GENTE & LIVROS
J. R. Moehringer
«Íamos lá sempre que
precisávamos. Íamos lá quando tínhamos sede, claro, quando tínhamos fome
e quando estávamos mortalmente cansados. Íamos lá celebrar quando
estávamos felizes e curtir as mágoas quando estávamos tristes. Íamos lá
depois dos casamentos e dos funerais em busca de algo que nos acalmasse
os nervos e antes em busca de coragem. Íamos lá quando não sabíamos o
que queríamos, esperando que alguém nos dissesse. Íamos lá quando
andávamos à procura de amor, de sexo, de sarilhos ou de alguém que
tivesse desaparecido porque toda a gente aparecia lá mais cedo ou mais
tarde. Acima de tudo, íamos lá quando queríamos ser encontrados.
A minha lista pessoal de necessidade era longa. Filho único, abandonado
pelo meu pai, precisava de uma família, de um lar, de homens.
Principalmente de homens. Precisava de mentores, heróis e modelos para
compensar a minha mãe, a minha avó, a minha tia e as minhas cinco primas
com quem vivia. O bar deu-me todos os homens de que necessitava e mais
um ou dois de que não necessitava.»
In Sede de Viver
Jornalista e escritor J.
R. Moehringer nasceu em Nova Iorque, a 7 de Dezembro de 1964. John
Joseph Moehringer Jr passou a juventude incompatibilizado com o seu
nome, herança de um vizinho alemão do avô, mas quando consegue a
autorização legal e a quantia monetária necessária para o mudar, acaba
por gastar o dinheiro numa “noite de copos”. Filho de pais divorciados,
Moehringer viveu a infância e juventude com a mãe, - uma mulher lutadora
-, e em certos períodos da sua vida em casa dos avós maternos, onde a
excentricidade do avô nem sempre tornava fácil a convivência familiar. O
pai, a grande figura ausente da sua vida, famoso locutor de rádio a quem
J.R.chamava a Voz era segundo as palavras do filho «uma combinação
improvável de qualidades magnéticas e repelentes. Carismático,
inconstante, sofisticado, suicida, hilariante, irritadiço - e sempre
perigoso».
Grandes escritores e livros influenciaram Moehringer, mas foi Dickens, o
bar onde o tio trabalhava, - mais tarde transformado em Publicans - que
desempenhou o papel principal na sua vida. Em criança sentiu pela
primeira vez que pertencia a um lugar no Dickens. A amizade e
camaradagem com os amigos e clientes do bar seriam para sempre o maior
elo de ligação entre as suas aventuras pessoais e o mundo. Como um dia
lhe disse o padre Amtrak: «As pessoas não fazem ideia de quantos homens
são precisos para formar um homem bom».
Para cumprir um sonho pessoal e também um sonho da mãe J.R. ingressa na
Universidade de Yale. Em Yale o aluno brilhante dos tempos do liceu dava
lugar ao aluno universitário em dificuldades e sério risco de perder a
bolsa .O amor distrai mas também ocupa e o desempenho escolar
ressentia-se mais ao apaixonar-se por uma aluna de Yale, algo
inconstante. Ao primeiro grande amor seguia-se a inevitável desilusão. E
após um período de sofrimento, com novas e piores repercussões nos
estudos, lá consegue recuperar a serenidade e as notas com a ajuda da
música de Frank Sinatra, dos companheiros do bar e das cartas da mãe. Em
1986 graduava-se e deixava a Universidade de Yale decidido a ser
jornalista.
O primeiro emprego pós-graduação consegue-o numa loja de artigos para a
casa onde se destaca de imediato como melhor vendedor. Quando já
acreditava que o seu destino era o comércio e a eterna rivalidade das
colegas ultrapassadas diariamente pelas suas vendas, reúne coragem e os
textos escritos em Yale e envia-os para a redacção do jornal New York
Times. É aceite, mas o New York Times é uma fábrica de aniquilar
estagiários e depois de uma sucessão de êxitos e fracassos jornalísticos
no dia de Ano Novo de 1990 despede-se do jornal e de Nova Iorque e parte
para as Montanhas Rochosas. Meses depois mudava-se com o primo para
Denver. Como Moehringer afirma em Sede de Viver «tinha arranjado um
emprego como repórter no Rocky Mountain News, onde tinha passado quatro
anos a aprender as bases que me tinham faltado no New York Times.». Em
1994 tornou-se repórter do Los Angeles, em 1997 é promovido a
correspondente nacional e em 2000 vai para Harvard como professor de
jornalismo.
Os editores do Times pedem-lhe para ser correspondente no Oeste cobrindo
a região das Montanhas Rochosas a partir de Denver. Mas JR não poderia
ir para Denver sem antes escrever sobre a sua cidade e como ela tinha
sobrevivido ao ataque de 11 de Setembro de 2001.
Por esta altura o Publicans já não era o mesmo bar: Steve, o dono tinha
falecido e o tio Charlie incapaz de trabalhar para outra pessoa que não
fosse Steve saíra do Publicans; Dalton, o poeta, mudara-se para o
Mississipi e tentava publicar um volume das suas poesias. Peter Owens, o
Funcionário do Publicans, revisor dos seus textos e grande amigo,
morrera no atentado de 11 de Setembro.
The Tender Bar - A Memoir (2005), o seu livro autobiográfico, é também
uma extraordinária e inspiradora homenagem a um bar e à amizade. O livro
está editado em Portugal pela Presença com o título Sede de Viver.
Eugénia Sousa
LIVROS
Novidades literárias
DOM QUIXOTE. Cidade de Ladrões,
de David Benioff. Ao ser convidado a escrever um artigo autobiográfico
David constata que a sua vida desinteressante jamais dará um bom
trabalho. É então que decide visitar os avós na Florida e pedir-lhes que
relatem a sua experiência durante o cerco a Leninegrado. Começava uma
história fantástica. Numa cidade sitiada, onde as autoridades russas
representam um perigo tão real como as tropas invasoras alemãs, dois
jovens amigos lutam por sobreviver a uma missão quase tão impossível
como absurda: arranjar uma dúzia de ovos para o bolo de casamento da
filha de um coronel.
EUROPA-AMÉRICA. Por Todos os
Meios - da Irlanda à Austrália sem andar de avião, de Charley Boorman.
Se o mundo é ou não pequeno, Charley Boorman pode afirmá-lo melhor do
que ninguém. Percorreu mais de vinte mil milhas e visitou vinte e cinco
países numa viagem que começou em Wicklow, no seu país de origem Irlanda
e terminou em Wollongong, na Austrália. Qual Phileas Fogg dos tempos
modernos a sua aventura também tem regras: não viajar de avião e sempre
sem carros de apoio ou veículo próprio.
CAMPO DAS LETRAS. A Língua Posta
a Salvo, de Elias Canetti. A Língua Posta a Salvo é a primeira parte de
uma trilogia autobiográfica publicada entre 1977 e 1985. A história do
jovem Elias Canetti, filho mais velho de uma família abastada de judeus
safarditas, cruza-se com a história da Europa nas primeiras décadas do
século XX, atravessando vários países. Elias Canetti foi prémio Nobel da
Literatura em 1981.
ESTAMPA. Música Clássica - Os
grandes compositores e as suas obras-primas, de John Stanley, com
prefácios de Nigel Kennedy e Georg Solti. São 800 anos de história da
música clássica, desde a Idade Média até à actualidade, mais de 150
biografias de compositores fundamentais, e gravações chave das obras
mais importantes de cada compositor seleccionadas pelos editores da
revista Gramophone. Uma obra imperdível para todos os amantes de Música.
GUERRA & PAZ. Digam-me Como é
uma Árvore - dos Cárceres Franquistas à Liberdade, de Marcos Ana. Autor,
poeta e humanista espanhol, Marcos Ana, símbolo da luta antifranquista
passou 23 anos preso. Em Digam-me Como é uma Árvore ficaram registados
os duros anos de prisão, a liberdade, o exílio em França e as actividade
desenvolvida em prol dos presos políticos do seu país.
BERTRAND. Novelas do Minho, de
Camilo Castelo Branco. São nove as novelas que constituem o livro, do
qual fazem parte O Comendador; O Degredado; e A Viúva do Enforcado. De
um mestre para outro Aquilino Ribeiro falou assim de Camilo Castelo
Branco:« Se Eça é inigualável no bom gosto, Camilo supera-o na arte de
traduzir o movimento e a acção.».
PIAGET. O Brasil do Século XXI -
Nascimento de um novo grande, de Alain Rouquié. O estudo surge do
conhecimento profundo que o autor tem do gigante sul-americano, não
deixando por analisar as características actuais, os paradoxos do
passado, e o papel de primeiro plano no contexto internacional que
actualmente o Brasil desempenha.
PRESENÇA. A Dádiva, de Toni
Morrison. América do Norte, finais do século XVII Florens, uma menina
negra, é recebida por um comerciante anglo-holandês como pagamento de
uma dívida de um fazendeiro. Julgando-se abandonada pela mãe, será junto
das mulheres que ocupam a propriedade do seu novo senhor que Florens
encontra o afecto de que tanto necessita. Toni Morrison foi a primeira
mulher negra a receber o Prémio Nobel da Literatura (1993).
PELA OBJECTIVA DE J.
VASCO
Dia de S. Martinho
É sempre assim, acontece a 11 de
Novembro. O Dia de S. Martinho quer lume, castanhas e vinho. Sobre a
lenda os alunos do 1º ano Sala 7, E.B.1 - Nº 2 da Rinchoa, escreveram:
“Diz a lenda que quando um cavaleiro romano andava a fazer a ronda, viu
um velho mendigo cheio de fome e frio, porque estava quase nu. O dia
estava chuvoso e frio, e o velhinho estava encharcado.
O cavaleiro, chamado Martinho, era bondoso e gostava de ajudar as
pessoas mais pobres. Então, ao ver aquele mendigo, ficou cheio de pena e
cortou a sua grossa capa ao meio, com a espada. Depois deu a metade da
capa ao mendigo e partiu.
Passado algum tempo a chuva parou e apareceu no céu um lindo Sol”.
Extraído de http://www.malhatlantica.pt/netescola/omouro31/Smartinho.htm
(s/data)
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