Director Fundador: João Ruivo    Director: João Carrega    Publicação Mensal    Ano XII    Nº140    Outubro 2009

Actualidade

MEMÓRIAS FICCIONADAS

Missões impossíveis

– Afixa-se? Têm consciência que isto vai dar bernarda?

– Claro, mas não podemos deixar de o fazer. Há que correr o risco.

Estava tomada a decisão de se divulgar, no exíguo placard exterior da Associação Académica, cópias clandestinas dos relatos de Wiryamu, massacre ocorrido em finais de 1972 na região de Tete, em Moçambique.

Para a altura, aquela publicitação ia para além da habitual “agit-prop”; tratava-se de um gesto temerário, em particular num instituto superior de «política ultramarina». O impacto foi, de facto, enorme: naquela manhã, ninguém ficou indiferente às aterradoras imagens que questionavam a tão propagandeada «missão civilizadora em África». Há muito que não se via tanta gente naquela zona da Associação, lendo e comentando, acaloradamente, o material afixado. Alguns, indignados com o atrevimento: estes “associativos” em vez do estudo só fazem política; outros, duvidando do que viam: caramba, sempre fomos um “país de brandos costumes”; muitos, chocados com aquelas impensáveis atrocidades: em «missão de soberania», alarves soldados ostentavam cabeças degoladas como troféus de guerra. O regime estava no seu delirium tremens.

Os massacres só viriam a ser relatados mais tarde, em Julho de 1973, no britânico Times, pelo reverendo Adrian Hastings. A publicação do artigo coincidiu com a visita de Marcelo Caetano a Londres. O Presidente do Conselho de Ministros, procurando romper o “orgulhosamente sós” em que o país se atolara, tentou apoio junto do seu tradicional aliado mas as cerimónias do Oporto-cheers ficaram azedadas. Na rua, era apupado em manifes que são o sal-e-pimenta das nações democráticas. Voltou de Inglaterra acossado e, internacionalmente, mais isolado.

O Director do ISCSPU, o ultra conservador V. Fortunatum, posto ao corrente pela “bufaria” oficiosa da ousadia estudantil, considerou aquele acto como uma afronta patriótica. Importa lembrar que se vivia uma época em que os governantes não se cansavam de afirmar: «A guerra do Ultramar não se discute!» (por exemplo, na campanha para as eleições de 28 de Outubro de 1973 para a Assembleia Nacional, os representantes dos governos civis ou das câmaras municipais, ostensivamente presentes nas iniciativas públicas promovidas pela Oposição, sem que ninguém para tal os tenha convidado, logo que o tema aflorava num discurso, interrompiam e davam por encerrada a sessão). O sr. Director, também ele um adversário da livre expressão, resolveu agir depressa: a 17 de Janeiro de 1973, emite um despacho em que ordena a remoção imediata daquela “papelada subversiva”, proibe a distribuição de comunicados e a utilização do espaço exterior onde se afixara o «jornal mural»; e termina com a ameça de processos disciplinares a todos os membros da Direcção da Associação Académica. E não se fica por aí, dá conta do sucedido aos Serviços Sociais Universitários que, diligentes e pressurosos, suspendem o pagamento das bolsas aos dirigentes associativos Verm(d)elho do Pico e Arcílio. Fortunatum, o intratável professor de finanças públicas, tinha tanto de sisudo como de duro. Continuava assim a mostrar serviço àqueles que o nomearam na sequência da crise de 69, quando o Prof. Arianus fora afastado da direcção da escola.

Então, Arcílio havia mergulhado, a contragosto, na leitura do nº 56 da colecção Estudos de Ciências Políticas e Sociais – um calhamaço de 564 páginas editado, em 1961, pela Junta de Investigações do Ultramar – livro obrigatório dessa utilíssima (?) disciplina de 3º ano, “Missionologia” (sic). O seu autor, Padre Silvius R., representante do episcopado ultramarino na Câmara Corporativa, tinha sob controlo tanto o plano de estudos (leccionava também “História do Ultramar Português”, disciplina do 1º ano) como os arquivos históricos nacionais; escrevia ele a páginas 94 dessas edificantes Lições de Missionologia: «O facto de ter havido recentemente alguns sacerdotes portugueses africanos envolvidos em movimentos de hipotético separatismo, nitidamente influenciados pelo comunismo internacional, não deve ter significado alarmante». Pois, só que o início da década de 70, foi pródiga em “alarmes” para a igreja lusa: em 1 de Julho, o Papa Paulo VI, o mesmo que peregrinara a Fátima em 1967, recebeu os chefes dirigentes do “separatismo” Agostinho Neto (MPLA), Amílcar Cabral (PAIGC) e Marcelino dos Santos (Frelimo) o que, naturalmente, pôs Portugal e a Santa Sé de candeias às avessas. Em 1972, eram os missionários jesuítas combonianos a testemunhar os massacres. E a própria conferência episcopal moçambicana a condenar as atrocidades de Wiryamu, em Março de 1973 (ainda que essa posição só tenha sido divulgada em Agosto). A Igreja ensandeceu, terá pensado o sub-director Silvius R. Face a estas drásticas mudanças, urgia fazer uma 2ª edição das Lições de Missionologia, revista, encurtada e, o mais importante, depurada das suas prédicas político-ideológicas.

Numa dessas tiradas da sebenta do padre-historiador, encontrava-se a explicação para a irreverente atitude dos membros da Associação Académica: «Conhece-se o especial empenho que o comunismo [fomentador do ódio e da luta entre povos] toma a fim de corromper a juventude de todos os países, insinuando-lhe a traição às suas próprias pátrias» (pp. 93-94). A “cientificidade” desta lição foi a gota que fez transbordar o paciente suplício de Arcílio: com lápis azul, riscou com traço forte, de alto a baixo, essas duas páginas e escreveu ESTOU CHEIO! FARTO! E não leu nem mais uma linha. Acabou por ter um 15 no exame. Afinal, sempre há missões impossíveis!

Luís Souta
Instituto Politécnico de Setúbal
luis.souta@ese.ips.pt

 

 

 

RECONSTRUÇÃO TRIDIMENSIONAL DE MONUMENTOS

Tomar avança na China

O Instituto Politécnico de Tomar acaba de apresentar a reconstrução tridimensional de um importante monumento chinês, o antigo Observatório Astronómico de Pequim, uma apresentação que decorreu na Universidade de Cultura e Linguagem de Pequim.

A reconstrução foi realizada no âmbito do projecto europeu Hallerstein, financiado através do programa Cultura 2000, que tem como objectivo desenvolver as relações entre a Europa e a China, em torno da figura de Frederic Augustin Hallerstein, um padre jesuíta que chegou ao importante cargo de mandarim, tornando-se também director do referido observatório.

 

 

 

INSTITUTO POLITÉCNICO DE SETÚBAL

Armando Pires reeleito

Armando José Pinheiro Marques Pires foi eleito Presidente do Instituto Politécnico de Setúbal (IPS) a 14 de Outubro de 2009, para o quadriénio 2009-2012, recolhendo 83,3% de votos favoráveis do Conselho Geral do IPS.

O Conselho Geral aclamou com ovação o Presidente reeleito, formulando votos de sucesso no cumprimento do seu programa para os próximos 4 anos e reiterando o apoio do Conselho no decurso do seu novo mandato.

Antes da votação, que teve lugar na Sala de Reuniões da Escola Superior de Ciências Empresariais do IPS, Armando Pires, único candidato no processo de eleição, expôs os fundamentos e as bases programáticas da sua candidatura numa audição pública realizada no Auditório desta Escola, a qual contou com a presença de 24 Conselheiros e de elementos da Comunidade IPS.

Este será o segundo mandato que Armando Pires cumpre à frente do IPS, desta vez com o lema “Consolidar a mudança. Afirmar o IPS, no contexto do ensino superior português como uma instituição sustentável, dinâmica e inovadora”. O Processo Eleitoral será remetido pelo IPS ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior para homologação.

 


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