JOÃO CHAVES, APRESENTADOR
DA RFM
A voz tranquila do
"Oceano Pacífico"

Ele é o homem do leme do
“navio-almirante” da rádio mais ouvida do País. João Chaves comanda,
após 25 anos de emissões ininterruptas, o mítico «Oceano Pacífico», na
RFM. No dia 18 de Outubro apagam-se as velas de um quarto de século
deste programa sem paralelo nas ondas do éter. Em entrevista ao «Ensino
Magazine», o locutor revela quais são as canções da sua vida e partilha
ainda com o nosso jornal os retalhos da vida de ouvintes que se
apaixonaram, casaram e até evitaram o suicídio inspirados pelo som das
suas «grandes músicas».
Como é que nasceu o «Oceano
Pacífico»?
Na Renascença FM, em 1984. O director da Rádio Comercial na altura,
Jaime Fernandes, estação onde eu me encontrava, foi convidado para
ingressar como director de programas na Renascença para tomar conta do
canal FM da emissora católica e levou-me com ele. Já na Renascença FM,
durante 2 meses, entre Outubro e Dezembro, fiz um programa durante a
tarde de música pop. Entretanto, o «Oceano Pacífico» começara na mesma
estação, mas apresentado pelo Marcos André. Em Dezembro, confrontaram-me
com novo desafio: assumir a condução do «Oceano Pacífico», visto que o
projecto não estava a resultar.
Como reagiu a esse desafio?
Existiam três rádios nessa altura: a Renascença, a Comercial e a RDP.
Para além da televisão pública, que dominava as audiências a seu
bel-prazer, beneficiando, em boa parte, da febre das novelas
brasileiras. A rádio no horário nocturno praticamente não tinha
expressão. As emissões eram, basicamente, com pouca música e muitas
palavras. Isso preocupou-me. Perante a minha reacção, o Jaime Fernandes
«picou-me», perguntando-me: «mas você é profissional ou não é?». Estava
a iniciar-me na carreira, mas entendi que devia provar o que valia e
agarrei o projecto com toda a força, entendendo-o como um desafio.
Como idealizou o programa que ia
apresentar?
As pessoas precisavam de um programa de rádio que lhes transmitisse paz
e relaxamento e fosse o contraponto a um dia de trabalho longo e
agitado. Lembrei-me de um programa integralmente de baladas. Propus a
ideia ao Jaime Fernandes e ele mostrou-se entusiasmado. Havia um
problema logístico que era não ter material discográfico para preencher
duas horas de programa e houve a necessidade de pedir a colaboração às
editoras. Também tive de me deslocar regularmente a Espanha onde me ia
abastecer de música. Estava fechado o dia todo em discotecas espanholas
a escolher músicas. Com o passar do tempo, passei a ter “stock”
suficiente. O facto de as editoras começarem a lançar as colectâneas
também acabou por minimizar esta dificuldade inicial.
Esperava que 25 anos depois o
programa se tornasse numa autêntica instituição?
Quando se criou o programa não se tinha em mente bater qualquer recorde
de longevidade ou audiência. O programa cresceu naturalmente.
Inicialmente tinha duas horas de emissão e depois foi aumentado mais 1
hora e agora decorre das 22 horas às 2 da manhã.
O «Oceano Pacífico» completa um
quarto de século de emissões no próximo dia 18 de Outubro. Nestes anos
tem, certamente, através de cartas, telefonemas e e-mails, experienciado
inúmeras histórias de vida. Quer partilhar connosco algumas?
Sei de pessoas que se conheceram, casaram e tiveram filhos ao som do
programa, nalguns casos, já há mesmo netos.
Já o convidaram para padrinho?
Isso não, mas há uma história de um casal que namorava à beira-mar ao
som do «Oceano Pacífico», que me convidou para fazer a banda sonora do
casamento deles. Fiz, com muito orgulho essa selecção e, felizmente,
correu tudo bem durante a cerimónia na igreja. Também recebo e-mails de
pais que, por iniciativa própria ou dos médicos, ligam a rádio no
programa nos momentos prévios ao nascimento dos filhos. Segundo me
dizem, o que parecia um parto difícil, acaba por tornar-se normal.
E o reverso da medalha. Os casos
mais dramáticos que lhe tocaram?
Casos de tentativa de suicídio que me foram comunicadas através de
telefone ou de carta. Cheguei a estar ao telefone madrugada dentro com
pessoas que me diziam ir terminar com a própria vida. Há muita gente
carente e sozinha, e o «Oceano Pacifico» puxa muito à recordação. Lembro
o caso de um senhor que me ligou para se despedir porque ia suicidar-se
e ouvia-me todos os dias. Tentei demovê-lo, ao telefone. E falei-lhe de
um disco do Richard Harris, que eu raramente passava e que transmitia
uma mensagem de esperança sobre um futuro mais risonho. Disse-lhe que ia
dedicar-lhe a música no programa, mas o senhor, ainda assim, disse-me
que a sua decisão era irreversível. Três ou quatro dias depois, recebo
um telefonema da mesma pessoa a dizer-me que depois de ouvir a tal
música recuou nas suas intenções. Dois ou três anos decorridos, o mesmo
indivíduo enviou-me uma carta a dar conta que estava a viver na Suiça
com uma senhora que conheceu em Portugal e que se encontrava muito
feliz. São casos destes que me fazem sentir muito orgulho.
A rádio, por não possuir imagem, tem
um lado místico associado à voz. São muitas as pessoas que querem
conhecer pessoalmente o João Chaves?
Hoje, a curiosidade é menor porque existem fotos no site da RFM, mas
continua a haver muitos ouvintes curiosos de saber como é a pessoa por
detrás da voz. Antigamente as pessoas imaginavam-me à imagem delas, como
elas queriam que eu fosse – louro, de olhos azuis, com 2 metros de
altura, etc. Cheguei a ter pessoas aqui à porta da rádio, no Chiado, com
a expectativa de me conhecer. Algumas delas chegaram a dormir no
exterior da RFM para me apanhar à saída ou à entrada.
Foi confrontado com alguma situação
mais embaraçosa?
Fiquei com a impressão que as pessoas pensam que pelo simples facto de
apresentar um programa de rádio sou uma pessoa inacessível. No outro
dia, o segurança passou-me uma chamada de alguém que queria falar
comigo: «Queria falar com o João Chaves», disse-me uma senhora. «Sou
eu», respondi. Ao que ela diz: «É? Mas você também atende telefones?»
…São situações como estas que acabam por, sem necessidade, nos embaraçar
um pouco.
Das músicas que passa no seu
programa consegue eleger as suas favoritas?
Houve músicas que passavam no início do programa e agora não toco, por
forma a refrescar e actualizar o «Oceano Pacifico», mas assim de repente
posso escolher os The Korgis, «Everybody’s got to learn sometime», os
Rockwell, com «Knife» e a Judy Boucher, com «Cant be with you tonight».
Estas são, no fundo, as minhas músicas.
O «Oceano Pacífico» tem uma webrádio,
24 horas por dia, desde Novembro do ano passado. Não há o risco de
roubar público à emissão radiofónica nocturna?
O risco é relativo. Os ouvintes na Web não são os mesmos da rádio
convencional. A rádio tem que ir ao encontro das pessoas e não o
contrário. Hoje em dia com as novas tecnologias nos locais de trabalho é
muito mais fácil as pessoas terem acesso a um programa de rádio através
da internet do que terem um rádio em cima da secretária. Para grande
surpresa minha, as audiências recentes indicam que a webrádio tem 140
mil ouvintes por mês.
O programa que apresenta está muito
conotado com a noite. A webrádio não desvirtua este conceito?
Confesso que achava impensável ouvir-se o «Oceano Pacífico» às 10 da
manhã, mas os indicadores que temos é que esta iniciativa tem permitido
alargar o espectro de ouvintes que nos preferem. E como é um programa de
baladas, a pessoa pode estar a trabalhar e a ouvir a webrádio sem se
desconcentrar, ; com a particularidade de não ter pausas para informação
ou publicidade.
A RFM é considerada a «rádio
perfeita». Não pára de subir em audiências e de ganhar novos públicos. O
facto de o «Oceano Pacifico» estar inserido numa rádio de sucesso ajudou
a projecção e notoriedade do programa?
O «Oceano Pacífico» foi, desde sempre, um programa de sucesso. Com
sinceridade, creio que foi mais o «Oceano Pacífico» a ajudar a RFM do
que o inverso, especialmente no final dos anos 80. Tratou-se de uma
combinação perfeita e que se tem revelado eficaz nas audiências. A RFM é
um caso único, ao nível da Europa e quase arriscaria a dizer no mundo
inteiro. A rádio cria hábitos, as pessoas gostam e vão ficando. Passam
palavra e isso faz crescer o projecto. Os números da RFM, rádio e na
internet, visto que temos 3 canais de webrádio (Anos 80, Clubbing e o
Oceano Pacífico), são assustadores. A oferta de produtos que
disponibilizamos é vasta o que permite aos ouvintes escolherem o que
mais se adequa às suas preferências.
A RFM continua a ser dirigida e
pensada para o target dos 25 aos 40 anos?
Essa faixa já foi alargada até aos 45 anos, especialmente por termos
concentrado a música que passamos nos êxitos dos anos 80 e 90. A RFM só
toca a música que as pessoas gostam. Por vezes somos acusados de não
tocarmos determinados artistas, mas não é por acaso. Não é possível
correr o risco de passar uma música que 500 ouvintes gostam e 5 mil
mudam de posto.
Não existe o risco de se cair na
monotonia com a repetição de músicas?
Existe, mas é relativo. Eu sou da opinião que quanto mais repetimos uma
música, mais o público gosta. Quando são músicas novas, para refrescar
um pouco a emissão, temos de ter a certeza que elas vão ao encontro do
gosto de quem nos ouve. A par disso renovamos com regularidade os
“jingles” que usamos em antena. Isso é um segredo para manter a rádio
sempre actualizada.
A rádio M80, do grupo Media Capital,
está a ter uma boa aceitação. Pensa que estamos perante uma tentativa de
reeditar o «Oceano Pacífico» numa rádio concorrente?
Acho que a M80 foi uma boa aposta do grupo Media Capital. O problema é
que a música só não chega. Os locutores têm que encaixar nos ouvintes e
penso que os profissionais que apresentam as emissões da M80 demonstram
um estilo demasiado forçado. A própria música que eles tocam não é muito
seleccionada. Eles para preencherem 24 horas de emissão têm que tocar
tudo, seja bom ou mau, o que é preciso é ser datada dos anos 80. Creio
que falta ali qualquer coisa. A RFM, por seu turno, escolhe
criteriosamente o que passa, até porque no jogo das audiências não se
pode facilitar.
Não tem feito mossa nas audiências?
A M80 atinge, no máximo, 4 por cento, enquanto a RFM tem 16 por cento.
São realidades incomparáveis, até porque nós tocamos, especialmente
durante o dia, muita música recente, ao contrário da M80.
Ultrapassou diversos períodos na
rádio. Agora na era digital, as emissões são feitas quase sem a
intervenção humana?
Não, de todo. Aliás, se assim fosse, não dava gozo. Eu passei por três
fases muito importantes na rádio: o fim do vinil, o advento dos cd’s e
depois o digital. Pode parecer um contra-senso, mas creio que é muito
mais entusiasmante fazer rádio agora do que era antigamente. Há
pormenores que agora fazem a diferença. O computador que temos na cabine
permite-nos introduzir uma mistura das músicas. A sincronia é perfeita,
porque eu deixo de falar e a música entra logo de seguida, sem
atropelos, sem espaços mortos e sem falar em seco. A rádio atingiu hoje
uma certa perfeição fruto da introdução do digital.
As sucessivas mortes anunciadas da
rádio foram um manifesto exagero, parafraseando um célebre aforismo do
Mark Twain?
A rádio tem que sobreviver sempre, seja em que suporte for, porque tem
seguido sempre a evolução. Este meio é, e será, em casa, no trabalho ou
no automóvel, a companhia das pessoas. Penso que o futuro da rádio está
na internet e por isso é que a RFM está a procurar antecipar essa
tendência com a webrádio que já aqui falámos. Estou em crer que mais
10/15 anos e tudo convergirá para os computadores.
E algum dia teremos rádio com
imagem?
Isso seria um perfeito disparate. Seria matar a magia que está associada
a este meio. Rádio é para se ouvir num aparelho ou num computador.
Os downloads ilegais estão destruir
a indústria musical. Como analisa esta situação?
Defendo que os downloads devem ser pagos. A indústria musical
encontra-se em grandes dificuldades. As principais editoras abandonaram
Portugal. E para além dos downloads ilegais, acontece que a música que
está na moda é a mais antiga. Ou seja, não é preciso comprar porque as
pessoas já a têm.
Defende a criminalização das
práticas que lesem a discográficas?
Tem que haver regras. Na RFM também compramos música. O justo é que
toda a gente que quer ter acesso a um produto o tenha que comprar.
Chegámos a um ponto extremo em que temos verdadeiros especialistas em
«sacar» músicas da internet. É uma prática que se tornou um negócio.
Continua a existir um défice de
música portuguesa nas ondas do éter?
A situação melhorou bastante, muito por causa da lei das quotas. Teve o
mérito de fazer lançar novos artistas da música portuguesa e fomentar
projectos musicais de vários artistas em colaboração, o que antigamente
não se via. Por exemplo, quando vou a Espanha por lá só se canta música
deles. Estou em crer que dentro de uns anos não vai ser preciso
existirem leis para cumprir esse objectivo. Naturalmente, esse hábito
vai instalar-se em Portugal e a música nacional vai estar no ouvido dos
portugueses, depois de quebrados alguns preconceitos que ainda existem e
desde que, obviamente, o produto musical tenha qualidade. Isso, para
mim, é característica fundamental.
Muitos dos seus ouvintes são
estudantes. Como vê, de forma distânciada, as turbulências no sector do
ensino?
Já deixei de estudar há muito tempo e temo ferir alguém se me alongar
nas considerações, mas genericamente posso declarar que os problemas do
ensino em Portugal não são de agora. Eles sempre existiram. Assisti
antes do 25 de Abril a manifestações que terminaram em duros confrontos
entre os estudantes e a polícia. O enquadramento mudou, é certo: o
regime é outro, há mais liberdade por parte dos estudantes para
reivindicarem as suas exigências, etc. É salutar que assim seja, até
porque, ninguém duvide, o futuro do país está nos estudantes.
Estão em causa os interesses
nacionais...
As forças em contenda, o governo e a massa estudantil, dificilmente dão
o braço a torcer. Mas estou em crer que, mais tarde ou mais cedo, as
grandes reformas no sector vão mesmo acontecer. Os próprios governantes
foram estudantes na sua juventude. É, pois, importante que prevaleça o
bom senso para resolver os focos de tensão. Temos o crónico problema de
que a nossa intervenção em atalhar os problemas peca sempre por tardia,
por isso é que teimamos em não sair da cauda da Europa em indicadores
fundamentais.

Nuno Dias da Silva
Cara da Notícia
João Chaves nasceu a 14 de Dezembro de
1954, em Sines, no litoral alentejano, mas fez toda a sua infância e
adolescência em Lisboa. Desde sempre, ser locutor de rádio foi o
sonho que acalentou. Concluiu o liceu, mas não prosseguiu os estudos
até à faculdade, «julgando que o secundário era suficiente».
Trabalhou com o pai até entrar para a Rádio Comercial, em 1982. Em
1984, assume o comando do «Oceano Pacífico», inicialmente no FM da
Rádio Renascença, tendo o programa transitado em 1987 para a
recém-nascida RFM, que ficou conhecido como o outro canal da
Renascença. Quando lhe perguntam, quando pensa abandonar o programa,
João Chaves afirma que esse dia vai chegar, «quando se reformar»,
mas admite que «é capaz de custar um bocadinho». 18 de Outubro é a
grande data. Os 25 anos de emissão do «Oceano Pacífico». O programa
das festas das comemorações arrancou com o espectáculo de Elton John
no Atlântico e vai terminar com um cruzeiro pelo Mediterrâneo.

VALTER LEMOS, SECRETÁRIO
DE ESTADO DA EDUCAÇÃO
Escola pública é mais
igual

Com o novo ano lectivo à porta e em final
de mandato, o Secretário de Estado da Educação, presta contas do
trabalho desenvolvido no Ministério da Educação. Valter Lemos diz que
hoje a escola é mais igual para todos que há quatro anos.
Esta equipa do Ministério da
Educação foi uma das que mais reformas, a vários níveis, introduziu no
sector educativo. Os objectivos foram atingidos?
Na sua esmagadora maioria foram atingidos. Esta foi uma das épocas em
que se cumpriu, de forma mais exaustiva, um programa do Governo. Isso é
muito satisfatório para uma equipa política, que se comprometeu com um
conjunto de medidas e promessas, sobre as quais, no final, deve
apresentar contas. Nós podemos apresentá-las de cara levantada, já que
cumprimos, na íntegra, o programa do Governo.
Hoje pode dizer-se que a escola
pública é igual para todos?
É mais igual, sem dúvida. Não é totalmente igual para todos, mas isso,
provavelmente nunca o será, pois os sistemas sociais não se conseguem
desenhar de uma forma perfeita. Mas não tenho dúvida nenhuma, que a
escola pública é mais igual para todos. E essa é uma das questões
centrais da política do Ministério da Educação, durante este mandato.
Requalificámos a escola em todos os sentidos, quer nos termos físico e
material, quer da sua missão. Havia um desgaste dessa missão e a ideia
de que a escola pública não servia para alguns. E o nosso objectivo foi
o de garantir um princípio essencial das democracias europeias e
modernas, que passam por a escola pública servir a todos. E hoje estamos
muito melhor do que há quatro ou cinco anos atrás. Não só para aqueles
que lá andavam, mas para aqueles que regressaram à escola.
Os resultados escolares foram uma
meta para este Ministério?
Na perspectiva deste Ministério o Alfa e o Ómega de todas as políticas
educativas devem ser os resultados escolares. Essa é uma questão
central. Ou seja todas as medidas devem ser realizadas de forma global,
articuladamente, para que o resultado seja melhor. Mas o resultado
escolar não é só aquilo que ele aprende, mas também na promoção de
igualdade de oportunidades, dos valores de cidadania e das condições do
exercício dessa cidadania nas gerações futuras. E em Portugal, onde a
escola pública tem um papel histórico muito importante, é fundamental
garantir esses princípios, tendo como meta o objectivo de obter melhores
resultados.
Isso significa?
Significa ter mais alunos na escola, durante mais tempo e a aprender
mais. Não vejo outra forma de estruturar as políticas com outro
objectivo. E todas as políticas sectoriais devem centrar-se nesse
objectivo global.
Nessa perspectiva a escolaridade
mínima obrigatória passar para o 12º ano é um objectivo a cumprir?
Criámos todas as condições para que a Lei que agora aprovámos se cumpra
rapidamente nos próximos anos. Há quatro anos quando chegámos ao
Ministério toda a gente dizia que era impossível cumprir uma lei como
essa. Neste momento nós só temos 30 mil jovens fora da escola com menos
de 18 anos. Conseguimos que as taxas de escolarização dessem um salto
significativo, através das políticas sectoriais desenvolvidas. Neste
momento já atingimos os 100 por cento de taxa de escolarização aos 16
anos e quase 90 por cento aos 17.
Mas também é importante que os
jovens não estejam apenas na escola, mas que obtenham resultados...
Conseguido o objectivo de ter os jovens na escola, importava atingir
outro que passava por fazer com que o percurso escolar deles seja bem
sucedido, em que aprendam e se possam qualificar, de modo a que a escola
promova a igualdade de oportunidades. Não nos podemos esquecer que a
desigualdade de oportunidades está relacionada com a desigualdade
escolar. O horizonte civilizacional do nosso país, como refere o
Primeiro Ministro, deve ser o ensino secundário como referencial de
qualificação para todos os portugueses. E junto das novas gerações
estamos prestes a atingi-lo. Todos os números mostram que o progresso
desde 2005 foi extraordinário.
O principal problema que afectava o
país neste domínio era o abandono escolar?
Eram as taxas de insucesso e abandono escolar, pelo que importava
melhorar isso para atingirmos um dos nossos primeiros objectivos.
Objectivos que passavam por os alunos permanecerem mais tempo na escola,
e que estando lá adquirissem mais qualificações. Por isso implementámos
medidas, que passavam pelos planos de recuperação para os alunos que
começam a ter problemas de aproveitamento, para depois passar pelos
planos de acompanhamento, ou pelos percursos alternativos ou os cursos
de educação formação. Isto para garantir que em cada momento do percurso
há uma resposta adequada ao aluno. E este era um problema que existia no
sistema de ensino, pois a única resposta que ele tinha quando o aluno
falhava era não fazer nada e reprová-lo. Estas medidas conseguiram
recuperar o ensino básico, pelo que hoje nenhum aluno está fora dessa
escolaridade.
E no ensino secundário?
Tivemos que enfrentar um problema que todos os estudos indicavam: em
Portugal apenas existia uma via de estudo para os alunos. Ora nenhum
país do mundo fazia isto! Nem mesmo os menos desenvolvidos. Permitir que
os alunos façam os seus estudos com êxito passa por lhes dar diferentes
opções. Mas a nossa escola pública só tinha o ensino geral. Houve uma ou
duas tentativas de resolver o problema, como demonstra a criação das
escolas profissionais, pelo ministro Roberto Carneiro, numa medida que
se revelou insuficiente. Mas que demonstrou que aquele modelo de ensino
funcionava. Contudo, importava que a escola secundária pública
respondesse a todos, e não apenas a alguns alunos. Por isso, essas
escolas tinham que ter disponíveis diferentes vias de ensino. E isso foi
feito com muito sucesso o que surpreendeu muita gente. Primeiro porque
ninguém estava à espera que a medida fosse tão acertiva, depois porque
as pessoas não acreditavam que a escola pública fosse capaz de responder
eficazmente, e por fim porque Portugal tem a tradição de não acreditar
em si próprio.
Todo este processo foi implementado
sem facilitismo nas escolas?
Essa questão é, como diria o Primeiro Ministro, um insulto aos
Professores. Toda a gente percebe que não é a ministra, nem os
secretários de Estado, que vão dar as aulas, fazer os testes ou avaliar
os alunos. Isso era dizer que as escolas e os professores faziam batota.
O que não acontece! Essa questão serve apenas para fazer política, mas
ninguém acredita nisso. Toda a gente sabe que uma grande parte dos
professores se manifestou contra o Ministério da Educação, pelo que
menos sentido faria dizer que os professores fossem «simples» cordeiros
a cumprir orientações de facilitismo por parte do Ministério. Isso é
algo que não faz nenhum sentido. Nos últimos dois anos os resultados
melhoraram em todos os anos de escolaridade, do 1º ao 12º, naqueles que
tiveram exames e nos que não tiveram. Pelo que essa questão de
facilitismo nem se coloca. Obviamente que os resultados são a
consequência das medidas tomadas pelo Ministério na escola. Além disso,
como todos sabemos há uma questão fundamental no processo de
aprendizagem: para aprender é preciso querer-se aprender. E os jovens
para querem aprender têm que ter percursos escolares que sejam
motivadores para eles.
Esse sucesso deve-se também a uma
mudança de estilo governativo por parte do Ministério da Educação?
Há uma mudança de estilo desta equipa ministerial, sem dúvida. E não
estou a falar nas ideias ou das estratégias de política, porque
anteriores equipas também o tiveram. Refiro-me à questão da realização:
ou seja garantir que a política acontece e que as coisas se fazem.
Ninguém nos vai tirar o mérito, por exemplo, por nos cursos
profissionais termos mais 100 mil alunos no sistema. E isso foi feito
com a legislação que já estava em vigor. Apenas adoptámos medidas de
organização e gestão com as escolas.
Isso demonstra que a Escola pública
estava preparada para responder aos desafios?
Demonstrou que estava melhor preparada do que aquilo que se dizia. É
importante recuperar as afirmações de muita gente, nessa altura, em que
não houve ninguém que dissesse que a escola tinha condições para avançar
nesse sentido. Sofremos logo críticas dos sindicatos afirmando que não
havia condições. Os comentadores disseram que éramos voluntaristas. Ora
a nossa convicção é de que se arriscássemos a ideia de que a escola não
conseguiria dar resposta aos problemas da qualificação dos jovens,
teríamos que por em causa a natureza da escola. A escola é uma das
maiores realizações da civilização humana e que permitiu os níveis de
bem estar da sociedade. Nesse sentido, não estaria disponível trocar
isso por nada. Estamos muito satisfeitos de ter sido possível provar, no
terreno, que a escola pública está em condições de cumprir as suas
funções. E esse é um dos principais resultados destas medidas.
Essa igualdade de oportunidades deve
começar logo no 1º ciclo?
No 1º ciclo a desigualdade que se verificava era brutal, era ofensiva
para uma consciência de cidadania. Eu sentia-me ofendido. Havia
crianças, no 1º ciclo, que não tinham direito a nada. Eram escolarizadas
em escolas que tinham apenas uma sala de aula e um quadro preto, por
onde passavam quatro ou cinco professores no mesmo ano lectivo. E havia
outras em que tinham excelentes condições, com meios informáticos e
quadros interactivos. Ou seja havia uma desigualdade que nos ofendia. Em
2005 havia crianças que não tinham direito a alimentação. Estavam o dia
todo sem comer. Eram situações que ultrapassavam as meras questões de
política educativa. Daí que a nossa primeira acção fosse para o 1º
ciclo, encerrando escolas sem condições e com poucos alunos, melhorando
as condições de outras, criando centros escolares, resolvendo a questão
da colocação dos professores, fazendo com que eles ficassem mais anos na
escola, e resolvendo também o acesso ao saber. Só as crianças da classe
média tinham acesso à música, à educação física ou à aprendizagem do
inglês, por exemplo. Fizemos uma grande revolução completa no 1º ciclo.
Neste momento estão em construção cerca de 300 centros escolares em
construção, o que garante outro tipo de condições aos alunos.
O papel das autarquias foi
importante?
Foi mais um dos sectores em que só havia retórica anteriormente. Não
havia nenhuma descentralização. Só é possível garantir que, num sistema
que tem milhares de escolas, que numa determinada escola estão a ser
prestadas e acompanhadas determinadas condições, se isso for feito por
quem está no terreno, por quem conhece. É uma questão de princípio.
Quando lançámos o conceito de escola a tempo inteiro tínhamos duas
opções. Ou era o Ministério a colocar os professores e teríamos hoje com
uma execução de 30 por cento, ou, em alternativa, atribuir recursos às
autarquias e fazer com que o projecto fosse implementado por elas. Esta
experiência, como refere a Associação Nacional de Municípios, foi feita
com toda a transparência. Isto permitiu-nos verificar que era possível
implementar o projecto mais depressa, pois não poderíamos aceitar a
ideia de que as crianças que já estavam no sistema não pudessem usufruir
destas medidas. Como esta parceria com as autarquias funcionou bem,
partimos para outro patamar como a transferência de espaços físicos e de
funcionários para as autarquias. Todo este processo foi realista e
através de negociação com as Câmaras - neste momento o acordo foi já
feito com 100 autarquias.
Ainda no que respeita à
requalificação do parque escolar português. Esse é um processo que vai
continuar?
Fizemos a maior operação de qualificação física escolar de toda a
história portuguesa. Só para se ter uma ideia a requalificação de todas
as escolas secundárias custa o mesmo que a construção do aeroporto de
Alcochete. Mas investimos também no plano tecnológico, colocando a
escola portuguesa na linha da frente. Antes entrávamos na escola e
tínhamos a ideia do passado e não do futuro. O plano tecnológico na
educação visou dotar as escolas de meios modernizando-a para o futuro. É
fundamental que os alunos tenham acesso à internet em qualquer lado, que
haja uma utilização dos quadros interactivos, que haja uma
disponibilidade tecnológica ao mais alto nível. E hoje Portugal é alvo
de estudo, não só nesta matéria, por parte de outros países
desenvolvidos. Somos o primeiro país do mundo a colocar um computador
pessoal na mão de cada aluno, com acesso à internet. E isto não é
estritamente uma questão educativa, mas também social, de igualdade de
oportunidades. Milhares de crianças tiveram acesso a isso, quando de
outra forma não teriam. Este facto demonstra que, mesmo partindo mais
atrás, conseguimos dar saltos significativos.

João Carrega
ESTATUTO DA CARREIRA
DOCENTE
Avaliação pode
melhorar
Valter Lemos considera que o sistema de
avaliação é essencial, mas lembra que os seus instrumentos podem ser
melhorados. De caminho atribui uma nota mais positiva aos docentes do
que “aquela que os sindicatos me dariam a mim”.
Noutra perspectiva, foi alterado o
ECD. Um processo difícil que continua a ser muito discutido na classe
docente...
Sim e ainda bem que assim é. Mal seria que a classe docente não
discutisse o seu estatuto. As mudanças que introduzimos foram feitas com
o objectivo de requalificar a profissão docente no tal pressuposto da
requalificação da escola pública. Foi introduzida uma verticalização da
carreira no sentido de haver tarefas de responsabilidade de coordenação
e supervisão as quais devem ser exercidas por professores que estão
qualificados para isso. Por outro lado, entendemos que não devem existir
promoções automáticas na carreira docente, como não deve existir em
nenhuma. Portanto são estes os dois princípios sobre os quais
continuamos convencidos da sua correcção e justeza. Embora admita
opiniões diferentes. O princípio de que na profissão docente todos são
iguais, em que um professor que acaba de dar a primeira aula tem as
mesmas competências que aquele que já está na escola há 30 anos e que
pode ter as mesmas responsabilidades, é um princípio que considero
arrasador para a profissão docente. Do mesmo modo não é correcto que
todos devam progredir na carreira independentemente do bom ou mau
desempenho da sua actividade. Eu oponho-me a isso, não só na profissão
docente, como em todas as outras. Pelo contrário, os princípios que
defendemos legitimam socialmente a profissão docente de uma forma
completamente diferente.
Relativamente ao concurso para
Professores Titulares está aberta uma nova fase?
Agora passarão a realizar-se os concursos que estão previstos no ECD.
Quando se fez a alteração desse estatuto houve um concurso excepcional
para que aqueles professores que estavam no topo da carreira pudessem
aceder a Professor Titular. Agora entrou em vigor o novo ECD, em que os
concursos para professor titular estão dependentes das vagas existentes
nas escolas e são as escolas que os promovem. Portanto todos os
professores que estão em condições de concorrer (15 anos de serviço com
o mínimo de bom, prova públicas realizadas - a qual consiste num
trabalho que será avaliado por um júri, e que o o professor poderá fazer
quando o entender), podem fazê-lo assim que haja um concurso nas
escolas.
O sistema de avaliação de desempenho
dos docentes é uma das medidas mais contestadas por parte dos
professores. Haverá outra forma de avaliar os docentes?
Com certeza que haverá muitas formas, mas não vi nenhuma alternativa
apresentada por ninguém. Os estudos que efectuámos confirmam que aquilo
que está em avaliação é o que deve ser avaliado e que passa pela
assiduidade dos professores, a participação do trabalho no cumprimento
do serviço lectivo, e as aulas.
Então porque é que há tanta
contestação?
Todos os professores que estavam em exercício, encontravam-se numa
situação completamente diferente daquela que existe hoje, onde não
existia, verdadeiramente, nenhum processo de avaliação humana, nem
condicionamento da actividade no processo de avaliação. Ao existir esse
condicionamento, esse facto gera discussão, o que é natural. E cada
pormenor gera mais ou menos discussão. E essa é a razão que eu encontro.
Quem representou a vontade dos professores nessa matéria foram os
sindicatos de professores, mas nunca tivemos qualquer proposta deles.
Pura e simplesmente defendem a suspensão do processo de avaliação, o que
eu considero lamentável para a profissão docente. Todos sabemos que não
há alternativas. O princípio de que a avaliação de desempenho tem que
existir é inatacável, no que deve ser objecto de avaliação também parece
que estamos todos de acordo, pelo que se o problema é meramente dos
itens da ficha, isso é resolúvel, como se demonstrou com a introdução de
simplificações. O que acontece é que se querem transformar pormenores
num grande problema.
Isso significa que os instrumentos
utilizados podem ser melhorados?
Com certeza que sim, à medida que forem sendo utilizados podem ser
melhorados. Já o foram e espero que no futuro possam continuar a sê-lo.
Não vejo qualquer problema nisso. É um processo que deve ser
monitorizado e que deve ser melhorado sempre que se verifique essa
necessidade. Por isso, se o problema é o dos procedimentos e dos
instrumentos, ele está resolvido.
Que nota daria, genericamente, aos
professores portugueses?
Daria uma nota bem melhor do que aquela que os sindicatos me dariam a
mim. Sou professor e tenho sobre a escola e o trabalho dos professores
convicções profundas. A profissão docente é a mais bonita de todas. Só
alguns tem a sorte de poder fazer futuro e os professores têm essa
oportunidade. Agora a conta em que nós temos a escola e os professores
resulta, não dos artigos que toda a gente faz nem da retórica, mas
naquilo que verdadeiramente se faz. E não creio que, desde o 25 Abril,
tivessem sido adoptadas medidas que fossem conscientes da capacidade da
escola. Todas elas assentaram no pressuposto de confiança no trabalho da
escola pública, ou seja que a escola era capaz de fazer, o que demonstra
confiança na capacidade de realização da escola e dos professores. As
políticas devem ser avaliadas pela sua colocação no terreno. Um
político, responsável, quando se candidata deve apresentar um programa e
no final deve apresentar contas sobre as suas propostas. E nesse
aspecto, não tenho nenhum problema, de linha a linha, de as apresentar.
Todas as políticas desenhadas por nós partiram sempre no pressuposto de
confiança do trabalho dos professores e da escola, ao contrário daqueles
que referem sempre que os professores não estão preparados quando
tentamos por uma política no terreno.

João Carrega
ODETE PATRÍCIO,
DIRECTORA-GERAL DA FUNDAÇÃO DE SERRALVES
A importância de se
chamar Serralves

Destino obrigatório numa cidade de muitos
encantos, Serralves podia ser eleita como uma das 7 maravilhas do Porto.
No ano em que se comemora os 20 anos da Fundação e os 10 anos do Museu,
Odete Patrício, Directora-Geral da Fundação de Serralves, em entrevista
por email, fala da relação da Fundação com as escolas, na importância de
uma equipa competente e apaixonada na gestão de uma organização e do
futuro.
Comemorou-se em Maio, numa festa
non-stop que durou 40 horas, os 20 anos da Fundação de Serralves e os 10
anos do Museu. Qual o balanço desta festa?
O Serralves em Festa realiza-se anualmente desde 2004, mas a edição
deste ano (a sexta) foi um momento de comemoração particularmente
marcante, já que se celebram em 2009 os aniversários da Fundação e do
Museu, 20 e 10 anos, respectivamente.
A Festa realiza-se durante 40 horas consecutivas e todos os anos são
apresentadas dezenas de actividades, nas áreas da música, dança,
acrobacia, performance, teatro, circo contemporâneo, cinema, vídeo,
fotografia, oficinas, visitas orientadas, exposições. Durante estas 40
horas, Serralves recebe todos os anos centenas de artistas e um número
cada vez maior de visitantes, que este ano ultrapassou os 86 mil.
Serralves em Festa é uma prenda que Serralves oferece à cidade, à região
e ao país.
Serralves em Festa é sempre um momento de grande entusiasmo e
gratificação pelo retorno que o público nos dá. Ano após ano, cada vez
mais pessoas, de todas as idades e estratos sociais, participam
entusiasticamente na Festa. É, portanto, uma celebração e um projecto de
grande generosidade de todas as entidades envolvidas, desde os nossos
parceiros culturais, os nossos mecenas e, acima de tudo, o nosso
público.
Livros à Solta é o tema de um dos
Projectos da Fundação de Serralves com as Escolas. Em que consiste este
projecto?
“Livros à Solta” é a temática do projecto anual com escolas promovido
pelo Serviço Educativo da Fundação de Serralves no ano lectivo
2008-2009. Este projecto teve como ponto de partida a Colecção de Livros
de Artista da Fundação de Serralves e apelou a uma reflexão em torno do
livro.
O Serviço Educativo propôs às escolas uma atenção à forma, ao conteúdo,
aos materiais e às técnicas utilizadas na elaboração de livros, à
diversidade de registos - escritos, desenhados, pintados, fotografados
ou impressos, para potenciar aprendizagens e desenvolver a criatividade.
Deste projecto resulta a exposição “Livros à Solta” (patente na Sala do
Serviço Educativo do Museu de Serralves até ao dia 27 de Setembro), que
apresenta trabalhos concebidos nas escolas por grupos do pré-escolar ao
ensino secundário. Os trabalhos expostos são o resultado de diferentes
percursos, das interpretações dos seus autores e da orientação dada
pelos respectivos professores e educadores.
Quais são os principais objectivos
da Fundação de Serralves na sua relação com as escolas do país?
Serralves sempre encarou as escolas do país e mais concretamente os
professores como parceiros fundamentais para a consecução da sua Missão.
De facto, a componente e abordagem pedagógicas, que sempre nortearam a
nossa actuação, passam obrigatoriamente pelas escolas, com quem
procuramos trabalhar de forma coordenada e complementar. Os públicos
infanto-juvenis têm uma abertura e interesse livres de preconceitos, que
em muito favorecem a transmissão de conhecimentos. E os professores são
os mediadores perfeitos para este encontro.
O Museu de Serralves tem patente até
dia 27 de Setembro de 2009 “ A Colecção”. O que é que o público pode ver
nesta exposição?
A exposição “Serralves 2009 – A Colecção” foi inaugurada no dia 29 de
Maio, com a presença do Presidente da República. É a grande exposição do
ano em Serralves, um dos pontos altos das comemorações do 20º
aniversário da Fundação e do 10º Aniversário do Museu. O público pode
encontrar, pela primeira vez de uma forma sistemática, a colecção de
obras de arte da Fundação de Serralves, uma colecção de referência
internacional.
A exposição terá lugar em dois momentos consecutivos: a primeira parte
da exposição que fica patente no Museu até 27 Setembro e a segunda que
será inaugurada em Outubro. Esta primeira parte reúne cerca de 200
trabalhos, de artistas portugueses e estrangeiros, representativas dos
diferentes períodos da história da Colecção. As obras não estão
instaladas por ordem cronológica, nem por movimentos, mas sim em grupos
de peças de épocas e técnicas diferentes, que serão um desafio para os
visitantes.
A exposição de obras e colecções de
autores internacionais em Serralves atrai mais público nacional e
estrangeiro?
As exposições em Serralves são programadas tendo como critério não o seu
potencial de atrair público, mas a sua relevância, qualidade e
contributo para a reflexão sobre a arte contemporânea. Claro que é
importante para Serralves receber um grande número de visitantes (como
tem acontecido, de forma crescente, todos os anos), mas esse não é um
factor determinante na construção do programa de exposições.
Serralves é uma referência nacional
incontornável, e que leitura faz da sua projecção internacional?
De facto, Serralves atingiu, a nível nacional, um patamar que nos deixa
muito satisfeitos. A instituição é uma referência na sua área de
actuação e é hoje reconhecida pela maior parte da população nacional.
Quanto à projecção internacional, embora já muito notória, há ainda um
caminho a percorrer. Queremos reforçar a nossa notoriedade e
reconhecimento a nível internacional. Esse é, aliás, um dos objectivos
mais importantes para os próximos anos.
A crise económica mundial condiciona
a procura de espaços de arte e cultura?
Não temos sentido o efeito da crise no número de pessoas que visitam
Serralves.
Quais são as principais metas que se
propôs na gestão da Fundação de Serralves?
As organizações são, na sua essência, um conjunto de pessoas que
trabalham com um objectivo comum. Ora, a minha grande meta tem sido
conseguir uma equipa motivada, competente e apaixonada pela instituição
e seus programas. E conseguir fazer sobressair o que cada colaborador
tem de melhor e colocar essa mais-valia ao serviço de Serralves. As
pessoas são o mais importante de uma organização, desde que cada uma
cumpra o que dela se espera e que nos surpreenda quando ultrapassa os
seus próprios limites e objectivos.
Que medidas em prol da cultura
gostaria de ver implementadas em Portugal?
Introduzir metodologias de gestão capazes de quebrar alguns tabus.

Entrevista: Eugénia Sousa _
Fotos: Direitos reservados

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