Director Fundador: João Ruivo    Director: João Carrega    Publicação Mensal    Ano XII    Nº136    Junho 2009

Entrevista

VANESSA FERNANDES, TRIATLETA

"Aprender compensa sempre"

Admira Rosa Mota, Fernanda Ribeiro e Lance Armstrong, mas ela própria já é, aos 23 anos, uma referência e um exemplo a seguir para os mais jovens. A medalha de prata nas Olímpiadas de Pequim fizeram de Vanessa Fernandes um dos valores mais seguros do nosso desporto.

A triatleta tem a casa de Perosinho repleta de troféus, mas não desdenha, em entrevista exclusiva ao «Ensino Magazine», novas conquistas. «O meu pai (o ex-ciclista Venceslau Fernandes) arranja sempre espaço para mais um», diz, entre risos. Depois dos exigentes treinos, a campeã ainda arranjou tempo para se inscrever nas «Novas Oportunidades», justificando o regresso aos estudos como uma outra «meta» que ambicionava cortar.
 

«Nado, pedalo, corro, para ganhar uns segundos. Aprendo para vencer na vida», é a mensagem do seu anúncio sobre as «Novas Oportunidades». Qual foi o apelo que a fez procurar conciliar uma carreira desportiva de alta competição e o regresso a uma carreira escolar?

Já andava a pensar em voltar a estudar há algum tempo, mas ainda não tinha dado o passo final, inscrever-me. A dada altura apresentaram-me o projecto «Novas Oportunidades», que se encaixava perfeitamente na minha disponibilidade e nos meus objectivos, e pronto, lá me inscrevi e já estou a frequentar as aulas.
 

«Esta é a meta que me faltava», é uma das frases-chave na sua campanha publicitária. Pensa com o seu testemunho seduzir jovens a continuarem os estudos?

Para além de ser uma meta pessoal, esse também era um dos objectivos dos publicitários quando pensaram em mim. Acharam que eu poderia ser uma boa influência para o público jovem.
 

Em que medida aprender compensa?

Aprender é sempre positivo porque nos permite evoluir. Apostar em nós, aprendendo, nunca é tempo perdido, compensa sempre.
 

Filha do ciclista Venceslau Fernandes, aos 15 anos deixou Perosinho e ingressou no Centro de Alto Rendimento do Jamor, em Lisboa, onde reside e passa a maior parte do seu tempo. A receita para ser atleta de sucesso reside em esforço e algum talento inato?

Eu bem sei que a palavra trabalho é uma palavra que repito muitas vezes, mas acho que de facto o segredo do sucesso está ai.
 

Quer identificar outra característica que a seu ver é decisiva?

Depois temos outros factores que nos ajudam, que é gostarmos muito do que fazemos, e fisicamente termos uma pré-disposição diferente das pessoas comuns.
 

Como é a sua rotina de treino?

O meu dia começa cedo, vou nadar normalmente por volta das 6 da manhã durante cerca de duas horas. Depois tomo o pequeno-almoço e descanso um pouco antes do treino de ciclismo, que pode durar cerca de 2 a 3 horas. Depois de almoço durmo uma sesta e ao final da tarde tenho novamente treino que pode ser de corrida. Ao final do dia massagem ou ginásio. Tudo isto pode variar em função da altura do ano e da época.
 

Tem algum ídolo, no desporto ou fora dele, que a inspire?

Respeito muito a Rosa Mota a Fernanda Ribeiro, e gosto muito do Lance Armstrong. São pessoas fortes que me inspiram e com uma história muito rica no desporto.
 

Aos 23 anos já ganhou quase tudo o que havia para ganhar. Sabendo-se que o pico de rendimento de um atleta atinge-se entre os 25 e os 30 anos, acha que vai ter sítio para guardar todos os troféus e medalhas que ainda irá conquistar?

(risos) Tenho, tenho, o meu pai arranja sempre espaço para mais um. Não vai ser um problema, acho que posso continuar, não vou ter falta de espaço.
 

A medalha de prata conseguida nos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008, foi o ponto mais alto da sua carreira?

Sim, sem dúvida. Marcou-me muito porque foi um projecto para o qual trabalhei durante muitos anos, e quando olho para trás passou muito depressa, foi tudo muito rápido.
 

Pese embora a sua juventude, tem ganho quase todas as provas em Portugal, na Europa e no resto do mundo. Se nas olimpíadas de Londres 2012 vencer o ouro terá todos seus objectivos da sua carreira cumpridos?

Eu espero que não, não quero ver isso como a etapa final. Ainda gostava de fazer tanta coisa, quer seja a competir quer seja a participar no Triatlo de forma menos activa.
 

Foi muito crítica da atitude de alguns dos seus colegas nos últimos Jogos Olímpicos. Pensa que é a falta de cultura desportiva ou a falta de apoios que impedem o desporto português de ir mais longe em termos de resultados nas grandes provas?

Penso que todos os portugueses quando estão numa grande competição estão lá porque merecem e porque se esforçaram muito para lá estar. Penso que temos de nos lembrar de todas as outras modalidades, para além do futebol, e arranjar infraestruturas e boas condições de treino para todos os atletas.
 

Tem a noção que a sua modalidade, o Triatlo, seria completamente esquecida se não fosse o seu caso de sucesso?

Sim, tenho a noção que ajudei a impulsionar a modalidade. Foi inevitável, as minhas vitórias deram que falar. Espero que se olhe também para outros colegas meus, com grandes capacidades e grandes vitórias de maneira a que eles também façam parte deste sucesso.
 

Concorda com o Prof. Moniz Pereira quando este diz que existe uma «futebolização» da sociedade, com excesso de atenção dedicada ao futebol, muito por culpa da comunicação social?

É outro campeonato (risos), é uma máquina com um historial e uma notoriedade que dificilmente outra modalidade lá conseguirá chegar. Claro que a comunicação social ajuda e muito a mediatizar as modalidades e os seus atletas. Era óptimo termos um bocadinho dessa atenção.

Texto: Nuno Dias da Silva
Foto: HMS Sports

 

 

 

Cara da notícia

Na natação, no ciclismo e no atletismo, provas que compõem o exigente Triatlo, são poucas as que lhe fazem frente. Vanessa Fernandes nasceu na freguesia de Perosinho, Vila Nova de Gaia, a 14 de Setembro de 1985. Triatleta desde 1999, é filha do ciclista Venceslau Fernandes, vencedor de uma Volta a Portugal em Bicicleta, em 1984. Aos 15 anos ingressou no Centro de Alto Rendimento do Jamor, onde reside e passa a maior parte do tempo. Já superou as 20 vitórias em provas da Taça do Mundo de Triatlo, ultrapassando a lendária australiana, Emma Carney. Um dos mais emotivos triunfos aconteceu em Lisboa, com a chegada ao interior de um apinhado Pavilhão Atlântico.

Atleta do Sport Lisboa e Benfica, é treinada por Sérgio Santos, tendo começado a sua carreira em 1999, no Triatlo de Peniche. A partir do 8.º posto na prova de Triatlo das Olímpiadas de Atenas, em 2006, nunca mais parou. Em 2008, concluiu em 2.º nos Jogos Olímpicos de Pequim, no dia 18 de Agosto, obtendo a medalha de prata, numa altura em que muitos não acreditavam que a delegação portuguesa trouxesse do oriente um lugar no pódio. Uns dias depois, Nélson Évora, no triplo salto, juntaria o ouro à prata de Vanessa.

Vanessa Fernandes foi ainda campeã do mundo de Triatlo, em 2007, campeã da Europa de Triatlo em 2004, 2005, 2006, 2007 e 2008, campeã da europa de sub-23, em 2004, 2005, 2006 e 2008 e campeã do mundo de Duatlo, em 2007 e 2008.
 

 

PAULA MOITA EM ENTREVISTA

Cores de Esperança

A Associação Dar Cor à Vida surge com a missão de humanizar os espaços hospitalares. Paula Moita, a mentora do projecto, em entrevista por email, fala de um trabalho inspirador e de uma equipa que nos hospitais portugueses leva a alegria do desenho e da cor ao coração das crianças.
 

Como nasce a Associação Dar Cor à Vida?

Há cerca de 5 anos fiz, numa cadeira da Licenciatura, um projecto na área do curso, design gráfico, em que o objectivo era pensar em algo que fosse dirigido às minorias.

Como sempre tive pavor de hospitais, pensei como poderia, em termos de imagem, torná-los mais agradáveis, principalmente para as crianças. Criei um jogo de origami, conhecido por “Quantos Queres”, em que faria perguntas para descobrirem algumas ilustrações pintadas na sala de espera das Urgências Pediátricas.

A nota do trabalho foi muito boa e incentivaram-me a apresentar o trabalho a um hospital, para saber se para a equipa médica faria sentido a minha proposta. Foi muito bem aceite em vários hospitais, mas o problema punha-se na procura de um patrocinador, porque os hospitais públicos não têm orçamento para tal.

Só passados dois anos, já com outra disponibilidade, criei a equipa e começámos então a dar cor ao Internamento Pediátrico do Hospital São Francisco Xavier, que teve um impacto tão grande dentro do hospital que passado pouco tempo já estávamos a pintar as consultas externas Pediátricas e outra clínica próxima, a CLISA, que foi pioneira até agora a pintar a Oncologia para adultos, que me parece uma área igualmente prioritária na Humanização dos Serviços Médicos.

Só este ano decidi criar a Associação Dar Cor à Vida, por entender que ainda podemos dar um forte contributo na humanização dos nossos hospitais, de uma forma mais sólida e abrangente, na área Artística.
 

Pelas vossas mãos surgem mundos de cor e sonhos na paredes dos hospitais. Como é que as crianças reagem a essa magia?

Esse tem sido dos melhores reconhecimentos ao nosso trabalho.

No internamento Pediátrico, onde tivemos uma relação mais próxima dos utentes, tivemos sempre um forte reconhecimento dos pais que nos diziam ser muito difícil estarem dias e dias ali com os seus filhos, a olhar para paredes brancas; após a nossa intervenção, para além de os influenciar para um melhor humor, as ilustrações ajudavam-lhes a criar histórias à volta das personagens criadas.

Começámos a ver pais a sair do quarto, a mostrarem as ilustrações dos corredores e explorarem as cores com os filhos.

Tivemos nesse mesmo serviço médico, já no fim do trabalho, uma criança que teve que ser transferida de quarto, fez uma birra porque não queria ir para um quarto branco.

Tivemos alguns quartos para pintar, depois desse trabalho, porque muitas crianças queixavam-se que o seu quarto no hospital era mais bonito do que em casa, e essa reacção para mim é motivo para poder chegar ao fim do dia com a sensação “Missão Cumprida”; é um sinal evidente que as crianças se sentiam bem no meio hospitalar, apesar dos motivos menos bons que as levavam a estar ali.
 

Apresente-nos a equipa do Dar Cor à Vida…

A equipa tem um núcleo duro que tem estado junto em todos os projectos. Costumo dizer que é o meu braço direito, o Pedro Pereira, e o esquerdo, o Pedro Vercesi.

Nada de avaliações a respeito do que terá mais importância, porque pinto com as duas mãos!

Depois têm colaborado várias pessoas ao longo dos projectos, conforme a sua disponibilidade. Todas têm formação na área de Artes Plásticas, Design Gráfico, ou um bom currículo na área.

Agora a equipa está a crescer, desde que a Associação foi criada que vamos ter outras pessoas a trabalhar para que esta equipa de espalha tintas possa espalhar mais magia por muitos mais hospitais.
 

Quando o público é tão especial como são as crianças, e crianças a precisar de cuidados médicos, como cria as histórias, as personagens, e as cores em cada trabalho?

Há coisas que são essenciais e comuns a cada projecto, como não encher demasiado as paredes ou as cores não serem agressivas.

É preciso ter em linha de conta que existe uma equipa médica que precisa de alegria no seu ambiente de trabalho mas também de tranquilidade. Parece-me que a grande fórmula do meu trabalho é conseguir esse equilíbrio, transmitir calma mesmo quando existe caos.

As cores são seleccionadas cuidadosamente de modo a que o espaço se torne num local que transpareça higiene e conforto. Normalmente a cor que serve de base é o branco e as ilustrações são pintadas com cores suaves, como o verde e o azul, em maior quantidade devido ao seu efeito calmante. Em menor quantidade utiliza-se o amarelo, laranja e rosa para que se obtenha um ambiente mais acolhedor e vibrante.

Para as ilustrações, estudadas exclusivamente para cada espaço, são desenvolvidas personagens em histórias abertas que permitem à criança e ao adulto imaginarem e construírem a sua própria história, naquele espaço que passa também a ser seu.

Assim existirá sempre um mundo infinito de histórias mágicas onde só acabam quando terminar a imaginação de cada um.

Muito importante é a permanente comunicação com a equipa hospitalar para que a ilustração vá ao encontro da funcionalidade de cada espaço.
 

Existe alguma história ligada ao seu trabalho em hospitais que a tenha sensibilizado particularmente?

Em Setembro do ano passado estávamos a pintar as Urgências Pediátricas e houve interesse de um canal televisivo em fazer uma reportagem sobre o nosso trabalho. Quando entrevistaram uma criança que estava nas consultas externas, perguntaram-lhe quais eram as verdadeiras diferenças de um hospital com as paredes pintadas e brancas. A criança, com cerca de 7 anos, não sabia responder, porque nunca tinha visto um hospital todo branco, sempre tinha ido àquele, que era um local que não tinha qualquer receio de visitar.

Senti, que o que se tornou um objectivo para mim, fazer com que as próximas gerações vissem o hospital como um lugar seguro de saúde e não de doença, já se estava a tornar uma realidade!
 

A cor é uma terapia eficaz contra o negro do medo?

Sem dúvida, acredito na força inspiradora que as cores exercem em todos os seres humanos.
 

Neste momento quantos hospitais e espaços públicos têm já os traços e as cores do Dar Cor à Vida?

Internamento Pediátrico, Consultas Externas Pediátricas, Neonatologia e Urgências Pediátricas no Hospital São Francisco Xavier em Algés.

Consultas Externas Pediátricas, Cuidados Intensivos e Maternidade e Oncologia na Clínica de Santo António na Amadora.
 

Para além da humanização de espaços hospitalares a que outros projectos se dedica a Associação?

A Associação é recém nascida. Até agora fazíamos exclusivamente intervenções em hospitais ao nível da pintura das paredes. Neste momento queremos intervir também ao nível das artes plásticas com as crianças, nos serviços em que estas ficam privadas do seu dia-a-dia normal, onde é preciso que o mundo cá fora entre um pouco dentro do hospital.
 
Também no próximo ano lectivo queremos ter um papel mais activo nas escolas no sentido de sensibilizar as crianças para realidades diferentes das delas e passarem um dia com a equipa podendo fazer actividades diversas no campo da expressão plástica e na exploração da cor.

Ainda faz parte dos nossos planos editar livros infantis com uma forte componente lúdica e pedagógica, para que desta forma o nosso universo seja transportável num livro e levado com as crianças para onde queiram, casa, férias, escola, etc.
 

Na sua vida o gosto pela ilustração chegou em criança ou depois?

Sem dúvida que foi logo em criança, até porque era uma criança muito tímida e era a forma que me expressava melhor. Explorei Artes Plásticas, Fotografia e só mais tarde descobri a Ilustração Infantil.
 

Neste momento está em França a trabalhar num festival. Que projecto é?

Estou em Bergueim, a trabalhar no Festival de Louftibus, um festival destinado ao público Infantil e Juvenil, onde se pode assistir a música, contos, artes circenses e muitos ateliers para pais e filhos e algumas conferências.

Fui convidada a divulgar a Associação junto da comunidade de Alsace, onde este festival está inserido, e onde não há nada parecido com o nosso projecto. Em paralelo irei realizar um atelier de papier machê para pais e filhos durante os dois dias do festival, e em nome individual estou a fazer a decoração dos três bares que vão estar inseridos num espaço verde, muito bonito.

Eugénia Sousa


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