GENTE & LIVROS
Ferreira Gullar

«Uma parte de mim/ é
todo mundo: / outra parte é ninguém:/ fundo sem fundo.
Uma parte de mim/ é multidão: /outra parte estranheza/ e solidão.
Uma parte de mim/ pesa, pondera:/ outra parte/ delira.
Uma parte de mim/ almoça e janta:/ outra parte/ se espanta.
Uma parte de mim/ é permanente:/ outra parte/ se sabe de repente.
Uma parte de mim/ é só vertigem: /outra parte,/ linguagem.
Traduzir uma parte/ na outra parte/- que é uma questão/ de vida ou morte
-/ será arte?».
In Traduzir-se
O poeta Ferreira Gullar,
pseudónimo de José Ribamar Ferreira, nasceu a 10 de Setembro de 1930, em
São Luís, no Maranhão.
É durante a infância que descobre a vocação para a escrita e decide
estudar Português. Aos 18 anos começa a colaborar no Suplemento
Literário do Diário de São Luís, e um ano depois publica o primeiro
livro, Um pouco Acima do Chão (1949). Casa com a actriz Thereza de
Aragão, que seria mãe dos seus três filhos.
Trabalha como redactor do Diário Carioca e na equipa do Suplemento
Dominical do Jornal do Brasil.
Filiado no Partido Comunista, quando o Brasil atravessa a ditadura
militar, passa à clandestinidade, partindo para o exílio em 1971.
Enquanto está fora do país colabora com jornais brasileiros, com o
pseudónimo de Frederico Marques.
No Brasil é lançado Dentro da Noite Veloz (1975) e Poema Sujo (1976).
Regressa ao Brasil em 1977, mas é preso pelo Departamento de Polícia
Política e Social. É libertado devido à intervenção dos amigos,
retomando pouco a pouco o trabalho no seu país.Vence o Prémio
Personalidade Literária do Ano, da Câmara Brasileira do Livro (1979) e
escreve a primeira peça de teatro sem parcerias, Um Rubi no Umbigo.
Publica os livros Na Vertigem do Dia (1980) e Toda a Poesia (1980), que
reúne toda a sua obra e assinala os 50 anos. Seguir-se-iam Barulhos
(1987); o livro de ensaios, Indagações de Hoje (1988); e o único livro
de crónicas, A Estranha Vida Banal (1990). O Poema Sujo é adaptado ao
Teatro em 1980.
Thereza de Aragão morre em 1993, três anos depois da morte do filho mais
novo do casal. Ferreira Gullar conhece a actual companheira, a poetisa
Cláudia Ahimsa, na feira do Livro de Frankfurt, em 1994.
Com o livro Muitas Vozes (1997) ganha o Prémio Jabuti na categoria de
poesia, ao qual iria somar o Prémio Fundação Conrado Wessel de Ciências
e Cultura e o Prémio Machado de Assis. Vence novamente o Prémio Jabuti,
em 2007, com o livro Resmungos, e em 2010 arrebata o maior prémio de
Língua portuguesa, o Prémio Camões. 
Eugénia Sousa
LIVROS
Novidades literárias
D. Quixote. O Grupo, de Mary
McCarthy. Publicado originalmente em 1963, o Grupo foi um romance
pioneiro na abordagem de temas como o casamento, a maternidade e o sexo.
O Grupo tem como protagonistas oito jovens de Nova Iorque, sendo o
casamento de uma delas o ponto de partida do romance. O Grupo permaneceu
dois anos na lista dos livros mais vendidos do New York Times.
Alfaguara. O Viajante do Século,
de Andrés Neuman. Hans é um cidadão de todos os lugares que transporta o
mundo inteiro na sua mala de viagem. Quando está prestes a partir de
Wandernburgo, um velho tocador de realejo convence-o a permanecer na
cidade. O encontro entre os dois vai mudar a vida de Hans e provocar
novos encontros, com Sophie, e com o amor. O Viajante do Século é prémio
Alfaguara de Romance em 2009.
Lua de Papel. O Dom da Dislexia,
de Ronaldo D. David, com Eldon M. Braun. A dislexia e o autismo não
impediram o autor de ser um bem sucedido engenheiro. Mas só aos 38 anos,
com um método de aprendizagem desenvolvido por ele, consegue derrubar os
obstáculos à leitura. O seu método de aprendizagem é actualmente
ensinado em 44 países. O Dom da Dislexia é o livro mais vendido de
sempre nesta área.
Cavalo de Ferro. Obra Reunida,
de Juan Rulfo. Llano em Chamas (1953), Pedro Páramo (1955) e a novela
póstuma O Galo de Ouro (1980). Com pouco mais de 300 páginas publicadas
Juan Rulfo desbravou caminhos na literatura e influenciou nomes tão
sonantes das letras sul-americanas como Gabriel García Marquez, Jorge
Luís Borges, Pablo Neruda, Carlos Fuentes ou Octávio Paz. Aviso aos
utilizadores desta obra: manusear com cuidado, material precioso.
Presença. O Museu da Inocência,
de Orhan Pamuk. Istambul é o palco para uma história de amor entre Kemal,
o herdeiro de uma família rica, e Füsun. Kemal está noivo de Sibel mas
não resiste aos encantos de Füsun, a prima afastada que conhece desde
criança, e reencontra, por acaso, anos depois. O Museu da Inocência
arrebata-nos o coração, seguimos sem hesitações, até ao fim. Orhan Pamuk
é Prémio Nobel da Literatura em 2006.
Europa-América. As Aventuras de
Tom Sawyer, de Mark Twain. Tom vive com a Tia Polly e o meio-irmão Sid,
nas margens do rio Mississipi. Os dias são passados em aventuras
imaginárias com casas assombradas, tesouros, ilhas e histórias de
piratas. Mas quando numa visita nocturna ao cemitério, Tom e o seu amigo
Huck, testemunham um crime, as aventuras começam a ser reais. As
Aventuras de Tom Sawyer (1876) é um clássico da literatura.
Esfera dos Livros. À Noite
Sonhei que Tinha Peito, de Mariela Michelena. Uma psicanalista no auge
da sua carreira profissional e da sua vida pessoal descobre uma noite,
um caroço no peito, que se comprova ser cancro. Começava assim uma dura
batalha de sofrimento, mas também uma história de esperança. Um relato
emocionante na primeira pessoa.
Difel. Planície de Espelhos, de
Gabriel Magalhães. Marta, uma professora universitária, viaja numa
estrada alentejana quando um fantasma lhe pede boleia. No dia seguinte
voltará a assombrá-la. Mas o verdadeiro mistério é o fantasma também
aparecer na vida do próprio autor, e a cada leitor deste livro. O autor
foi Prémio Revelação APE/DGLB com o livro Não Tenhas Medo do Escuro.
Gradiva. Filosofia Antiga - Nova
História da Filosofia Ocidental, de Anthony Kenny. Filosofia Antiga é o
primeiro volume de uma grande obra dedicada à Filosofia. Situa no
contexto histórico filósofos como Pitágoras, Platão, Aristóteles ou
Santo Agostinho e explica o seu contributo para as ideias que estiveram
na origem do pensamento Ocidental.

PELA OBJECTIVA DE J.
VASCO
Correr, a pé, mais de
1800 km
Contra a pobreza e Exclusão Social


Entre 13 de Abril e 21 de Maio, 140
turmas PIEF (Programa Integrado de Educação Formação), mobilizaram o
país e mais de 50 000 pessoas que, de uma maneira ou de outra,
participaram na Estafeta Contra a Pobreza e a Exclusão Social. Cada
aluno ou participante correu em média 3 km. Saíram de Lisboa, foram até
Lagos, subiram a Beja, Évora, Castelo Branco, Covilhã, Torre, Guarda,
Lamego, Guimarães, Póvoa, Porto, Gaia, Espinho, Feira, Coimbra, Tomar,
Abrantes e regresso a Lisboa, passando pela Amadora.
Houve de tudo: corrida, estafeta digital, animação, impressão de 3 500
mãos contra a exclusão e a participação dos atletas olímpicos Rosa Mota,
Carlos Lopes, Jéssica Augusto, Manuela Machado, Aurora Cunha, António
Leitão, Luís Feiteira, Ana Dias, Paulo Guerra e João Brenha, entre
outros(as).
Dois dos momentos-chave foram o erguer da bandeira Contra a Pobreza e
Exclusão Social no ponto mais alto do Continente (Torre) e a entrega do
testemunho, no dia 22 de Junho, na Assembleia da República aos deputados
da Comissão de Ciência e Educação.

BOCAS DO GALINHEIRO
O regresso dos
Vampiros

Os vampiros voltam a estar na moda.
Muito por culpa da saga “Twilight”, (Luz e Escuridão) uma tetralogia, da
autoria de Stephenie Meyer , que inclui os títulos “Crepúsculo”, “Lua
Nova”, “Eclipse” e “Amanhecer”. A escritora , de 35 anos, nasceu em
Hartford e foi criada em Phoenix com os seus cinco irmãos. Casado com um
pastor mormon e com três filhos, Stephenie é conhecida pelas seas obras
destinadas a um publico mais jovem que gosta vampiros e criaturas afins,
com um êxito aferido pelos milhões de exemplares vendidos. Mais uma vez,
perante tal êxito, o cinema não podia deixar de aproveitar este filão e
os filmes foram surgido, seguindo os títulos dos livros que lhes dão
vida.
O primeiro volume, “Crepúsculo”, lançado em 2005, deu um filme com o
mesmo título, com uma produção de pouco mais de 28 milhões de euros que
só nas bilheteiras teve um retorno cem vezes superior. Para os
protagonistas do filme o salto para a ribalta. Robert Pattisson, Kristen
Stewart e Taylor Lautner, ou seja, Edward Cullen, o vampiro, Bella Swan,
a humana, e Jacob Black, o lobisomen, preenchem o imaginário de milhares
de jovens seguidores da saga, onde perpassa um clima de romance entre
colegiais e criaturas como vampiros e lobisomens, tudo isto servido por
uns diálogos bastante simples, se calhar o termo adequado será pobres,
se calhar para não destoarem muito das personagens, longe de serem uma
referência cinematográfica. Pore´m, uma coisa a certa, a receita
resultou e a terceira entrega, “Eclipse” está aí, esgotando salas por
esse mundo fora. O enfoque nos adolescentes foi mais que conseguido com
esta visão soft de filmes sobre vampiros que se apresentam como uma
espécie de vegetarianos da espécie, uma vez que não se alimentam de
sangue humano. Longe vão os tempos áureos do vampirismo.
O primeiro filme de vampiros verdadeiramente marcante foi Nosferatu
(1922) de F.W. Murnau, um dos nomes grandes do expressionismo alemão.
Apesar de seguir de perto a obra de Bram Stoker “Drácula”, por razões
ligadas a direitos de autor. O Conde passou a Orlock, em vez de Drácula,
e a acção é também ela deslocada a Bremen, na Alemanha de 1938. Orlock,
interpretado pelo actor Max Schereck, não é o sedutor Conde, mas um
zombie corcunda, esquelético e careca, com orelhas pontiagudas e dentes
incisivos afiados, vivendo do sangue das suas vítimas. A interpretação
de Schereck foi de tal forma magistral que se especulou se ele não seria
um verdadeiro vampiro, dando origem ao filme de E. Elias Merhige “Shadow
of The Vampire” (2000), com John Malkovich no papel de Murnau e William
Dafoe como Schereck.
Porém, o actor que primeiramente será conotado com o papel de Drácula é
sem dúvida o húngaro Bela Lugosi, no filme homónimo de Tod Browning
(1931). Com a sua postura de nobre europeu, de longa capa e cabelo
impecavelmente engomado, incutiu no personagem uma aura sexual
dominadora e atractiva, elevando o actor ao estrelato, dando origem a
várias sequelas do personagem. Ombreando com Lugosi em popularidade e
sucesso junto do sexo feminino, está seguramente Christopher Lee, que se
estreia no papel em “ The horror of Drácula” (1958), dirigido por
Terence Fisher, e com Peter Cushing no papel de Van Helsing, para os
Estúdios Hammer que marcaram o cinema de terror e, particularmente o de
vampiros até aos anos 70. Lentes de contacto vermelhas que acentuavam o
olhar fatal de Drácula, donzelas em camisas de noite semitransparentes e
sangue, muito sangue a escorrer dos pescoços delas e dos caninos de Lee
e com muito sexo à mistura, são os ingredientes de uma receita explorada
neste filme e nos que se seguiram fazendo de Lee o Drácula definitiva
para as gerações de 60 e 70. É evidente que o filão vampiros deu origem
a diferentes aproximações ao tema, do absolutamente imperdível “Por
Favor não me Mordam o Pescoço” (1967), de Roman Polanski, apelando ao
riso, mas com uma mais que apetecível Sharon Tate, num dos seus últimos
filmes, seria assassinada pelo bando de James Mason em 1969, e uma
divertida variedade de vampiros, a “Entrevista com o Vampiro” (1994)
adaptação do livro de Anne Rice, com Tom Cruise, Brad Pitt e Antonio
Banderas, e “The Lost Boys” (1987) de Joel Schumacher, ao Drácula de
Bram Stoker (1992), uma reaproximação de Francis Ford Coppola à figura
clássica da obra escrita, com o inglês Gary Oldman no vampiro de cabelos
brancos e manto vermelho.
Claro está que os muito férteis anos 70 não poderiam deixar de fora um
Drácula negro. Foi no filme de 1972, “Blacula”, de William Crain, da
onda do cinema blaxploitation, com William Marshall, no papel de um
príncipe africano transformado em um vampiro por Drácula, com lugar a
sequela no ano seguinte com “Scream Blacula Scream”, a prova provada de
que em cinema (às vezes) tudo é possível! Em 1979 John Badham dirige o
seu “Drácula”, seguindo a adaptação teatral da novela de Bram Stoker da
autoria de Hamilton Deane e John Balderston, com Frank Langella e
Laurence Olivier como Van Helsing, o caçador de vampiros que, em 2004,
tem honras de filme próprio, justamente “Van Helsing”, dirigido por
Stephen Sommers, com Hugh Jackman no protagonista. Inimiga dos vampiros
é também Buffy Sommers, a caçadora de vampiros, da popular série de
televisão “Buffy, the Vampire Slayer”, com Sarah Michelle Gellar,
inspirada no filme de 1992.
Enfim, um filão que também aqui não esgotámos, e que, para o que nos
trouxe desta vez, terá continuação na adaptação que se tem por certa de
“Amanhecer”, o quarto livro da saga.
Até à próxima e bons filmes!

Luís Dinis da Rosa
Educação às tiras

Cartoon: Bruno Janeca
Argumento: Dinis Gardete
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