CARLOS FIOLHAIS,
CIENTISTA
"Ninguém manda na
escola"
O director da Biblioteca Geral da
Universidade de Coimbra acredita que a escola tem sido «maltratada» e
que a receita para ultrapassar a crise «profunda e estrutural» que esta
atravessa passa por «menos ideologia e mais pragmatismo». Carlos
Fiolhais considera ainda que «o desemprego atinge menos quem tem mais
habilitações», defende que o «impulso externo» para transformar a
dinâmica das faculdades deve partir dos governos e, finalmente, afirma
que nesta fase de crise energética o «nuclear não deve ser um tabu».
É o cientista português com o artigo
mais citado em todo o mundo - com mais de 5600 citações. Como recebeu a
notícia, sabendo que vive num país com pouca tradição científica?
Fiquei admirado mas, claro, contente em saber que um trabalho feito em
colaboração com colegas americanos encontrou tantas aplicações em áreas
tão diferentes como a Física, a Química, a Engenharia de Materiais, a
Biologia, etc. Isso significa que o trabalho é útil a muita gente e que
não ficou “sepultado” nas bibliotecas e arquivos. Quanto à tradição
científica do país, de facto não é grande, mas o aumento de colaborações
internacionais como aquela em que participei significa que o nosso
atraso nessa área está a ser vencido. O atraso resultava em boa parte de
isolamento. Era um atraso grave, pois, como mostra este caso de
multiplicação de aplicações, a tecnologia que ajuda ao desenvolvimento
tem hoje uma forte base na ciência fundamental. Devo acrescentar que
outros cientistas portugueses têm produzido artigos com muito impacte e
alguns deles têm, integrando as suas várias publicações, um currículo
bem melhor do que o meu. São esses colegas, trabalhando lá fora e aqui,
que mais têm feito para quebrar o nosso atraso e alicerçar uma nova
tradição.
É físico nuclear de formação. Numa
altura em que o debate sobre as alternativas energéticas está em cima da
mesa, é dos que defende o recurso ao nuclear?
Sim. Fiz no início dos anos 80 uma tese sobre a física teórica da cisão
nuclear. Ao contrário de muita gente, não tenho medo da ciência e
tecnologia do nuclear. A indústria nuclear, com toda a atenção de que
tem sido alvo, é hoje uma das mais seguras do mundo. O maior recurso ao
nuclear já está em curso em vários lados do mundo, motivado pelo aumento
das necessidades energéticas e pelos bem conhecidos problemas com os
combustíveis fósseis (uma das vantagens do nuclear é a não contribuição
para o “efeito estufa” ao não emitir dióxido de carbono). As energias
alternativas são altamente desejáveis, mas elas, no estado da arte
actual, estão longe de resolver as nossas carências energéticas,
nomeadamente de indústrias e grandes centros urbanos. Sobre o caso
português, julgo no mínimo que se devia discutir o assunto: a energia
nuclear não devia ser tabu. Não percebo a atitude do governo em adiar
esse debate público. Pode haver razões políticas, económicas, ambientais
ou outras, para além das que são estritamente científico-tecnológicas,
para alargar o leque das opções energéticas, recorrendo ao nuclear, mas
elas devem ser discutidas abertamente na sociedade. Os cientistas e
engenheiros portugueses estão dispostos a dar o seu contributo, mas a
discussão deve ser de todos.
Continua a desbravar os caminhos da
divulgação científica. Considera-se uma espécie de “último do moicanos”
num país que trata a ciência como parente pobre?
“Último dos moicanos”? Não, não considero, há gente muito boa, melhor do
que eu, a, como diz, desbravar os caminhos da investigação científica.
Estou-me a lembrar do Nuno Crato, do Jorge Buescu, do Jorge Dias de Deus
e de vários outros amigos meus (na divulgação científica somos bastante
solidários, pois temos bem a noção que todos não somos demais). E há,
felizmente, gente mais jovem, que está muito activa. O “Ciência Viva”
tem feito um óptimo trabalho, com uma rede de centros espalhados pelo
país e numerosas iniciativas. O mesmo acontece com a editora Gradiva,
cuja colecção “Ciência Aberta” tem sido um enorme êxito. Com jornais
como o “Público”, cujas notícias de ciência têm ajudado a estimular o
interesse dos leitores pela ciência. Claro que ainda há muitos caminhos
a percorrer, mas o facto é que o público se tem vindo a interessar cada
vez mais pela ciência, apercebendo-se que fica mais rico se for parente
próximo dela.
Defende que cultura e ciência deviam
andar mais próximas. Estamos a pagar o atraso crónico do insuficiente
investimento em áreas centrais de mudança em qualquer sociedade?
A ciência é uma forma de cultura. A cultura humana, apesar de plural e
diversa, deve progressivamente ganhar uma maior coesão, todos devendo
ser contribuintes líquidos para isso. A ciência pode e deve aproximar-se
de outras formas de cultura, por exemplo pode aproximar-se mais da arte
(ciência e poesia podem aparecer mais juntas, e o mesmo com a ciência e
a música, a ciência e o teatro, etc.). E vice-versa, as outras formas de
cultura ganharão em aproximar-se da ciência. A ciência – que não é mais
do que a descoberta do mundo em que vivemos, incluindo-nos a nós
próprios nesse mundo – tem aliás mais a ver com as outras formas de
cultura do que normalmente se pensa. Por exemplo, o cientista pode
também ser guiado por critérios estéticos no seu trabalho de descoberta.
Também na ciência se experimentam emoções que não estarão muito
distantes das emoções artísticas. É curioso que já alguém notou que as
épocas de maior progresso cultural foram também as épocas de maior
progresso científico, embora isso seja difícil de medir.
A cultura pode então contribuir para
transformar a sociedade...
Estou de acordo consigo quando diz que a cultura, e portanto também a
ciência, são alavancas de mudança. E, no nosso país, isso nem sempre tem
sido reconhecido na prática, através de um investimento concertado e
continuado. Por exemplo, apesar de haver alguns recentes sinais
positivos de investimento na ciência, preocupa-me muito que não haja
investimento concomitante na cultura, uma vez que o investimento público
nessa área tem vindo claramente a diminuir. Creio que estamos ainda a
pagar o atraso crónico no investimento cultural, mas esse atraso será
mesmo crónico se o desinvestimento cultural continuar. Poder-se-á
responder que os tempos de hoje são de crise. Pois a minha resposta é
que é precisamente nessa altura que se têm de fazer os investimentos que
mais rendam no futuro.
Um relatório do Eurostat diz que
apenas 24 por cento dos portugueses visitaram um museu ou galeria de
arte no último ano. Para além disso, somos dos que menos lêem. Como
inculcar hábitos culturais, especialmente de leitura, a um povo que
continua a preferir o consumo televisivo?
As estatísticas europeias informam-nos periodicamente que o nosso lugar
continua a ser na cauda da Europa. A frequência a museus e a leitura são
índices reveladores, embora haja outros. Em contrapartida, como lembra,
investimos demasiado do nosso tempo na televisão, essa grande “ladra” de
tempo. Estamos condenados ao atraso cultural? Não, não estamos. Mas,
além do investimento acrescido na cultura (nomeadamente nas bibliotecas
públicas, que são lugares de civilização, e na protecção do nosso
património histórico), julgo que o maior esforço que tem de ser feito
será no domínio da educação. A educação é, tem sido, o nosso calcanhar
de Aquiles. Olhe que eu nem sei se os miúdos agora sabem o que é um
calcanhar de Aquiles... Pergunte numa escola ao acaso e talvez só saibam
do calcanhar do C. Ronaldo. Na minha opinião, e não esquecendo o papel
da família, é na escola que a cultura deve começar. Para as crianças
mais pobres, a escola representa a oportunidade de sair da pobreza.
O «nacional-conformismo» e a falta
de auto-estima são dois factores centrais da equação que nos impedem de
progredir?
Sim, são, há traços culturais, por vezes bastante profundos, na nossa
insuficiência. Muitos estrangeiros que nos visitam têm dito isso. O
“deixa andar” de que fala é uma praga nacional. Também se pode traduzir
por “logo se vê”, uma expressão de difícil tradução noutras línguas.
Julgamos que as coisas se podem resolver por elas próprias, sem a nossa
intervenção esclarecida e atempada. O facto de não nos acharmos capazes,
ou de só em certas alturas e para certas coisas nos acharmos capazes (o
poeta Carlos Queiroz escreveu: “Só fazemos bem torres de Belém”), não
ajuda nada a enfrentar os desafios na altura certa em que eles devem ser
enfrentados. Vamos adiando. Vamo-nos adiando. Esperamos não sei o quê,
não sei quando. Ora, na actividade científica, não é assim, não se
avança assim. Embora as nossas vidas não se possam reger apenas pela
ciência, a ciência é das “coisas mais preciosas que temos” e só nos
faria bem ter uma atitude mais científica mas nossas vidas. É também por
isso que a necessidade de ciência é particularmente sentida em Portugal.
Rejeita que existam portugueses com
habilitações literárias em excesso. Os recorrentes estudos dizem que
estamos a formar para o desemprego, nomeadamente nos cursos de lápis e
papel. Onde está o erro?
Eu percebo o drama individual de quem termina um curso superior e não
obtém imediatamente emprego. Mas não estamos a formar para o desemprego,
pois uma escola superior não é exactamente uma agência de emprego. A
escola destina-se a preparar melhor para a vida e não há dúvida que as
pessoas com mais habilitações estão mais bem preparadas para a vida.
Está provado: O desemprego atinge menos quem tem mais habilitações.
As universidades são vistas como
centros de emprego. Deve passar-se a mensagem, sem constrangimentos, que
a licenciatura é apenas uma licença para aprender, parafraseando Adriano
Moreira?
Sim, é uma frase em que me reconheço. Depois da licenciatura, ainda há o
mestrado e o doutoramento, que são tempos por excelência de
auto-aprendizagem. E depois a aprendizagem prossegue, porque o mundo não
pára. Hoje fala-se em aprendizagem ao longo da vida e na primeira parte
da vida devíamos aprender o suficiente para aprender mais depois. Quero
crer que as universidades portuguesas estão atentas a essas necessidade
de aprendizagem contínua e estão a começar a desenvolver programas, à
distância ou mesmo presenciais, para que possam ajudar mais quem queira
aprender mais.
No seu livro de crónicas “O Engenho
Luso” afirma que as universidades dificilmente se auto-reformam. De onde
pode vir o impulso externo para operar a transformação?
A história mostra que as universidades têm, de facto, muitas
dificuldades em mudar por dentro. Isso terá a ver com o facto de serem,
além de sítios de transformação (criadores de saber), sítios de
conservação (guardiãs do saber). Por vezes a inércia é muito grande,
apesar das grandes transformações que ocorrem lá fora. Não desprezando
as contribuições de forças económicas, profissionais e sociais, julgo
que o impulso externo deve vir dos governos. Numa sociedade democrática
é ao governo que compete intervir na regulação das escolas públicas (e
também, embora naturalmente de modo diferente, na regulação das
privadas). O nosso governo mudou há pouco – e julgo que bem – o regime
jurídico das universidades. Mas, ao mesmo tempo que fala em autonomia
acrescida das universidades, diminui a autonomia ao estrangulá-las
financeiramente. Algumas universidades mais pequenas estão numa posição
insustentável e mesmo as maiores não estão nada bem.
É possível, algum dia, ter um centro
universitário de excelência em Portugal?
A ideia de uma universidade de excelência, pelo menos em certas áreas, à
escala europeia tem vindo a público pela boca de outras pessoas. Eu
também acho que seria excelente procurarmos ter pelo menos uma
universidade no topo europeu. Mas isso exige um elevado investimento em
meios humanos, que talvez não seja compatível com o anunciado
investimento em betão.
Disse que «a escola é uma das
maiores invenções da humanidade». Pelo menos por cá, a invenção, parece
em crise. Como aqui chegámos e como reabilitá-la?
A crise é profunda, estrutural, como explico no capítulo “O atraso
português” do meu livro “A Coisa Mais Preciosa Que Temos” remonta pelo
menos ao século XIX, quando os outros países se desenvolveram muito mais
que nós, em grande parte graças ao desenvolvimento da escola. Não há
dúvidas que, desde 1974, tem havido em Portugal algum desenvolvimento,
mas a escola não se desenvolveu o suficiente. É uma herança que, pese
embora a propaganda em contrário, está longe de ter sido ultrapassada.
Dói-me o estado da escola portuguesa, que tão maltratada tem sido.
Também estou certo que dói a muitos professores, também eles tão
maltratados. Como sair da crise actual? Não há alternativa à escola.
Precisamos, quando não a temos, ainda mais dela. Mas era preciso uma
visão, uma esperança, uma audácia (o Obama que me desculpe tirar-lhes os
slogans!) que infelizmente ainda não há.
O “eduquês”, o discurso educativo
oficial, está a minar o sistema?
Sim, o “eduquês” pode não ser a causa dos nossos males escolares, mas
não ajuda nada. E não se trata apenas do discurso oficial, por vezes
completamente vazio, como o Nuno Crato e outros têm chamado a atenção. É
também – e isso é que é pior – a perigosa ideologia que está por trás, a
ideologia não directiva, romântica, que está provado que não funciona. O
problema é que se trata de uma ideologia totalitária, que não admite
sequer contestação, e que entre nós está instalada há muito tempo. Não
funciona noutros lados e também não funciona aqui. Julgo que só nos
faria bem ver aprofundar a crítica, que já é muito nítida lá fora, a uma
ideologia que deu os resultados que estão à vista de todos. Aliás, o
nosso ensino ganharia se houvesse menos ideologia e mais pragmatismo.
Fica-se com a ideia que a
instituição escola está “sem rei nem roque”. Os professores perderam o
poder que tinham e distanciaram-se do centro do sistema. Quem manda na
escola?
Boa pergunta, quem manda na escola? Acho que ninguém manda. Os
professores não mandam, o governo não manda, as autarquias e as famílias
também não. Julgo que era tempo de responder à questão. Poder-se-ia pensar – se no estado actual de confusão se pudesse pensar alguma coisa – que às escolas fosse dada suficiente autonomia para se organizarem da maneira que os professores ACHASSEM MELHOR (os professores são centrais na escola!), em colaboração com as autarquias, as famílias, etc. e que o governo se limitasse, em vez de querer ser o “rei” absoluto, que tudo estabelece e determina, a definir regras claras, incentivando as escolas mais bem organizadas e desincentivando as
outras.
Este processo pode levar a que os
melhores docentes, desencantados, abandonem o ensino?
O actual processo já está a levar a isso. Os professores estão
desanimados com a entropia que vai nas escolas. E os melhores
professores estão mais desanimados. Muitos estão a ir embora e só não
vão mais porque não podem. A sociedade, a começar pelo governo, devia
valorizar mais os professores, em particular os melhores professores. A
avaliação que tem sido anunciada para escolher os melhores julgo que não
cumpre esse louvável objectivo.
O Governo confundiu os professores
com os sindicatos ?
Sim, os professores estão mal representados pelos sindicatos, mas o
certo é que governo não os distingue. Ao querer lutar com os sindicatos
cometeu o grande, o enorme erro de lutar contra os professores.
Matemática, Física e Química são
«bichos papões» na mente de muitos alunos, com resultados paupérrimos. A
formação científica dos nossos jovens é cada vez mais incipiente?
Que a formação científica dos nossos jovens não vai bem é revelado por
sucessivas avaliações internacionais, como o programa PISA. Essa
avaliação é externa e independente, pelo que os seus resultados nos
deviam preocupar seriamente. Outros países preocupam-se e nós não. O
paradoxal é que o interesse dos nossos jovens pela ciência e o
progressos das acções de divulgação científica não encontra eco nesses
resultados internacionais. O que só mostra que a escola está mal e tem
de ser mudada...
Os resultados a Matemática
melhoraram substancialmente. Admite a facilitação das provas em prol da
estatística?
Não, não melhoraram. As avaliações externas mostram a constância dos
maus resultados e, oxalá me engane, as próximas vão continuar a mostrar
o mesmo, porque as mudanças na educação são lentas. Quanto aos exames
nacionais, da responsabilidade do Ministério da Educação, eles não têm
tido fiabilidade para termos suficiente confiança nos seus resultados.
Veja o que diz a Sociedade Portuguesa de Matemática.
Com os progressos das tecnologias da
informação, as bibliotecas mudaram muito nos últimos tempos. Algumas
tornaram-se virtuais. Que futuro augura às bibliotecas tradicionais do
mundo quando todos temos à disposição informação planetária à distância
de um clique através de enciclopédias online e de motores de pesquisa
como o Google?
As bibliotecas tradicionais, cheias de livros e documentos, não perderam
nem o seu valor nem o seu lugar. Elas organizaram-se, ao disponibilizar
os seus conteúdos (por agora só parte) para serem também bibliotecas
virtuais. As bibliotecas modernas são um híbrido, por um lado ricos
repositórios materiais onde apetece ir e ficar e, por outro lado,
“antenas” que emitem informação e conhecimento para todo o mundo. A
Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, que tenho a honra de
dirigir, está a ir por esse caminho.
Confidenciou que o seu sonho era
digitalizar o conteúdo integral da Biblioteca Joanina da Universidade de
Coimbra, que dirige, colocando esse acervo ao alcance de todos, nas
nossas próprias casas. Pensa que o seu sonho pode, um dia, tornar-se
realidade?
Sim, tecnicamente é já hoje possível. É uma questão de prioridade e de
investimento nessa área. Poderá demorar, mas um dia será realidade. Já
há uma pequena amostra que é o DVD-ROM “Biblioteca Joanina Virtual”, que
contém cerca de duas dúzias de obras antigas totalmente digitalizadas.
Agora só falta fazer o mesmo a uma escala maior.
Nuno Dias da Silva
Cara da notícia
Nascido em 1952, Carlos Fiolhais é
professor de Física da Faculdade de Ciências e Tecnologia da
Universidade de Coimbra e director da Biblioteca Geral do mesmo
estabelecimento de ensino, que inclui a riquíssima Biblioteca Joanina,
detentora de milhares de volumes de inegável sabedoria.
Licenciou-se em Física na Universidade de Coimbra, em 1978, e
doutorou-se em Física Teórica na Universidade Goethe, em Frankfurt/Main,
Alemanha, em 1982.
É autor de cerca de quatro dezenas de livros, de entre os quais se
destaca «Computadores e tudo o resto», «Física divertida», «A coisa mais
divertida que temos» e, mais recentemente, lançou «engenho luso», com a
chancela da Gradiva, uma compilação de crónicas suas publicadas no
jornal «Público», versando a actualidade e a história de Portugal. Tem
mais de uma centena de artigos científicos publicados, um dos quais com
mais de 5600 citações, onde descreve a energia de um sistema
electrónico.
Ganhou em 1994 o Prémio União Latina / JNICT de tradução científica, com
a obra “Física Nuclear”, publicada pela Fundação Gulbenkian. Ganhou o
Globo de Ouro de Mérito e Excelência em Ciência de 2004 atribuído pela
SIC e pela revista “Caras” em 2005. Foi agraciado pelo Presidente da
República com a Ordem do Infante D. Henrique em 2005. Recebeu o «Prémio
Inovação do Forum III Milénio» e o «Prémio Rómulo de Carvalho» da
Universidade de Évora em 2006.
Finalmente, participou nos momentos iniciais do programa de fim de ano
da SIC, ajudando o quarteto dos «Gato Fedorento» a transportarem-se para
o final do ano de 2009.
MIGUEL NASCIMENTO,
DIRECTOR REGIONAL DO CENTRO
Como o IPJ apoia os
estudantes
O Instituto Português da Juventude assume
uma função de relevo no apoio às Associações de Estudantes das
Universidades e Politécnicos. Com a introdução da Lei do Associativismo
Jovem, o IPJ passou a estar mais próximo das associações pela criação do
Programa de Apoio Estudantil (PAE).
Este mês fomos saber os contornos deste apoio. Miguel Nascimento,
Director Regional do Instituto Português da Juventude da região Centro,
explica como é
Em que medida é que o Programa de
Apoio Estudantil é importante?
Os jovens são o nosso universo de trabalho, independentemente da sua
condição e onde quer que estejam em determinado momento. Neste caso, as
Associações de Estudantes e Académicas são parceiros fundamentais na
implementação da política de juventude em Portugal. É uma faixa etária
muito interessante, com uma capacidade muito grande de realização, tem
um percurso académico e de vida de alguma maturidade e acreditamos que o
nosso trabalho com essas associações dá frutos a curto prazo e são
lançadas as bases para um fruto a longo e médio prazo. Por outro lado,
as regras alteraram-se de forma significativa com a aprovação da lei do
Associativismo Jovem. Num passado não muito longínquo, as associações
tinham um subsídio ordinário da Secretaria de Estado e, ao entrarem
neste enquadramento da lei do Associativismo Jovem, as associações têm
um apoio directo.
E como é que as Associações podem
aceder aos apoios?
Há regras muito claras para a atribuição do apoio, há uma fórmula de
cálculo, há relatórios que têm de ser entregues, há justificações que
têm de ser dadas e há um acompanhamento maior por parte do IPJ ao
trabalho realizado. Esta nova dimensão do apoio acaba por dignificar o
relacionamento entre o IPJ e as Associações de estudantes e credibilizar
o próprio movimento associativo. O financiamento das associações é
multifacetado: vem das próprias reitorias e das presidências dos
politécnicos e tem uma fatia substancial suportada pelo IPJ. A
competência, a boa gestão, a justificação, a prestação de contas são,
todos eles, aspectos que nos interessam no quadro da caminhada que
iremos fazer em conjunto com os estudantes.
Como funciona o PAE?
Temos duas componentes: o apoio anual e o apoio directo às federações de
associações de estudantes. Nós introduzimos regras que aumentaram o
rigor, a transparência e a prestação de contas, entre outros. Ao
introduzir esse conjunto de regras aumentámos a credibilidade do
relacionamento entre o IPJ e as associações. O apoio anual serve para
equilibrar o plano de actividades das próprias associações de
estudantes. O objectivo é que as associações de estudantes possam
planificar com tempo o ano lectivo seguinte. Aqui houve um esforço por
adaptar os calendários eleitorais académicos ao novo sistema do IPJ.
Neste momento todas as associações de estudantes e académicas fizeram já
a renovação no Registo Nacional do Associativismo Jovem (RNAJ), em que
se certifica todos os anos o número de associados, a componente de
direcção, e outras questões relacionadas com as associações. A
candidatura é introduzida e os resultados são conhecidos no primeiro
trimestre deste ano.
Quanto ao PAE pontual, como o próprio nome indica, é um apoio pontual de
uma actividade que surge de forma espontânea e há a possibilidade de,
com 60 dias de antecedência, as associações se candidatarem a ele no
sentido realizarem essa actividade. É uma vertente que se disponibiliza
para as coisas que não estão planificadas. Em relação à federação, esta
pode recorrer até quatro apoios pontuais.
Qual desses apoios é o mais
concorrido?
A pedra base é sem dúvida o apoio anual. É aquele que tem maior volume
financeiro e, portanto, é aquele que as associações estão à espera para
planificarem as suas actividades. As candidaturas são entregues em
formato online o que facilita muito o processo. Depois há um momento da
intenção do valor a apoiar pelo IPJ e, havendo esse momento, há um outro
de renegociação em que os jovens dirigentes podem reformular a
candidatura em função do valor que o IPJ tem disponível para os apoiar.
Há um diálogo permanente e as alterações foram introduzidas de forma a
que sejam aumentados os patamares de rigor, transparência, prestação de
contas e de credibilização do próprio apoio e do movimento associativo.
Como é calculado o valor a atribuir
às associações e, no geral, que montantes anuais ronda?
Existe uma fórmula que prevê o montante final do apoio. A fórmula vai
buscar o número de associados, tem em atenção a própria ambição que é
planeada na candidatura e considera a introdução de novos registos que
para nós são muito importantes. Um deles é a promoção da igualdade de
géneros. Fomos introduzindo essa componente e os estudantes aderiram de
uma forma muito interessante: promovem iniciativas no âmbito do
aprofundamento da cidadania, da participação cívica, das questões do
voluntariado e também da igualdade de géneros.
No que diz respeito ao volume financeiro, não é aquele que gostaríamos,
é aquele que é possível. Não nos podemos esquecer que o nosso país está
a fazer um esforço de contenção orçamental, de ultrapassar os problemas
que decorrem da crise económica a nível mundial e, portanto, o IPJ não
foge à regra.
Existem muitas associações a
candidatar-se?
No caso da Região Centro, todas as associações de estudantes e
académicas da região centro concorrem ao PAE.
Em relação às actividades que
aparecem nas candidaturas, quais são as mais comuns?
As candidaturas têm acções e dentro de cada acção há uma actividade ou
um conjunto de actividades. Quer as acções, quer as actividades têm
objectivos gerais e específicos. Este plano de actividades que uma
associação candidata ao PAE, não é igual ao que ela pretende desenvolver
e engloba apenas as actividades que poderão ser apoiadas. Nós, cada vez
menos, temos uma preocupação de financiar semanas de caloiro e
académicas e, cada vez mais, financiamos outro tipo de acções que se
apresentem mais consistentes do ponto de vista de objectivos que devem
nortear o futuro da juventude. Não ignoramos que essas semanas e a festa
que envolve a prática universitária são fundamentais para os jovens, mas
também são cada vez mais os próprios jovens a perceber que existe um
tempo para tudo.
O IPJ tem feedback da realização
dessas actividades e sabe onde é empregue o dinheiro?
Nós sabemos que o dinheiro é bem empregue por uma razão muito simples: o
dinheiro é pago em duas tranches. Uma primeira no inicio do ano com 40%
ou 60% (dependendo do que for definido) e a segunda tranche só é paga
depois da apresentação de um relatório intercalar. Havendo um relatório
intercalar que justifique em que é que os montantes foram investidos (e
os relatórios têm regras e são uniformes), a segunda tranche é paga e
fica a associação obrigada a outro relatório intercalar. Dentro desse
mecanismo de supervisão existem ainda auditorias. Para além das regras
instituídas, existe um acompanhamento directo por parte da Direcção
Regional do Centro monitorizando o trabalho sem querer interferir na
autonomia das associações pois são elas que têm que definir o que querem
fazer, quando e como o fazer, mas na observância dos princípios e das
regras que existem no relacionamento. De salientar que nenhuma
associação se pode candidatar tendo dívidas.
Existe contentamento por parte das
associações de estudantes e académicas?
Eu vejo que as associações estão satisfeitas com o apoio. Da nossa parte
não há sinais de festa pois o país está em contenção orçamental e nós
apoiamos dentro das nossas possibilidades, sem grandes aventuras. Apesar
dos condicionalismos em 2008 houve um aumento em relação ao ano de 2007
e vamos ver o que em 2009 conseguimos fazer para apoiar o associativismo
tendo a certeza de que vamos continuar a trabalhar em conjunto.
Estão previstas algumas alterações
necessárias ao funcionamento?
Sentimos sempre necessidade de mudar porque nós não temos a pretensão de
fazer tudo bem. Queremos fazer o melhor todos os dias mas não somos
perfeitos. Provocámos esta mudança com a nova lei, com novas aplicações
informáticas, com novos sistemas de monitorização, contudo
verificaram-se alguns constrangimentos na sua passagem para o terreno e
foram introduzidas algumas alterações no funcionamento do próprio
sistema. Alterações que não têm uma mudança significativa mas que são
pormenores de aperfeiçoamento quer de candidatura, quer de
monitorização. O que estamos a fazer em toda a região centro são
encontros de carácter técnico com o movimento associativo, no sentido de
esgrimirmos estas alterações e tentarmos passar a mensagem para que as
candidaturas correspondam às expectativas que cada associação tem.
Daniela Silva
Cara da notícia
Luis Miguel Nascimento é natural
da Covilhã, Distrito de Castelo Branco, Portugal. Tem 39 anos, é casado
e desempenha desde Agosto de 2005 funções de direcção no Instituto
Português da Juventude, sendo Director Regional do Centro desde Setembro
de 2007. Em simultâneo exerce as funções de Vereador na Câmara Municipal
da Covilhã. É licenciado em Comunicação Social pela Universidade da
Beira Interior, Master em Estudos Europeus e Direitos Humanos pela
Universidade Pontifícia de Salamanca. É Pos-Graduado no VII Curso de
Especialização em Assuntos Culturais no Âmbito das Autarquias,
ministrado em conjunto pela Faculdade de Letras da Universidade de
Coimbra e pelo CEFA – Centro de Estudos e Formação Autárquica. É ainda
mestrando em Política Cultural Autárquica na Faculdade de Letras da
Universidade de Coimbra. Possui formação na área da Administração
Pública, ministrada pelo INA – Instituto Nacional da Administração
Pública.
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