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       MEMÓRIAS FICCIONADAS 
      Missões impossíveis 
		  
      – Afixa-se? Têm consciência que isto vai 
		dar bernarda? 
		 
		– Claro, mas não podemos deixar de o fazer. Há que correr o risco. 
		 
		Estava tomada a decisão de se divulgar, no exíguo placard exterior da 
		Associação Académica, cópias clandestinas dos relatos de Wiryamu, 
		massacre ocorrido em finais de 1972 na região de Tete, em Moçambique. 
		 
		Para a altura, aquela publicitação ia para além da habitual “agit-prop”; 
		tratava-se de um gesto temerário, em particular num instituto superior 
		de «política ultramarina». O impacto foi, de facto, enorme: naquela 
		manhã, ninguém ficou indiferente às aterradoras imagens que questionavam 
		a tão propagandeada «missão civilizadora em África». Há muito que não se 
		via tanta gente naquela zona da Associação, lendo e comentando, 
		acaloradamente, o material afixado. Alguns, indignados com o 
		atrevimento: estes “associativos” em vez do estudo só fazem política; 
		outros, duvidando do que viam: caramba, sempre fomos um “país de brandos 
		costumes”; muitos, chocados com aquelas impensáveis atrocidades: em 
		«missão de soberania», alarves soldados ostentavam cabeças degoladas 
		como troféus de guerra. O regime estava no seu delirium tremens. 
		 
		Os massacres só viriam a ser relatados mais tarde, em Julho de 1973, no 
		britânico Times, pelo reverendo Adrian Hastings. A publicação do artigo 
		coincidiu com a visita de Marcelo Caetano a Londres. O Presidente do 
		Conselho de Ministros, procurando romper o “orgulhosamente sós” em que o 
		país se atolara, tentou apoio junto do seu tradicional aliado mas as 
		cerimónias do Oporto-cheers ficaram azedadas. Na rua, era apupado em 
		manifes que são o sal-e-pimenta das nações democráticas. Voltou de 
		Inglaterra acossado e, internacionalmente, mais isolado. 
		 
		O Director do ISCSPU, o ultra conservador V. Fortunatum, posto ao 
		corrente pela “bufaria” oficiosa da ousadia estudantil, considerou 
		aquele acto como uma afronta patriótica. Importa lembrar que se vivia 
		uma época em que os governantes não se cansavam de afirmar: «A guerra do 
		Ultramar não se discute!» (por exemplo, na campanha para as eleições de 
		28 de Outubro de 1973 para a Assembleia Nacional, os representantes dos 
		governos civis ou das câmaras municipais, ostensivamente presentes nas 
		iniciativas públicas promovidas pela Oposição, sem que ninguém para tal 
		os tenha convidado, logo que o tema aflorava num discurso, interrompiam 
		e davam por encerrada a sessão). O sr. Director, também ele um 
		adversário da livre expressão, resolveu agir depressa: a 17 de Janeiro 
		de 1973, emite um despacho em que ordena a remoção imediata daquela 
		“papelada subversiva”, proibe a distribuição de comunicados e a 
		utilização do espaço exterior onde se afixara o «jornal mural»; e 
		termina com a ameça de processos disciplinares a todos os membros da 
		Direcção da Associação Académica. E não se fica por aí, dá conta do 
		sucedido aos Serviços Sociais Universitários que, diligentes e 
		pressurosos, suspendem o pagamento das bolsas aos dirigentes 
		associativos Verm(d)elho do Pico e Arcílio. Fortunatum, o intratável 
		professor de finanças públicas, tinha tanto de sisudo como de duro. 
		Continuava assim a mostrar serviço àqueles que o nomearam na sequência 
		da crise de 69, quando o Prof. Arianus fora afastado da direcção da 
		escola. 
		 
		Então, Arcílio havia mergulhado, a contragosto, na leitura do nº 56 da 
		colecção Estudos de Ciências Políticas e Sociais – um calhamaço de 564 
		páginas editado, em 1961, pela Junta de Investigações do Ultramar – 
		livro obrigatório dessa utilíssima (?) disciplina de 3º ano, 
		“Missionologia” (sic). O seu autor, Padre Silvius R., representante do 
		episcopado ultramarino na Câmara Corporativa, tinha sob controlo tanto o 
		plano de estudos (leccionava também “História do Ultramar Português”, 
		disciplina do 1º ano) como os arquivos históricos nacionais; escrevia 
		ele a páginas 94 dessas edificantes Lições de Missionologia: «O facto de 
		ter havido recentemente alguns sacerdotes portugueses africanos 
		envolvidos em movimentos de hipotético separatismo, nitidamente 
		influenciados pelo comunismo internacional, não deve ter significado 
		alarmante». Pois, só que o início da década de 70, foi pródiga em 
		“alarmes” para a igreja lusa: em 1 de Julho, o Papa Paulo VI, o mesmo 
		que peregrinara a Fátima em 1967, recebeu os chefes dirigentes do 
		“separatismo” Agostinho Neto (MPLA), Amílcar Cabral (PAIGC) e Marcelino 
		dos Santos (Frelimo) o que, naturalmente, pôs Portugal e a Santa Sé de 
		candeias às avessas. Em 1972, eram os missionários jesuítas combonianos 
		a testemunhar os massacres. E a própria conferência episcopal 
		moçambicana a condenar as atrocidades de Wiryamu, em Março de 1973 
		(ainda que essa posição só tenha sido divulgada em Agosto). A Igreja 
		ensandeceu, terá pensado o sub-director Silvius R. Face a estas 
		drásticas mudanças, urgia fazer uma 2ª edição das Lições de 
		Missionologia, revista, encurtada e, o mais importante, depurada das 
		suas prédicas político-ideológicas. 
		 
		Numa dessas tiradas da sebenta do padre-historiador, encontrava-se a 
		explicação para a irreverente atitude dos membros da Associação 
		Académica: «Conhece-se o especial empenho que o comunismo [fomentador do 
		ódio e da luta entre povos] toma a fim de corromper a juventude de todos 
		os países, insinuando-lhe a traição às suas próprias pátrias» (pp. 
		93-94). A “cientificidade” desta lição foi a gota que fez transbordar o 
		paciente suplício de Arcílio: com lápis azul, riscou com traço forte, de 
		alto a baixo, essas duas páginas e escreveu ESTOU CHEIO! FARTO! E não 
		leu nem mais uma linha. Acabou por ter um 15 no exame. Afinal, sempre há 
		missões impossíveis!   
		 
		Luís Souta 
		Instituto Politécnico de Setúbal 
		luis.souta@ese.ips.pt 
		  
		  
		  
      RECONSTRUÇÃO 
		TRIDIMENSIONAL DE MONUMENTOS 
      Tomar avança na China 
      O Instituto Politécnico de Tomar acaba de 
		apresentar a reconstrução tridimensional de um importante monumento 
		chinês, o antigo Observatório Astronómico de Pequim, uma apresentação 
		que decorreu na Universidade de Cultura e Linguagem de Pequim. 
		 
		A reconstrução foi realizada no âmbito do projecto europeu Hallerstein, 
		financiado através do programa Cultura 2000, que tem como objectivo 
		desenvolver as relações entre a Europa e a China, em torno da figura de 
		Frederic Augustin Hallerstein, um padre jesuíta que chegou ao importante 
		cargo de mandarim, tornando-se também director do referido observatório.   
		  
		  
		  
      INSTITUTO POLITÉCNICO DE 
		SETÚBAL 
      Armando Pires reeleito 
		  
      Armando José Pinheiro Marques Pires foi 
		eleito Presidente do Instituto Politécnico de Setúbal (IPS) a 14 de 
		Outubro de 2009, para o quadriénio 2009-2012, recolhendo 83,3% de votos 
		favoráveis do Conselho Geral do IPS. 
		 
		O Conselho Geral aclamou com ovação o Presidente reeleito, formulando 
		votos de sucesso no cumprimento do seu programa para os próximos 4 anos 
		e reiterando o apoio do Conselho no decurso do seu novo mandato. 
		 
		Antes da votação, que teve lugar na Sala de Reuniões da Escola Superior 
		de Ciências Empresariais do IPS, Armando Pires, único candidato no 
		processo de eleição, expôs os fundamentos e as bases programáticas da 
		sua candidatura numa audição pública realizada no Auditório desta 
		Escola, a qual contou com a presença de 24 Conselheiros e de elementos 
		da Comunidade IPS. 
		 
		Este será o segundo mandato que Armando Pires cumpre à frente do IPS, 
		desta vez com o lema “Consolidar a mudança. Afirmar o IPS, no contexto 
		do ensino superior português como uma instituição sustentável, dinâmica 
		e inovadora”. O Processo Eleitoral será remetido pelo IPS ao Ministério 
		da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior para homologação.   
		  
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