GARCIA PEREIRA, ADVOGADO
"A Justiça está
no grau zero"
Fiel ao seu estilo frontal e polémico,
Garcia Pereira afirma que o contínuo desprestígio da Justiça mais não é
do que o «requiem» do Estado de Direito e condena a impunidade das
violações do segredo judicial, apontando que as fugas partem do interior
do próprio sistema. O advogado lança um aviso à navegação: é nos
momentos de convulsões sociais e desconfiança na Justiça que pescam os
Bonapartes. Critica ainda a falta de pensamento estratégico para a
educação e denuncia que se estão a formar cidadãos «amorfos e pouco
conhecedores». Em entrevista ao «Ensino Magazine», Garcia Pereira revela
ainda a sua paixão pelo mar e recorda o dia 12 de Outubro de 1972,
quando presenciou a morte do dirigente estudantil Ribeiro dos Santos às
mãos da PIDE.
O ano passado publicou um livro com
um título premonitório, intitulado «Um país sob escuta». Como advogado e
cidadão como vê Portugal, à luz dos mais recentes acontecimentos?
Condeno veementemente a violação sistemática do segredo de justiça e,
consequentemente, a destruição do valor da privacidade dos cidadãos.
Acho que vamos por muito mau caminho se persistir a impunidade para
essas violações. O Estado de Direito dispõe de regras e leis que têm de
ser respeitadas, por muito que não estejamos de acordo. É um espectáculo
degradante ver que uma providência cautelar decretada por um tribunal é
ostensivamente incumprida através do expediente de dizer que não está
nenhum dos visados na redacção do jornal. Uma situação como esta é o
verdadeiro «requiem» do Estado de Direito.
Qual é a origem das violações do
segredo de justiça?
As principais fugas do segredo de justiça provêm de dentro do sistema,
ou seja da polícia, do Ministério Público e dos juízes de instrução
criminal. Assiste-se a um jogo completamente perverso que consiste em
procurar ganhar fora de campo, aquilo que pelos vistos não se consegue
ganhar dentro de campo. Já tenho anos suficientes de advocacia para
concluir que casos mediáticos em que existem violações do segredo de
justiça e presunção de inocência dos arguidos, isso indicia que em sede
de investigação criminal não se conseguem elementos suficientes para
sustentar um juízo de acusação processual. Logo, à guisa de compensação,
a moral da história é: «não te conseguimos agarrar do ponto de vista da
responsabilidade criminal, mas ao tribunal da opinião pública não te
escapas».
Está com isso a tirar legitimidade
ao uso de escutas na investigação?
O uso de escutas é um uso e um abuso. Há excepções, mas de forma
genérica, a investigação criminal tem perdido eficiência, viciando-se em
meios de investigação que se fundam na auto-culpabilização dos arguidos,
ou seja nas escutas. Em Portugal escuta-se de forma desmesurada – quatro
vezes mais aqui do que em França, para dar um exemplo. Outro dos meios
usados é a confissão dos arguidos, muitas vezes obtida através de meios
a que se chamam eufemisticamente «interrogatórios informais», a meio da
noite e bastante musculados. Nos processos onde não há escutas e onde os
arguidos têm capacidade de defesa forte, fruto do seu poder económico,
obtêm-se derrotas fragorosas, como no caso Maddie.
Revê-se na expressão «jornalismo
buraco de fechadura» para caracterizar o acção dos «media»?
Os jornais têm acesso às escutas que lhes são cedidas por alguém dentro
do processo. Não há investigação jornalística alguma. Agora também é
preciso denunciar que os grandes paladinos da liberdade de informação
são aqueles que há uns anos atrás fizeram rigorosamente o mesmo ao
serviço do cavaquismo. Manuela Moura Guedes e José Eduardo Moniz
silenciaram então tudo o que soasse a vagamente incómodo para o poder. O
actual director do «Sol», José António Saraiva, também não tem grande
autoridade para criticar visto que quando era director do «Expresso»
calou uma crónica de João Carreira Bom que era desagradável para o seu
patrão, Pinto Balsemão. Não brinquemos com a memória das pessoas! O que
temos é jornalistas completamente ao serviço dos interesses da classe
política. Julga que eles estão preocupados com os trabalhadores
despedidos na Quimonda?
Está a denunciar promiscuidade entre
sectores da Justiça e a comunicação social?
Na organização do processo penal português, o Ministério Público (MP) é
um Estado dentro de um Estado, incontrolado e incontrolável. Tem 8 meses
para concluir um inquérito, mas se demorar 8 anos, não acontece nada. A
investigação criminal precisa da imprensa para ganhar na secretaria. Por
seu lado, a imprensa precisa da Justiça para dispor de informação
privilegiada e construir manchetes, obter vendas e captar boas receitas
publicitárias, como está à vista nas vendas da edição de 12 de Fevereiro
do semanário «Sol». Esta relação recíproca e perversa levou à
admissibilidade da impunidade da violação do segredo de justiça.
Estranho quando oiço dizer que é impossível averiguar. O que acontece é
que isso implicaria que o MP, enquanto entidade competente para o
exercício da acção penal, investigasse a sério elementos do próprio MP.
Por exemplo, colocar sob escuta os telefones, os faxes e os mails dos
próprios procuradores. Está a ver algum procurador a tomar essa decisão?
Por isso é que as investigações chegam a este ridículo. Do procurador ao
jornalista todos juram que não violaram o segredo de justiça. E assim se
garante a impunidade deste crime que é mais do que uma violação da lei,
é a destruição de princípios básicos do processo penal. Quando o Estado
perde a autoridade moral, fazendo completa batota, nenhuma sentença do
poder judicial será respeitada pela comunidade. Chegámos a um barril de
pólvora. Os cidadãos não acreditam no sistema judicial. A justiça está
no grau zero. Estamos a viver uma época muito perigosa. Diz a História
que problemas sociais mal resolvidos geram tensões. Não esquecer, pior
do que isso, que sentimentos de injustiça generalizados, determinaram
sempre explosões sociais de consequências imprevisíveis.
Esta crise do regime democrático é
irónica porque coincide com o centenário da República...
Sem dúvida. Estamos a viver um período extremamente perigoso e é
precisamente nestas águas turvas que pescam os Bonapartes. Os salvadores
da pátria costumam ter saída em períodos de crise e em que não de
desenham alternativas. Não esqueçamos que o Hitler chegou ao poder aos
ombros dos operários.
O caso Casa Pia é a triste imagem do
estado da Justiça portuguesa?
O que nasce torto, dificilmente se endireita. O caso Casa Pia é
paradigmático de como não se deve fazer a investigação criminal e é
revelador da irresponsabilidade e da incompetência das instâncias
judiciais. O espectáculo mediático começou com este processo para
transmitir a sensação para a opinião publica que agora é que se está a
combater a alta criminalidade, com dedução de acusações com erros
grosseiros, inclusivamente de datas. A acumulação de erros bárbaros
contribui para tornar o processo ingerível e a eternizá-lo. Este
processo não tem rigorosamente a ver com o combate firme e decidido por
parte de um Estado ao fenómeno da pedofilia, porque esse permanece
incólume. O que temos no banco dos réus são meia dúzia de indivíduos
suspeitos, mas que nada têm a ver com as redes organizadoras que se
estão a rir na sombra.
O destino deste processo é a
prescrição?
Não sei. Os prazos de prescrição são relativamente dilatados e existem
causas de suspensão da contagem que permitem que esse tempo se alongue
algo mais. Uma coisa parece-me óbvia: se existir uma sentença –
eventualmente condenatória – 10 anos depois dos factos, a eficácia
social e pessoal dessa decisão estará afectada. Isso não é fazer
justiça, é praticar a injustiça.
O Direito do Trabalho é a sua área
especialidade. Alertou para uma hecatombe nos tribunais em termos de
pendência processual acumulada. Em que pé está a situação?
Está a agravar-se, especialmente nos tribunais de trabalho das grandes
urbes, em particular Lisboa. É mais um crime contra os cidadãos
trabalhadores deste País do qual o engenheiro Sócrates não pode ser
absolvido. Ainda antes do agravar da crise, o tribunal de Trabalho de
Lisboa tinha uma pendência média de cerca de 1 ano. Entretanto, o então
ministro da justiça, Alberto Costa, com base num estudo que nunca
ninguém viu, decidiu a extinção da terceira secção dos cinco juízos do
tribunal, amputando-a em um terço a sua capacidade de resposta. Com isto
a duração da pendência nos processos triplicou. Neste momento temos
julgamentos a ser marcados para 2012. Quer isto dizer que muitos
desempregados vão ver o seu processo chegar à fase de julgamento
completamente vulneráveis, sem subsídio de desemprego, com rendas de
casa por pagar, etc.
Isto num período em que as situações
de litígio aumentam devido ao agudizar da crise…
É evidente. O que é chocante é que os responsáveis políticos foram
avisados para este cenário, mas o executivo mantém uma visão neo-liberal
destas questões e acha que a Justiça não é um direito fundamental, mas
sim um mero serviço. E quem o quer usar, paga-o. Paga-o e bem. Visto que
aqui a justiça laboral é paga e de forma muito cara e o sistema de apoio
judiciário praticamente só se aplica a quem vive debaixo das pontes.
Porque é que diz que o Estado viola
a lei laboral?
Um país que tem uma capacidade produtiva residual, que aceitou destruir
a sua agri-cultura, a indústria, as minas e as pescas, mantendo apenas
um fraco sector terciário, assente nos «call centers» e outras coisas do
género, continua a ter por essencial da sua estratégia de
competitividade o velho modelo taylorista da utilização intensiva de
trabalho barato e mal-pago. Somos os chineses da Europa, como disse o
ex-ministro Manuel Pinho. Por isso é que se torna socialmente admissível
aceitar uma fraude completa à lei que são os chamados «recibos verdes»
para encobrir verdadeiras relações de trabalho subordinado. O principal
autor dessa fraude não é outro que o Estado. Qual é a autoridade moral
do Estado de chegar ao pé de um empregador privado e exigir que este não
pode ter trabalhadores a «recibo verde»?
Tem sido um dinâmico protagonista em
lutas pelos direitos cívicos, foi candidato à Assembleia da República e
à Presidência República. Pensa que a cidadania em portuguesa é exercida
de forma plena?
O nosso grau de cidadania é baixo, fruto de uma ideologia que decorre de
500 anos de inquisição e 50 de fascismo. As pessoas foram treinadas numa
lógica de rebanho: «manda quem pode, obedece quem deve», «ordens são
para ser cumpridos ou «é Deus quem nos ensina que devemos obedecer aos
nossos superiores», etc. Na actualidade, as pessoas são lambuzadas
diariamente com uma ideologia viscosa que as procura convencer que a
solidariedade e a entreajuda foram valores ultrapassados e que hoje
impera a competitividade desenfreada e o salve-se quem puder. Estamos a
viver num darwinismo social que transforma os yuppies dos anos 80 nuns
meninos de coro. Um darwinismo que é a versão moderna das teorias do III
Reich, que pregava que os fracos, os inválidos e os idosos não têm
direito à vida, apenas ao alcance dos mais fortes. Em Portugal, os
telejornais formatam as relações sociais. E as próprias telenovelas
modelam mais condutas sociais do que 100 decretos-leis publicados no
Diário da República. Creio que a questão da cidadania hoje é central na
discussão sobre a liberdade e a democracia nas sociedades modernas.
Existem muitos atropelos em coisas tão simples como o princípio da
igualdade de tratamento das candidaturas eleitorais. Eu fui afastado de
participar num debate com candidatos às eleições presidenciais, quando a
Lei Fundamental diz que as candidaturas devem ter igualdade de
oportunidades. Faz-se precisamente o oposto e de forma impune. Repito: é
o «requiem» do Estado de Direito.
O cenário que traça é quase
apocalíptico. Não acredita nas virtudes da mobilização social?
Eu tenho uma enorme confiança na capacidade de mobilização das pessoas e
mais ainda em momentos particularmente delicados como o actual. Nestas
situações a reacção popular é uma pradaria completamente seca, à espera
que salte a primeira faísca. A História diz-nos que quando as pessoas
sentem a justiça de uma causa e se sentem representados nela, aderem.
É preciso combater o clima de dupla desresponsabilização instalado. Por
um lado, os políticos vendem a banha da cobra em campanha, já sabendo
que nada vão cumprir na hora da verdade. O governo PS prometeu em
campanha alterar o Código do Trabalho em 442 pontos, repito, 442 pontos,
posteriormente saca o voto dos trabalhadores em geral, chega ao poder e
faz exactamente o oposto. Concordando ou não, o Presidente da República
devia dizer ao executivo que isto era uma fraude e demiti-lo. É uma
burla democrática! Quanto aos eleitores, cada vez menos exigentes a
reclamar, acontece esta coisa extraordinária que é seis meses depois de
um partido ter ganho as eleições com maioria absoluta estão todos a
protestar, até parecendo que ninguém contribuiu para o eleger. Nunca
ninguém é pai da criança…
O ex-presidente do Conselho de
Reitores alertou o governo para a necessidade de travar a «epidemia de
cursos» do ensino superior. É sustentável que tenhamos 4 mil cursos em
Portugal?
Tem-se assistido a um total desinvestimento no ensino como ferramenta
estratégica do futuro, descurando o controlo e a supervisão sobre os
padrões de qualidade. O Estado só reparou que a Universidade
Independente era o que era quando espoletou o caso da licenciatura do
Primeiro-Ministro?
Bolonha, que mais não é do que a lógica económica da época da
mundialização aplicada ao ensino, foi transformado, em alguns países,
nomeadamente o nosso, como um óptimo pretexto para diminuir o
financiamento do Estado no ensino superior, convertendo as faculdades em
autênticas empresas do Vale do Ave particularmente interessadas em
mandar trabalhadores (leia-se professores) borda fora.
Esta lógica de desinvestir vai ter
consequências nocivas na qualidade do ensino?
O problema vem muito atrás, porque não existe em matéria de educação
nenhum pensamento estratégico. Os últimos anos tornaram essa realidade
mais clara ao perceber-se que as preocupações do governo são meramente
estatísticas. Opta-se pela facilitação completa se isso permitir fingir
que temos mais qualificações do que tínhamos, o que é mentira. Portugal
não tem doutores e engenheiros a mais, pelo contrário. Tem duas vezes e
meia menos portadores de qualificações de licenciatura ou superior
relativamente à média da União Europeia.
O que é ensinado nas universidades
tem correspondência prática com o mundo real?
Essa é outra falha grave: os conteúdos. Qual é o papel fundamental do
ensino? Para mim é criar cidadãos activos e conscientes, capaz de pensar
pela sua própria cabeça. O que se faz no ensino é o oposto. Os
professores do secundário e do superior deviam debater que conhecimentos
é que os cidadãos de um país da Europa e que se pretende avançado devem
possuir. Eu sou licenciado, mestre e doutorado em Direito e defendo que
a Matemática e o Português deviam ser obrigatórios em todas as áreas de
ensino – Já o cientista Damásio diz que não se pode pensar adequadamente
sem o domínio da própria língua. A Matemática é fundamental para a
formação do raciocínio lógico. Enquanto isso, entretemo-nos com
nacional-pacovices que garantem que a internacionalização do ensino
passa por se darem umas aulas em inglês, mesmo que existam pessoas que
mal saibam falar e escrever a «Língua de Camões».
Com tão baixo nível de exigência
corremos o risco de formar gerações de medíocres?
O sistema de ensino instalado tende a formar cidadãos amorfos e muito
pouco conhecedores, cuja ignorância sobre as coisas fundamentais da vida
é disfarçada pelas estatísticas para inglês e, já agora, português ver.
Perdeu-se tempo demais com a questão
da avaliação dos professores, em vez de se ter dirigido a atenção para a
avaliação dos alunos e a discussão dos conteúdos?
O tempo perdido deveu-se simplesmente à arrogância do poder político. A
luta travada pelos docentes foi justa e heróica. As ideias para o
sistema de avaliação da anterior ministra em nada dignificavam a
excelência do ensino, baseando-se apenas na sujeição dos professores a
uma lógica de fábrica e a sua domesticação dentro de esquema do
«portas-te bem, talvez progridas na carreira» ou «se levantas problemas,
ficas estagnado». Valeu a pena a luta empreendida pelos professores. Em
boa medida eles são os responsáveis por o governo PS ter perdido a
maioria absoluta. Passada esta fase, a grande luta deve ser pelos
conteúdos do ensino e pelos métodos de trabalho e de aprendizagem e pelo
apelo à inteligência crítica dos alunos em detrimento da capacidade de
memorização. O dramático é que nada foi feito até agora. Aqui também
estamos no grau zero.
É público que tem uma forte ligação
ao mar, sendo um praticante de mergulho e de vela. Fale-nos um pouco
dessa paixão…
O mar corre-me nas veias, é algo que me tranquiliza completamente. É lá
que recarrego baterias e espaireço o espírito. Tenho uma vida
desgastante e pressionante de advogado de barra, sendo necessário todos
os dias cumprir prazos, fazer julgamentos, etc. A grande influência é
devida ao meu avô materno, Manuel Gregório Pestana Júnior, que desde
tenra idade me incutiu o gosto por tudo o que se relacionava com o mar.
Tirei a carta de marinheiro e posteriormente a carta de patrão de alto
mar, o grau máximo, o que quer dizer que estou habilitado a conduzir
qualquer embarcação de recreio em qualquer ponto do Globo.
É da autoria do seu avô a teoria de
que Cristóvão Colombo era português e estava ao serviço de D. João II…
O meu avô foi o primeiro a defender em livro a tese que Cristóvão
Colombo era de nacionalidade portuguesa e não um miserável tecelão
genovês que de repente apareceu do nada, conhecedor das mais modernas
técnicas de navegação. Para além disso era um enviado do Rei D. João II
para desviar os castelhanos da Rota do Oriente, precisamente o caminho
que mais interessava a Portugal.
Este seu familiar é talvez a sua
maior referência…
De facto o meu avô foi a minha inspiração. Ele nasceu na ilha do Porto
Santo, era advogado e foi ministro das Finanças do penúltimo governo da
primeira República. Era detentor de uma cultura universalista notável.
Foi com ele que aprendi a orientar-me pelas estrelas e que dei os
primeiros passos no mar. Aos 5 anos já pegava no leme da embarcação.
Outro momento marcante para si foi a
morte de Ribeiro dos Santos, que simbolizou o movimento estudantil
contra a ditadura até ao 25 de Abril. Que sentimento guarda desse dia?
Esse momento trágico representou o meu salto qualitativo em termos de
militância política activa e clandestina. Tinha enorme admiração por
Ribeiro dos Santos. Estávamos num meeting contra a repressão no dia 12
de Outubro 1972, em Económicas, o actual ISEG. O faro anti-bufo era
muito apurado e desconfiámos de um elemento que estava na plateia. Quase
sem aviso, Ribeiro dos Santos foi morto à queima-roupa com dois tiros no
peito por um PIDE. O funeral foi um acto memorável de mobilização da
população, indiferente à intimidação do regime, que colocou milhares de
polícia de choque nas ruas, armado até aos dentes, com cães e
ambulâncias, já temendo o pior. Tive a nítida sensação de que o
princípio do fim do regime tinha começado ali. E havia muito mais gente
a lutar contra o regime do que parecia. Lembro-me que apanhei a carreira
27 rumo ao funeral e não conhecia ninguém dentro do autocarro, mas tive
a convicção que tinham todos o mesmo destino. Logo a seguir aceitei ser
recrutado para membro da organização do MRPP para a juventude estudantil.
Nuno Dias da Silva
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Cara da Notícia
António Garcia Pereira, nasceu em
Lisboa, a 14 de Novembro de 1952. É advogado, especializado em
Direito do Trabalho, docente universitário, nomeadamente no ISEG e
dirigente político do PCTP/MRPP, partido a que preside. É licenciado
em Direito, mestre em Ciências Jurídicas e doutor em Direito do
Trabalho, este último na Universidade Nova de Lisboa. Foi candidato
derrotado a bastonário da Ordem dos Advogados, tendo exercido entre
1998 e 2000, o cargo de presidente da Comissão de Direitos Humanos
da Ordem, quando Pires de Lima era Bastonário. No exercício da sua
actividade tem sido assessor ou consultor jurídico de diversas
associações sindicais e comissões de trabalhadores. Tem encabeçado
diversas candidaturas em representação do PCTP/MRPP, em eleições
autárquicas, legislativas e presidenciais. É comentador regular do
programa «Antes pelo contrário», exibido na RTP-1, após o Telejornal.
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