GENTE & LIVROS
James Hilton
(...) Lembrava-se do ar
gelado da noite, após o calor daqueles aposentos, e da presença de
Tchang, silenciosa serenidade, quando atravessaram, juntos, os pátios
iluminados pela luz das estrelas. Jamais Xangri-Lá oferecera a seus
olhos uma beleza tão intensa. Apenas adivinhado, jazia o vale além da
beira do penhasco, e a sua imagem era de um lago profundo cuja
tranquilidade se casava com a paz dos seus próprios pensamentos. Porque
Conway já se curara do assombro. A longa conversação, com as suas várias
fases, deixara-o vazio de tudo, excepto de uma satisfação que era tanto
do intelecto como do sentimento, e não menos do espírito que de ambos.
Até as suas dúvidas já não eram atormentadoras, mas, pelo contrário
faziam parte de uma harmonia súbtil. Tchang não falava, nem ele. Era
muito tarde e estava satisfeito por saber que os seus companheiros
tinham ido dormir».
In Horizonte Perdido
James Hilton nasce a 9 de
Setembro de 1900 em Leigh, Lancashire. Quando o pai é destacado para dar
aulas em Londres, a família muda-se para a capital. James estuda em
vários colégios antes de ingressar na Leys School, em Cambridge, onde
colabora no jornal escolar. Aos 17 anos o Machester Guardian publica um
artigo seu. Forma-se em história pela Universidade de Cambridge em 1921,
e nesse mesmo ano começa a trabalhar para o jornal irlandês, The Irish
Independent. O primeiro romance, Catherine Herself (1920), é escrito aos
17 anos. Publica vários romances nos anos vinte, mas será com E Agora,
Adeus (1931) que consegue o sucesso que precisa para se dedicar
inteiramente à literatura.
Horizonte Perdido (1933), uma aventura no mítico reino de Shangri-La,
best-seller galardoado com o Prémio Hawthornden, em 1934, torna-se o seu
mais bem sucedido romance. Ao publicar no The British Weekly o conto
Adeus Mr. Chips (1934) irá conquistar um vasto público, tanto no Reino
Unido como nos Estados Unidos. Seguiam-se romances como We are Not Alone
(1937) e Random Harvest (1941), e mais tarde So Well Remembered (1945) e
Morning Jorney (1951).
Muitos dos seus livros são adaptados ao cinema, transformando-se em
clássicos. Horizonte Perdido é levado ao cinema pelo realizador Frank
Capra, em 1937. O nome de Hilton passa a ser conhecido em Hollywood,
também pela escrita de argumentos cinematográficos.
James Hilton morre a 20 de Dezembro de 1954, em Long Beach, California.
Horizonte Perdido. O diplomata inglês Hugh Conway vê o avião onde segue
ser desviado para um misterioso vale tibetano. Naquele remoto lugar
Conway e a restante tripulação - Miss Roberta Brinklow, missionária; D.
Barnard, um cidadão americano; e o capitão Charles Mallinson - conhecem
o mítico paraíso de Shangri-La. Aqui ninguém envelhece, os tesouros das
sociedades ocidentais ameaçados pelas guerras são salvaguardados, e a
busca da sabedoria é caminho e destino. Para o carismático Conway os
lamas do reino reservam um plano e um papel no destino de Shangri-La.
Será que ele vai aceitar?
Eugénia Sousa
LIVROS
Novidades literárias
Europa-América. Após as
Aventuras de Tom Saywer, seguem-se as aventuras do seu amigo leal,
Huckleberry Finn. Para fugir da tirania de um pai bêbado, Huck embarca,
com o escravo fugitivo Jim, numa viagem de jangada pelo rio Mississípi.
Peripécias e encontros sucedem-se numa odisseia cheia de humor,
oferecendo ao jovem Huck um verdadeiro retrato da natureza humana, e aos
leitores páginas de verdadeira evasão.
Presença. Apanhado pela
Tempestade, de Norman Ollestad. Norman Ollestad contava apenas onze
anos, em 1979, quando o pequeno avião onde seguia com o pai, a namorada
deste, e o piloto, se despenhou contra as montanhas San Bernardino. Só
ele e a namorada do pai sobrevivem ao acidente. Ela está ferida e Norman
terá de encontrar socorro. Será nas memórias de infância, e na vontade
indomável que o pai sempre lhe transmitiu, que encontrará a força
necessária para concluir a aventura de descer 2607 metros sem qualquer
equipamento, sozinho, e debaixo da tempestade. Parabéns à Editorial
Presença pelos 50 Anos.
Editorial Estampa. O Que se
Perdeu, de Catherine O`Flynn. Para o Jornal Guardian, este livro é « Um
romance excepcional sobre o descontentamento urbano, escrito com humor e
paixão. O diário ilusoriamente bem-disposto de Kate revela-nos uma
sociedade motivada pelo consumo, que sufoca a sua própria solidão; um
história de fantasmas; e o exame de uma perda inexprimível».
Campo das Letras. Em Carne Viva,
de David Grossman. Yair, vendedor de livros raros, encontra a bela
Miriam numa reunião de escola e escreve-lhe uma carta apaixonada. Entre
eles começa uma relação que vive das palavras e desperta sentimentos há
muito adormecidos. Mas Yari é um homem entre duas vidas e Miriam foge do
passado.
Difel. A Sacerdotisa de Avalon,
de Marion Zimmer Bradley e Diana L. Paxson. Esta é à história da
princesa Eilam, a quem os romanos chamaram Helena, e é também a história
de um tempo que haveria de chegar. A viagem de Helena começa em Avalon,
ao apaixonar-se por um oficial romano, mas será como imperatriz e mãe
que irá desempenhar o papel decisivo de unir o mundo cristão com o mundo
pagão.
D. Quixote. Manual da Escuridão,
de Enrique de Hériz. Após alguns reveses, o mágico Víctor Losa atravessa
um momento alto da sua carreira. Em Lisboa os seus pares consagram-no
como o melhor mágico do mundo e tudo parece correr bem. Mas a vida
reserva-lhe um truque amargo, para o qual o seu talento não tem
resposta. Uma cegueira irreversível esconde-lhe a beleza do mundo, e
Víctor Losa terá de aprender a viver na escuridão.
Gradiva. O Meu Primeiro Livro de
Astronomia - Um Guia Diário para Todas as Noites, de Jamie Jobb, e
ilustrações de Linda Bennett. Este livro irá ajudar os mais pequenos a
conhecer as estrelas e orientarem-se por elas, em qualquer situação,
mesmo no meio do mar. Com ele vão aprender os nomes das estrelas, das
constelações do Zodíaco, dos planetas do sistema solar e de outros
corpos celestes.
Casa das Letras. Easy Money, de
Jeans Lapidus. Mrado, membro da máfia jugoslava, JW um jovem estudante
que procura tornar-se o rei da noite, e Jorge, um traficante de droga
que planeia a fuga da prisão, tem em comum o desejo de conseguir
dinheiro fácil. O destino acaba por juntá-los, mas em breve estarão
envolvidos num plano de vingança contra o homem que os prejudicou. Easy
Money é um Thriller envolvente que arrasta o leitor para o lado negro de
Estocolmo.
PELA OBJECTIVA DE J.
VASCO
O desporto, os
Desportos
Acrobáticos e a República
Promovido pela Federação Portuguesa de
Trampolins e Desportos Acrobáticos e integrado nas Comemorações do
Centenário da República disputou-se, no passado mês de Abril, no
Pavilhão Casal Vistoso, em Lisboa, o Campeonato Nacional de Duplo
Mini-Trampolim e Tumbling, com 106 atletas inscritos.
As provas de Tumbling duram apenas breves segundos sobrando-lhes, no
entanto, espectacularidade. O/a ginasta ganha velocidade e o poder de
executar, ao longo de uma pista de 25 metros, uma série dos mortais e de
piruetas, com os exercícios a atingirem alturas de 4 a 5 metros acima do
nível do solo.
Mais importante que os vencedores é a divulgação desta modalidade.
Música
Sade - Soldier of love. Depois
de uma década de pausa, a Nigeriana Sade regressou com um novo disco de
originais. O primeiro avanço foi o single “Soldier of love” que chegou
às rádios no final de 2009.
Dois meses depois chegou as lojas um dos álbuns mais aguardados dos
últimos tempos. Depois do grande sucesso de “Lovers rock”, havia muita
curiosidade na imprensa especializada e nos admiradores da cantora para
conhecer esta nova página da sua carreira. Sade já ultrapassou a
barreira dos 25 anos de carreira e vendeu mais de 50 milhões de unidades
de álbuns. A sua voz tem características únicas, é suave, sensual, doce
e ao mesmo tempo é intemporal, e nem parece que já faz parte da classe
dos 50. O segundo single deste trabalho já roda nas rádios, é a faixa
quatro “Babyfather” que espelha a sonoridade do disco.
O trabalho é constituído por canções suaves num swing de soul e r&b e
algumas influências do hip hop que vão conquistar também os mais novos.
Sade participou ao lado de Mike Pela na produção do álbum que foi
gravado em Inglaterra. Em relação aos destaques deste registo, os
singles “Babyfather” e “Soldier of love” e os temas “The moon and the
sky” e “Long hard road”. Esperemos que não seja necessário esperar mais
dez anos pelo regresso de Sade.
Owl City - Ocean Eyes. A banda
de Adam Young é sem dúvida uma das boas surpresas dos últimos meses no
mundo da música. O primeiro single “Fireflies” projectou este projecto à
escala mundial e conquistou os top´s de singles numa velocidade
impressionante.
Adam Young encontrou uma fórmula mágica e construiu uma daquelas canções
orelhudas que conseguem conquistar de imediato até os mais distraídos. O
tema “Fireflies” parece uma canção feita em laboratório. Apresenta uma
abordagem diferente da música electrónica com um refrão fantástico. As
vendas acompanharam o sucesso nas rádios e canais temáticos de música.
Em apenas uma semana foram vendidas mais de 200 mil cópias digitas do
single, e o álbum já vendeu mais de um milhão de exemplares.
Este projecto tem a particularidade de ter apenas um elemento no
processo construtivo das canções, o próprio Adam Young que apenas teve a
colaboração de Matt Thissen que emprestou a voz em alguns temas. A
sonoridade apresentada ao longo das faixas deste “Ocean eyes” é uma
mistura bem conseguida de pop, rock e muita electrónica com efeitos
mágicos! O segundo single é o tema “Vanilla Twilight” que ainda não
chegou às nossas rádios, mas já é possível ver o vídeo do tema na
internet. Os temas fortes são os singles “Fireflies”, “Vanilla Twilight”
e os temas “The bird and the worm”e “The Saltwater room”. Aqui está uma
boa banda sonora para esta Primavera!
Tiago Bettencourt - Em fuga. O
ex-Toranja Tiago Bettencourt continua a sua aventura a solo, depois do
sucesso do primeiro trabalho “Jardim”, ele está de regresso com os
Mantha. O primeiro avanço do trabalho foi o single “Só mais uma volta”
que foi dado a conhecer quase dois meses antes da edição do álbum “Em
fuga”. E as boas perspectivas concretizaram-se, o álbum entrou
directamente para o segundo lugar do nosso top de vendas. Tal como
aconteceu com o primeiro trabalho, as gravações decorreram em Lisboa e
Montreal no Canadá. A produção foi entregue novamente a Howard Bilerman,
um nome bem credenciado que tem no seu currículo trabalhos com grupos
bem conhecidos. Para este novo disco o músico reforçou a sua equipa com
o pianista Benn Lackner, Pedro Gonçalves e Inês Castelo Branco dos Dead
Combo e os repetentes Tiago Maia e João Lencastre. A nova aposta é o
tema “Chocamos tu e eu” que já entrou na Play list das nossas rádios. A
sonoridade é próxima do álbum de estreia, continua com uma abordagem
intimista no rock em estado puro, sem truques, nem efeitos especiais.
Está disponível no mercado uma edição especial com mais um dvd, que
apresenta imagens inéditas e um concerto com os temas do álbum de
estreia. Não é tarefa fácil escolher os melhores temas deste álbum, mas
o destaque vai para o singles “Chocamos tu e eu” e “Só mais uma volta”,
e as faixas “Espaço impossível” e Tens de largar a mão”.
Hugo Rafael
BOCAS DO GALINHEIRO
Kurosawa, o grande
mestre do cinema Japonês
Mais uma vez voltamos ao óbvio. Mais um
ano de centenário, neste caso de Akira Kurusawa, e aqui estou a escrever
sobre outro nome maior da sétima arte, cuja trajectória criativa decorre
dos anos quarenta aos anos noventa do século passado. Com altos e
baixos, como se passa com o comum dos mortais, mas com grandes momentos,
alguns dos maiores da história do cinema.
A descoberta de Kurosawa no Ocidente ocorre em 1951 quando ganha o Leão
de Ouro para o melhor filme do Festival de Veneza com “Rashomon” (Às
Portas do Inferno), 1950, que viria também a ganhar o Oscar da Academia
como o melhor filme em língua estrangeira estreado nos Estados Unidos
naquele ano. Porém esta fita não tem apenas o condão de dar a conhecer
este cineasta, mas também uma soberba lista de outros japoneses que
passavam desapercebidos e cujas filmografias se vem a revelar
fundamentais, caso de Mizoguchi, Naruse e Ozu, para só referir estes,
para não falar da geração do pós guerra que já encontrou as portas
abertas e uma grande receptividade ao cinema da terra do Sol Nascente.
Nascido em Tóquio a 24 de Março de 1910, a sua ligação ao cinema
acontece muito cedo pelo facto de o seu irmão Heigo ser um benshi
(narradores em directo de filmes mudos, uma profissão que ao contrário
do que aconteceu noutros países em que desapareceram ainda na era do
mudo, no Japão manteve-se para lá do sonoro), o que lhe permitia
acompanhá-lo nas projecções e ter assim contacto com as principais obras
europeias e americanas. Kurosawa iniciou-se no cinema em 1937 como
assistente de realização de Kajiro Yamamoto, Eisuke Takisawa, Shu
Fushimizu e Naruse, na produtora Toho. O seu primeiro filme só acontece
em 1943: “Sugata Sanshiro” (A Lenda do Judo), uma biografia do herói
nacional do judo, um desporto já então muito popular no Japão e a
história ideal para não ter problemas com a censura, na altura muito
activa face ao período de conflito que o país vivia em plena II Guerra
Mundial. Na sequência da derrota do Japão, da ocupação pelas potencias
vencedoras a crise perpassa o cinema nipónico, Kurosawa lança uma
sequela do seu primeiro filme “Zoku Sugata Sanshiro” (A Lenda do Judo II),
1945, a que se seguem “Os Homens que pisam as Caudas do Tigre” 1945,
sobre um general do século XVI, filme que dadas as contingências da
época só estrearia em 1952. Depois de outros filmes, filma em 1948 “O
Anjo Bêbedo” que marca o início da sua relação de mais de uma dezena de
filmes com o seu actor fetiche: Toshiro Mifune. Seguem-se ainda “O Cão
Danado”, 1949, e “Escândalo”, 1950, antes de “Rashomon” que, alam do já
falado reconhecimento internacional representa também um mudança da
trajectória do realizador. Por outro lado é um dos vários filmes de
Kurosawa que é alvo de remakes, neste caso com “The Outrage”, uma versão
western realizada por Martin Ritt em 1964, com Paul Newman, um bandido
mexicano, no papel de Toshiro Mifune. Claro que a mais célebre foi a de
John Sturges “Os 7 Magníficos”, de 1960, baseada em “Os 7 Samurais”,
1954. Mas também Sergio Leone seguiu Kurosawa em “Por Mais Alguns
Dólares”, 1965, com Clint Eastwood, neste segundo filme da trilogia em
que actuou às ordens de Leone, nesta versão western spaghetti de “Yojimbo”,
1961.
Os anos sessenta e princípios de setenta são anos de crise para Kurosawa
marcados por uma tentativa de suicídio em 1971. A saída, a seguir ao
estrondoso fracasso que foi “Dodeskaden”, foi arranjar financiamento
estrangeiro para os seus filmes. É dessa forma que “Dersu Uzala”, 1975,
ganha o Oscar para o melhor filme estrangeiro nesse ano pela União
Soviética, mas, acima de tudo, marca uma nova era na obra do realizador
que o vai manter em alta até ao fim da sua carreira que acontece em 1993
com “Madadayo” (Ainda Não!), não sem antes ter assinado “Ran” (Os
Senhores da Guerra), 1985, uma adaptação de Rei Lear de Shakespeare, com
a particularidade de as três filhas de Lear serem agora três filhos, que
veio a seguir ao épico “Kagemusha” (A Sombra do Guerreiro), 1980, outro
filme genial deste realizador assombrosamente original, um cineasta que
gostava de cinema americano e onde se sente a presença de Misoguchi e
dois dos seus filmes mais pessoais que precederam “Madadayo”, “Sonhos”,
1990, com produção de Spielberg, e “Rapsódia em Agosto”, uma espécie de
passar em revista a infância, através dos sonhos, o gosto pela pintura e
o pesadelo nuclear que assolou o seu país. Akira Kurosawa morreu em
Setembro de 1998.
Até à próxima e bons filmes!
Luís Dinis da Rosa
Educação às tiras
Cartoon: Bruno Janeca
Argumento: Dinis Gardete
|