Director Fundador: João Ruivo    Director: João Carrega    Publicação Mensal    Ano XIII    Nº149   Julho 2010

Cultura

GENTE & LIVROS

Ferreira Gullar

«Uma parte de mim/ é todo mundo: / outra parte é ninguém:/ fundo sem fundo.
Uma parte de mim/ é multidão: /outra parte estranheza/ e solidão.
Uma parte de mim/ pesa, pondera:/ outra parte/ delira.
Uma parte de mim/ almoça e janta:/ outra parte/ se espanta.
Uma parte de mim/ é permanente:/ outra parte/ se sabe de repente.
Uma parte de mim/ é só vertigem: /outra parte,/ linguagem.
Traduzir uma parte/ na outra parte/- que é uma questão/ de vida ou morte -/ será arte?».

In Traduzir-se
 

O poeta Ferreira Gullar, pseudónimo de José Ribamar Ferreira, nasceu a 10 de Setembro de 1930, em São Luís, no Maranhão.

É durante a infância que descobre a vocação para a escrita e decide estudar Português. Aos 18 anos começa a colaborar no Suplemento Literário do Diário de São Luís, e um ano depois publica o primeiro livro, Um pouco Acima do Chão (1949). Casa com a actriz Thereza de Aragão, que seria mãe dos seus três filhos.

Trabalha como redactor do Diário Carioca e na equipa do Suplemento Dominical do Jornal do Brasil.
Filiado no Partido Comunista, quando o Brasil atravessa a ditadura militar, passa à clandestinidade, partindo para o exílio em 1971. Enquanto está fora do país colabora com jornais brasileiros, com o pseudónimo de Frederico Marques.

No Brasil é lançado Dentro da Noite Veloz (1975) e Poema Sujo (1976).
Regressa ao Brasil em 1977, mas é preso pelo Departamento de Polícia Política e Social. É libertado devido à intervenção dos amigos, retomando pouco a pouco o trabalho no seu país.Vence o Prémio Personalidade Literária do Ano, da Câmara Brasileira do Livro (1979) e escreve a primeira peça de teatro sem parcerias, Um Rubi no Umbigo.

Publica os livros Na Vertigem do Dia (1980) e Toda a Poesia (1980), que reúne toda a sua obra e assinala os 50 anos. Seguir-se-iam Barulhos (1987); o livro de ensaios, Indagações de Hoje (1988); e o único livro de crónicas, A Estranha Vida Banal (1990). O Poema Sujo é adaptado ao Teatro em 1980.

Thereza de Aragão morre em 1993, três anos depois da morte do filho mais novo do casal. Ferreira Gullar conhece a actual companheira, a poetisa Cláudia Ahimsa, na feira do Livro de Frankfurt, em 1994.

Com o livro Muitas Vozes (1997) ganha o Prémio Jabuti na categoria de poesia, ao qual iria somar o Prémio Fundação Conrado Wessel de Ciências e Cultura e o Prémio Machado de Assis. Vence novamente o Prémio Jabuti, em 2007, com o livro Resmungos, e em 2010 arrebata o maior prémio de Língua portuguesa, o Prémio Camões.

Eugénia Sousa

 

 

 

LIVROS

Novidades literárias

D. Quixote. O Grupo, de Mary McCarthy. Publicado originalmente em 1963, o Grupo foi um romance pioneiro na abordagem de temas como o casamento, a maternidade e o sexo. O Grupo tem como protagonistas oito jovens de Nova Iorque, sendo o casamento de uma delas o ponto de partida do romance. O Grupo permaneceu dois anos na lista dos livros mais vendidos do New York Times.
 

Alfaguara. O Viajante do Século, de Andrés Neuman. Hans é um cidadão de todos os lugares que transporta o mundo inteiro na sua mala de viagem. Quando está prestes a partir de Wandernburgo, um velho tocador de realejo convence-o a permanecer na cidade. O encontro entre os dois vai mudar a vida de Hans e provocar novos encontros, com Sophie, e com o amor. O Viajante do Século é prémio Alfaguara de Romance em 2009.
 

Lua de Papel. O Dom da Dislexia, de Ronaldo D. David, com Eldon M. Braun. A dislexia e o autismo não impediram o autor de ser um bem sucedido engenheiro. Mas só aos 38 anos, com um método de aprendizagem desenvolvido por ele, consegue derrubar os obstáculos à leitura. O seu método de aprendizagem é actualmente ensinado em 44 países. O Dom da Dislexia é o livro mais vendido de sempre nesta área.
 

Cavalo de Ferro. Obra Reunida, de Juan Rulfo. Llano em Chamas (1953), Pedro Páramo (1955) e a novela póstuma O Galo de Ouro (1980). Com pouco mais de 300 páginas publicadas Juan Rulfo desbravou caminhos na literatura e influenciou nomes tão sonantes das letras sul-americanas como Gabriel García Marquez, Jorge Luís Borges, Pablo Neruda, Carlos Fuentes ou Octávio Paz. Aviso aos utilizadores desta obra: manusear com cuidado, material precioso.
 

Presença. O Museu da Inocência, de Orhan Pamuk. Istambul é o palco para uma história de amor entre Kemal, o herdeiro de uma família rica, e Füsun. Kemal está noivo de Sibel mas não resiste aos encantos de Füsun, a prima afastada que conhece desde criança, e reencontra, por acaso, anos depois. O Museu da Inocência arrebata-nos o coração, seguimos sem hesitações, até ao fim. Orhan Pamuk é Prémio Nobel da Literatura em 2006.
 

Europa-América. As Aventuras de Tom Sawyer, de Mark Twain. Tom vive com a Tia Polly e o meio-irmão Sid, nas margens do rio Mississipi. Os dias são passados em aventuras imaginárias com casas assombradas, tesouros, ilhas e histórias de piratas. Mas quando numa visita nocturna ao cemitério, Tom e o seu amigo Huck, testemunham um crime, as aventuras começam a ser reais. As Aventuras de Tom Sawyer (1876) é um clássico da literatura.
 

Esfera dos Livros. À Noite Sonhei que Tinha Peito, de Mariela Michelena. Uma psicanalista no auge da sua carreira profissional e da sua vida pessoal descobre uma noite, um caroço no peito, que se comprova ser cancro. Começava assim uma dura batalha de sofrimento, mas também uma história de esperança. Um relato emocionante na primeira pessoa.
 

Difel. Planície de Espelhos, de Gabriel Magalhães. Marta, uma professora universitária, viaja numa estrada alentejana quando um fantasma lhe pede boleia. No dia seguinte voltará a assombrá-la. Mas o verdadeiro mistério é o fantasma também aparecer na vida do próprio autor, e a cada leitor deste livro. O autor foi Prémio Revelação APE/DGLB com o livro Não Tenhas Medo do Escuro.
 

Gradiva. Filosofia Antiga - Nova História da Filosofia Ocidental, de Anthony Kenny. Filosofia Antiga é o primeiro volume de uma grande obra dedicada à Filosofia. Situa no contexto histórico filósofos como Pitágoras, Platão, Aristóteles ou Santo Agostinho e explica o seu contributo para as ideias que estiveram na origem do pensamento Ocidental.
 

 

 

PELA OBJECTIVA DE J. VASCO

Correr, a pé, mais de 1800 km
Contra a pobreza e Exclusão Social

Entre 13 de Abril e 21 de Maio, 140 turmas PIEF (Programa Integrado de Educação Formação), mobilizaram o país e mais de 50 000 pessoas que, de uma maneira ou de outra, participaram na Estafeta Contra a Pobreza e a Exclusão Social. Cada aluno ou participante correu em média 3 km. Saíram de Lisboa, foram até Lagos, subiram a Beja, Évora, Castelo Branco, Covilhã, Torre, Guarda, Lamego, Guimarães, Póvoa, Porto, Gaia, Espinho, Feira, Coimbra, Tomar, Abrantes e regresso a Lisboa, passando pela Amadora.

Houve de tudo: corrida, estafeta digital, animação, impressão de 3 500 mãos contra a exclusão e a participação dos atletas olímpicos Rosa Mota, Carlos Lopes, Jéssica Augusto, Manuela Machado, Aurora Cunha, António Leitão, Luís Feiteira, Ana Dias, Paulo Guerra e João Brenha, entre outros(as).

Dois dos momentos-chave foram o erguer da bandeira Contra a Pobreza e Exclusão Social no ponto mais alto do Continente (Torre) e a entrega do testemunho, no dia 22 de Junho, na Assembleia da República aos deputados da Comissão de Ciência e Educação.

 

 

 

BOCAS DO GALINHEIRO

O regresso dos Vampiros

Os vampiros voltam a estar na moda. Muito por culpa da saga “Twilight”, (Luz e Escuridão) uma tetralogia, da autoria de Stephenie Meyer , que inclui os títulos “Crepúsculo”, “Lua Nova”, “Eclipse” e “Amanhecer”. A escritora , de 35 anos, nasceu em Hartford e foi criada em Phoenix com os seus cinco irmãos. Casado com um pastor mormon e com três filhos, Stephenie é conhecida pelas seas obras destinadas a um publico mais jovem que gosta vampiros e criaturas afins, com um êxito aferido pelos milhões de exemplares vendidos. Mais uma vez, perante tal êxito, o cinema não podia deixar de aproveitar este filão e os filmes foram surgido, seguindo os títulos dos livros que lhes dão vida.

O primeiro volume, “Crepúsculo”, lançado em 2005, deu um filme com o mesmo título, com uma produção de pouco mais de 28 milhões de euros que só nas bilheteiras teve um retorno cem vezes superior. Para os protagonistas do filme o salto para a ribalta. Robert Pattisson, Kristen Stewart e Taylor Lautner, ou seja, Edward Cullen, o vampiro, Bella Swan, a humana, e Jacob Black, o lobisomen, preenchem o imaginário de milhares de jovens seguidores da saga, onde perpassa um clima de romance entre colegiais e criaturas como vampiros e lobisomens, tudo isto servido por uns diálogos bastante simples, se calhar o termo adequado será pobres, se calhar para não destoarem muito das personagens, longe de serem uma referência cinematográfica. Pore´m, uma coisa a certa, a receita resultou e a terceira entrega, “Eclipse” está aí, esgotando salas por esse mundo fora. O enfoque nos adolescentes foi mais que conseguido com esta visão soft de filmes sobre vampiros que se apresentam como uma espécie de vegetarianos da espécie, uma vez que não se alimentam de sangue humano. Longe vão os tempos áureos do vampirismo.

O primeiro filme de vampiros verdadeiramente marcante foi Nosferatu (1922) de F.W. Murnau, um dos nomes grandes do expressionismo alemão. Apesar de seguir de perto a obra de Bram Stoker “Drácula”, por razões ligadas a direitos de autor. O Conde passou a Orlock, em vez de Drácula, e a acção é também ela deslocada a Bremen, na Alemanha de 1938. Orlock, interpretado pelo actor Max Schereck, não é o sedutor Conde, mas um zombie corcunda, esquelético e careca, com orelhas pontiagudas e dentes incisivos afiados, vivendo do sangue das suas vítimas. A interpretação de Schereck foi de tal forma magistral que se especulou se ele não seria um verdadeiro vampiro, dando origem ao filme de E. Elias Merhige “Shadow of The Vampire” (2000), com John Malkovich no papel de Murnau e William Dafoe como Schereck.

Porém, o actor que primeiramente será conotado com o papel de Drácula é sem dúvida o húngaro Bela Lugosi, no filme homónimo de Tod Browning (1931). Com a sua postura de nobre europeu, de longa capa e cabelo impecavelmente engomado, incutiu no personagem uma aura sexual dominadora e atractiva, elevando o actor ao estrelato, dando origem a várias sequelas do personagem. Ombreando com Lugosi em popularidade e sucesso junto do sexo feminino, está seguramente Christopher Lee, que se estreia no papel em “ The horror of Drácula” (1958), dirigido por Terence Fisher, e com Peter Cushing no papel de Van Helsing, para os Estúdios Hammer que marcaram o cinema de terror e, particularmente o de vampiros até aos anos 70. Lentes de contacto vermelhas que acentuavam o olhar fatal de Drácula, donzelas em camisas de noite semitransparentes e sangue, muito sangue a escorrer dos pescoços delas e dos caninos de Lee e com muito sexo à mistura, são os ingredientes de uma receita explorada neste filme e nos que se seguiram fazendo de Lee o Drácula definitiva para as gerações de 60 e 70. É evidente que o filão vampiros deu origem a diferentes aproximações ao tema, do absolutamente imperdível “Por Favor não me Mordam o Pescoço” (1967), de Roman Polanski, apelando ao riso, mas com uma mais que apetecível Sharon Tate, num dos seus últimos filmes, seria assassinada pelo bando de James Mason em 1969, e uma divertida variedade de vampiros, a “Entrevista com o Vampiro” (1994) adaptação do livro de Anne Rice, com Tom Cruise, Brad Pitt e Antonio Banderas, e “The Lost Boys” (1987) de Joel Schumacher, ao Drácula de Bram Stoker (1992), uma reaproximação de Francis Ford Coppola à figura clássica da obra escrita, com o inglês Gary Oldman no vampiro de cabelos brancos e manto vermelho.

Claro está que os muito férteis anos 70 não poderiam deixar de fora um Drácula negro. Foi no filme de 1972, “Blacula”, de William Crain, da onda do cinema blaxploitation, com William Marshall, no papel de um príncipe africano transformado em um vampiro por Drácula, com lugar a sequela no ano seguinte com “Scream Blacula Scream”, a prova provada de que em cinema (às vezes) tudo é possível! Em 1979 John Badham dirige o seu “Drácula”, seguindo a adaptação teatral da novela de Bram Stoker da autoria de Hamilton Deane e John Balderston, com Frank Langella e Laurence Olivier como Van Helsing, o caçador de vampiros que, em 2004, tem honras de filme próprio, justamente “Van Helsing”, dirigido por Stephen Sommers, com Hugh Jackman no protagonista. Inimiga dos vampiros é também Buffy Sommers, a caçadora de vampiros, da popular série de televisão “Buffy, the Vampire Slayer”, com Sarah Michelle Gellar, inspirada no filme de 1992.

Enfim, um filão que também aqui não esgotámos, e que, para o que nos trouxe desta vez, terá continuação na adaptação que se tem por certa de “Amanhecer”, o quarto livro da saga.

Até à próxima e bons filmes!

Luís Dinis da Rosa

 

 

Educação às tiras

Cartoon: Bruno Janeca
Argumento: Dinis Gardete

 

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