Director Fundador: João Ruivo    Director: João Carrega    Publicação Mensal    Ano XII    Nº141    Novembro 2009

Cultura

GENTE & LIVROS

J. R. Moehringer

«Íamos lá sempre que precisávamos. Íamos lá quando tínhamos sede, claro, quando tínhamos fome e quando estávamos mortalmente cansados. Íamos lá celebrar quando estávamos felizes e curtir as mágoas quando estávamos tristes. Íamos lá depois dos casamentos e dos funerais em busca de algo que nos acalmasse os nervos e antes em busca de coragem. Íamos lá quando não sabíamos o que queríamos, esperando que alguém nos dissesse. Íamos lá quando andávamos à procura de amor, de sexo, de sarilhos ou de alguém que tivesse desaparecido porque toda a gente aparecia lá mais cedo ou mais tarde. Acima de tudo, íamos lá quando queríamos ser encontrados.

A minha lista pessoal de necessidade era longa. Filho único, abandonado pelo meu pai, precisava de uma família, de um lar, de homens. Principalmente de homens. Precisava de mentores, heróis e modelos para compensar a minha mãe, a minha avó, a minha tia e as minhas cinco primas com quem vivia. O bar deu-me todos os homens de que necessitava e mais um ou dois de que não necessitava.»


In Sede de Viver
 

Jornalista e escritor J. R. Moehringer nasceu em Nova Iorque, a 7 de Dezembro de 1964. John Joseph Moehringer Jr passou a juventude incompatibilizado com o seu nome, herança de um vizinho alemão do avô, mas quando consegue a autorização legal e a quantia monetária necessária para o mudar, acaba por gastar o dinheiro numa “noite de copos”. Filho de pais divorciados, Moehringer viveu a infância e juventude com a mãe, - uma mulher lutadora -, e em certos períodos da sua vida em casa dos avós maternos, onde a excentricidade do avô nem sempre tornava fácil a convivência familiar. O pai, a grande figura ausente da sua vida, famoso locutor de rádio a quem J.R.chamava a Voz era segundo as palavras do filho «uma combinação improvável de qualidades magnéticas e repelentes. Carismático, inconstante, sofisticado, suicida, hilariante, irritadiço - e sempre perigoso».

Grandes escritores e livros influenciaram Moehringer, mas foi Dickens, o bar onde o tio trabalhava, - mais tarde transformado em Publicans - que desempenhou o papel principal na sua vida. Em criança sentiu pela primeira vez que pertencia a um lugar no Dickens. A amizade e camaradagem com os amigos e clientes do bar seriam para sempre o maior elo de ligação entre as suas aventuras pessoais e o mundo. Como um dia lhe disse o padre Amtrak: «As pessoas não fazem ideia de quantos homens são precisos para formar um homem bom».

Para cumprir um sonho pessoal e também um sonho da mãe J.R. ingressa na Universidade de Yale. Em Yale o aluno brilhante dos tempos do liceu dava lugar ao aluno universitário em dificuldades e sério risco de perder a bolsa .O amor distrai mas também ocupa e o desempenho escolar ressentia-se mais ao apaixonar-se por uma aluna de Yale, algo inconstante. Ao primeiro grande amor seguia-se a inevitável desilusão. E após um período de sofrimento, com novas e piores repercussões nos estudos, lá consegue recuperar a serenidade e as notas com a ajuda da música de Frank Sinatra, dos companheiros do bar e das cartas da mãe. Em 1986 graduava-se e deixava a Universidade de Yale decidido a ser jornalista.

O primeiro emprego pós-graduação consegue-o numa loja de artigos para a casa onde se destaca de imediato como melhor vendedor. Quando já acreditava que o seu destino era o comércio e a eterna rivalidade das colegas ultrapassadas diariamente pelas suas vendas, reúne coragem e os textos escritos em Yale e envia-os para a redacção do jornal New York Times. É aceite, mas o New York Times é uma fábrica de aniquilar estagiários e depois de uma sucessão de êxitos e fracassos jornalísticos no dia de Ano Novo de 1990 despede-se do jornal e de Nova Iorque e parte para as Montanhas Rochosas. Meses depois mudava-se com o primo para Denver. Como Moehringer afirma em Sede de Viver «tinha arranjado um emprego como repórter no Rocky Mountain News, onde tinha passado quatro anos a aprender as bases que me tinham faltado no New York Times.». Em 1994 tornou-se repórter do Los Angeles, em 1997 é promovido a correspondente nacional e em 2000 vai para Harvard como professor de jornalismo.

Os editores do Times pedem-lhe para ser correspondente no Oeste cobrindo a região das Montanhas Rochosas a partir de Denver. Mas JR não poderia ir para Denver sem antes escrever sobre a sua cidade e como ela tinha sobrevivido ao ataque de 11 de Setembro de 2001.

Por esta altura o Publicans já não era o mesmo bar: Steve, o dono tinha falecido e o tio Charlie incapaz de trabalhar para outra pessoa que não fosse Steve saíra do Publicans; Dalton, o poeta, mudara-se para o Mississipi e tentava publicar um volume das suas poesias. Peter Owens, o Funcionário do Publicans, revisor dos seus textos e grande amigo, morrera no atentado de 11 de Setembro.

The Tender Bar - A Memoir (2005), o seu livro autobiográfico, é também uma extraordinária e inspiradora homenagem a um bar e à amizade. O livro está editado em Portugal pela Presença com o título Sede de Viver.

Eugénia Sousa

 

 

 

LIVROS

Novidades literárias

DOM QUIXOTE. Cidade de Ladrões, de David Benioff. Ao ser convidado a escrever um artigo autobiográfico David constata que a sua vida desinteressante jamais dará um bom trabalho. É então que decide visitar os avós na Florida e pedir-lhes que relatem a sua experiência durante o cerco a Leninegrado. Começava uma história fantástica. Numa cidade sitiada, onde as autoridades russas representam um perigo tão real como as tropas invasoras alemãs, dois jovens amigos lutam por sobreviver a uma missão quase tão impossível como absurda: arranjar uma dúzia de ovos para o bolo de casamento da filha de um coronel.
 

EUROPA-AMÉRICA. Por Todos os Meios - da Irlanda à Austrália sem andar de avião, de Charley Boorman. Se o mundo é ou não pequeno, Charley Boorman pode afirmá-lo melhor do que ninguém. Percorreu mais de vinte mil milhas e visitou vinte e cinco países numa viagem que começou em Wicklow, no seu país de origem Irlanda e terminou em Wollongong, na Austrália. Qual Phileas Fogg dos tempos modernos a sua aventura também tem regras: não viajar de avião e sempre sem carros de apoio ou veículo próprio.
 

CAMPO DAS LETRAS. A Língua Posta a Salvo, de Elias Canetti. A Língua Posta a Salvo é a primeira parte de uma trilogia autobiográfica publicada entre 1977 e 1985. A história do jovem Elias Canetti, filho mais velho de uma família abastada de judeus safarditas, cruza-se com a história da Europa nas primeiras décadas do século XX, atravessando vários países. Elias Canetti foi prémio Nobel da Literatura em 1981.
 

ESTAMPA. Música Clássica - Os grandes compositores e as suas obras-primas, de John Stanley, com prefácios de Nigel Kennedy e Georg Solti. São 800 anos de história da música clássica, desde a Idade Média até à actualidade, mais de 150 biografias de compositores fundamentais, e gravações chave das obras mais importantes de cada compositor seleccionadas pelos editores da revista Gramophone. Uma obra imperdível para todos os amantes de Música.
 

GUERRA & PAZ. Digam-me Como é uma Árvore - dos Cárceres Franquistas à Liberdade, de Marcos Ana. Autor, poeta e humanista espanhol, Marcos Ana, símbolo da luta antifranquista passou 23 anos preso. Em Digam-me Como é uma Árvore ficaram registados os duros anos de prisão, a liberdade, o exílio em França e as actividade desenvolvida em prol dos presos políticos do seu país.
 

BERTRAND. Novelas do Minho, de Camilo Castelo Branco. São nove as novelas que constituem o livro, do qual fazem parte O Comendador; O Degredado; e A Viúva do Enforcado. De um mestre para outro Aquilino Ribeiro falou assim de Camilo Castelo Branco:« Se Eça é inigualável no bom gosto, Camilo supera-o na arte de traduzir o movimento e a acção.».
 

PIAGET. O Brasil do Século XXI - Nascimento de um novo grande, de Alain Rouquié. O estudo surge do conhecimento profundo que o autor tem do gigante sul-americano, não deixando por analisar as características actuais, os paradoxos do passado, e o papel de primeiro plano no contexto internacional que actualmente o Brasil desempenha.
 

PRESENÇA. A Dádiva, de Toni Morrison. América do Norte, finais do século XVII Florens, uma menina negra, é recebida por um comerciante anglo-holandês como pagamento de uma dívida de um fazendeiro. Julgando-se abandonada pela mãe, será junto das mulheres que ocupam a propriedade do seu novo senhor que Florens encontra o afecto de que tanto necessita. Toni Morrison foi a primeira mulher negra a receber o Prémio Nobel da Literatura (1993).
 

 

 

PELA OBJECTIVA DE J. VASCO

Dia de S. Martinho

É sempre assim, acontece a 11 de Novembro. O Dia de S. Martinho quer lume, castanhas e vinho. Sobre a lenda os alunos do 1º ano Sala 7, E.B.1 - Nº 2 da Rinchoa, escreveram:
“Diz a lenda que quando um cavaleiro romano andava a fazer a ronda, viu um velho mendigo cheio de fome e frio, porque estava quase nu. O dia estava chuvoso e frio, e o velhinho estava encharcado.

O cavaleiro, chamado Martinho, era bondoso e gostava de ajudar as pessoas mais pobres. Então, ao ver aquele mendigo, ficou cheio de pena e cortou a sua grossa capa ao meio, com a espada. Depois deu a metade da capa ao mendigo e partiu.

Passado algum tempo a chuva parou e apareceu no céu um lindo Sol”.

Extraído de http://www.malhatlantica.pt/netescola/omouro31/Smartinho.htm (s/data)


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