Director Fundador: João Ruivo    Director: João Carrega    Publicação Mensal    Ano XIII    Nº150   Agosto 2010

Cultura

GENTE & LIVROS

Orhan Pamuk

«Foi o momento mais feliz da minha vida, embora então eu não tivesse consciência disso. Se o tivesse sabido, se tivesse apreciado essa dádiva, teriam as coisas terminado de outra forma? Sim, se eu tivesse reconhecido esse instante de felicidade perfeita, tê-lo-ia conservado sem nunca o deixar escapar. Talvez tenham sido necessários alguns segundos para aquele sentimento luminoso me envolver, banhando-me na mais profunda paz, mas pareceu durar horas – anos, até. Naquele momento, na tarde de 26 de Maio de 1975, uma segunda-feira, cerca de quinze minutos para as três, no instante que nos sentíamos para lá do pecado e da culpa, também o mundo parecia ter perdido as leis do tempo e da gravidade (…).

O nosso êxtase era tão profundo que continuámos a beijar-nos, alheios à queda do brinco, em cujo desenho eu nem sequer reparara.(…)».


In O Museu da Inocência
 

Prémio Nobel da Literatura, Orhan Pamuk nasceu a 7 de Junho de 1952, em Istambul, Turquia. Estudou Arquitectura, acabou por se licenciar em Jornalismo, pela Universidade de Istambul, sem nunca ter exercido. Aos 23 anos decide que quer ser romancista e sete anos depois era publicado o seu primeiro romance Cevdet Bey and His Sons (1982.). Com o livro A Cidadela Branca (1985) consegue pela primeira vez, o reconhecimento internacional. Entre 1985 e 1988 Pamuk vive em Nova Iorque, onde lecciona como professor convidado na Universidade de Columbia. Nessa cidade dos Estados Unidos começa e escreveu a maior parte The Black Book. Em 1991 nascia a filha de Pamuk, Rüya. Nesse mesmo ano The Black Book é adaptado ao cinema com o título de Hidden Face. O filme teve guião do próprio Pamuk. Publicou A Vida Nova (1995), um dos romances mais lidos de sempre na Turquia; e O Meu Nome é Vermelho (1998) que lhe valeu vários prémios literários, nomeadamente o de melhor livro estrangeiro em França e o IMPAC Dublin Literary Award, de 2003.

Nos anos 90, Pamuk envolveu-se num processo judicial com o Estado da Turquia, ao denunciar os atropelos aos Direitos Humanos cometidos pelo seu país. O escritor falou aos jornais do genocídio do povo Arménio durante a 1ª Guerra Mundial, e mais recentemente do assassinato de 30 mil Curdos. É obrigado a prestar declarações em tribunal e o caso fica conhecido no mundo inteiro. É publicado Neve (2002) que seria nas palavras do escritor « O seu primeiro e último romance político». O Romance Neve recebe em França o Prémio Médicis pelo melhor romance estrangeiro, em 2005.

Começa a escrever O Museu da Inocência em 2002 para terminar seis anos depois. O Museu da Inocência (2008) é também um romance de homenagem a Proust, um dos escritores que mais influenciaram Pamuk.

Membro da Academia Americana de Artes e Letras, Doutor Honoris Causa pelas Universidades de Tilburg, Florença e Yale, com livros traduzidos em 58 países, o Prémio Nobel da Literatura em 2006 vem juntar-se aos outros Prémios do escritor.

Pamuk vive na Turquia, na mesma cidade e bairro onde viveu quase toda a sua vida, a exercer a profissão que tem há 30 anos.

O Museu da Inocência. Kemal, jovem herdeiro de uma família rica e bem sucedida de Istambul, está noivo da filha de uma família igualmente influente. A vida de Kemal decorre tranquilamente até ao dia que reencontra Füsun, uma prima afastada, que não vê há anos. Dividido entre o amor por Füsun e o compromisso com a noiva, colecciona com paixão os pequenos objectos que Füsun vai esquecendo no apartamento onde se encontram. Como se de um Museu se tratasse, aqueles objectos contam a história do amor de Kemal e Füsun.

Eugénia Sousa

 

 

 

LIVROS

Novidades literárias

Alfaguara. Educação Siberiana, de Nicolai Lilian. Nicolai tem apenas 30 anos e um percurso de vida impressionante que partilha connosco num romance biográfico. Descendente de uma tribo de antigos guerreiros, a juventude passou-a na Sibéria, no seio de uma comunidade de criminosos, os Urca, orientado por um estrito código de honra. Aos 6 anos dão-lhe a primeira faca, aos 12 é preso por tentativa de homicídio, quando cresce é nomeado tatuador. As tatuagens no seu corpo e as páginas deste livro contam a sua história.
 

Cavalo de Ferro. Khadji-Murat, de Leo Tolstoi. Esta é a história bela e trágica de Khadji-Murat, o chefe guerreiro do Cáucaso, que abandona os companheiros, a combater a tirania do czar, e reivindica a sua liberdade, aliando-se ao inimigo russo. Publicada a título póstumo em 1912, Khadji-Murat é mais uma obra incontornável de Tolstoi, para muitos considerado o maior de todos os romancistas.
 

Presença. Procura-se Diamante para Relacionamento Sério, de Lauren Weisberger. Emmy, Leigh e Adriana são três amigas, quase a chegar aos trinta anos, que apesar de tudo o que conseguiram, não tem a certeza de estar a viver o que sonharam. É então que Emmy e Adriana fazem um acordo: mudar por completo as suas vidas no espaço de um ano. A autora de O Diabo Veste Prada regressa com um livro refrescante para o Verão.
 

D. Quixote. Meia-Noite ou o Princípio do Mundo, de Richard Zimler. Portugal. Início do século XIX. John Zarco Stewart é ainda uma criança, sensível e curiosa, a crescer na fé judaica. Um período de duras revelações e perdas coloca um ponto final na sua inocência, e só a intervenção do mágico Africano, Meia-Noite, podem ajudar John a encontrar o seu destino.
 

Europa-América. Os Filósofos no Divã, de Charles Pépin. O que resultaria de um encontro entre Platão Kant e Sartre? E se eles fossem pacientes de Freud? É este exercício que Charles Pépin propõe aos leitores. Uma original abordagem à História do Pensamento Ocidental e à vida daqueles que a protagonizaram.
 

Texto. As Consultas do Dr. Serafim e a Bronquite da Senhora Adriana, de Rosário Alçada Araújo e ilustrações de Afonso Cruz. A Senhora Adriana sofre de um feitio terrível e de uma bronquite. A fim de se tratar da bronquite, já que para o mau feitio não se conhece remédio, resolve consultar o Dr. Serafim. Mas um bilhete onde falta o ponto de interrogação leva a uma mudança inexplicável no dia do Dr. Serafim.
 

Cotovia. É Março e é Natal em Ouagadougou, de António Pinto Ribeiro. O autor reuniu em livro as suas impressões de viagens por lugares em África, América do Norte, América Sul, China ou Europa. Compõem esta obra textos publicados na Revista Obscura, no blog Próximo Futuro e inéditos.
 

Casa das Letras. Navegação Ponto por Ponto, de Gore Vidal. Gore Vidal conduz o leitor numa viagem pelas suas memórias, nos bastidores da literatura, televisão, cinema, teatro, da política e da alta sociedade. Eleanor Roosevelt, Jacqueline Kennedy, Tennesee Williams, Elian Kazan, Orson Wells, Frederico Fellini, Francis Ford Coppola e Greta Garbo são alguns dos personagens reais deste livro surpreendente.
 

Difel. A Espada de Avalon, de Marion Zimmer Bradley. A acção decorre muitos anos antes dos acontecimentos descritos em As Brumas de Avalon. Mykantor é vendido como escravo a um príncipe ferreiro, e com ele aprenderá os fundamentos da liderança. Mas a sua ausência lança Avalon numa luta pelo poder. O regresso de Mykantor com Excalibur sustenta toda a esperança de uma derrota do Feiticeiro Galid, e na paz de Avalon.
 

 

 

PELA OBJECTIVA DE J. VASCO

Encontro de papagaios

Decorreu entre 2 e 4 de Julho, em Alcochete, o 9º Festival Internacional de Papagaios (de papel) - FIPA. Tratou-se de um evento que contou com a presença de representantes de Portugal, Suécia, Brasil, Itália, Espanha, França, Alemanha, Suíça, Inglaterra, Holanda, Singapura, Índia e China. Um espectáculo para toda a família ver e fazer (há ateliers gratuitos de construção de papagaios). Em 2012 o FIPA volta com a sua 10ª edição. A não perder.

 

 

 

Música

Expensive Soul - Utopia. Com mais um trabalho de carimbo nacional, a dupla de Leça da Palmeira está de regresso aos discos com “Utopia”. New Max e Demo apresentam um dos discos mais frescos deste Verão de 2010. O primeiro avanço do trabalho foi o single “O Amor é mágico” que surpreendeu e conquistou o público Português. O som da banda mantém a mesma linha dentro do hip hop, soul e funk , com influências das músicas dos anos 60.

A pausa de aproximadamente quatro anos permitiu preparar um disco mais maduro, com uma boa evolução nas letras e na componente instrumental. Este novo “Utopia” veio relançar e consolidar a carreira desta banda que pode continuar a crescer no nosso panorama musical e a transmitir boas vibrações. Em relação as destaques deste cd, em primeiro lugar o fantástico single “O Amor é mágico”, e depois os temas “ Tem calma contigo”, “Contador de histórias” e “Dou-te nada”.

Na música este ano de 2010 tem para já um saldo muito positivo, muitos projectos novos e vários discos novos de bandas e cantores já consagrados. Os Expensive Soul vão no rumo certo para conseguirem o seu “lugar ao sol”!
 



Kylie Minogue - Aphrodite. Kylie Minogue regressou aos discos com “Aphrodite”, o 11º trabalho de uma carreira de sucesso que começou a meio da década de 80. O cartão-de-visita foi o tema “All the lovers” que chegou às Rádios no início deste Verão e em simultâneo às pistas de dança através das remisturas que acompanham o single.

Destaque para a versão de “Dada Life” e a excelente remistura que tem a assinatura de Michael Woods que estão a marcar presença nas pistas de dança em todo o mundo. Com este novo “Aphrodite” a Australiana conseguiu colocar o seu nome de novo nos top´s, e assim tentar esquecer o penúltimo trabalho “X” que passou muito despercebido! A sonoridade das novas canções é totalmente dentro da linha electrónica de dança, o house na sua componente mais comercial com algumas influências do electro.

A cantora conta com um grande naipe de convidados ilustres como é o caso de Calvin Harris, Jake Shears dos Scissor Sisters e Tim Rice dos Keane. Destaque para o primeiro single “All the lovers” e a as faixas “Get outta my way” e “Can´t beat the feeling”. Embora um pouco longe da fórmula mágica utilizada em temas como “Can´t get you out of my head”, é uma proposta interessante para este Verão de 2010.

 



Enrique Iglesias - Euphoria. Um dos nomes mais credenciados da música latina está de volta aos discos, Enrique Iglesias apresenta o novo capítulo da sua carreira “Euphoria”. A primeira amostra do trabalho foi dado a conhecer dois meses antes da edição do álbum, o single “I like it” que tem a participação especial de Pitbull e influências do clássico de Lionel Richie “All night long”.

O trabalho é apresentado em Espanhol e Inglês e tem uma lista interessante de convidados, como é o caso de Wisin & Yandel, o veterano Juan Luis Guerra, Akon e a lindíssima Nicole Scherzinger. O novo “Euphoria” é uma verdadeira caixa de surpresas, o músico apresenta um trabalho bem diferentes dos anteriores, a música latina deixa de ser dominante e surgem agora outros ritmos que o cantor ainda não tinha utilizado.

O romantismo e as baladas continuam presentes, mas a novidade está na aposta na música electrónica e em outros ritmos como o reggae. Os temas fortes são, o single “I like it” e os temas “Heartbeat”,”Why not me” e “Dile que”. Tendo Anna Kournikova como musa inspiradora, inspiração não deve faltar ao cantor...

Hugo Rafael

 

 

 

APESAR DA CRISE

Portugueses foram mais vezes ao cinema

Mesmo num ano de nova contenção de despesas, os portugueses foram mais ao cinema no primeiro semestre, segundo dados divulgados pelo Instituto do Cinema e Audiovisual (ICA).O relatório de estatísticas do ICA dá conta de que entre janeiro e junho as salas de cinema registaram 7.800.309 espetadores, o que significa que foram vendidos mais 533 mil bilhetes do que o primeiro semestre de 2009 (7.267.859 espetadores).

Em termos de receita bruta de bilheteira, os valores são também de crescimento, já que os filmes mais vistos estrearam-se em 3D, uma tecnologia que encarece o preço dos bilhetes.

Este ano, a venda de bilhetes de cinema comercial em Portugal rendeu 38 milhões de euros, um aumento de 4,8 milhões de euros comparando com o mesmo período de 2009.
Janeiro foi o mês mais concorrido nas idas ao cinema, com cerca de 1,6 milhões de espetadores, e maio, mês de trabalho mais intenso para os estudantes, com o pior resultado estatístico (967 mil espetadores).

“Avatar”, de James Cameron, estreado em 3D, foi o filme mais visto, com 780 mil espetadores e 4,5 milhões de euros de receita de bilheteira. Também em 3D, em segundo lugar figura “Alice no País das Maravilhas”, de Tim Burton, com 455 mil bilhetes vendidos e 2,8 milhões de euros de receita, e a animação “Como treinares o teu dragão”, de Dean Deblois e Chris Sanders, com 337 mil espetadores e dois milhões de euros.

Quanto à origem das produções de cinema, os Estados Unidos continuam em supremacia, com os filmes “made in América” a somarem 5,9 milhões de espetadores, contra os 570.929 de entradas para ver produções de cinema europeu.

Entretanto, a ficção “A bela e o paparazzo”, de António-Pedro Vasconcelos, foi o filme português que mais espetadores teve no primeiro semestre deste ano, mas entre os cinco mais vistos é o documentário que domina.

De acordo com dados do Instituto do Cinema e do Audiovisual divulgados, a comédia de António-Pedro Vasconcelos somou 98 722 espetadores e teve 434 mil euros de receita bruta de bilheteira.

Em segundo lugar, muito longe dos valores de “A bela e o paparazzo”, figura a produção de ficção independente “Um funeral à chuva”, de Telmo Martins, com 9 142 espetadores.
Na tabela dos cinco filmes portugueses mais vistos entre janeiro e junho os três restantes são documentários.

“Pare, escute e olhe”, filme de Jorge Pelicano sobre a desertificação em Trás-os-Montes e que se estreou em sala em abril, foi visto por 3 856 espetadores.

O filme conquistou no festival DocLisboa os prémios de “Melhor Documentário Português” e de “Melhor Montagem” e no festival Cine Eco, em Seia, arrecadou o Grande Prémio do Ambiente, Grande Prémio da Lusofonia e Prémio Especial da Juventude.

Atrás surgem “Fantasia Lusitana”, de João Canijo, com 3 782 espetadores, e “Ruínas”, de Manuel Mozos, com 2 367 bilhetes vendidos.

Entre as curtas metragens, a mais vista foi “Canção de amor e saúde”, de João Nicolau, com 2 367 espetadores.

Este texto foi escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico

 

 

 

Educação às tiras

Cartoon: Bruno Janeca
Argumento: Dinis Gardete

 

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