Director Fundador: João Ruivo    Director: João Carrega    Publicação Mensal    Ano XII    Nº140    Outubro 2009

Cultura

GENTE & LIVROS

Guillaume Musso

«Ethan retrocede antes de entrar na Broadway. Apesar de ser tarde, queria dar uma volta por Times Square: um derradeiro acerto de contas com o passado. Na verdade, fazia agora quinze anos, quinze anos contados dia-a-dia, que numa tarde de Outono tinha deixado a sua antiga vida na esperança de se tornar outra pessoa.

Parou defronte do Marriott, entregou as chaves a um empregado, mas em vez de entrar no hotel atravessou a avenida.

Times Square estava quase deserta. No meio da rua, um grupo de japoneses eufóricos divertia-se a tirar fotografias e a gritar «Yatta» numa homenagem à sua série televisiva favorita.

Ethan acendeu um cigarro. O distribuidor de jornais continuava no mesmo lugar, tal como o recordava. Inseriu uma moeda e tirou o New York Times. Desdobrou o jornal e puxou pelo caderno Art & Culture, onde a sua fotografia surgia em destaque, na primeira página sob o título: O PSICÓLOGO QUE SEDUZIU A AMÉRICA.»


In Volto para Te Levar
 

Guillaume Musso nasceu em Antibes, França, em 1974. Filho de uma bibliotecária, o gosto pela leitura despertou com livros como O Monte dos Vendavais, de Emily Brontë, e autores como Tolstoi.

Atrás do sonho de conhecer Nova Iorque parte para os EUA aos 19 anos. Para financiar a viagem, arranja um emprego de vendedor de gelados. Neste trabalho convive com trabalhadores de várias nacionalidades e com eles diz ter aprendido muito. Da viagem a Nova Iorque regressa com boas ideias para escrever. Apesar do curso de ciências económicas torna-se professor de Francês.

Publica E Depois... (2004). O primeiro romance é um sucesso de vendas com tradução em 22 línguas e milhões de exemplares vendidos em todo o mundo; Seguem-se Salva-me (2006); Estarás aí? (2007); Porque te Amo (2008) e Volto para te Levar (2009).

O livro E Depois... foi transposto para o grande ecrã em Janeiro de 2009 e os direitos de Estás aí?; e Porque te Amo, também já foram adquiridos para o cinema.

Quando se pergunta a Guillaume Musso porque está o amor omnipresente em todos os seus livros, o autor socorre-se das palavras de Christian Bobin «É sempre de amor que sofremos, mesmo quando acreditamos de nada sofrer».

Volto para te Levar é nº 1 do Top de vendas em França e já vendeu 2 milhões de exemplares.

Volto para Te Levar. Quinze anos foi o tempo que Ethan precisou para passar de anónimo trabalhador de obras, a famoso psicólogo da América. Mas a Fama, o dinheiro e o luxo não parecem suficientes para uma existência feliz. Mergulhado numa depressão profunda ao qual não são alheias as drogas, o álcool e o jogo, Ethan tem 24 horas para recuperar a mulher amada, salvar a filha, e voltar a ser dono do seu destino.

Eugénia Sousa

 

 

 

LIVROS

Novidades literárias

DOM QUIXOTE. Eu, Peter Porfírio, o Maioral, de Alaor Barbosa. Esta é a saga de Peter Porfírio de Andrade, fazendeiro brasileiro nascido no Sudeste do Estado de Goiás. Com pouca instrução e muita determinação, Peter Porfírio enfrentou vicissitudes várias e enriqueceu no negócio do gado. Finalista do Prémio Leya, Eu, Peter Porfírio, o Maioral é também um relato cru da história do Brasil nos anos mais trágicos da ditadura militar.
 

OCEANOS. A Queda do Muro, de Olivier Guez e Jean-Marc Gonin. Com o objectivo de assinalar os 20 anos da queda do muro de Berlim, os dois jornalistas juntam-se para escrever um relato dos momentos que antecederam o seu final. Baseado em factos reais, o livro liga a vida dos protagonistas que viveram nos dois lados do muro - RDA e RFA. Um acontecimento marcante da história contemporânea.
 

PRESENÇA. Chéri, de Colette. Publicado pela primeira vez em 1920, Chéri retrata a relação controversa entre uma bela cortesã de meia idade e um adolescente mimado, a quem ela irá instruir na arte do amor. Chéri foi recentemente transposta para o cinema pelo realizador Stephen Frears, e tem Michelle Pfeiffer como actriz principal.
 

PIAGET. Manual de Filosofia do Ambiente, coordenação de Dale Jamieson. O autor apontou diversos objectivos com esta obra. Apresentar os conhecimentos actualizados sobre Filosofia do Ambiente; divulgar os mais diversos trabalhos desenvolvidos sobre o tema; abrir a discussão sobre a Filosofia Ambiental a outros campos e disciplina; e nunca perder de vista os problemas ambientais.
 

BIZÂNCIO. História Concisa da Música Ocidental, de Paul Griffiths. Desde sempre que o homem tem uma relação estreita com a música. A música transforma-se e como forma de conhecimento é causa e consequência da evolução humana. História Concisa da Música Ocidental aborda os grandes compositores, os executantes notáveis, e como o gosto do público tem vindo a mudar a forma como se tem olhado para a música.
 

EUROPA-AMÉRICA. O Exílio dos Anjos, de Gilles Legardinier. Quando Valeria, Peter e Stefan se conhecem não sabem que são a prova viva de uma descoberta revolucionária sobre a memória. Levada a cabo há vinte anos atrás por dois cientistas desaparecidos, a descoberta é cobiçada por muitos. Agora os heróis acidentais têm de lutar para proteger a vida e as suas memórias, pois o destino da humanidade está nas suas mentes.
 

TEXTO. O Meu Livro de Política, de Jorge Sampaio, e ilustrações de Tiago Albuquerque. O ex presidente da República Portuguesa aceitou o convite e escreveu um livro de política para os mais novos. «Por dever cívico. Porque quis partilhar com os mais novos uma experiência de vida - a minha - toda dedicada á causa pública; porque lhes quis transmitir uma convicção - a de que a política vale a pena; e, por último, porque os quis despertar para a cidadania, que é onde tudo começa.» - Jorge Sampaio.
 

DIFEL. Um Mundo sem Regras, de Amin Maalouf. O autor de obras tão conhecidas como As Cruzadas Vistas pelos Árabes, Samarcanda, ou O Rochedo de Tânios regressa com uma reflexão sobre o Estado do mundo. Os sinais de desregramentos vários que o mundo apresenta têm por origem o esgotamento das civilizações. Mas a esperança existe. A falência de um modelo civilizacional originará um outro que poderá conduzir a humanidade à idade adulta. Em Portugal o livro está na 3ª edição, com mais de 80 mil exemplares vendidos.
 

BERTAND. O Romance da Raposa, de Aquilino Ribeiro, e ilustração de Artur Correia. «Havia três dias e três noites que a salta-pocinhas, raposa matreira, fagueira e lambisqueira, corria os bosques sem conseguir deitar a unha a outra caça além duns míseros gafanhotos.». Assim começa o romance imortal de Aquilino Ribeiro. O Romance da Raposa encantou várias gerações e é recomendado pelo Plano Nacional de Leitura.
 

 

 

PELA OBJECTIVA DE J. VASCO

Dia Internacional do Idoso

A Assembleia Geral das Nações Unidas destinou o dia 1 de Outubro à comemoração do Dia Internacional do Idoso. Num tempo de envelhecimento generalizado da população nos países desenvolvidos, de crise financeira com complicações nos valores das reformas, de um ritmo de vida que afasta os filhos / população activa dos pais / reformados, importa encontrar soluções claras e justas para manter a dignidade de quem, ao longo de uma vida, tanto nos deu.

 

 

 

MÚSICA

Mika - The boy who knew too much. Mica Penniman, mais conhecido por Mika, está de regresso com o segundo álbum de originais, depois do grande sucesso do álbum de estreia onde estavam incluídos temas como “Grace Kelly” ou “Relax take it easy”.

Foi em 2007 que nasceu este novo fenómeno do universo pop. Mika rapidamente foi comparado com Fredy Mercury. A voz deste britãnico de 26 anos anos é muito afinada, alegre e contagiante, e ajudou ao sucesso em todo mundo com quase 6 milhões de cópias vendidas. Para este “The boy who knew too much” a expectativa era muito grande. Depois de escutar com atenção, faixa a faixa, este novo registo percebe-se que os fãns não vão ficar desiludidos, o som que consagrou Mika continua presente nas novas músicas. As novas composições apresentam uma evolução mas a estrutura e a identidade continuam presentes. O álbum conta com a participação especial de Andrae Choir e apresenta 13 novas canções com um pop empolgante em temas cheios de ritmo e poderosas baladas.

O primero single “We are golden” foi utilizado numa campanha publicitária na tv, e a nova aposta é o tema “Rain” que também promete arrasar!

Destaque ainda para as faixas:”Blame it on the girls” e “I see you”.

É enorme o talento de Mika, e a sua voz peculiar vai com certeza dar ainda mais brilho a esta estrela da música.
 

 

Nelly Furtado - Mi Plan. A Luso Canadiana Nelly Furtado voltou aos discos com um álbum gravado apenas em Espanhol.

Nelly é filha de Portugueses naturais da Ilha de S. Miguel dos Açores.

A cantora começou a ganhar visibilidade no ano de 2000 quando editou o primeiro cd “Whoa Nelly”, onde estava incluído o tema “I´m like a bird”. A partir daí foi uma verdadeira escalada até ao fantástico álbum “Loose”, um dos melhores álbuns editados no ano de 2006.

O sucesso continuou no ano seguinte, conseguindo bater vários recordes de vendas e sendo o álbum mais vendido de 2007. Agora surge a aposta no mercado Latino, com canções em Castelhano. O primeiro single é o tema de abertura “Manos al aire”, que já roda nas rádios desde o passado Verão.

O novo “Mi plan” tem novamente a composição da própria Nelly, e conta com alguns convidados especiais como Josh Groban, Julieta Venegas, Alejandro Fernádez, Juan Luis Guerra e La Maia Rodríguez ,que contribuíram para que a sonoridade dos temas seja mais genuína, alegre e contagiante.

Os temas mais fortes que se podem encontrar no alinhamento são o primeiro single “Manos al Aire” e as faixas “Mas”,”Mi plan” e “Bajo mi luz”. Já foi várias vezes anunciado pela imprensa especializada que a cantora está a preparar um álbum apenas em Português. Ficamos à espera!

 

 

Shakira - She wolf. A Colombiana Shakira editou este mês de Outubro o sétimo álbum da sua carreira. Isabel Mebarack Ripoll é o nome verdadeiro de Shakira, a cantora que é um dos nomes mais fortes da música latina da actualidade. Já vendeu mais de 70 milhões de álbuns e conquistou vários prémios importantes da indústria discográfica. “She wolf” é o tema que dá título ao novo cd. A música foi também o cartão-de-visita do álbum e teve direito a uma versão em Espanhol “Loba”.

No lançamento do single , Shakira gravou um sensual vídeo numa jaula, que rapidamente deliciou os fãns na tv ou na internet. Em simultâneo foram editadas várias remisturas em Inglês e Espanhol, mas o resultado foi decepcionante, o tema perdeu energia e alma. Jonh Hill foi o produtor escolhido para este “She wolf” gravado nas Bahamas e que teve Wyclef Jean, Jonh Hill, The Neptunes e Pharrel como convidados especiais.

Este álbum é mesmo para dançar, as músicas apresentam uma fusão de vários ritmos latinos com influências electrónicas. Este não é o melhor álbum da carreira de Shakira, mas mesmo assim vale a pena ouvir com atenção.

Destaque para o primeiro single “She wolf”, e para os temas “Did it again”,Gypsy” e “Spy” que tem a partipação de Wyclef Jean. Shakira continua a ser uma verdadeira “Loba”.

Hugo Rafael

 

 

 

BOCAS DO GALINHEIRO

Ida Lupino, actriz e cineasta

A história do cinema também é feita pelas dezenas de mulheres que viveram o cinema detrás das câmaras. Cineastas que desde o nascimento da 7ª Arte, têm desenvolvido o seu trabalho cinematográfico abordando os mais variados géneros, diferentes pontos de vista, desafiando normas sociais, outras tratando temas até então considerados tabu, mostrando, na maioria dos casos, uma perspectiva diferente.

Consta que a primeira fita dirigida por uma mulher tinha por título “La Fée aux Chous” (1896) da francesa Alice Guy-Blaché (1873-1968), que trabalhou para Leon Gaumont. Em 1953 recebeu a ”Legion d’ Honneur”. A Itália também teve a sua pioneira, Elvira Notori, que realizou em 1905 “Arrivederci Movimentari a Colori”. Assim começou uma longa lista que nunca mais parou, apesar de silenciadas durante anos, vá-se lá saber porquê, embora muitas com brilhantes carreiras. A surrealista Germaine Dulae, a norte-americana Ruth-Ann Baldwin, a primeira mulher que dirigiu um western, a alemã pioneira do cinema de animação, Lotte Raininger, Alla Nozimowe, que realiza em 1923 “Salomé”, segundo Oscar Wilde, a polémica Leni Riefensthal, dedicada ao cinema político, autora em 1938 de “O Triunfo da Vontade”, mas que depois teve uma brilhante carreira de documentarista, sobretudo em África, e de filmagens subaquáticas, para além das espanholas Ana Mariscal que tem em “El Camino” (1965) o seu filme mais famoso e Margarita Alexandra, a primeira que roda em Espanha em Cinemascope, ou ainda Agnes Varda, Liliana Cavani ou Margarite Duras. Também Portugal teve a sua pioneira da realização. Bárbara Virgínia, nascida em Lisboa em 1923, pseudónimo de Maria de Lurdes Dias Costa, actriz de teatro e cinema, jornalista e escritora, interpretou no cinema os filmes”Sonho de amor”, 1945, de Carlos Porfírio e “Aqui Portugal”, 1947, de Armando Miranda, actuando também como actriz no único filme que realizou, “3 Dias Sem Deus”, de 1946. A história de uma professora primária numa aldeia perdida na serra e que representou Portugal em Cannes nesse ano. Nos últimos anos registamos o surgimento, entre nós, de um número assinalável de jovens cineastas, subscrevendo obras de algum mérito e de certo interesse: Margarida Gil, Teresa Villaverde, Maria de Medeiros, Noémia Delgado, Catarina Alves Costa, entre outras. Ou seja, pelo lado feminino, o futuro do cinema português está assegurado.

Poderíamos citar uma longa e distinta lista que, obviamente não caberia aqui. Mas, há um nome que queremos evidenciar: Ida Lupino, uma das mais inteligentes actrizes norte-americanas e que também se rendeu ao outro lado da câmara e, como soi dizer-se, um vulto “injustamente esquecido”.

Ida Lupino nasceu a 4 de Fevereiro de 1918 em Brixton (Londres). Pertence a uma ilustre família britânica de artistas. O pai, Stanley Lupino, foi um excelente actor cómico e a mãe, Connie O’Shea, foi bailarina. Ida estreou-se no cinema em 1932 num filme dirigido pelo seu tio Lane Lupino, “Love Race”. No ano seguinte participa em “Her First Date”. É contratada em 1934 pela Paramount e ali trabalha toda a década dos anos 30.

Mas, indiscutivelmente, os seus melhores trabalhos como actriz foram nos princípios dos anos 40 para os estúdios da Warner, nos excelentes policiais “Vidas Nocturnas”, de 1940 e “O Último refúgio”, de 1941, ambos dirigidos por Raoul Walsh e protagonizados por Humphrey Bogart. Admirável em “O Lobo do Mar”, na versão de Michael Curtiz, de 1942, não esquecendo “On Dangerous Ground” (Cega Paixão), 1952, de Nicholas Ray ou “The Big Knife” (No Reino da Calúnia), de Robert Aldrich, alguns dos cerca de 50 filmes que interpretou.

De personalidade inquieta e empreendedora, Ida Lupino produz e é co-argumentista de “Not Wanted” (1949), um melodrama, aliás um dos géneros preferidos da cineasta, que aborda com coragem a história de uma mãe solteira, com realização do veterano Elmer Clifton mas na realidade rodada por Lupino que substituiu Clifton porque este teve um ataque cardíaco. Porém a sua estreia oficial como realizadora foi nesse mesmo ano com “Never Fear”, uma obra ao estilo documental sobre uma jovem bailarina afectada por poliomielite, a que se segue “Outrage”, de 1950, cujo tema é a violação, com Mala Powers e Todd Andrews, outro filme que, tal como os seguintes “Hard Fast and Beautiful” (1951) e “The Bigamist”, de 1953, têm uma carga feminista bastante evidente e temerária para a época. Inovadora foi a sua incursão pela Série B com “The Hitch-Hicker”, de 1954, provavelmente o primeiro filme negro dirigido por uma mulher.

Todavia o fracasso económico de muitos dos seus filmes levou à falência da produtora Filmakers, que fundara com o segundo marido, Collier Young, dedicando-se depois à direcção de episódios de várias séries de televisão, de “O Fugitivo” a “Twilight Zone”, passando por “Hitchcock Apresenta”.

Ainda voltou à realização para o grande écran em 1966 com “The Trouble With Angels”, um desvio à sua linha temática, aventurando-se na comédia e em 1972 afirma estar “mais interessada em compor histórias do que em dirigir”. Participa pela última vez como actriz em de “My Boys Are Good boys”( 1978) de Bethel Buckalew.

Morre a 3 de Agosto de 1995 na sua residência em Los Angels, deixando a marca indelével de uma mulher que quase tudo fez no cinema e pelo cinema.

Até à próxima e bons filmes!

Luís Dinis da Rosa
Joaquim Cabeças

 


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