
Gestão curricular: o
que faz a diferença?
A escola, tal como a conhecemos hoje, é
uma complexa comunidade educativa, com escassa autonomia nas dimensões
curricular, pedagógica, administrativa e financeira, apesar do constante
envolvimento da comunidade escolar e local.
Nesse espaço de diversificadas experiências, é nos planos de estudos,
nos programas e nos manuais (aquilo a que convencionamos designar por
currículo formal) que teremos que focar a nossa atenção, se quisermos
perceber o que ocorre quanto à formação da profissionalidade dos
docentes e, por razões acrescidas, quanto aos resultados educativos e
escolares dos alunos.
Como sabemos, a estrutura curricular provoca repercussões e marcas
decisivas nos modos de aprender dos alunos e nas formas de agir e de
pensar do professor, não só enquanto pessoa, mas também enquanto
profissional.
Por isso, os sinais (os bons e os maus…) que a escola deixa na
personalidade de base dos alunos e no exercício das competências
profissionais dos docentes, todos eles são traçados pela estrutura
curricular, entendida esta, em sentido lato.
Desde logo, a organização “nacional” dos currículos em Portugal obriga a
que maioria das decisões do docente se reduza à aplicação de objectivos
traçados pela administração central (ME). Tal facto “massifica” e
“normaliza” a acção do docente, repercute-se decisivamente no trabalho
do aluno e também na formação (modelagem) permanente do professor.
Consoante as opções que se adoptam, quer no que respeita à selecção dos
objectivos que se colocam aos alunos, quer quanto à escolha de métodos,
de técnicas, de recursos e de materiais, assim será o grau e o tipo das
interacções que se estabelecem entre professores, alunos, pais e a
comunidade.
Sempre que a autonomia é centralmente cerceada e o currículo imposto,
sempre que se condiciona o ensino e a aprendizagem aos resultados
esperados em exames de tipo standard, ou de provas sumativas a nível
nacional, na escola surgem sintomas de estagnação e de criação de
rotinas obsoletas, inimigas do desenvolvimento de educadores e
aprendentes.
Inversamente, quando o exercício responsável da autonomia permite a
adequação dos currículos às necessidades e aos meios da comunidade
escolar, essas escolhas promovem o desenvolvimento profissional dos
professores e o crescimento pessoal dos alunos, já que o exercício dessa
autonomia proporciona o envolvimento de todos em processos de indagação,
de pesquisa, de organização de documentos e de materiais, bem como a
constante procura de informação e de formação.
Falamos de atitudes que capacitam os intervenientes no processo
educativo para uma reflexão crítica sobre os complexos actos de ensinar
e de aprender e para a progressiva mudança, sem desnecessárias rupturas,
do sistema de ensino.
Numa proposta conceptual simples poderíamos dizer que as diferentes
abordagens do currículo determinam o uso de certos estilos de ensino, os
quais, por sua vez, condicionam os processos de aprendizagem dos alunos.
E é aqui que se faz toda a diferença: o “tamanho” do currículo não
conta, isto é, não deve ser considerado como a principal característica
que condiciona o sucesso do professor e dos alunos. Mais que a sua
extensão, é a forma de abordagem pluridimensional que pressagia
resultados sólidos e duradouros.
Por outras palavras: sempre e quando cederem aos educadores a
responsabilidade do exercício da sua profissionalidade na gestão
autónoma dos currículos, o ensino revela-se mais eficaz, a aprendizagem
melhora e a escola avança.
A autonomia de gestão curricular convive bem com a autonomia de gestão
escolar e com a promoção da autonomia solidária do aluno. Solidária com
os princípios da cidadania e com os valores democráticos de partilha e
de entreajuda, os quais promovem a equidade social e o bem-estar de
povos e de nações.

João Ruivo
ruivo@rvj.pt
|