GENTE & LIVROS
Imre Kertész

(...) «Presentemente,
não tenho grandes sonhos que me indicam o caminho. Em vão, durmo, e
acordo para nada.
Aridez infinita, quando um sentimento nos deixa. Quando se acaba de ler
um livro volumoso, em cujo mundo nos fundimos; quando se dá por finda
uma relação amorosa; quando as esporas aladas da inspiração nos
abandonam - e, de súbito, cai-te nos braços, dás-te conta de um mundo
sem objectivo, sem desejo, sem vontade, sem nenhuma das tuas
manipulações, só unicamente como ele é.
Sentes que te falta afecto e compreendes que esta aridez do mundo é, por
assim dizer, tua obra.»(...)
In Um Outro - Crónica de uma
Metamorfose
Escritor de ascendência
judaica, Prémio Nobel da Literatura, Imre Kertész nasceu a 9 de Novembro
de 1929, em Budapeste, Hungria.
Após a ocupação da Hungria pela Alemanha nazi, Imre Kertész foi
deportado em 1944 - tinha 15 anos - juntamente com 7000 judeus húngaros,
para Auschwitz e depois Buchenwald. Libertado em 1945 pelas forças
aliadas, na sua família, só Imre sobreviveu aos campos de concentração.
De regresso à Hungria, Imre trabalhou como jornalista num jornal de
Budapeste, o Világosság (1948-1951), sendo dispensado quando o jornal
adoptou uma linha editorial comunista. Serviu no exército entre 1951
e1953, antes de se dedicar por inteiro à escrita. O regime comunista
instaurado na Hungria agiu como ameaça à sua liberdade, condicionando a
divulgação dos seus livros.
Traduziu obras de Nietzsche, Freud, Elias Canetti, Joseph Roth
Wittgenstein, Hofmannsthal e Schnitzler, autores que haveriam de
influenciar a sua escrita. A queda do muro de Berlim, em 1949, seria
decisiva para o reconhecimento do trabalho de Imre Kertész como
escritor. Ganhou inúmeros prémios literários até chegar ao Nobel em
2002, por uma obra que «trata da fragilidade da existência humana contra
a arbitrariedade da História».
Da bibliografia de Imre Kertész constam títulos como: Sem Destino ; A
Recusa; Kaddish para uma Criança que Não Vai Nascer; Aniquilação; O
Fiasco; A Língua Exilada; A Bandeira Inglesa; Um Outro- Crónica de uma
Metamorfose.
Um Outro – Crónica de uma Metamorfose. Mais do que uma obra de ficção,
Kertész é o autor de notas pessoais que vai escrevendo entre os anos de
1991 e 1995. Tendo como ponto de partida a obra de Wittgenstein, que se
encontra a traduzir em Viena, o autor produz várias reflexões, como
seja, a perda da identidade face aos regimes totalitários; a
sobrevivência ao nazismo como um processo que se estende a uma vida
inteira; ou o caminho que a Europa percorre até entrar na «cultura do
Holocausto». 
Eugénia Sousa
LIVROS
Novidades literárias
D. QUIXOTE. Beloved, de Toni
Morrison. Beloved conta a história de uma antiga família de escravos no
Ohio, pós-guerra da Secessão. No centro de uma inesquecível galeria de
personagens encontra-se Sethe, uma mulher marcada pelo passado. As suas
recordações do tempo da escravatura estão sempre acompanhadas do
fantasma da primeira filha, Beloved.
O romance venceu o prémio Pulitzer de 1988, e a sua autora o Prémio
Nobel de 1993.
PRESENÇA. A Terra Pura, de Alan
Spence. Século XIX. Um homem abandona a sua terra, na Escócia, e parte
rumo ao Japão. Em Nagasáqui, Thomas Glover vai encontrar uma sociedade
feudal e fechada, dominada por um senhor da guerra. Poderá a
determinação e a força de um estrangeiro mudar a história do Japão?
COTOVIA. Uma Aventura Secreta do
Marquês de Bradomín, de Teresa Veiga. As Parcas; Uma Aventura Secreta do
Marquês de Bradomín; e O Maldito, Marianinha, e o Feitiço da Rocha da
Pena são título dos três contos fantásticos que constituem o livro
Vencedor do Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco APE/
CMVNFamalicão de 2008.
PIAGET. Introdução às Teorias da Comunicação de Jean-Pierre
Meunier e Daniel Peraya. Como apreender as mensagens mediatizadas, sejam
orais, escritas ou visuais, a partir dos sinais que as compõem? Como
estão organizadas e interagem e quais as condutas afectivas,
relacionais, cognitivas que provocam? A estas e outras questões vem os
autores dar resposta numa obra de inegável interesse.
CAMPO DAS LETRAS. O Outro, de Ryszard Kapuscinski (1932-2007). A
Campo das Letras continua a publicar a obra daquele que foi considerado
o maior jornalista polaco do século XX. No Outro estão reunidas 6
conferências em que Kapuscinski falou sobre o que é ser ou não europeu,
colono ou colonizador, branco ou negro. Numa época globalizada é preciso
entender que somos cada vez mais o “Outro”, para os “Outros”.
TEXTO. Fernando Pessoa: O Guardador de Papéis, com organização de
Jerónimo Pizarro. O livro reúne os textos de oito comunicações
proferidas no ciclo de conferências O Guardador de Papéis, no âmbito das
comemorações dos 120 anos do nascimento do poeta (1888-2008.).
GRADIVA. Cosmos, de Carl Sagan. O contributo de Carl Sagan para
as Ciências Espaciais, a Astronomia, e a preservação do meio ambiente é
de uma importância maior. Para o físico Carlos Fiolhais «Carl Sagan
trata de tudo: “Cosmos é tudo o que existiu, existe ou existirá.”O que o
olhar alcança e mais longe ainda, o que a mente humana alcança. Leva-nos
numa viagem para a frente no espaço e para trás no tempo. Faz-nos
sonhar! Poder-se-à pedir mais, de um livro?». Uma reedição fundamental.
DIFEL. Discursos que Mudaram o Mundo. Concebida pela Cambridge
Editorial Partnership reúne mais de 50 momentos e oradores, de várias
épocas e lugares, que com a força da palavra conseguiram tocar e mudar o
mundo. São alguns deles: Jesus Cristo; Moisés; Abraham Lincoln, Gandhi,
Churchill, Marthin Luther King, Kennedy, Mandela.
PERGAMINHO. O poder da emoção de Esther e Jerry Hicks. Os autores
leva-nos a compreender melhor as emoções, a dominá-las, e a viver
harmoniosamente com os nossos sentimentos. Na linha do manual de
auto-ajuda, O Poder da Emoção diz como usar a lei da atracção para
conquistar liberdade, alegria e felicidade. K.

PELA OBJECTIVA DE J.
VASCO
As marchas voltaram à
avenida

Não há festas de Junho sem Marchas um
pouco por todo o lado. Este ano não foi excepção. Estivemos na Avenida
da Liberdade em Lisboa, por onde desfilaram na noite de 12 de Junho 23
Marchas, quase todas representantes dos bairros da cidade. Este ano
Alfama e Castelo (na foto) venceram “ex-aequo”. 
MÚSICA
Black Eyed Peas - The
E.N.D.

O tema “Bom boom pow” foi o cartão de
visita para o quinto álbum de originais dos Black Eyed Peas, o novo
registo recebeu o nome de “The E.N.D.”, que são as iniciais de “The
energie never dies”, por isso os fãs da banda podem ficar tranquilos.
A banda de Fergie que recentemente actuou em Portugal apresenta quinze
novas faixas que prometem servir de banda sonora para este Verão de
2009. O segundo single “Gotta feelin” já roda nas rádios e promete ter
muito air play nos próximos meses. O tema tem uma óptima melodia bem
trabalhada e cronometrada, capaz de conquistar rapidamente os nossos
ouvidos.
E como o titulo sugere, a energia nunca acaba, e nestes novos temas com
o som tradicional da banda podemos viajar no universo do pop, hip hop,
funk e electro, sempre com muita energia e boas vibrações. Os fãs da
banda podem ainda encontrar uma edição especial deste álbum, que tem
mais quatro temas extra e seis remixes. O álbum entrou directamente para
o primeiro lugar do top de vendas nos Estados Unidos, os fãs da terra
Natal da banda esqueceram a crise por alguns minutos!
Destaque para os singles “Bom boom pow”, “Gotta feelin” e as faixas
“Alive” e “Meet me halfway”.

Bob Sinclair - Born in 69. Bob
Sinclair é um dos Dj´s Produtores de house comercial mais bem sucedidos
do momento, nos últimos três anos juntou ao seu currículo alguns dos
maiores sucessos das pistas de dança, como “Love Generation”, World hold
on”, “Rock this party” e ”Together”.
“Born in 69” apresenta doze novas canções com características
diferentes, finalmente ele percebeu que a sua “fórmula mágica” estava a
tornar-se repetitiva, os temas tinham samples muito parecidos e as
melodias eram muito idênticas, os mais distraídos até podiam confundir
alguns temas com facilidade!
O primeiro single foi o tema de “New new new “ que serviu de cartão de
visita, depois foi o tema de abertura “Lala song” que teve direito a
remisturas de Guy Schreiner, Donovan Dominator e Tocadisco, recentemente
foi extraído o terceiro single, “Love you no more” com novas versões com
a assinatura de Nicola Fasano, Jean Guy e Count and Sinden, os vocais
são de Shabba e o tema é inspirado numa música de Manu Chao, que agora
promete ser um dos sucessos deste Verão nas pistas de dança e nas
rádios.
O Dj e produtor Francês tem duas actuações agendadas para este verão em
Portugal onde vai apresentar nos seus set´s os temas do novo registo. Os
temas mais fortes são os singles “Love you no more”, “Lala song” e as
faixas “Give me some more” e “Peace song” Mais um disco condenado ao
sucesso!

Ingrid Michaelson - Be ok. Nos
últimos anos as séries televisivas e os anúncios de publicidade que
invadem os nossos televisores tem relevado novas estrelas na música.
A Norte Americana Ingrid Michael son teve alguns dos seus temas a
passarem em várias series de televisão como foi o caso de Anatomia de
Grey, uma serie também muito popular em Portugal. Em pouco tempo as
rádios começaram a incluir nas suas play lists alguns temas da Ingrid
Michaelson ,e a popularidade da cantora foi rápida.
No nosso país apenas tem rodado o tema mais conhecido que deu nome ao
álbum, o single “Be ok”, uma música com uma melodia simples e uma letra
contagiante. Ingrid Michaelson já fez a primeira parte de alguns
espectáculos de Jason Mraz e da Dave Matthews banda, e com a
visibilidade e o sucesso que teve, vão surgir muitas actuações em vários
países. A sonoridade dominante deste registo é o indie pop com várias
canções suaves e agradáveis.
O álbum inclui uma versão do clássico “Can´t help falling in love” de
Elvis Presley, numa leitura muito pessoal e uma versão acústica do
single “Be ok”.
Destaque para o lindíssimo “Be ok” e para os temas “Lady in Spain”,
“Lady Breathing” e “You and i”.
Mais uma voz interessante para o panorama musical! 
Hugo Rafael
BOCAS DO GALINHEIRO
Recordar Robert
Mullingan

Há autores cuja obra, não se sabe bem
porquê, cai no esquecimento até que, por qualquer acaso, alguém se
lembra de vasculhar nos cofres e, helas, descobre-se a pólvora, como soi
dizer-se. Um desses casos é justamente o de Robert Mulligan, um dos
realizadores da chamada “geração da televisão” que despontou nos anos
sessenta do século passado, nomeadamente em Nova Iorque, cujo objectivo
maior era criarem uma linha clara de separação entre as suas obras e o
status quo dominante em Hollywood. Além do referido, podemos incluir
nesta plêiade os nomes de John Frankenheimer, Stanley Kubrik, Sidney
Lumet, Martin Ritt, Ralph Nelson, de entre outros. Essencialmente na sua
mira estava a criação dum cinema lúcido e inteligente, focado nos
grandes temas que preocupavam a ainda hiper puritana sociedade americana
à época: o racismo, o aborto, o redutor american dream, etc. De uma
forma ou de outra, todos conseguiram tocar, muito ao de leve, a maioria,
nalgumas feridas americanas, explorando alguns microcosmos, como o da
justiça ou da educação. Sem provocarem uma rotura no sistema, vingou a
sua aproximação crítica e realista à sociedade.
Nascido a 23 de Agosto de 1925 no Bronx, em Nova Iorque, filho dum
polícia, faleceu em Dezembro do ano passado, dia 20, aos 83 anos, em
Lyme, Connecticut. Homem multifacetado, estudou literatura e jornalismo,
fez a II Grande Guerra na Marinha e estreou-se na televisão em 1953 onde
dirigiu dezenas de episódios. Dali para os filmes foi um pequeno salto
ocorrido em 1957 com “Fear Strikes Out” (Vencendo o Medo), com produção
de Alan J. Pakula, outro dos nomes que, apesar de mais tarde, também se
pode e deve acrescentar à tal geração da televisão. Um filme onde desde
logo se nota a marca Mulligan, na forma como expõe os seus personagens:
indivíduos solitários, muitas vezes instáveis, marginalizados pela
sociedade, quando não são mais que o reflexo dessa mesma sociedade.
Aliás, é fulcral em Mulligam a análise sociológica que perpassa nos seus
filmes. Neste o de uma estrela do baseball, papel vivido por Anthony
Perkins, paralisada pelo medo, devido à excessiva pressão do pai para
que fosse sempre o melhor de todos.
Desta ligação com Pakula resultou a criação de filmes com momentos
notáveis como “To Kill a Mockingbird” (Na Sombra e no Silêncio), de
1962, adaptação do romance homónimo da escritora Harper Lee, sobre a
defesa de um negro acusado da violação de uma jovem branca, oprimida por
um pai alcoólico, pelo advogado, branco, Gregory Peck numa magistral
interpretação, cuja acção decorre comunidade rural do Sul dos Estados
Unidos, e que valeu ao realizador a nomeação para o Oscar de melhor
realizador, “Amar Um Desconhecido”, de 1963, uma das incursões do
realizador pelo melodrama e no tema do aborto, com Natalie Wood e Steve
McQueen. “O Estranho Mundo de Daisy Clover”, de 1966, de novo com Wood
no papel de uma estrela de Hollywood marcada por um destino trágico, ou
“O Último Degrau”, de 1967, um olhar crítico e desencantado sobre a
Escola, através da experiência de uma jovem professora, Sandy Dennis,
plena de entusiasmo que lhe permite a sua recente licenciatura, numa
escola problemática e excessivamente burocratizada, onde são patentes os
conflitos entre grupos de alunos e a complacência surda da direcção e do
corpo docente. Um filme, diríamos, excessivamente actual!
Porém, o maior sucesso de Mulligan, tanto cinematográfico como
comercial, é de longe “Verão de 42”, realizado em 1971, com Jennifer
O’Neil e Gary Grimes. “Todos temos um Verão de 42”, anunciavam os
cartazes da época, ou seja, todos procuramos os amores de praia, quase
sempre condenados a serem enterrados na areia, ou não. Na fita de
Mulligan Gary Grimes recorda a sua primeira experiência de adolescência,
a sua iniciação, com uma vulnerável Jennifer O’Neil depois da perda do
marido na frente de combate, filmado com a sensibilidade e a atenção ao
detalhe emocional tão próprias do realizador. A música de Michael
Legrand, usada inteligência, dá o definitivo toque de nostalgia que
atravessa todo o filme, através das recordações daquele adolescente do
Verão da sua vida. Em 1973 Paul Bogart avançou com uma sequela, “Class
of 44”, com Grines, que passou despercebida, de pouco ambiciosa. Uma
tentativa falhada de apanhar o comboio do êxito de Mulligan.
Deste realizador esquecido, de obra irregular, mas também, e
injustamente, pouco valorizada, podemos ainda referir outros filmes como
“Emboscada na Sombra”, de 1969, que marca a sua incursão na temática do
western, ou “O Mestre Impostor” e “Idílio em Setembro”, de 1961, duas
obras onde Mulligam muda de registo e de género, experimenta a comédia,
tendo como protagonistas Tony Curtis e Rock Hudson, respectivamente.
Este último surge em “Labirinto de Paixões”, de 1962. De 1971 é “Em
Busca da Felicidade”, com Michael Sarrazin, de novo um olhar sobre a
juventude americana, merecendo ainda alguma atenção “A Estrada do
Amanhã”, de 1978, à volta da comunidade ítalo-americana, “blue collar”,
de Nova Iorque e que lança um jovem Richard Gere para a primeira linha
do estrelato e “O Outro”, de 1972, um filme pouco conhecido, estranho e
perturbante, onde o realizador faz uma fascinante abordagem do
fantástico ligado à psicologia da infância e ao Bem e ao Mal, o horror
que surge pouco a pouco numa pequena aldeia de província, personificado
em duas crianças gémeas que se entregam a estranhos “jogos” cheios de
maldade.
O seu último filme, “The Man In The Moon”, de 1991, tal como o anterior,
“Clara’s Heart”, de 1988, ambos inéditos entre nós, passaram agora num
recente ciclo que a Cinemateca Portuguesa dedicou ao realizador. Ainda
bem!
Até à próxima e bons filmes!. 
Luís Dinis da Rosa
Joaquim Cabeças
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