Director Fundador: João Ruivo    Director: João Carrega    Publicação Mensal    Ano XIII    Nº147    Maio 2010

Entrevista

MIGUEL STANLEY, DENTISTA E ESCRITOR

Faltam hábitos de higiene oral

Miguel Stanley, provavelmente o dentista mais conhecido dos portugueses, estreou-se na escrita com o livro Saúde, no Caminho para a Felicidade. A promover o conceito White Life Design diz que os portugueses ainda têm os piores índices de higiene oral da União Europeia, mas defende que o país deu passos significativos na medicina dentária.

O seu trabalho não fica por aqui, e pelo mundo tem divulgado uma técnica cirúrgica pioneira que desenvolveu com a sua equipa. Homem de causas, autor de muitos sorrisos anónimos, e também de alguns sorrisos famosos, afirma que ajudar os outros tem sido a grande motivação para o que conseguiu fazer até hoje.
 

A ideia de escrever Saúde, no Caminho para a Felicidade surgiu como?

Porque gosto de ajudar as pessoas. Como médico dentista, vivo estas histórias todos os dias e posso afirmar que há um padrão directo entre a falta de saúde e a tristeza. Pretendo mostrar que as pessoas podem mudar a sua vida para melhor através da saúde. Toda a gente sabe isto, mas muitas vezes se esquecem disso.
 

Os leitores vão identificar-se com os Oliveira, a família que dá vida ao livro?

O livro retrata casos reais, embora as personagens sejam fictícias. Depois de 12 anos a tratar de pessoas, aprendi muito sobre as pessoas. Enquanto médico dentista aprendi muito sobre o que realmente se passa com a nossa população e as doenças que mais nos afectam. Julgo que todos os portugueses se vão identificar com o meu livro, pois todos procuramos uma vida saudável.
 

Como avalia a Medicina Dentária que se pratica hoje em Portugal?

Portugal tem os piores índices de higiene oral da União Europeia e ainda relega a saúde oral para 2º plano. Os pais ainda acham que dentes de leite não se tratam e que não vale a pena gastar dinheiro para os tratar, quando a cárie é considerada pela Organização Mundial de Saúde a doença mais prevalente no Mundo.

É importante levar as crianças pequenas ao consultório do dentista para se ambientarem e desmistificar o negativismo inerente aos dentistas. As pessoas ignoram os sinais de alerta (porque muitas vezes não têm dor) e não há muita informação para lidar com estes sinais, deixando arrastar problemas de cáries, por exemplo.

Por isso criei uma linha de apoio gratuita no Portal SAPO - www.linhadentaria.blogs.sapo.pt - para ajudar a responder a dúvidas. Tem tido um enorme sucesso.
 

Desenvolveu o conceito White Life Design. Em que consiste esse conceito?

Aquilo que hoje vemos é um conceito que se foi desenvolvendo de uma forma orgânica. Viajo muito e privo com muitos médicos de outras comunidades, com outros estilos de vida. Fui-me apercebendo das principais necessidades das pessoas e dos seus principais problemas de saúde.

Depois de muita investigação, percebi que a beleza, a beleza interior, felicidade e saúde são complementares e partes de um todo. O conceito Life Design serve para ajudar os portugueses a sentirem-se bem com a sua saúde. A WHITE baseia-se na filosofia Anti-Ageing, que procura prolongar a qualidade da vida de cada pessoa.

Para tal, temos serviços personalizados e criamos tratamentos individuais, que vão desde a estrutura molecular de cada pessoa, até ao seu exterior rosto e corpo. Para isto temos mais de 7 especialidades médicas, como a cirurgia plástica, nutrição, medicina dentária, dermatologia, entre outros.
 

O Programa da TVI Dr. Preciso de Ajuda tornou-o conhecido do grande público.
Quais foram os prós e os contras desta experiência televisiva?


O programa “Dr. Preciso de Ajuda” contribuiu para dar mais visibilidade ao meu trabalho, mas acima de tudo foi um bom meio para chamar a atenção da importância da estética e da saúde oral e desmistificar os receios em relação aos dentistas e cirurgiões plásticos.

Este programa teve uma vertente educacional e de sensibilização, que são fundamentais quando procuramos mudar hábitos e atitudes em relação a estas áreas em Portugal. Mais de metade dos portugueses apenas vai ao dentista quando já tem problemas avançados de dentição e poucos são os que apostam na prevenção e numa higiene oral correcta. A meu ver, esta experiência apenas trouxe benefícios.
 

Tem um projecto de tratamento dentário gratuito a crianças e a lares desfavorecidos. Como funciona esse Programa?

Há mais de uma década que eu ando a apostar na educação dentária. Em 2003 criei um programa de educação dentária gratuita para as escolas que foi muito difícil implementar. Penso que o Estado não é solução, mas sim os médicos dentistas que, todos juntos, podem dar mais informação à população. Recentemente fui convidado para dar a cara pelo projecto Dr. Risadas, da Entreajuda, um dos programas do Banco Alimentar contra a Fome. Espero com isto mostrar que as crianças merecem a nossa generosidade, pois são o futuro. Não nos custa nada, e dá tanto a quem recebe.
 

Realiza com a sua equipa uma técnica pioneira de colocação de implantes dentários em casos de degeneração óssea. Tem trabalhado muito nessa técnica e na sua divulgação?

Esta técnica cirúrgica, pioneira a nível nacional e internacional, vem garantir aos médicos dentistas uma elevada taxa de sucesso e previsibilidade de resultados, permitindo regenerar o osso e a gengiva em zona estética com apenas uma intervenção. Isto é um grande conforto para o paciente e para o médico.

Tenho vindo a apresentar esta nova técnica cirúrgica nos mais variados países, em; todo o mundo, como Itália, Lituânia, Bogotá, Colômbia e no Irão. Fui também o primeiro dentista português, e um de apenas 12 Europeus a ser convidado a colaborar no mais prestigiado site de educação dentária do Mundo, o Portal DentalXP - www.dentalxp.com.
 

A sua entrada em Medicina Dentária aconteceu por um feliz acaso?

Sempre quis ser médico porque adoro ajudar as pessoas. A Medicina Dentária foi um acidente de percurso pelo qual estou muito feliz e orgulhoso. Contribuir para o aumento da auto-estima, bem-estar e confiança pessoal é uma boa motivação profissional.

Além disso, a medicina é uma área dinâmica e exigente. Temos de estar sempre atentos e informados em relação às mais recentes inovações, tecnologias, estudos e pesquisas mundiais. Por isso, sinto que estou em constante aprendizagem para enfrentar os desafios da medicina do futuro. Acredito na inovação para melhorar a qualidade de vida das pessoas.
 

Já passou pelo mundo da moda, prefere ser reconhecido como “dentista modelo” ou como um “modelo de dentista”?


Trabalhei muito para alcançar os meus objectivos e como tal, passei por diferentes actividades para poder pagar o meu curso superior e outras formações que são necessárias na área da medicina dentária.
 

Qual tem sido a grande inspiração para o seu trabalho?

As pessoas.
 

Como imagina o futuro da Medicina Dentária?

Portugal deu um salto quantitativo e qualitativo no que respeita à medicina dentária. No entanto, continua a existir uma lacuna entre o que os dentistas podem fazer e o que as pessoas acreditam ser possível. Não obstante, vejo com bons olhos o trabalho da ministra de saúde, que tem como árdua tarefa proporcionar um serviço de qualidade a 10 milhões de portugueses, alguns com poucos recursos.

Eugénia Sousa


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