Director Fundador: João Ruivo    Director: João Carrega    Publicação Mensal    Ano XIII    Nº146    Abril 2010

Cultura

GENTE & LIVROS

James Hilton

(...) Lembrava-se do ar gelado da noite, após o calor daqueles aposentos, e da presença de Tchang, silenciosa serenidade, quando atravessaram, juntos, os pátios iluminados pela luz das estrelas. Jamais Xangri-Lá oferecera a seus olhos uma beleza tão intensa. Apenas adivinhado, jazia o vale além da beira do penhasco, e a sua imagem era de um lago profundo cuja tranquilidade se casava com a paz dos seus próprios pensamentos. Porque Conway já se curara do assombro. A longa conversação, com as suas várias fases, deixara-o vazio de tudo, excepto de uma satisfação que era tanto do intelecto como do sentimento, e não menos do espírito que de ambos. Até as suas dúvidas já não eram atormentadoras, mas, pelo contrário faziam parte de uma harmonia súbtil. Tchang não falava, nem ele. Era muito tarde e estava satisfeito por saber que os seus companheiros tinham ido dormir».

In Horizonte Perdido
 

James Hilton nasce a 9 de Setembro de 1900 em Leigh, Lancashire. Quando o pai é destacado para dar aulas em Londres, a família muda-se para a capital. James estuda em vários colégios antes de ingressar na Leys School, em Cambridge, onde colabora no jornal escolar. Aos 17 anos o Machester Guardian publica um artigo seu. Forma-se em história pela Universidade de Cambridge em 1921, e nesse mesmo ano começa a trabalhar para o jornal irlandês, The Irish Independent. O primeiro romance, Catherine Herself (1920), é escrito aos 17 anos. Publica vários romances nos anos vinte, mas será com E Agora, Adeus (1931) que consegue o sucesso que precisa para se dedicar inteiramente à literatura.

Horizonte Perdido (1933), uma aventura no mítico reino de Shangri-La, best-seller galardoado com o Prémio Hawthornden, em 1934, torna-se o seu mais bem sucedido romance. Ao publicar no The British Weekly o conto Adeus Mr. Chips (1934) irá conquistar um vasto público, tanto no Reino Unido como nos Estados Unidos. Seguiam-se romances como We are Not Alone (1937) e Random Harvest (1941), e mais tarde So Well Remembered (1945) e Morning Jorney (1951).

Muitos dos seus livros são adaptados ao cinema, transformando-se em clássicos. Horizonte Perdido é levado ao cinema pelo realizador Frank Capra, em 1937. O nome de Hilton passa a ser conhecido em Hollywood, também pela escrita de argumentos cinematográficos.

James Hilton morre a 20 de Dezembro de 1954, em Long Beach, California.

Horizonte Perdido. O diplomata inglês Hugh Conway vê o avião onde segue ser desviado para um misterioso vale tibetano. Naquele remoto lugar Conway e a restante tripulação - Miss Roberta Brinklow, missionária; D. Barnard, um cidadão americano; e o capitão Charles Mallinson - conhecem o mítico paraíso de Shangri-La. Aqui ninguém envelhece, os tesouros das sociedades ocidentais ameaçados pelas guerras são salvaguardados, e a busca da sabedoria é caminho e destino. Para o carismático Conway os lamas do reino reservam um plano e um papel no destino de Shangri-La. Será que ele vai aceitar?

Eugénia Sousa

 

 

 

LIVROS

Novidades literárias

Europa-América. Após as Aventuras de Tom Saywer, seguem-se as aventuras do seu amigo leal, Huckleberry Finn. Para fugir da tirania de um pai bêbado, Huck embarca, com o escravo fugitivo Jim, numa viagem de jangada pelo rio Mississípi. Peripécias e encontros sucedem-se numa odisseia cheia de humor, oferecendo ao jovem Huck um verdadeiro retrato da natureza humana, e aos leitores páginas de verdadeira evasão.
 

Presença. Apanhado pela Tempestade, de Norman Ollestad. Norman Ollestad contava apenas onze anos, em 1979, quando o pequeno avião onde seguia com o pai, a namorada deste, e o piloto, se despenhou contra as montanhas San Bernardino. Só ele e a namorada do pai sobrevivem ao acidente. Ela está ferida e Norman terá de encontrar socorro. Será nas memórias de infância, e na vontade indomável que o pai sempre lhe transmitiu, que encontrará a força necessária para concluir a aventura de descer 2607 metros sem qualquer equipamento, sozinho, e debaixo da tempestade. Parabéns à Editorial Presença pelos 50 Anos.
 

Editorial Estampa. O Que se Perdeu, de Catherine O`Flynn. Para o Jornal Guardian, este livro é « Um romance excepcional sobre o descontentamento urbano, escrito com humor e paixão. O diário ilusoriamente bem-disposto de Kate revela-nos uma sociedade motivada pelo consumo, que sufoca a sua própria solidão; um história de fantasmas; e o exame de uma perda inexprimível».
 

Campo das Letras. Em Carne Viva, de David Grossman. Yair, vendedor de livros raros, encontra a bela Miriam numa reunião de escola e escreve-lhe uma carta apaixonada. Entre eles começa uma relação que vive das palavras e desperta sentimentos há muito adormecidos. Mas Yari é um homem entre duas vidas e Miriam foge do passado.
 

Difel. A Sacerdotisa de Avalon, de Marion Zimmer Bradley e Diana L. Paxson. Esta é à história da princesa Eilam, a quem os romanos chamaram Helena, e é também a história de um tempo que haveria de chegar. A viagem de Helena começa em Avalon, ao apaixonar-se por um oficial romano, mas será como imperatriz e mãe que irá desempenhar o papel decisivo de unir o mundo cristão com o mundo pagão.
 

D. Quixote. Manual da Escuridão, de Enrique de Hériz. Após alguns reveses, o mágico Víctor Losa atravessa um momento alto da sua carreira. Em Lisboa os seus pares consagram-no como o melhor mágico do mundo e tudo parece correr bem. Mas a vida reserva-lhe um truque amargo, para o qual o seu talento não tem resposta. Uma cegueira irreversível esconde-lhe a beleza do mundo, e Víctor Losa terá de aprender a viver na escuridão.
 

Gradiva. O Meu Primeiro Livro de Astronomia - Um Guia Diário para Todas as Noites, de Jamie Jobb, e ilustrações de Linda Bennett. Este livro irá ajudar os mais pequenos a conhecer as estrelas e orientarem-se por elas, em qualquer situação, mesmo no meio do mar. Com ele vão aprender os nomes das estrelas, das constelações do Zodíaco, dos planetas do sistema solar e de outros corpos celestes.
 

Casa das Letras. Easy Money, de Jeans Lapidus. Mrado, membro da máfia jugoslava, JW um jovem estudante que procura tornar-se o rei da noite, e Jorge, um traficante de droga que planeia a fuga da prisão, tem em comum o desejo de conseguir dinheiro fácil. O destino acaba por juntá-los, mas em breve estarão envolvidos num plano de vingança contra o homem que os prejudicou. Easy Money é um Thriller envolvente que arrasta o leitor para o lado negro de Estocolmo.
 

 

 

PELA OBJECTIVA DE J. VASCO

O desporto, os Desportos
Acrobáticos e a República

Promovido pela Federação Portuguesa de Trampolins e Desportos Acrobáticos e integrado nas Comemorações do Centenário da República disputou-se, no passado mês de Abril, no Pavilhão Casal Vistoso, em Lisboa, o Campeonato Nacional de Duplo Mini-Trampolim e Tumbling, com 106 atletas inscritos.

As provas de Tumbling duram apenas breves segundos sobrando-lhes, no entanto, espectacularidade. O/a ginasta ganha velocidade e o poder de executar, ao longo de uma pista de 25 metros, uma série dos mortais e de piruetas, com os exercícios a atingirem alturas de 4 a 5 metros acima do nível do solo.
Mais importante que os vencedores é a divulgação desta modalidade.

 

 

 

Música

Sade - Soldier of love. Depois de uma década de pausa, a Nigeriana Sade regressou com um novo disco de originais. O primeiro avanço foi o single “Soldier of love” que chegou às rádios no final de 2009.

Dois meses depois chegou as lojas um dos álbuns mais aguardados dos últimos tempos. Depois do grande sucesso de “Lovers rock”, havia muita curiosidade na imprensa especializada e nos admiradores da cantora para conhecer esta nova página da sua carreira. Sade já ultrapassou a barreira dos 25 anos de carreira e vendeu mais de 50 milhões de unidades de álbuns. A sua voz tem características únicas, é suave, sensual, doce e ao mesmo tempo é intemporal, e nem parece que já faz parte da classe dos 50. O segundo single deste trabalho já roda nas rádios, é a faixa quatro “Babyfather” que espelha a sonoridade do disco.

O trabalho é constituído por canções suaves num swing de soul e r&b e algumas influências do hip hop que vão conquistar também os mais novos. Sade participou ao lado de Mike Pela na produção do álbum que foi gravado em Inglaterra. Em relação aos destaques deste registo, os singles “Babyfather” e “Soldier of love” e os temas “The moon and the sky” e “Long hard road”. Esperemos que não seja necessário esperar mais dez anos pelo regresso de Sade.
 

 

Owl City - Ocean Eyes. A banda de Adam Young é sem dúvida uma das boas surpresas dos últimos meses no mundo da música. O primeiro single “Fireflies” projectou este projecto à escala mundial e conquistou os top´s de singles numa velocidade impressionante.

Adam Young encontrou uma fórmula mágica e construiu uma daquelas canções orelhudas que conseguem conquistar de imediato até os mais distraídos. O tema “Fireflies” parece uma canção feita em laboratório. Apresenta uma abordagem diferente da música electrónica com um refrão fantástico. As vendas acompanharam o sucesso nas rádios e canais temáticos de música. Em apenas uma semana foram vendidas mais de 200 mil cópias digitas do single, e o álbum já vendeu mais de um milhão de exemplares.

Este projecto tem a particularidade de ter apenas um elemento no processo construtivo das canções, o próprio Adam Young que apenas teve a colaboração de Matt Thissen que emprestou a voz em alguns temas. A sonoridade apresentada ao longo das faixas deste “Ocean eyes” é uma mistura bem conseguida de pop, rock e muita electrónica com efeitos mágicos! O segundo single é o tema “Vanilla Twilight” que ainda não chegou às nossas rádios, mas já é possível ver o vídeo do tema na internet. Os temas fortes são os singles “Fireflies”, “Vanilla Twilight” e os temas “The bird and the worm”e “The Saltwater room”. Aqui está uma boa banda sonora para esta Primavera!
 

 

Tiago Bettencourt - Em fuga. O ex-Toranja Tiago Bettencourt continua a sua aventura a solo, depois do sucesso do primeiro trabalho “Jardim”, ele está de regresso com os Mantha. O primeiro avanço do trabalho foi o single “Só mais uma volta” que foi dado a conhecer quase dois meses antes da edição do álbum “Em fuga”. E as boas perspectivas concretizaram-se, o álbum entrou directamente para o segundo lugar do nosso top de vendas. Tal como aconteceu com o primeiro trabalho, as gravações decorreram em Lisboa e Montreal no Canadá. A produção foi entregue novamente a Howard Bilerman, um nome bem credenciado que tem no seu currículo trabalhos com grupos bem conhecidos. Para este novo disco o músico reforçou a sua equipa com o pianista Benn Lackner, Pedro Gonçalves e Inês Castelo Branco dos Dead Combo e os repetentes Tiago Maia e João Lencastre. A nova aposta é o tema “Chocamos tu e eu” que já entrou na Play list das nossas rádios. A sonoridade é próxima do álbum de estreia, continua com uma abordagem intimista no rock em estado puro, sem truques, nem efeitos especiais. Está disponível no mercado uma edição especial com mais um dvd, que apresenta imagens inéditas e um concerto com os temas do álbum de estreia. Não é tarefa fácil escolher os melhores temas deste álbum, mas o destaque vai para o singles “Chocamos tu e eu” e “Só mais uma volta”, e as faixas “Espaço impossível” e Tens de largar a mão”.

Hugo Rafael

 

 

 

BOCAS DO GALINHEIRO

Kurosawa, o grande mestre do cinema Japonês

Mais uma vez voltamos ao óbvio. Mais um ano de centenário, neste caso de Akira Kurusawa, e aqui estou a escrever sobre outro nome maior da sétima arte, cuja trajectória criativa decorre dos anos quarenta aos anos noventa do século passado. Com altos e baixos, como se passa com o comum dos mortais, mas com grandes momentos, alguns dos maiores da história do cinema.

A descoberta de Kurosawa no Ocidente ocorre em 1951 quando ganha o Leão de Ouro para o melhor filme do Festival de Veneza com “Rashomon” (Às Portas do Inferno), 1950, que viria também a ganhar o Oscar da Academia como o melhor filme em língua estrangeira estreado nos Estados Unidos naquele ano. Porém esta fita não tem apenas o condão de dar a conhecer este cineasta, mas também uma soberba lista de outros japoneses que passavam desapercebidos e cujas filmografias se vem a revelar fundamentais, caso de Mizoguchi, Naruse e Ozu, para só referir estes, para não falar da geração do pós guerra que já encontrou as portas abertas e uma grande receptividade ao cinema da terra do Sol Nascente.

Nascido em Tóquio a 24 de Março de 1910, a sua ligação ao cinema acontece muito cedo pelo facto de o seu irmão Heigo ser um benshi (narradores em directo de filmes mudos, uma profissão que ao contrário do que aconteceu noutros países em que desapareceram ainda na era do mudo, no Japão manteve-se para lá do sonoro), o que lhe permitia acompanhá-lo nas projecções e ter assim contacto com as principais obras europeias e americanas. Kurosawa iniciou-se no cinema em 1937 como assistente de realização de Kajiro Yamamoto, Eisuke Takisawa, Shu Fushimizu e Naruse, na produtora Toho. O seu primeiro filme só acontece em 1943: “Sugata Sanshiro” (A Lenda do Judo), uma biografia do herói nacional do judo, um desporto já então muito popular no Japão e a história ideal para não ter problemas com a censura, na altura muito activa face ao período de conflito que o país vivia em plena II Guerra Mundial. Na sequência da derrota do Japão, da ocupação pelas potencias vencedoras a crise perpassa o cinema nipónico, Kurosawa lança uma sequela do seu primeiro filme “Zoku Sugata Sanshiro” (A Lenda do Judo II), 1945, a que se seguem “Os Homens que pisam as Caudas do Tigre” 1945, sobre um general do século XVI, filme que dadas as contingências da época só estrearia em 1952. Depois de outros filmes, filma em 1948 “O Anjo Bêbedo” que marca o início da sua relação de mais de uma dezena de filmes com o seu actor fetiche: Toshiro Mifune. Seguem-se ainda “O Cão Danado”, 1949, e “Escândalo”, 1950, antes de “Rashomon” que, alam do já falado reconhecimento internacional representa também um mudança da trajectória do realizador. Por outro lado é um dos vários filmes de Kurosawa que é alvo de remakes, neste caso com “The Outrage”, uma versão western realizada por Martin Ritt em 1964, com Paul Newman, um bandido mexicano, no papel de Toshiro Mifune. Claro que a mais célebre foi a de John Sturges “Os 7 Magníficos”, de 1960, baseada em “Os 7 Samurais”, 1954. Mas também Sergio Leone seguiu Kurosawa em “Por Mais Alguns Dólares”, 1965, com Clint Eastwood, neste segundo filme da trilogia em que actuou às ordens de Leone, nesta versão western spaghetti de “Yojimbo”, 1961.

Os anos sessenta e princípios de setenta são anos de crise para Kurosawa marcados por uma tentativa de suicídio em 1971. A saída, a seguir ao estrondoso fracasso que foi “Dodeskaden”, foi arranjar financiamento estrangeiro para os seus filmes. É dessa forma que “Dersu Uzala”, 1975, ganha o Oscar para o melhor filme estrangeiro nesse ano pela União Soviética, mas, acima de tudo, marca uma nova era na obra do realizador que o vai manter em alta até ao fim da sua carreira que acontece em 1993 com “Madadayo” (Ainda Não!), não sem antes ter assinado “Ran” (Os Senhores da Guerra), 1985, uma adaptação de Rei Lear de Shakespeare, com a particularidade de as três filhas de Lear serem agora três filhos, que veio a seguir ao épico “Kagemusha” (A Sombra do Guerreiro), 1980, outro filme genial deste realizador assombrosamente original, um cineasta que gostava de cinema americano e onde se sente a presença de Misoguchi e dois dos seus filmes mais pessoais que precederam “Madadayo”, “Sonhos”, 1990, com produção de Spielberg, e “Rapsódia em Agosto”, uma espécie de passar em revista a infância, através dos sonhos, o gosto pela pintura e o pesadelo nuclear que assolou o seu país. Akira Kurosawa morreu em Setembro de 1998.

Até à próxima e bons filmes!

Luís Dinis da Rosa

 

 

Educação às tiras

Cartoon: Bruno Janeca
Argumento: Dinis Gardete


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