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      As escolas boas e as 
		escolas más 
      Há escolas boas e escolas más? Lá haver, 
		há! Como há bons e maus governos, ministérios, hospitais, tribunais, 
		oficinas, e sei lá mais o quê… 
		 
		Porém a questão não é essa. O problema está no critério da medida. Ou 
		seja, no rigor dos indicadores objectivos que me levam a classificar os 
		comportamentos, as atitudes e os desempenhos. Sem um critério 
		universalmente válido e, por isso mesmo aceite, o resultado da medida 
		não passa de uma apreciação subjectiva e, como tal, sujeita à 
		divergência. 
		 
		Vem isto a propósito de mais uma publicação de um suposto ranking das 
		escolas portuguesas que, apressada e incorrectamente, uma boa parte da 
		comunicação social tem vindo a designar por “lista das melhores e das 
		piores escolas”. 
		 
		Concretamente o que se mediu nestas escolas? Respondemos: mediram-se 
		resultados de aproveitamento escolar (académico) e, nunca, resultados de 
		aproveitamento educativo. E mediram-se todos os resultados escolares? 
		Não! Mediram-se os resultados nas provas que os alunos do ensino 
		secundário efectuaram nos exames nacionais no ano lectivo 2008/2009. 
		 
		O que quer isto dizer? Vejamos um exemplo. A escola A tem alunos de 
		classe média alta. São jovens com todas as condições de estudo, com 
		excelente apoio e ambiente familiar. Os professores sentem que esses 
		alunos aprendem a bom ritmo, e que com muita facilidade correspondem aos 
		objectivos que lhes são solicitados. É uma das escolas que, 
		habitualmente, obtém um bom posto no ranking nacional. 
		 
		A escola B está situada num bairro muito problemático. As famílias são 
		disfuncionais, há desemprego, muita miséria e o recurso a negócios menos 
		claros. Os alunos não têm qualquer acompanhamento familiar, são nulas as 
		condições de trabalho em casa, alguns têm mesmo carência de alimentos e 
		de vestuário. Mesmo assim, os professores empenharam-se na motivação 
		desses alunos para a frequência da escola, através de múltiplas 
		actividades educativas de carácter interdisciplinar e, muitas delas, 
		desenvolvidas extra curricularmente. Essa escola obteve um resultado 
		educativo notável. Reduziu, significativamente, o abandono escolar, o 
		absentismo às aulas, o insucesso académico e realizaram-se mesmo 
		programas de apoio comunitário. Quanto aos resultados escolares nos 
		exames nacionais… Bem, houve grandes progressos, mas não os suficientes 
		para impedirem que a escola B ficasse no fim da lista do ranking 
		nacional. 
		 
		A escola A é boa e a escola B é má? 
		 
		A diferença é que a escola A desenvolveu um esforço no sentido das 
		aprendizagens do currículo formal e, aí, obteve resultados académicos 
		muito satisfatórios. Já quanto há escola B, esta centrou as suas 
		energias no alcance de objectivos educativos por parte dos seus alunos, 
		apostou na transmissão de valores e na educação para a cidadania e, aí, 
		obteve resultados considerados excelentes. Em que ficamos? 
		 
		Quando olhamos para o ranking das escolas e, sobretudo, quando 
		comparamos os resultados académicos dos alunos das escolas públicas, com 
		os resultados académicos dos alunos das escolas privadas, temos que ter 
		em atenção quais foram os indicadores de medida. Um indicador de medida 
		vale o que vale. O metro padrão não pode medir um litro de leite, assim 
		como se pode morrer afogado num rio que, em média, tenha apenas quarenta 
		centímetros de profundidade…  
		 
		Os governos perverteram a avaliação das escolas no momento em que 
		privilegiaram apenas indicadores de medida e de progressão inerentes aos 
		actos de aprendizagem do currículo formal. O que tem estado em causa 
		para se alcançar uma valoração das escolas, tem sido o recurso à 
		divulgação de rankings cuja elaboração se baseia apenas nos resultados 
		académicos dos alunos. Para estes responsáveis pouco importam os 
		resultados educativos globais da instituição escolar.  
		 
		Há e sempre houve boas e más escolas. Há e sempre houve bons e maus 
		exemplos de práticas educativas. Mas temos que saber relativizar os 
		resultados em função dos indicadores de medida.  
		 
		Termos em todas as nossa instituições escolares excelentes profissionais 
		da educação que gostariam de ver reconhecido o seu esforço. Os 
		professores estão habituados a fazer muito e bem. Mas não podem fazer 
		tudo. Melhor diríamos: face às condições de trabalho em muitas das 
		escolas portuguesas, é injusto e desmotivador que se lhes peça que façam 
		mais.
        
      João Ruivo 
      ruivo@rvj.pt 
       
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