Director Fundador: João Ruivo    Director: João Carrega    Publicação Mensal    Ano XIII    Nº149   Julho 2010

Entrevista

ANTÓNIO GARCIA BARRETO, EM ENTREVISTA

Um sorriso para a eternidade

O escritor António Garcia Barreto tem um novo romance, chama-se Um Sorriso para a Eternidade e conta a história de um homem em busca da felicidade e da verdade sobre a família. Começou por escrever poesia e histórias para crianças mas agora é o Romance que tem a sua preferência e lhe ocupa até os sonhos. António Garcia Barreto fala do ofício da escrita em entrevista por email ao Ensino Magazine.

«Um Sorriso para a Eternidade» é o seu mais novo romance. A ideia de escrever este romance surge como?

O meu processo criativo é contínuo. Umas ideias puxam outras. Neste caso concreto, o livro resulta, em grande medida, de um longo texto de ficção que eu tinha escrito e nunca publicado, no qual a personagem principal era um vendedor de felicidade. Na altura em que escrevi esse texto achei que lhe faltava qualquer coisa. Várias leituras posteriores confirmaram essa ideia inicial, mas retiveram que a parte respeitante ao vendedor de felicidade e à sua arte de burlar os outros era susceptível de gerar uma boa história, se lhe arranjasse outra envolvente.

O personagem do avô Aurélio — valdevinos incorrigível de sorriso encantador —, foi baseada em alguém real?

Não. É absolutamente fruto da imaginação.

No livro «Um Sorriso para a Eternidade», “Tito Borges é um homem em busca da felicidade” e da verdade sobre a família. Quando começou a escrever o livro já sabia como seria o seu desfecho?

Não. O desfecho surgiu já o livro ia adiantado. Mas não devemos esquecer que, durante a escrita, as personagens e a acção vão ganhando vida própria, se autonomizando, o que obriga o escritor a acompanhá-las. Por exemplo, o aparecimento do gato Parvo é fortuito. Não tinha pensado em nenhum gato para o livro (era mais natural ter pensado num cão). Mas a certa altura ele impôs-se. Com nome e tudo. E, a partir daí, ganhou direitos de cidadania literária…

O personagem Tito Borges afirma a páginas tantas: “O mundo hoje é demasiado pequeno para alguém ter a veleidade de nos surpreender com algo de novo, original. O desenvolvimento das telecomunicações, o advento da informática e da internet encurtaram distâncias de modo até há pouco tempo inimaginável. Já não precisamos de ir ter com o mundo. É ele que vem ter connosco a velocidade de espantar e com uma crueza que nos desarma.” Essa é também a sua opinião enquanto jornalista.

Esclarecimento: não sou jornalista. Nunca fui. Apenas colaborei em vários jornais com textos literários. Mas posso dizer que aquela é também a minha opinião enquanto pessoa atenta e interveniente, que vive o seu tempo.

As novas tecnologias (internet, redes sociais…) alteraram a relação entre escritor e leitor?

Aquilo que mais influência teve no meu trabalho, em termos de ferramenta, foi o advento do computador. Desde que tive os primeiros Spectrum logo percebi a extrema importância que esse tipo de máquinas iriam ter a breve prazo. Bater um romance à máquina de escrever parece-me hoje algo inacreditável. Só quem o fez, como eu, sabe a perda de tempo que era alterar palavras e, sobretudo, frases, partes do texto, capítulos. Tudo tinha de ser reescrito, etc. Escrevia à mão, porque era mais fácil de rasurar. Só depois passava à máquina. A seguir ao computador, a internet foi a melhor ferramenta de trabalho que podia ter aparecido. Muita pesquisa que exigia canseiras e deslocações ficou extremamente facilitada. Mas é preciso cuidado e ser exigente, confrontar fontes, para não nos deixarmos levar pela facilidade e cair no erro. Estas novas tecnologias, com as redes sociais, alteraram, sem sombra de dúvida, a relação entre escritor e leitor. O leitor, hoje, está ali ao nosso lado, comentando, até dando ideias, criticando. A muitos desses leitores conhecemo-lhes a cara, o perfil, a escolaridade, os gostos, etc.

Tirou uma licenciatura em História, colaborou em vários jornais, é autor de vários livros de literatura infantil e juvenil. Como começa o gosto por escrever histórias para os mais novos?

Comecei, como muita gente, por escrever poesia e publicá-la nos jornais. Escrevia também pequenos contos, que não publicava. Um dia, porém, enviei um desses contos para um concurso promovido pelo Diário Popular e ganhei o primeiro prémio. O conto tinha um nome longo: «Tio Jeropiga, Tio Manel Pedreiro, Eu, a Mula Bizarra & Companhia». Só depois disso fui sugestionado para escrever para crianças. A seguir ao 25 de Abril houve um boom de livros para crianças de autores portugueses. Também quis tentar. E parece que não me dei mal. O escritor António Torrado, na altura responsável editorial numa conhecida editora, recebeu muito bem os meus textos, exercendo sobre eles uma crítica construtiva, e publicou-os. Foi o princípio.

Diverte-se a escrever, ou deixa o divertimento por conta do leitor?

Divirto-me bastante a escrever. Mas, às vezes, também me atormento. Quando escrevo não penso no leitor, salvo quando se trata de livros para crianças, em que há que ter cuidados especiais. Só penso na construção do texto, no desenvolvimento da história, na forma que deve apresentar esse texto. Mas tenho uma base geral de trabalho: clareza na escrita (o que dá muito trabalho), algum humor, verosimilhança, enredo que cative, algum suspense.

Prefere escrever romances ou livros para crianças? Porquê?

Romances, sem qualquer hesitação. E, para os mais novos, novelas juvenis, mais do que histórias infantis. Como diz e muito bem o escritor israelita Amos Oz, e adaptando ao que atrás afirmo “Escrever um poema é como se fosse uma noite de amor, escrever um conto é um namoro, mas escrever um romance é um casamento.” Gosto de casamentos…

Encontra-se a trabalhar actualmente em algum projecto literário? Qual?

Estou sempre a escrever. A escrita de grande fôlego é mais transpiração que inspiração. Um romance ocupa-me até os sonhos. Quando me deito, antes de adormecer, converso sempre com algumas personagens, tento arranjar-lhes emprego no romance, manobrar-lhes a vida. Neste momento, e para lá de textos que surgem e se anotam rapidamente, estou a reescrever totalmente um romance, que publiquei há muitos anos, numa pequena editora, cuja acção se passa em Lisboa, no ano de 1918. Terá o título provável de «Manobras do Marechal». Tenho em stand by, numa fase intermédia, à espera de algumas definições, um outro romance, que é de alguma forma uma sequência, em termos da acção da personagem central, do romance «A Mulher da Minha Vida», que publiquei na Oficina do Livro.

Eugénia Sousa


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