhoso. Contribuir para o aumento da auto-estima, bem-estar e
confiança pessoal é uma boa motivação profissional.
Além disso, a medicina é uma área dinâmica e exigente. Temos de estar
sempre atentos e informados em relação às mais recentes inovações,
tecnologias, estudos e pesquisas mundiais. Por isso, sinto que estou em
constante aprendizagem para enfrentar os desafios da medicina do futuro.
Acredito na inovação para melhorar a qualidade de vida das pessoas.
Já passou pelo mundo da moda,
prefere ser reconhecido como “dentista modelo” ou como um “modelo de
dentista”?
Trabalhei muito para alcançar os meus objectivos e como tal, passei por
diferentes actividades para poder pagar o meu curso superior e outras
formações que são necessárias na área da medicina dentária.
Qual tem sido a grande inspiração
para o seu trabalho?
As pessoas.
Como imagina o futuro da Medicina
Dentária?
Portugal deu um salto quantitativo e qualitativo no que respeita à
medicina dentária. No entanto, continua a existir uma lacuna entre o que
os dentistas podem fazer e o que as pessoas acreditam ser possível. Não
obstante, vejo com bons olhos o trabalho da ministra de saúde, que tem
como árdua tarefa proporcionar um serviço de qualidade a 10 milhões de
portugueses, alguns com poucos recursos.

Eugénia Sousa
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