GENTE & LIVROS
Kazuo Ishiguro

«Até há dois dias,
Lindy Gardner foi a minha vizinha do lado. Imagino que estejam a pensar:
se Lindy Gardner foi vizinha dele, o mais provável é que viva em Beverly
Hills - é certamente um produtor de cinema, um actor ou um músico. Bem,
de facto, sou músico. Mas, embora tenha tocado com alguns artistas muito
conhecidos, não sou o que se possa chamar um músico de «primeira linha».
O meu manager, Bradley Stevenson, que a seu modo tem sido um bom amigo
ao longo dos anos, acredita firmemente que eu tenho potencial para
alcançar esse estatuto. Não só como músico acompanhante, mas como cabeça
de cartaz. Bradley sustenta que, hoje em dia, já nada impede um
saxofonista de ser uma estrela de primeira grandeza».
In Nocturnos
Escritor britânico, Kazuo
Ishiguro nasceu a 8 de Novembro de 1954, em Nagasáqui, Japão. Tem cinco
anos de idade quando a família emigra para Inglaterra.
Estuda Filosofia e licencia-se na University of Kent. Em 1980 conclui o
mestrado em Escrita Criativa, ministrado pelo escritor Malcolm Bradbury,
na University of East Anglia, cidade de Norwich.
A escrita apresenta-se como uma segunda opção, para trás ficava o sonho
de ser músico e as actuações em clubes. Kazuo enviou gravações a várias
editoras mas foi sempre rejeitado, o que determina em definitivo a sua
aproximação à escrita.
O romance Despojos do Dia (1989) arrebata o Booker Prize, e é transposto
para o cinema pelo realizador James Ivory, em 1993. Seguir-se-iam os
romances: Os Inconsolados (1995); Quando Éramos Órfãos (2000) - nomeado
para o Booker Prize; e Nunca me Deixes (2005) – nomeado para o mesmo
Prémio.
Da sua obra fazem parte os Contos: Uma Ceia em Família (1982); e
Nocturnos (2009) – cinco histórias marcadas pela música e pelo amor; e
os guiões cinematográficos: A Canção mais Triste do Mundo (1982); e A
Condessa Russa (2005).
Kazuo Ishiguro é desde 1995 Oficial da Ordem do Império Britânico por
serviços prestados à Literatura. E em 1998 recebe a Condecoração de
Chevalier de L`Ordre des Arts et des Lettres, da República Francesa.
Nocturno. Steve é
um saxofonista profissional a recuperar de uma operação plástica, e de
uma ruptura sentimental, num hotel elegante. Persuadido pelo manager a
fazer uma cirurgia plástica, é num estado de depressão que Steve se
cruza com a sua vizinha de quarto, a famosa actriz de cinema, Lindy
Gardner. É numa deambulação nocturna pelo hotel, com troféus de música a
desaparecer dentro de perus, que surgirá um entendimento improvável
entre estas duas personagens. 
Eugénia Sousa
LIVROS
Novidades literárias
Europa-América. Os Sete Pilares
da Sabedoria, de T.E. Lawrence. Lawrence viveu como alguns dos melhores
personagens da Literatura: como um homem do mundo, um aventureiro
corajoso, e idealista determinado. Os relatos da sua experiência
asiática na Grande Guerra traçam a descrença nas virtudes do império
britânico e a compreensão do mundo árabe. Os Sete Pilares da Sabedoria é
um clássico extraordinário.
Bizâncio. Está tudo na Cabeça,
de Alaistair Campbell. O que têm em comum uma refugiada Kosovar a
recuperar de uma violação, uma mulher traumatizada por uma queimadura
grave, um doente de depressão, e um ministro a viver no pânico que o seu
alcoolismo seja descoberto? Todos eles são pacientes do psiquiatra
Martin Sturrock. Está tudo na Cabeça é um romance de estreia notável.
Casa das Letras. Resistência, de
Owen Sheers. Decorre o ano de 1944 e metade da Grã- Bretanha encontra-se
ocupada pelos nazis. No isolado vale de Olchon, Sarah Lewis e as outras
mulheres ficam sós quando os maridos desaparecem misteriosamente numa
noite. Quando uma partrulha alemã chega ao Vale, como será a
coexistência com o inimigo?
Piaget. A Sociedade contra a
Escola? - A Socialização Política Escolar num Contexto de Incerteza, de
José Manuel Resende. A obra é um estudo importante sobre os processos de
socialização política em curso nas escolas secundárias portugueses, e os
problemas que a Escola enfrenta para poder cumprir os objectivo de
educar para uma cidadania responsável.
Oficina do Livro. Um Sorriso
para a Eternidade, de António Garcia Barreto. Tito Borges interroga-se
desde criança como seria a vida do avô materno. Na família ninguém
pronunciava o seu nome, e ele só sabia que o avô tinha um sorriso
encantador. Quando decide investigar o passado Tito é um homem à procura
da felicidade, sem saber o que a história da família esconde.
Guerra&Paz. O Rapaz das
Fotografias Eternas, de Edson Athayde. Pedro é o rapaz das fotografias
eternas, um verdadeiro génio do retrato, mestre de luz e de sombras. Na
estranha cidade onde vive Pedro cruza-se com personagens maiores que a
vida, enquanto procura esconder o seu segredo. Uma fábula para gente
crescida.
Presença. O Coração é um Caçador
Solitário, de Carson McCullers. Decorre a década da grande Depressão nos
Estados Unidos. Numa terra marcada pela pobreza e a intolerância, John
Stinger, um mudo, torna-se o confidente de um grupo de personagens
desencantadas com a vida. Mas para Stinger nada mais conta do que tentar
captar a atenção do seu único amigo, tão silencioso quanto ele.
Estampa. O Ouro dos Templários -
Em Busca da Arca da Aliança, de Patrick Byrne. A localização da Arca da
Aliança é um mistério de séculos. Na sua procura o autor vai até ao Sul
de França, e, à medida que a investigação avança, as questões surgem:
Estará a Maçonaria envolvida neste segredo? Os guardiães da Arca da
Aliança estarão entre nós? O Tesouro dos Templários é material, ou
puramente espiritual?
Esfera dos Livros. Cativa na
Arábia, de Cristina Morató. Esta é a história real da condessa Marga
d`Andurain, cujas aventuras lhe valeram títulos como «A Mata Hari do
Deserto», «A Condessa dos vinte crimes» ou «A Amante de Lawrence da
Arábia». Aventureira no Oriente, entre outros feitos espiou para os
britânicos, dirigiu com o marido um hotel no deserto sírio e propôs-se
ser a primeira Ocidental a entrar em Meca.
D. Quixote. O Diamante da Ilha
das Caraíbas, de Mafalda Moutinho, e ilustrações de Umberto Stagni. Na
colecção juvenil os Primos surge mais uma aventura protagonizada por
Ana, André e Maria. Desta vez os primos foram até à Martinica e será
nestas belas paisagens que conhecem Letty, a filha de um biólogo
francês, cujas pesquisas os irão lançar numa perigosa caça ao tesouro.

PELA OBJECTIVA DE J.
VASCO
Português vence
Downtown

Realizou-se, no passado dia 8 de Maio,
em Alfama, debaixo de forte chuva, a 11ª edição do Lisboa Downtown, este
ano ganha pela primeira vez por um português, Paulo Domingues, que se
apresenta como o Amarelo (o 1º da esquerda), com o tempo de 1.46,122
minutos. Em 2.º lugar ficou Filip Polc (ESL), 1.46,172 e o pódio
encerrou com Greg Minnar (AFS), 1.46,780.
Trata-se de uma corrida em BTT que se inicia nas portas do Castelo de S.
Jorge e, escadas abaixo, as bicicletas percorrem de forma rápida e
espectacular todo o percurso até ao Largo do Terreiro do Trigo.

Música

Train - Save me, San Francisco.
Mais um óptimo disco que acaba de chegar ao nosso mercado , “Save me,
San Francisco” é o novo capítulo da carreira dos Train, a banda Norte
Americana que se notabilizou com o tema “Drops of Jupiter”, no ano de
2001.
A banda foi formada no ano de 1994, na Califórnia, e já tem no seu
currículo cinco álbuns editados, mais de quatro milhões de cd´s
vendidos, e um Grammy Award.
A primeira amostra do novo registo foi o single “Hey, soul sister” que
conquistou também o publico Português.
O tema teve grande destaque radiofónico e o vídeo do single foi também
uma grande aposta dos canais temáticos de música.
A gravação dos novos temas contou com o regresso da formação original da
banda, liderada pelo vocalista Pat Monahan.
O produtor escolhido foi Martin Terefe, ele que já assinou trabalhos par
KT Tuns tall,Jason Mraz ou James Morrison.
A sonoridade das novas canções não foge muito da linha condutora da
banda, o rock por vezes apresentado num tom mais suave, e em algumas
faixas acordes mais fortes em canções bem construídas com melodias
simples, que vão fazer as delícias dos admiradores da banda.
Destaque para os single “Hey,soul sister” e os temas “Parachute”,”If
it´s love” e “This ain´t goodbye”.

Muse - The Resistance. Continua
a contagem decrescente para o regresso de Muse a Portugal, a banda que é
um dos pesos pesados da edição 2010 do Festival Rock in Rio, que vai
decorrer no final deste mês de Maio em Lisboa.
O novo trabalho chama-se “The Resistance” e colocou a banda em
definitivo no lote dos melhores grupos rock da actualidade.
O primeiro trabalho foi editado em 1999, e o balanço de mais de uma
década de carreira é extremamente positivo.
A banda de Matthew Bellamy editou cinco álbuns de originais e conquistou
cinco Q Awards, dois Brits Awards, cinco MTV Europe Awards, entre outros
prémios da indústria da música! Conseguiu ao longo dos anos conquistar o
seu publico à escala global, e as vendas de discos falam por si, mais de
oito milhões de cópias vendidas.
Os dois singles editados deste registo são bem conhecidos do público
Português, os temas “uprising” e “Undisclosed desires” dispensam
apresentações!
Os Muse apresentam-se neste “The Resistance” numa linha alternativa do
universo rock, com influências da música electrónica e clássica, o
estilo que consagrou a banda Britânica. Não vale a pena escolher os
temas fortes do álbum, porque trata-se de um registo muito equilibrado
que vale a pena ouvir faixa a faixa, sem parar. A banda ultrapassou as
expectativas no mais recente trabalho, e vai apresentá-lo de novo ao
vivo, em Portugal, num espectáculo que promete!

Pedro Abrunhosa - Longe. O ano
de 2010 marca o fim e o início de um novo ciclo na carreira de Pedro
Abrunhosa. Novo disco e nova banda de suporte, chamam-se Comité Caviar,
e substituem os Bandemónio. Os novos companheiros são, Cláudio Paulo
Praça e Marco Nunes nas guitarras, Cláudio Souto nos teclados e órgão,
Miguel Barros no baixo, Pedro Martins na bateria e percussão, e os coros
ficaram a cargo de Patrícia Silveira e Patrícia Antunes.
Mas as novidades não ficam por aqui, neste novo trabalho o cantor e
compositor é também co-produtor ao lado de João Bessa. A sonoridade das
novas canções também apresentam novidades, o jazz e o funk ficaram de
lado, e os acordes das guitarras ganharam nova vida! O piano e as
baladas continuam a marcar presença, mas o rock domina o alinhamento
deste novo “Longe”.
O primeiro avanço do álbum foi o single “Fazer o que ainda não foi
feito”, que chegou às rádios algumas semanas antes do trabalho chegar às
lojas.
O álbum foi recebido pelo público e pelos Media, e no top nacional de
vendas o cd chegou ao primeiro lugar e promete continuar no pódio nas
próximas semanas.
Destaque para o single “Fazer o que ainda não foi feito” e as faixas,
“Rei do Bairro Alto”, “Pode o céu ser tão longe” e “Não desistas de
mim”.
Esperamos que este homem do Norte vá longe com o novo trabalho!

Hugo Rafael
BOCAS DO GALINHEIRO
Mr Cameron is back

Quando nos anos 80 do século passado a
RTP anunciou a exibição do filme “O Monstro da Lagoa Negra” em 3D,
alguma euforia se apoderou dos portugueses. Várias revistas
disponibilizaram os indispensáveis óculos, de cartão e com um acetato
vermelho e outro azul a fazerem de lentes, técnica então usada para se
poder desfrutar da sensação das três dimensões. O filme era de 1954, uma
realização de Jack Arnold para a Universal que na época apostou nos
chamados “monster movies”, a grande maioria de qualidade duvidosa e de
baixo orçamento, o que não impediu que uma grande fatia deles virasse
filmes de culto. Mas, no caso, não era o filme que estava em causa mas
sim a experiência de o ver em 3D. Para mim a coisa não resultou. Ver o
filme com os celofanes pendurados no nariz ou sem eles era quase a mesma
coisa. Como por acaso não é dos piores série B da galeria dos filmes de
monstros, as filmagens subaquáticas no Amazonas justificam os minutos à
frente do pequeno écran, para lá do facto de a criatura se apaixonar
pela elegante Julie Adams, num sensual fato-de-banho branco, o que nesse
particular não o distingue de King Kong, com a inevitável cena em que
ambos nadam nas águas cristalinas do rio, o que é inevitável num “monter
movie”. Como anunciava Frank Zappa, numa das suas muitas paródias ao
vivo, “the cheaper they are, the better they are”.
Foi com este espírito que um dia destes fui ver “Avatar”, de James
Cameron em versão tridimensional. À partida sabia que tudo ia ser
diferente: esta nova aventura do realizador de Titanic era anunciado à
partida como uma fábula ecológica moderna e, tecnicamente, nunca se
tinha feito nada assim. Logo, havia tudo a ganhar em passar pela
experiência. E ganhei.
Desde o arrasador triunfo de 1998 com aquele tremendo pastelão que foi o
Titanic, o filme mais rentável de todos os tempos, que James Cameron não
realizava uma longa-metragem. Durante estes anos de “hibernação”
dedicou-se a fazer documentários subaquáticos, aproveitando os recursos
que usara para as filmagens do naufrágio do paquete britânico, para além
de realizar alguns episódios da série televisiva “Dark Angel”.
A estreia deste canadiano na realização acontece em 1984 com “O
Exterminador Implacável”, a saga apocalíptica de Sarah Connor, Linda
Hamilton, e do seu filho por nascer, John, ameaçados pelo indestrutível
exterminador, com Arnold Schwarznegger no papel, um andróide assassino
vindo do futuro, cuja missão é matar Sarah, facto que teria como
consequência que o seu filho, o líder da resistência no futuro não
nascesse. Uma primeira incursão de Cameron na ficção científica, num
alerta para um futuro não muito distante da supremacia das máquinas
sobre os homens. Seguiu-se “Aliens”, de 1986, a sequela de “Alien – O
oitavo Passageiro” (1979), de Ridley Scott. O tempo é agora de guerra
com Sigoueney Weaver, 50 anos depois de ter sido a única sobrevivente do
ataque alienígena à nave Mastrodomo, de volta ao planeta LV-426.
Definitivamente a mão de Cameron impunha-se e o seu nome era sinónimo de
qualidade. Em “The Abyss”, 1989, voltamos a contactar com espécies
alienígenas, desta vez marinhas, numa fita magistralmente filmada no
fundo do mar. Em 1991 está de volta o exterminador em “Terminator 2”,
agora com Schwarzenegger como protector de Sarah e do seu filho já
adolescente, da ameaça de um exterminador mais avançado mas com a mesma
missão: aniquilar no passado os futuros adversários das máquinas, num
filme cheio de acção e de confiança na humanidade. De novo com o actual
governador da Califórnia, Cameron traz-nos “A Verdade da Mentira” (True
Lies), de 1994, um filme que se aproxima bastante da comédia, apesar de
toda a acção, como não podia deixar de ser, que o atravessa do princípio
ao fim. Claro que os exageros pirotécnicos do realizador ofuscam outros
aspectos, como a ironia e a fantasia, sendo que neste caso o confronto
de Jamie Lee Curtis com a verdadeira ocupação do marido nos leva ao
extremo do inverosímil. Mas não é o cinema isso mesmo?
Com “Avatar” acontece um pouco de tudo isto. É quase uma compilação dos
anteriores filmes de Cameron, uma espécie de revisão da matéria dada,
servidas em grande estilo. Uma das razões porque o filme só agora
aparece é porque o realizador não dispunha até então de tecnologia que
lhe permitisse dar corpo a uma ideia que amadurecia desde 1994. Com
recurso à mais recente tecnologia de efeitos especiais, aperfeiçoando no
grande ecrã a combinação de actores reais com personagens animadas,
através da CGI- computer-gererated imagery e o reconhecimento facial,
que capta, em computador, as expressões dos actores, incluindo o
movimento dos olhos, para posterior reprodução em animação. Desta forma
cria uma nova criatura alienígena, os Na’vi, uns seres azulados, que
habitam o planeta Pandora, cobiçado pelos humanos por via de um valioso
minério. Para contacto com os habitantes do planeta, de uma grande
agressividade, os humanos criam avatares virtuais, seres híbridos com
ADN Na´vi, que são depois despejados em terra permitindo assim o
contacto entre os dois mundos. O resto é cinema. Efeitos especiais como
nunca se viram: uma fauna e flora delirantes num universo espectacular
saído da imaginação e da tecnologia à disposição de um visionário como é
James Cameron. Pelo meio uma história de amor, um avatar cai de amores
por uma indígena e, isso, sabe-se, tem consequências sérias, e um
piscadela de olho à ecologia, à defesa do planeta, já agora, porque não
o nosso, e um aviso: mesmo se aparentemente presa fácil, quando um povo
defende a sua terra, deita abaixo a maior potência e a mais avançada
tecnologia militar.
Não será dos seus melhores filmes, mas justifica uma ida às inúmeras
salas onde ainda está em exibição.
Até à próxima e bons filmes!

Luís Dinis da Rosa
Educação às tiras

Cartoon: Bruno Janeca
Argumento: Dinis Gardete
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