Director Fundador: João Ruivo    Director: João Carrega    Publicação Mensal    Ano XIII    Nº147    Maio 2010

Cultura

GENTE & LIVROS

Kazuo Ishiguro

«Até há dois dias, Lindy Gardner foi a minha vizinha do lado. Imagino que estejam a pensar: se Lindy Gardner foi vizinha dele, o mais provável é que viva em Beverly Hills - é certamente um produtor de cinema, um actor ou um músico. Bem, de facto, sou músico. Mas, embora tenha tocado com alguns artistas muito conhecidos, não sou o que se possa chamar um músico de «primeira linha». O meu manager, Bradley Stevenson, que a seu modo tem sido um bom amigo ao longo dos anos, acredita firmemente que eu tenho potencial para alcançar esse estatuto. Não só como músico acompanhante, mas como cabeça de cartaz. Bradley sustenta que, hoje em dia, já nada impede um saxofonista de ser uma estrela de primeira grandeza».

In Nocturnos
 

Escritor britânico, Kazuo Ishiguro nasceu a 8 de Novembro de 1954, em Nagasáqui, Japão. Tem cinco anos de idade quando a família emigra para Inglaterra.

Estuda Filosofia e licencia-se na University of Kent. Em 1980 conclui o mestrado em Escrita Criativa, ministrado pelo escritor Malcolm Bradbury, na University of East Anglia, cidade de Norwich.

A escrita apresenta-se como uma segunda opção, para trás ficava o sonho de ser músico e as actuações em clubes. Kazuo enviou gravações a várias editoras mas foi sempre rejeitado, o que determina em definitivo a sua aproximação à escrita.

O romance Despojos do Dia (1989) arrebata o Booker Prize, e é transposto para o cinema pelo realizador James Ivory, em 1993. Seguir-se-iam os romances: Os Inconsolados (1995); Quando Éramos Órfãos (2000) - nomeado para o Booker Prize; e Nunca me Deixes (2005) – nomeado para o mesmo Prémio.

Da sua obra fazem parte os Contos: Uma Ceia em Família (1982); e Nocturnos (2009) – cinco histórias marcadas pela música e pelo amor; e os guiões cinematográficos: A Canção mais Triste do Mundo (1982); e A Condessa Russa (2005).

Kazuo Ishiguro é desde 1995 Oficial da Ordem do Império Britânico por serviços prestados à Literatura. E em 1998 recebe a Condecoração de Chevalier de L`Ordre des Arts et des Lettres, da República Francesa.
 

Nocturno. Steve é um saxofonista profissional a recuperar de uma operação plástica, e de uma ruptura sentimental, num hotel elegante. Persuadido pelo manager a fazer uma cirurgia plástica, é num estado de depressão que Steve se cruza com a sua vizinha de quarto, a famosa actriz de cinema, Lindy Gardner. É numa deambulação nocturna pelo hotel, com troféus de música a desaparecer dentro de perus, que surgirá um entendimento improvável entre estas duas personagens.

Eugénia Sousa

 

 

 

LIVROS

Novidades literárias

Europa-América. Os Sete Pilares da Sabedoria, de T.E. Lawrence. Lawrence viveu como alguns dos melhores personagens da Literatura: como um homem do mundo, um aventureiro corajoso, e idealista determinado. Os relatos da sua experiência asiática na Grande Guerra traçam a descrença nas virtudes do império britânico e a compreensão do mundo árabe. Os Sete Pilares da Sabedoria é um clássico extraordinário.
 

Bizâncio. Está tudo na Cabeça, de Alaistair Campbell. O que têm em comum uma refugiada Kosovar a recuperar de uma violação, uma mulher traumatizada por uma queimadura grave, um doente de depressão, e um ministro a viver no pânico que o seu alcoolismo seja descoberto? Todos eles são pacientes do psiquiatra Martin Sturrock. Está tudo na Cabeça é um romance de estreia notável.
 

Casa das Letras. Resistência, de Owen Sheers. Decorre o ano de 1944 e metade da Grã- Bretanha encontra-se ocupada pelos nazis. No isolado vale de Olchon, Sarah Lewis e as outras mulheres ficam sós quando os maridos desaparecem misteriosamente numa noite. Quando uma partrulha alemã chega ao Vale, como será a coexistência com o inimigo?
 

Piaget. A Sociedade contra a Escola? - A Socialização Política Escolar num Contexto de Incerteza, de José Manuel Resende. A obra é um estudo importante sobre os processos de socialização política em curso nas escolas secundárias portugueses, e os problemas que a Escola enfrenta para poder cumprir os objectivo de educar para uma cidadania responsável.
 

Oficina do Livro. Um Sorriso para a Eternidade, de António Garcia Barreto. Tito Borges interroga-se desde criança como seria a vida do avô materno. Na família ninguém pronunciava o seu nome, e ele só sabia que o avô tinha um sorriso encantador. Quando decide investigar o passado Tito é um homem à procura da felicidade, sem saber o que a história da família esconde.
 

Guerra&Paz. O Rapaz das Fotografias Eternas, de Edson Athayde. Pedro é o rapaz das fotografias eternas, um verdadeiro génio do retrato, mestre de luz e de sombras. Na estranha cidade onde vive Pedro cruza-se com personagens maiores que a vida, enquanto procura esconder o seu segredo. Uma fábula para gente crescida.
 

Presença. O Coração é um Caçador Solitário, de Carson McCullers. Decorre a década da grande Depressão nos Estados Unidos. Numa terra marcada pela pobreza e a intolerância, John Stinger, um mudo, torna-se o confidente de um grupo de personagens desencantadas com a vida. Mas para Stinger nada mais conta do que tentar captar a atenção do seu único amigo, tão silencioso quanto ele.
 

Estampa. O Ouro dos Templários - Em Busca da Arca da Aliança, de Patrick Byrne. A localização da Arca da Aliança é um mistério de séculos. Na sua procura o autor vai até ao Sul de França, e, à medida que a investigação avança, as questões surgem: Estará a Maçonaria envolvida neste segredo? Os guardiães da Arca da Aliança estarão entre nós? O Tesouro dos Templários é material, ou puramente espiritual?
 

Esfera dos Livros. Cativa na Arábia, de Cristina Morató. Esta é a história real da condessa Marga d`Andurain, cujas aventuras lhe valeram títulos como «A Mata Hari do Deserto», «A Condessa dos vinte crimes» ou «A Amante de Lawrence da Arábia». Aventureira no Oriente, entre outros feitos espiou para os britânicos, dirigiu com o marido um hotel no deserto sírio e propôs-se ser a primeira Ocidental a entrar em Meca.
 

D. Quixote. O Diamante da Ilha das Caraíbas, de Mafalda Moutinho, e ilustrações de Umberto Stagni. Na colecção juvenil os Primos surge mais uma aventura protagonizada por Ana, André e Maria. Desta vez os primos foram até à Martinica e será nestas belas paisagens que conhecem Letty, a filha de um biólogo francês, cujas pesquisas os irão lançar numa perigosa caça ao tesouro.
 

 

 

PELA OBJECTIVA DE J. VASCO

Português vence Downtown

Realizou-se, no passado dia 8 de Maio, em Alfama, debaixo de forte chuva, a 11ª edição do Lisboa Downtown, este ano ganha pela primeira vez por um português, Paulo Domingues, que se apresenta como o Amarelo (o 1º da esquerda), com o tempo de 1.46,122 minutos. Em 2.º lugar ficou Filip Polc (ESL), 1.46,172 e o pódio encerrou com Greg Minnar (AFS), 1.46,780.

Trata-se de uma corrida em BTT que se inicia nas portas do Castelo de S. Jorge e, escadas abaixo, as bicicletas percorrem de forma rápida e espectacular todo o percurso até ao Largo do Terreiro do Trigo.

 

 

 

Música

Train - Save me, San Francisco. Mais um óptimo disco que acaba de chegar ao nosso mercado , “Save me, San Francisco” é o novo capítulo da carreira dos Train, a banda Norte Americana que se notabilizou com o tema “Drops of Jupiter”, no ano de 2001.

A banda foi formada no ano de 1994, na Califórnia, e já tem no seu currículo cinco álbuns editados, mais de quatro milhões de cd´s vendidos, e um Grammy Award.
A primeira amostra do novo registo foi o single “Hey, soul sister” que conquistou também o publico Português.

O tema teve grande destaque radiofónico e o vídeo do single foi também uma grande aposta dos canais temáticos de música.

A gravação dos novos temas contou com o regresso da formação original da banda, liderada pelo vocalista Pat Monahan.

O produtor escolhido foi Martin Terefe, ele que já assinou trabalhos par KT Tuns tall,Jason Mraz ou James Morrison.

A sonoridade das novas canções não foge muito da linha condutora da banda, o rock por vezes apresentado num tom mais suave, e em algumas faixas acordes mais fortes em canções bem construídas com melodias simples, que vão fazer as delícias dos admiradores da banda.

Destaque para os single “Hey,soul sister” e os temas “Parachute”,”If it´s love” e “This ain´t goodbye”.
 

 

Muse - The Resistance. Continua a contagem decrescente para o regresso de Muse a Portugal, a banda que é um dos pesos pesados da edição 2010 do Festival Rock in Rio, que vai decorrer no final deste mês de Maio em Lisboa.

O novo trabalho chama-se “The Resistance” e colocou a banda em definitivo no lote dos melhores grupos rock da actualidade.

O primeiro trabalho foi editado em 1999, e o balanço de mais de uma década de carreira é extremamente positivo.

A banda de Matthew Bellamy editou cinco álbuns de originais e conquistou cinco Q Awards, dois Brits Awards, cinco MTV Europe Awards, entre outros prémios da indústria da música! Conseguiu ao longo dos anos conquistar o seu publico à escala global, e as vendas de discos falam por si, mais de oito milhões de cópias vendidas.

Os dois singles editados deste registo são bem conhecidos do público Português, os temas “uprising” e “Undisclosed desires” dispensam apresentações!

Os Muse apresentam-se neste “The Resistance” numa linha alternativa do universo rock, com influências da música electrónica e clássica, o estilo que consagrou a banda Britânica. Não vale a pena escolher os temas fortes do álbum, porque trata-se de um registo muito equilibrado que vale a pena ouvir faixa a faixa, sem parar. A banda ultrapassou as expectativas no mais recente trabalho, e vai apresentá-lo de novo ao vivo, em Portugal, num espectáculo que promete!
 

 

Pedro Abrunhosa - Longe. O ano de 2010 marca o fim e o início de um novo ciclo na carreira de Pedro Abrunhosa. Novo disco e nova banda de suporte, chamam-se Comité Caviar, e substituem os Bandemónio. Os novos companheiros são, Cláudio Paulo Praça e Marco Nunes nas guitarras, Cláudio Souto nos teclados e órgão, Miguel Barros no baixo, Pedro Martins na bateria e percussão, e os coros ficaram a cargo de Patrícia Silveira e Patrícia Antunes.

Mas as novidades não ficam por aqui, neste novo trabalho o cantor e compositor é também co-produtor ao lado de João Bessa. A sonoridade das novas canções também apresentam novidades, o jazz e o funk ficaram de lado, e os acordes das guitarras ganharam nova vida! O piano e as baladas continuam a marcar presença, mas o rock domina o alinhamento deste novo “Longe”.

O primeiro avanço do álbum foi o single “Fazer o que ainda não foi feito”, que chegou às rádios algumas semanas antes do trabalho chegar às lojas.

O álbum foi recebido pelo público e pelos Media, e no top nacional de vendas o cd chegou ao primeiro lugar e promete continuar no pódio nas próximas semanas.

Destaque para o single “Fazer o que ainda não foi feito” e as faixas, “Rei do Bairro Alto”, “Pode o céu ser tão longe” e “Não desistas de mim”.

Esperamos que este homem do Norte vá longe com o novo trabalho!

Hugo Rafael

 

 

 

BOCAS DO GALINHEIRO

Mr Cameron is back

Quando nos anos 80 do século passado a RTP anunciou a exibição do filme “O Monstro da Lagoa Negra” em 3D, alguma euforia se apoderou dos portugueses. Várias revistas disponibilizaram os indispensáveis óculos, de cartão e com um acetato vermelho e outro azul a fazerem de lentes, técnica então usada para se poder desfrutar da sensação das três dimensões. O filme era de 1954, uma realização de Jack Arnold para a Universal que na época apostou nos chamados “monster movies”, a grande maioria de qualidade duvidosa e de baixo orçamento, o que não impediu que uma grande fatia deles virasse filmes de culto. Mas, no caso, não era o filme que estava em causa mas sim a experiência de o ver em 3D. Para mim a coisa não resultou. Ver o filme com os celofanes pendurados no nariz ou sem eles era quase a mesma coisa. Como por acaso não é dos piores série B da galeria dos filmes de monstros, as filmagens subaquáticas no Amazonas justificam os minutos à frente do pequeno écran, para lá do facto de a criatura se apaixonar pela elegante Julie Adams, num sensual fato-de-banho branco, o que nesse particular não o distingue de King Kong, com a inevitável cena em que ambos nadam nas águas cristalinas do rio, o que é inevitável num “monter movie”. Como anunciava Frank Zappa, numa das suas muitas paródias ao vivo, “the cheaper they are, the better they are”.

Foi com este espírito que um dia destes fui ver “Avatar”, de James Cameron em versão tridimensional. À partida sabia que tudo ia ser diferente: esta nova aventura do realizador de Titanic era anunciado à partida como uma fábula ecológica moderna e, tecnicamente, nunca se tinha feito nada assim. Logo, havia tudo a ganhar em passar pela experiência. E ganhei.

Desde o arrasador triunfo de 1998 com aquele tremendo pastelão que foi o Titanic, o filme mais rentável de todos os tempos, que James Cameron não realizava uma longa-metragem. Durante estes anos de “hibernação” dedicou-se a fazer documentários subaquáticos, aproveitando os recursos que usara para as filmagens do naufrágio do paquete britânico, para além de realizar alguns episódios da série televisiva “Dark Angel”.

A estreia deste canadiano na realização acontece em 1984 com “O Exterminador Implacável”, a saga apocalíptica de Sarah Connor, Linda Hamilton, e do seu filho por nascer, John, ameaçados pelo indestrutível exterminador, com Arnold Schwarznegger no papel, um andróide assassino vindo do futuro, cuja missão é matar Sarah, facto que teria como consequência que o seu filho, o líder da resistência no futuro não nascesse. Uma primeira incursão de Cameron na ficção científica, num alerta para um futuro não muito distante da supremacia das máquinas sobre os homens. Seguiu-se “Aliens”, de 1986, a sequela de “Alien – O oitavo Passageiro” (1979), de Ridley Scott. O tempo é agora de guerra com Sigoueney Weaver, 50 anos depois de ter sido a única sobrevivente do ataque alienígena à nave Mastrodomo, de volta ao planeta LV-426. Definitivamente a mão de Cameron impunha-se e o seu nome era sinónimo de qualidade. Em “The Abyss”, 1989, voltamos a contactar com espécies alienígenas, desta vez marinhas, numa fita magistralmente filmada no fundo do mar. Em 1991 está de volta o exterminador em “Terminator 2”, agora com Schwarzenegger como protector de Sarah e do seu filho já adolescente, da ameaça de um exterminador mais avançado mas com a mesma missão: aniquilar no passado os futuros adversários das máquinas, num filme cheio de acção e de confiança na humanidade. De novo com o actual governador da Califórnia, Cameron traz-nos “A Verdade da Mentira” (True Lies), de 1994, um filme que se aproxima bastante da comédia, apesar de toda a acção, como não podia deixar de ser, que o atravessa do princípio ao fim. Claro que os exageros pirotécnicos do realizador ofuscam outros aspectos, como a ironia e a fantasia, sendo que neste caso o confronto de Jamie Lee Curtis com a verdadeira ocupação do marido nos leva ao extremo do inverosímil. Mas não é o cinema isso mesmo?

Com “Avatar” acontece um pouco de tudo isto. É quase uma compilação dos anteriores filmes de Cameron, uma espécie de revisão da matéria dada, servidas em grande estilo. Uma das razões porque o filme só agora aparece é porque o realizador não dispunha até então de tecnologia que lhe permitisse dar corpo a uma ideia que amadurecia desde 1994. Com recurso à mais recente tecnologia de efeitos especiais, aperfeiçoando no grande ecrã a combinação de actores reais com personagens animadas, através da CGI- computer-gererated imagery e o reconhecimento facial, que capta, em computador, as expressões dos actores, incluindo o movimento dos olhos, para posterior reprodução em animação. Desta forma cria uma nova criatura alienígena, os Na’vi, uns seres azulados, que habitam o planeta Pandora, cobiçado pelos humanos por via de um valioso minério. Para contacto com os habitantes do planeta, de uma grande agressividade, os humanos criam avatares virtuais, seres híbridos com ADN Na´vi, que são depois despejados em terra permitindo assim o contacto entre os dois mundos. O resto é cinema. Efeitos especiais como nunca se viram: uma fauna e flora delirantes num universo espectacular saído da imaginação e da tecnologia à disposição de um visionário como é James Cameron. Pelo meio uma história de amor, um avatar cai de amores por uma indígena e, isso, sabe-se, tem consequências sérias, e um piscadela de olho à ecologia, à defesa do planeta, já agora, porque não o nosso, e um aviso: mesmo se aparentemente presa fácil, quando um povo defende a sua terra, deita abaixo a maior potência e a mais avançada tecnologia militar.

Não será dos seus melhores filmes, mas justifica uma ida às inúmeras salas onde ainda está em exibição.

Até à próxima e bons filmes!

Luís Dinis da Rosa

 

 

Educação às tiras

Cartoon: Bruno Janeca
Argumento: Dinis Gardete


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