GENTE & LIVROS
Ryszard Kapuscinski

«Quando reflicto sobre
as minhas viagens pelo mundo durante todos estes anos, às vezes penso
que o problema principal residia, não tanto nas fronteiras, nas frentes
de combate, no cansaço, ou nos perigos, mas antes numa inquietude,
tantas vezes reavivada, sobre a qualidade e o desenrolar do encontro com
outras pessoas que se ia encontrar pelo caminho. Isto acontecia porque
sabia que muito, e algumas vezes até tudo, ia depender disso. Cada um
desses encontros era uma incógnita: como ia decorrer, o que ia
acontecer, como ia terminar?
Obviamente que perguntas deste tipo são eternas. O encontro com outra
pessoa ou com outras pessoas sempre foi a experiência básica e universal
do género humano. (...)»
O Encontro com o Outro como
Desafio do século XXI- In O Outro
Ryszard Kapuscinski nasceu
a 4 de Março de 1932, na cidade polaca de Pinsk, actual Biolorrússia.
Licenciado em História, começa a carreira como jornalista em 1955. Ainda
nos anos 50 é enviado como correspondente para a Ásia e o Médio Oriente.
Nos anos 60 trabalha como correspondente da Agência de Notícias Polaca
PAP, atravessa cenários de guerra na América Latina e na África, onde
reporta a actividade dos movimentos nacionalistas de países como a
Etiópia, Gana, Ruanda e Uganda. A experiência como repórter na Polónia
fica registada no livro de The Polish Bush.
Passa a escrever para a revista semanal Kultura em 1974, e o seu nome
ganha projecção internacional com os livros O Imperador, sobre a queda
do imperador etíope Haile Selassie (1892-1975), e Xá dos Xás que trata a
revolução iraniana de 1979, que afasta do poder o Xá Reza Pahlevi
(1919-1980) e inicia o regime dos Ayatollah`s.
O espírito de aventura e vontade de mundo levaram Kapuscinski ao palco
de 27 revoluções e a ser condenado 4 vezes por fuzilamento.
Mas o homem livre haveria de se cansar da censura Polaca e em 1980
começar a colaborar com jornais e revistas internacionais, como o The
New York Times ou o Frankfurter Allgemeine Zeitung.
Considerado o melhor jornalista polaco do século XX, consegue o Prémio
Príncipe das Astúrias de Comunicação e Humanidades em 2003; e o
doutoramento “Honoris Causa” pela Universidade Ramón Llull, em 2005.
«O verdadeiro mestre do jornalismo», como lhe chamou Gabriel García
Márquez, despedia-se do mundo, que conheceu e reportou, a 23 de Janeiro
de 2007.
Da sua bibliografia fazem parte os títulos: Mais um Dia de Vida - Angola
(1975); Ébano - Febre Africana (2001); O Imperador (2004); O Império
(2005); O Outro (2006); Heranças Com Heródoto (2007). Em Portugal os
seus livros estão publicados pela editora Campo das Letras.
O Outro, de Ryszard
Kapuscinski. O livro reúne seis conferências proferidas em 1990 e 2004
em diferentes ocasiões. Para Kapuscinski o contacto com a verdade do
Outro, era a grande aventura. O o que poderá ser o encontro com o homem
livre ou privado de direitos, europeu ou não europeu, branco ou negro?
Para o jornalista: «…devemos procurar o diálogo concordante com o outro.
A experiência de viver durante anos entre longínquos Outros ensinou-me
que só a afabilidade com a outra parte permite despertar nela o sentido
da humanidade». 
Eugénia Sousa
LIVROS
Novidades literárias
OCEANOS. A Rainha no Palácio das
Correntes de Ar, de Stieg Larsson. O volume fecha a trilogia Millennium
que se iniciou com Os Homens que Odeiam as Mulheres e segue com A
Rapariga que Sonhava com uma Lata de Gasolina e um Fósforo. No último
livro da série, Lisbeth Salander sobrevive aos ferimentos provocados
pelo atentado, mas tem de permanecer semanas hospitalizada. Lisbeth só
pode contar com Mikael Blomkvist para a ajudar a desmascarar a
conspiração que visa eliminá-la.
PRESENÇA. A Música as
Borboletas, de Rachael King. Ano de 1903. Thomas Edgar, coleccionador de
borboletas deseja encontrar uma espécie rara. Ao ser convidado por um
magnata da borracha a participar numa expedição científica ao Brasil, vê
nessa viagem a sua oportunidade. Mas Thomas mudou nessa viagem. Conheceu
a beleza extraordinária do Amazonas, mas também um lado negro para o
qual não estava preparado. A Música das Borboletas é um primeiro romance
notável.
PIAGET. Noções de Cultura
Científica e Tecnológica – Conceitos de Base Progressos Históricos e
Concepções Frequentes, de Marcel Thouin. A obra vem permitir a aquisição
de conhecimentos nas mais variadas áreas da ciência, ao abordar a
natureza da actividade científica e tecnológica situando-a numa
perspectiva histórica. Recomendado a alunos, professores e demais
interessados.
TEXTO. O Senhor Cinco Por Cento,
de Ralph Hewins. Escrita com a colaboração do filho, Nubar Sarkis
Gulbenkian, esta é a biografia do homem que construiu um império assente
no petróleo, e em meados do século XX era apontado como o «Homem mais
rico do mundo». A faceta de mecenas de Calouste Gulbenkian deixaria
marcas no mundo e também no nosso país. Uma biografia autorizada mas não
branqueada.
EUROPA-AMÉRICA. Picasso, de
Henry Gidel. Vencedor do Prémio Goncourt na área das Biografias, Henry
Gidel escreveu a história do artista que revolucionou a pintura no
século XX. O cubismo, as mulheres, as paixões, as amizades famosas, tudo
traços de um criador genial, autor de uma obra que é património da
humanidade.
LIVROS D’HOJE. Educar Os Filhos
- Uma Urgência nos Dias que Correm, de Aldo Naori. Aldo Naori, um dos
mais conceituados pediatras mundiais, defende, entre muitas coisas, que
as influências recebidas pela criança nos primeiros anos de vida são
fundamentais para que esta se torne um adulto equilibrado. Para tal,
ensina os pais a educar os filhos.
ESFERAS DOS LIVROS. Os Melhores
Contos Espirituais do Oriente, de Ramiro Calle. Os mestres espírituais
da Índia recorriam à narrativa para instruírem os discípulos. Ramiro
Calle, em mais de 70 viagens à Ásia, selecciona 250 desses contos
belíssimos e partilha através deles conhecimentos profundos que revelam
uma nova percepção sobre a vida.
ESPUMA DOS DIAS. A Pintora de
Xangai, de Jennifer Cody Epstein. Aos catorze anos Pan Yuliang é vendida
e obrigada a prostituir-se. A sua sorte muda quando conhece um homem que
a toma como concubina e a leva a descobrir a vida sofisticada de Xangai,
a Paris Boémia dos anos 20, e o talento para a pintura.
DIFEL. Os Diários Perdidos de
Adrian Mole, de Sue Townsend. Adrian já entrou na casa dos 30 e continua
a ser o mais desesperado diarista da Grã- Bretanha. As preocupações de
Mole são agora a sua condição de pai solteiro e divorciado; a relação
sentimental conturbada com a assistente social; ou a paixão platónica
pela namorada de infância, e pelos dois terapeutas. Os Diários Perdidos
é uma grande criação de humor das Terras de sua Majestade.
BERTAND. Volto para te Levar, de
Guillaume Musso. Um homem, uma mulher, uma criança. Um encontro decisivo
e a vida de Ethan, Céline e Jessie joga-se em 24 horas. Ainda é tudo
possível ou o ponto de não retorno já foi ultrapassado?
Volto para te Levar já vendeu 2 milhões de exemplares, e é nº 1 do top
de vendas em França.

PELA OBJECTIVA DE J.
VASCO
Dia de regresso às
aulas

No próximo dia 10 de Setembro recomeçam
as aulas. Vão voltar estas imagens de pequenas crianças transportando às
costas enormes “caixas do saber”. Não podia ser de outra maneira? Que
consequências terá no futuro este modo de frequentar a escola? 
MÚSICA

Lenka - Lenka. Lenka começou a dar
nas vistas na televisão como apresentadora de um programa para crianças,
e com participações em algumas séries de tv, na sua terra Natal, a
Austrália. Recentemente mudou-se para Los Angeles onde apostou numa
carreira ligada a música. O tema “The show” foi o single que deu a
conhecer a voz de Lenka nas rádios, em campanhas publicitárias e algumas
séries televisivas como “90210” , “Betty Feia”e “Anatomia de Grey”.
A gravações dos temas começaram em Dezembro de 2008 em Montreal e Los
Angeles ainda sem nenhum contracto com uma editora, mas no final das
gravações já havia várias propostas para a edição do cd no mercado. Os
onze temas foram compostos pela própria Lenka com a produção de Mike
Elizondo. As letras dos temas são simples, sem códigos ou enigmas,
mergulhados num pop rock suave, doce e fascinante!
No passado mês de Agosto foi extraído o segundo single deste álbum, o
tema “Trouble is a friend” que teve direito a várias remisturas e já
roda nas rádios. Neste trabalho o destaque vai para os dois singles “The
show” ,“Trouble is a friend” e as faixas “Bring me down” e “Anything I´m
not”. É caso para dizer the show...must go on!

Jonas Brothers - Vines and trying
times. Os manos Jonas Brothers estão de regresso aos discos com o
quarto álbum de originais que recebeu o título de “Vines and trying
times”. O cd chegou rapidamente ao primeiro lugar dos top´s de vendas em
vários países e o sucesso também se estendeu a Portugal, demonstrando
que a banda tem muitos admiradores no nosso País.
Kevin, Joe e Nick ganharam muita visibilidade ao participarem em várias
séries televisivas muito populares entre os mais novos, como Hannah
Montana e no filme Camp Rock. “Paranoid” foi escolhido para ser o
primeiro single do álbum, e roda nas rádios desde o início deste Verão.
As novas faixas com sonoridades vincadas no rock mostram uma evolução na
qualidade dos temas, a experiência nos palcos começou a dar mais frutos.
Este “Vines and trying times” apresenta doze novos temas, o destaque vai
para o primeiro single “Paranoid” e para os temas “Fly with me”, “What
did i do to your heart” e “before the storm” que tem a participação
especial de Miley Cyrus. A banda actuou recentemente em Espanha, e não
tem Portugal na agenda nesta tour, para grande desilusão dos fãns
Portugueses.

Empire of the Sun - Walking on a dream.
Os Empire of the Sun são provavelmente a melhor revelação dos últimos
tempos no mundo da Música. Na Austrália, além dos Cangurus, dos
Bomerangs e das magnificas paisagens, há pessoas com um enorme talento
musical! A dupla é composta por Luke Steele e Nick Littlemore e poderá
ter-se inspirado no filme de Steven Spielberg para a escolha do nome
para o projecto.
O álbum já foi editado em 2008, mais foi neste Verão que a Europa ficou
rendida ao som dos Astralianos. Os temas apresentam um electro pop muito
suave com melodias simplesmente fantásticas com um visão muito
inovadora.
A outra surpresa é no campo visual. Nos vídeos dos singles, os dois
elementos apresentam-se de forma excêntrica , estravagante, cheios de
cor e muita fantasia. O single “We are the people” é um dos temas fortes
deste Verão de 2009, a música merece mesmo nota máxima!
Destaque ainda para os singles “Walking on a dream” e “Standing on the
shore”. Esta dupla poderá tornar-se num grande ícone na música. A
mistura de ritmos vai dar que falar. Um disco entre o bom, e o muito bom! 
Hugo Rafael
BOCAS DO GALINHEIRO
Dillinger não morreu

Se há coisas que não passam de moda, o
cinema é indiscutivelmente uma delas. Não só pela Arte em si, mas também
pela enorme capacidade que tem de se renovar bem como de rejuvenescer
alguns dos seus ícones. Vem isto a propósito do filme de Michael Mann,
“Inimigos Públicos”, que revisita um dos géneros fetiche de Hollywood,
os filmes de gangsters, tão populares nas décadas de 30 e 40 do século
passado, com sucessivas visitas ao longo dos anos, como veremos.
O filme “Inimigos Públicos” vai na esteira de um género que parece nunca
ter perdido com as crises. Michael Mann, o realizador, ressuscita o
escorregadio e legendário salteador de bancos na zona ocidental dos EUA,
John Hubert Dillinger, célebre pelas suas audaciosas fugas, mesmo das
prisões de alta segurança, o que lhe valeu chegar a “Inimigo Público
nº1”. Mann evoca 14 meses da sua vida, desde a saída da prisão em 1933
até à sua morte em 22 de Julho de 1934.
Dillinger soube cultivar a sua imagem e tornar-se um herói popular, em
plena crise económica, conquistando a simpatia do público, nunca levava
o dinheiro dos clientes dos bancos que assaltava, e até gostava de se
deixar fotografar com os polícias. Desde o cinema mudo que os filmes de
polícias, ladrões, raptos, assassinatos, etc. são os mais populares e
que maior público atraem às salas de cinema. Biografias de criminosos,
polícias corruptos, lutas entre bandos e os inevitáveis detectives
particulares, por vezes carregados de um peculiar romantismo. Situações
e histórias com argumentos muitas vezes adaptados de mestres da
literatura policial como Dashiel Hammett, Raymond Chandler, Horace McCoy
e outros.
No princípio dos anos 30 do século passado, a acentuada crise económica
origina uma onda de crimes que alastra como fogo, sucedendo-se os
raptos, os roubos e os assassinatos. A histeria atinge não só a
população, como os polícias estaduais e o FBI, não poupando as altas
esferas de Washington. Com medidas conhecidas como New Deal, o
presidente F. D. Roosevelt é levado a intervir na economia, com vista a
suavizar as estruturas da sociedade americana, a braços não só com os
gangsters mas com uma crise até então nunca vista.
Em 1930 a “Comissão de Crime de Chicago” elaborou uma lista dos inimigos
Públicos e contabilizou 28 nomes. Al Capone ocupava o 1º lugar. A
realidade superava a ficção e a ficção encontra aqui um filão de
argumentos. Não tarda que surjam películas consideradas fundamentais no
género como “Scarface” (1932), de Howard Hawks; “Little Caesar”, de
Mervyn LeRoy (1930), “O Inimigo Público”(1931), de William Wellman,
obras que marcaram uma época e que nos trazem as histórias dos homens
que a viveram do outro lado da lei, com os seus riscos, os seus medos e
as suas angústias. Não se pense que o cinema só despertou para o género
com a grande depressão. Já em 1921 Griffith em “The Musketeers of Pig
Alley” mostrava a vida quotidiana dos bandidos que ameaçavam os bairros
da baixa da Nova Iorque. Outros se seguiram como “Vidas Tenebrosos”
(1927) e “As Docas de Nova Iorque” (1929), ambos de Von Stenberg, para
citar apenas estes pois a lista é longa.
O ano de 1945, com o fim da guerra, marcou o começo de um novo ciclo dos
chamados filmes de gangsters quando Max Nosseck, um cineastas de origem
polaca, um pouco caído no esquecimento, (filmou em Portugal “Gado
Bravo”, em 1933) deu novo ímpeto ao género com “Dillinger” onde Lawrence
Tierney consegue uma poderosa interpretação no papel do conhecido
fora-da-lei. Outros actores vestiram a pele de Dillinger. Em “Baby Face
Nelson”, de Don Siegel (1957) o criminoso é Leo Gordon e Nick Adams
também o foi em “Os Crimes de Dillinger”(1965), de Terry O. Morse.
Warren Oates também o é em “Dillinger”(1973) , de John Millius, uma obra
de reconstituição séria e rigorosa da tal Idade de Ouro dos gangsters,
evocando uma reflexão sobre a violência em plena crise de 1929, com um
final apoteótico, em que os membros da quadrilha são liquidados um a um.
No filme “The Lady in Red”, dirigido em 1979 por Lewis Teague, Dillinger
(Robert Conrad) é denunciado ao FBI pela sua última namorada, Polly
Franklin (Pamela Sue Martin).
Com esta película Mann traz de volta o género, uma já antiga atracção do
cinema norte-americano, aqui com Johnny Depp no papel de Dillinger, um
dos actores que actualmente tem elevada cotação junto do público. Aqui
não nos decepciona e quase podemos afirmar que “Public Enemies” pode já
ser considerado um dos melhores filmes do ano e Depp um sério candidato
ao Oscar. Ao seu lado poderá estar Christian Bale na pele do agente
Melvin Purvis que travou um longo duelo com o criminoso. Auxiliado por
19 agentes, Purvis contribuiu para a morte de Dillinger, montando-lhe
uma espera quando saía pacatamente com duas acompanhantes do cinema
Biograph Theatre, em Chicago, onde tinha assistido à exibição do filme
“Manhattan Melodrama” (curiosamente entre nós correu com o título de
“Inimigo Público nº1”), de W. S. Van Dyke II. Clark Gable fazia o papel
de um gangster condenado à cadeira eléctrica.
John Dillinger – o homem e o mito – foi criado pelo seu tempo e
permaneceu como símbolo do fora-da-lei moderno. A morte foi ao seu
encontro depois de ver o filme, acabando vítima da violência em que
sempre vivera. Dillinger era um amante do cinema. O cinema se encarregou
de o imortalizar.
Até à próxima e bons filmes! 
Luís Dinis da Rosa
Joaquim Cabeças
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