CIÊNCIA EM PORTUGAL
Povo está com os
cientistas

O ministro da Ciência e Tecnologia
considera que a questão mais “crítica” para a política científica de
Portugal no futuro é que a população portuguesa continue a acreditar no
que faz a comunidade científica.
“Estes últimos vinte anos de desenvolvimento científico português - que
são únicos em toda a Europa - têm uma fonte, que é a convicção da
população portuguesa, com índices de escolaridade baixíssimos, de que
aquilo que os cientistas estão a fazer é bom”, disse Mariano Gago num
simpósio em Lisboa de investigadores científicos, realizado no início de
Maio.
“Esta relação de proximidade entre cientistas e não-cientistas é a
questão mais crítica que temos para a política científica para os anos
que vêm. Dela depende tudo. Haver políticas científicas progressivas ou
haver políticas económicas que digam ‘vamos dar dinheiro à ciência e
cortar em tudo o resto’”, sublinhou o ministro.
O mesmo responsável considerou paradigmáticos da “generosidade social”
dos portugueses, face à ciência, os inquéritos europeus feitos à
população.
“Os inquéritos europeus feitos em Portugal diziam esta coisa
extraordinária: ‘está de acordo que parte dos seus impostos seja
entregue à investigação científica em áreas cuja aplicação se desconhece
ou pode nunca existir?’. E a resposta em Portugal foi sistematicamente
maioritária, mais de 50 por cento”, recordou Mariano Gago.
Sem esta “generosidade social, não haveria cientistas em Portugal, nem
ciência em Portugal, nem teria havido este desenvolvimento”, concluiu.
Para o ministro, “se houvesse dúvidas na população portuguesa, não
haveria política que valesse”, pois nenhum governo “iria apostar numa
coisa em que ninguém acredita havendo tantas dificuldades, tantas
necessidades de investimento noutras áreas”.
Já sobre a atitude dos próprios investigadores, Mariano Gago recordou
que têm a obrigação de “não acreditar”, “exigir provas”, porque “isso é
que é boa ciência”.
Mariano Gago também lembrou aos muitos investigadores portugueses e
estrangeiros presentes na sala a alta percentagem de mulheres na
comunidade científica em Portugal.
“Foi o facto de haver uma consciência social - um período em que as
famílias queriam que os seus filhos se educassem, em que as mulheres
entravam no mercado de trabalho maciçamente, em que as mães disseram às
filhas que tinham de ser independentes e que tinham de estudar - foi
este período pós-25 de Abril em Portugal, e que dura até hoje, que faz
com que tenhamos esta coisa extraordinária de ter 44 por cento de
mulheres no meio científico”, referiu o ministro.
“Isto não acontece em mais lado nenhum”, frisou.
Mariano Gago falava na sessão de encerramento do primeiro Simpósio
Nacional da Associação Nacional de Investigadores em Ciência e
Tecnologia (ANICT), que reuniu em Lisboa vários oradores especialistas e
representantes de empresas ligadas à investigação.

Este texto foi escrito ao abrigo do
novo Acordo Ortográfico
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