Director Fundador: João Ruivo    Director: João Carrega    Publicação Mensal    Ano XIII    Nº144    Fevereiro 2010

Actualidade

UNIÃO EUROPEIA

Mariano Gago defende investigação

O ministro da Ciência, Mariano Gago, afirmou, no passado dia 8, que a ciência e a investigação têm um contributo vital para o aumento da competitividade e da produtividade, num esforço para saída da crise.

Em entrevista à Lusa a propósito da reunião informal dos ministros Europeus da Competitividade, que decorre a partir de hoje na cidade espanhola de San Sebastian, o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior insistiu que devem redobrar-se os esforços para incorporar a ciência e tecnologia nos processos produtivos, capitalizando assim nas mais valias europeias.

“A Europa tem hoje ativos importantes nesta área”, explicou Gago, recordando que o segundo dia do encontro de San Sebastian será dedicado à expansão do uso dos carros elétricos na Europa.

Um sector onde a investigação e a tecnologia europeias têm sido “decisivas”, como ocorre ainda em áreas como as energias renováveis, criando produtos de importância estratégica tanto para a Europa como para o resto do mundo.

A primeira sessão de debate esteve já concentrada na resposta à crise económica e em particular “no papel da ciência e investigação” nesses esforços de retoma económica.

“Hoje, muito do debate tem a ver com reafirmar a enorme importância para a saída da crise que é o aumento da competitividade e produtividade das empresas”, disse.

“E isso só se consegue atingir com um aumento muito significativo da incorporação do conhecimento e de ciência e tecnologia nos processo produtivos”, considerou ainda.

Para que essa vontade se materialize, Mariano Gago considera que deve ser feita uma “aposta muito deliberada” em recursos humanos, educação, informação e investigação”.

“Isso implica um reforço das universidades e das redes de universidades, tanto à escala europeia e implica naturalmente um reforço da cooperação internacional entre universidades e empresas à escala”, disse ainda.

Em debate em San Sebastian está também a questão da partilha e da cooperação no desenvolvimento de grandes infraestruturas de investigação a nível europeu.

“A época das grandes infraestruturas estritamente nacionais acabou. Hoje qualquer país, mesmo que tenha capacidade financeira para criar novas infraestruturas, aposta na colaboração”, afirmou.

Mariano Gago recorda ainda que a mobilidade científica é já bastante significativa, notando porém que ainda há que resolver alguns obstáculos, como as questões da reforma e da segurança social.

“O objetivo é permitir desenvolver carreiras científicas em vários países ao longo de uma carreira. Isso implica acordos de estabilidade em questões de reformas e segurança social”, disse.

Nesse sentido, Portugal e o Luxemburgo apresentaram já uma proposta para que o tema seja discutido por ministros da Ciência e dos Assuntos Sociais numa reunião em março.

Também no caso português Mariano Gago sublinha haver grande mobilidade, com uma relação “muito equilibrada” entre Portugal e os outros países no que toca a intercâmbios de cientistas.

“É bom que haja portugueses noutros países, desde que haja cientistas estrangeiros a vir para Portugal”, disse, notando que nos últimos anos se tem consolidado a percentagem de especialistas estrangeiros recrutados através de concursos públicos para cargos em Portugal.

“Nos últimos 2 anos, nos concursos para jovens investigadores doutorados lançados a escala nacional - para ocupar 1.200 vagas - 40 por cento dos recrutados não são portugueses”, explicou.

“Portugal é um pais que estava muito atrasado cientificamente há 30 anos, que se desenvolveu muito rapidamente e até contra algumas expetativas europeias e que atingiu níveis de desenvolvimento científico que em alguns casos superam a média”, afirmou.

Ana Baião - Expresso
(Texto escrito segundo o novo Acordo Ortográfico)

 

 

 

LÍNGUA PORTUGUESA

Vocabulário disponível na Internet

O Vocabulário Ortográfico do Português (VOP) está disponível no Portal da Língua Portuguesa - www.portaldalinguaportuguesa.org - desde o passado dia 01, informou o Instituto de Linguística Teórica e Computacional (ILTEC).

Produzido pelo ILTEC, o vocabulário reúne uma extensa lista de palavras com indicações de ortografia, categoria morfossintática e peculiaridades de flexão, caso existam.

Nesta primeira fase, o VOP, concebido para consulta na Internet, integra 150 mil palavras do vocabulário geral,num projeto submetido ao Fundo da Língua Portuguesa. Este fundo agrega quatro ministérios - Negócios Estrangeiros, Cultura, Educação e da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior - e é gerido pelo Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento (IPAD).

Até ao fim deste mês, o Portal da Língua Portuguesa disponibilizará ainda o Lince, um conversor para a nova ortografia com vários verificadores ortográficos. O Lince é uma ferramenta descarregável que permite a conversão automática de textos de qualquer dimensão para a nova ortografia.

O Lince permitirá converter textos em formatos DOC, PDF, ODT, RTF e TXT. Os verificadores ortográficos são extensões para o Microsoft Office Word e Outlook 2003 e 2007 e para o OpenOffice.org que permitem verificar a ortografia dos textos enquanto são digitalizados. Ambas as ferramentas integram os dados do VOP.

Em abril próximo, o Vocabulário Ortográfico de Português passará a dispor de mais de 200 mil entradas do vocabulário geral e seis dicionários: estrangeirismos, topónimos e gentílicos, nomes próprios, expressões latinas, unidades de medida e abreviaturas.

O VOP e os recursos a ele associados estão disponíveis gratuitamente e visam fazer face às necessidades do público em geral e dos profissionais que trabalham com a língua portuguesa, para que a redação do português seja consonante com a nova ortografia em vigor.

(Texto escrito segundo o novo Acordo Ortográfico)
 

 

 

SISTEMAS INTEGRADOS DE QUALIDADE

Piaget com pós-graduação

O Instituto Piaget acaba de abrir candidaturas para a pós-graduação em Sistemas Integrados de Qualidade, Segurança, Ambiente e Responsabilidade Social no Campus Universitário de Santo André.

A pós-graduação tem como objectivo formar técnicos especializados em sistemas de qualidade e gestão, recorrendo a técnicas e ferramentas para medição, análise e melhoria das organizações. O curso visa ainda incentivar a investigação teórica e aplicada no domínio dos sistemas integrados de gestão e desenvolver nos formandos as capacidades de gestão e liderança.

Podem candidatar-se licenciados de diversas áreas com interesse em aprofundar conhecimentos nos domínios da qualidade, gestão, segurança, ambiente e responsabilidade social. A pós-graduação tem início previsto para 20 de Março e funciona em horário pós-laboral, sextas das 18 às 22 e sábados das 9 às 18. O curso tem a duração de oito meses.

 

 

 

CASTELO BRANCO

Cavaco inaugura centro tecnológico

O Presidente da República inaugurou, no passado dia 6 de Fevereiro, o Centro Tecnológico Agro-Alimentar de Castelo Branco. Uma estrutura equipada com os mais avançados laboratórios do país e que vai acolher o Cluster Agro Industrial. Cavaco Silva ficou a conhecer a aposta estratégica da autarquia albicastrense naquele sector. “Este é o caminho da excelência que queremos trilhar”, disse Joaquim Morão, presidente da Câmara de Castelo Branco, para depois acrescentar: “o nosso objectivo é aliar a tradição à qualidade. Nós temos uma estratégia e capacidade de realização. Investimos aqui quatro milhões de euros, envolvendo neste projecto o Instituto Politécnico de Castelo Branco e a Universidade da Beira Interior”.

A aposta no sector agro alimentar e industrial foi também reforçado por Pinto de Andrade, director do Centro e docente do Instituto Politécnico de Castelo Branco. Cavaco Silva mostrou-se “absolutamente convencido que é em iniciativas deste tipo que está “o suplemento que precisamos para acelerar a recuperação económica e criar mais emprego”.

O Chefe de Estado, esteve dois dias no Distrito de Castelo Branco, onde visitou empresas e organismos inovadores em Castelo Branco, Alcains, Alpedrinha, Fundão, Covilhã, Unhais da Serra, Belmonte, Idanha-a-Nova, Penha Garcia, Orvalho, Sertã e Proença-a-Nova. Cavaco Silva sublinhou o facto da recuperação económica do país não depender essencialmente dos grandes projectos ou das grandes empresas, mas das iniciativas empresariais de menos escala e das “comunidades locais”.

Cavaco Silva destacou o facto de ter encontrado “empresas que são líderes no mercado nacional e revelam interesse em continuarem instaladas no interior do país, inovando, apostando na qualidade e não perdendo a competitividade em relação aos seus concorrentes”.

O Presidente da República foi claro ao afirmar que “devemos estar bem conscientes que não conseguiremos levar por diante a recuperação económica pensando apenas nos grandes projectos, na produção realizada nas grandes cidades ou pelas grandes empresas. Não podemos dispensar a actividade que se realiza nos concelhos de pequena e média dimensão, nas pequenas empresas e no mundo rural”.

A este propósito, o Chefe de Estado lembrou que “as pequenas e médias empresas representam cerca de 98 por cento do tecido produtivo. Daí o meu grande esforço e empenho em estimular as iniciativas nas comunidades locais e mostrar os bons exemplos nelas existentes. Na conjuntura em que vivemos é importante que os portugueses conheçam os bons exemplos de inovação que existem em Portugal”. Isto porque, justifica o Presidente, “estimula outras localidades a agirem, estimula agentes económicos, sociais e políticos a procurarem a mudança, ganharem competitividade, produzirem com qualidade e conquistarem mercados”, salientou.

 

 

 

VERME MARINHO HABITA NA RIA DE AVEIRO

Nova espécie para a ciência

Os investigadores da Universidade de Aveiro Ana Rodrigues, Vítor Quintino e Adília Pires descobriram uma nova espécie animal no Canal de Mira da Ria de Aveiro. Diopatra micrura, como se chama, é um verme marinho semelhante ao casulo Diopatra neapolitana, bem conhecido na Ria e noutros estuários e lagoas, pela sua qualidade como isco para a pesca.

Através da análise do material biológico dos vários projectos em que estes investigadores estão envolvidos, foi possível referenciar Diopatra micrura também na região costeira ao largo de Aveiro, da Nazaré e da Baía de Cascais, na costa Oeste e ao largo de Vila Real de Santo António, na costa Sul.

A nova espécie foi descoberta na zona entre marés, junto à Barra, no Canal de Mira da Ria de Aveiro, onde já anteriormente os mesmos investigadores tinham encontrado uma outra espécie, Diopatra marocensis, até então apenas conhecida para a costa de Marrocos.

Com este contributo, os investigadores do Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro e do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM) – laboratório associado – Ana Maria Rodrigues, Victor Quintino e Adília Pires (aluna de doutoramento), elevam de uma para três as espécies de Diopatra conhecidas para Portugal e para a Europa. Até à data, apenas o casulo Diopatra neapolitana estava referenciado.

 

 

 

REPORTAGEM PELAS RUAS DE LISBOA

Da spoa dos pobres ao CASA

No mês em que faz 12 anos de existência e no Ano Europeu da Luta Contra a Pobreza e a Exclusão Social, o Ensino Magazine foi a Lisboa visitar o lugar que, durante muitos anos, ficou conhecido pelo nome de Sopa dos Pobres.

Por volta das 11 horas, de segunda a sexta, começam a juntar-se à porta do Refeitório dos Anjos, em Lisboa, algumas dezenas de pessoas à espera de um almoço cedido pelos serviços da Santa Casa de Misericórdia de Lisboa (SCML), instituição criada a 15 de Agosto de 1498, por iniciativa da Rainha D.ª Leonor. Quando ao meio-dia se abrem as portas entram diariamente, até às 14 horas, cerca de 250 pessoas à procura de uma refeição quente e gratuita; à noite voltarão para o jantar. Até 1998 este refeitório chamava-se Cozinha dos Pobres, tendo como referência o serviço de refeições criado pela Santa Casa da Misericórdia em 1887 para responder a graves problemas sociais das ruas da cidade onde reinava a pobreza, a doença, promiscuidade, enjeitados e envergonhados. Desde 18 de Dezembro de 1998 o refeitório está inserido numa estrutura com mais valências denominada por CASA – Centro de Apoio Social dos Anjos que conta com a participação de 21 funcionários, 4 deles técnicos superiores. Para além de assegurar o refeitório o CASA tem ainda em funcionamento, para uma população carenciada com idades compreendidas entre os 18 e os 65 anos, um Atelier Ocupacional, Sala de Convívio, Centros de Acolhimento Nocturno (para 15 homens), Gabinete Médico com consultas de psiquiatria, rastreios de pneumologia, cuidados de enfermagem, prestação de cuidados de higiene (com balneários e lavandaria), Banco de Roupa, Orientação e Apoio na Procura de Emprego e, mais recentemente, o Clique Solidário onde os utentes interessados podem aprender noções básicas de utilização de computadores, de forma a facilitar uma possível reintegração na vida profissional.

Como modelo de intervenção junto de quem frequenta as instalações do CASA mas também com os sem abrigo (através das Equipas de Rua) os técnicos daquela instituição procuram, junto de cada um saber quem são, quais as suas necessidades, qual a resposta mais adequada. De seguida a intervenção ocorre em primeiro lugar sobre as necessidades básicas das pessoas, de seguida passam para uma área de relação/ocupação e numa fase final tenta-se a reinserção social e/ou profissional, visando a prazo uma mudança real e sustentada. Com a mediação pretende-se que os visados adquiram, de forma gradual, novas rotinas de vida como o cuidar da sua higiene, respeito pelos horários e compromissos, uma melhor gestão do pouco dinheiro que têm.

Durante o tempo em que estivemos presentes, no refeitório, atelier e, à noite, no acompanhamento de uma Equipa de Rua dos serviços da Santa Casa da Misericórdia junto das pessoas sem abrigo, encontrámos predominantemente uma população do sexo masculino que, por razões várias, se encontra isolada da sociedade e que mantém com o CASA uma relação acima de tudo utilitária. Os serviços (da SCML) tentam, quer a partir dos contactos que vão tendo com os utilizadores do refeitório ou, à noite, com os sem abrigo, estabelecer canais de diálogo de forma a construir pontes de encaminhamento para serviços facilitadores da reintegração social e económica das pessoas.

Pareceu-nos também que o número de pessoas sem abrigo nas ruas de Lisboa tem menos a ver com a crise económica (ao contrário do que inicialmente pensávamos) e mais com uma deficiente estrutura da família a que pertenciam, associado a quebras estruturais das suas vidas por onde passou muitas vezes o divórcio, consumo de álcool ou estupefacientes (que levam ao desemprego), bem como diversos tipos de doenças mentais.

Para os serviços sociais da SCML intervir na rua não é fazer caridade. Pelo contrário, através de profissionais competentes e dedicados, o que se tenta é voltar a construir pontes seguras e duradouras entre quem, por algum motivo, caiu na rua ou se encontra em situação de pobreza e isolamento, e a sociedade em que está inserido. Inclusão e dignidade social são direitos de todos e uma responsabilidade colectiva de cidadania.

João Vasco

 


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