Director Fundador: João Ruivo    Director: João Carrega    Publicação Mensal    Ano XI    Nº130    Dezembro 2008

Entrevista

CARLOS FIOLHAIS, CIENTISTA

"Ninguém manda na escola"

O director da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra acredita que a escola tem sido «maltratada» e que a receita para ultrapassar a crise «profunda e estrutural» que esta atravessa passa por «menos ideologia e mais pragmatismo». Carlos Fiolhais considera ainda que «o desemprego atinge menos quem tem mais habilitações», defende que o «impulso externo» para transformar a dinâmica das faculdades deve partir dos governos e, finalmente, afirma que nesta fase de crise energética o «nuclear não deve ser um tabu».
 

É o cientista português com o artigo mais citado em todo o mundo - com mais de 5600 citações. Como recebeu a notícia, sabendo que vive num país com pouca tradição científica?

Fiquei admirado mas, claro, contente em saber que um trabalho feito em colaboração com colegas americanos encontrou tantas aplicações em áreas tão diferentes como a Física, a Química, a Engenharia de Materiais, a Biologia, etc. Isso significa que o trabalho é útil a muita gente e que não ficou “sepultado” nas bibliotecas e arquivos. Quanto à tradição científica do país, de facto não é grande, mas o aumento de colaborações internacionais como aquela em que participei significa que o nosso atraso nessa área está a ser vencido. O atraso resultava em boa parte de isolamento. Era um atraso grave, pois, como mostra este caso de multiplicação de aplicações, a tecnologia que ajuda ao desenvolvimento tem hoje uma forte base na ciência fundamental. Devo acrescentar que outros cientistas portugueses têm produzido artigos com muito impacte e alguns deles têm, integrando as suas várias publicações, um currículo bem melhor do que o meu. São esses colegas, trabalhando lá fora e aqui, que mais têm feito para quebrar o nosso atraso e alicerçar uma nova tradição.
 

É físico nuclear de formação. Numa altura em que o debate sobre as alternativas energéticas está em cima da mesa, é dos que defende o recurso ao nuclear?

Sim. Fiz no início dos anos 80 uma tese sobre a física teórica da cisão nuclear. Ao contrário de muita gente, não tenho medo da ciência e tecnologia do nuclear. A indústria nuclear, com toda a atenção de que tem sido alvo, é hoje uma das mais seguras do mundo. O maior recurso ao nuclear já está em curso em vários lados do mundo, motivado pelo aumento das necessidades energéticas e pelos bem conhecidos problemas com os combustíveis fósseis (uma das vantagens do nuclear é a não contribuição para o “efeito estufa” ao não emitir dióxido de carbono). As energias alternativas são altamente desejáveis, mas elas, no estado da arte actual, estão longe de resolver as nossas carências energéticas, nomeadamente de indústrias e grandes centros urbanos. Sobre o caso português, julgo no mínimo que se devia discutir o assunto: a energia nuclear não devia ser tabu. Não percebo a atitude do governo em adiar esse debate público. Pode haver razões políticas, económicas, ambientais ou outras, para além das que são estritamente científico-tecnológicas, para alargar o leque das opções energéticas, recorrendo ao nuclear, mas elas devem ser discutidas abertamente na sociedade. Os cientistas e engenheiros portugueses estão dispostos a dar o seu contributo, mas a discussão deve ser de todos.
 

Continua a desbravar os caminhos da divulgação científica. Considera-se uma espécie de “último do moicanos” num país que trata a ciência como parente pobre?

“Último dos moicanos”? Não, não considero, há gente muito boa, melhor do que eu, a, como diz, desbravar os caminhos da investigação científica. Estou-me a lembrar do Nuno Crato, do Jorge Buescu, do Jorge Dias de Deus e de vários outros amigos meus (na divulgação científica somos bastante solidários, pois temos bem a noção que todos não somos demais). E há, felizmente, gente mais jovem, que está muito activa. O “Ciência Viva” tem feito um óptimo trabalho, com uma rede de centros espalhados pelo país e numerosas iniciativas. O mesmo acontece com a editora Gradiva, cuja colecção “Ciência Aberta” tem sido um enorme êxito. Com jornais como o “Público”, cujas notícias de ciência têm ajudado a estimular o interesse dos leitores pela ciência. Claro que ainda há muitos caminhos a percorrer, mas o facto é que o público se tem vindo a interessar cada vez mais pela ciência, apercebendo-se que fica mais rico se for parente próximo dela.
 

Defende que cultura e ciência deviam andar mais próximas. Estamos a pagar o atraso crónico do insuficiente investimento em áreas centrais de mudança em qualquer sociedade?

A ciência é uma forma de cultura. A cultura humana, apesar de plural e diversa, deve progressivamente ganhar uma maior coesão, todos devendo ser contribuintes líquidos para isso. A ciência pode e deve aproximar-se de outras formas de cultura, por exemplo pode aproximar-se mais da arte (ciência e poesia podem aparecer mais juntas, e o mesmo com a ciência e a música, a ciência e o teatro, etc.). E vice-versa, as outras formas de cultura ganharão em aproximar-se da ciência. A ciência – que não é mais do que a descoberta do mundo em que vivemos, incluindo-nos a nós próprios nesse mundo – tem aliás mais a ver com as outras formas de cultura do que normalmente se pensa. Por exemplo, o cientista pode também ser guiado por critérios estéticos no seu trabalho de descoberta. Também na ciência se experimentam emoções que não estarão muito distantes das emoções artísticas. É curioso que já alguém notou que as épocas de maior progresso cultural foram também as épocas de maior progresso científico, embora isso seja difícil de medir.
 

A cultura pode então contribuir para transformar a sociedade...

Estou de acordo consigo quando diz que a cultura, e portanto também a ciência, são alavancas de mudança. E, no nosso país, isso nem sempre tem sido reconhecido na prática, através de um investimento concertado e continuado. Por exemplo, apesar de haver alguns recentes sinais positivos de investimento na ciência, preocupa-me muito que não haja investimento concomitante na cultura, uma vez que o investimento público nessa área tem vindo claramente a diminuir. Creio que estamos ainda a pagar o atraso crónico no investimento cultural, mas esse atraso será mesmo crónico se o desinvestimento cultural continuar. Poder-se-á responder que os tempos de hoje são de crise. Pois a minha resposta é que é precisamente nessa altura que se têm de fazer os investimentos que mais rendam no futuro.
 

Um relatório do Eurostat diz que apenas 24 por cento dos portugueses visitaram um museu ou galeria de arte no último ano. Para além disso, somos dos que menos lêem. Como inculcar hábitos culturais, especialmente de leitura, a um povo que continua a preferir o consumo televisivo?

As estatísticas europeias informam-nos periodicamente que o nosso lugar continua a ser na cauda da Europa. A frequência a museus e a leitura são índices reveladores, embora haja outros. Em contrapartida, como lembra, investimos demasiado do nosso tempo na televisão, essa grande “ladra” de tempo. Estamos condenados ao atraso cultural? Não, não estamos. Mas, além do investimento acrescido na cultura (nomeadamente nas bibliotecas públicas, que são lugares de civilização, e na protecção do nosso património histórico), julgo que o maior esforço que tem de ser feito será no domínio da educação. A educação é, tem sido, o nosso calcanhar de Aquiles. Olhe que eu nem sei se os miúdos agora sabem o que é um calcanhar de Aquiles... Pergunte numa escola ao acaso e talvez só saibam do calcanhar do C. Ronaldo. Na minha opinião, e não esquecendo o papel da família, é na escola que a cultura deve começar. Para as crianças mais pobres, a escola representa a oportunidade de sair da pobreza.
 

O «nacional-conformismo» e a falta de auto-estima são dois factores centrais da equação que nos impedem de progredir?

Sim, são, há traços culturais, por vezes bastante profundos, na nossa insuficiência. Muitos estrangeiros que nos visitam têm dito isso. O “deixa andar” de que fala é uma praga nacional. Também se pode traduzir por “logo se vê”, uma expressão de difícil tradução noutras línguas. Julgamos que as coisas se podem resolver por elas próprias, sem a nossa intervenção esclarecida e atempada. O facto de não nos acharmos capazes, ou de só em certas alturas e para certas coisas nos acharmos capazes (o poeta Carlos Queiroz escreveu: “Só fazemos bem torres de Belém”), não ajuda nada a enfrentar os desafios na altura certa em que eles devem ser enfrentados. Vamos adiando. Vamo-nos adiando. Esperamos não sei o quê, não sei quando. Ora, na actividade científica, não é assim, não se avança assim. Embora as nossas vidas não se possam reger apenas pela ciência, a ciência é das “coisas mais preciosas que temos” e só nos faria bem ter uma atitude mais científica mas nossas vidas. É também por isso que a necessidade de ciência é particularmente sentida em Portugal.
 

Rejeita que existam portugueses com habilitações literárias em excesso. Os recorrentes estudos dizem que estamos a formar para o desemprego, nomeadamente nos cursos de lápis e papel. Onde está o erro?

Eu percebo o drama individual de quem termina um curso superior e não obtém imediatamente emprego. Mas não estamos a formar para o desemprego, pois uma escola superior não é exactamente uma agência de emprego. A escola destina-se a preparar melhor para a vida e não há dúvida que as pessoas com mais habilitações estão mais bem preparadas para a vida. Está provado: O desemprego atinge menos quem tem mais habilitações.
 

As universidades são vistas como centros de emprego. Deve passar-se a mensagem, sem constrangimentos, que a licenciatura é apenas uma licença para aprender, parafraseando Adriano Moreira?

Sim, é uma frase em que me reconheço. Depois da licenciatura, ainda há o mestrado e o doutoramento, que são tempos por excelência de auto-aprendizagem. E depois a aprendizagem prossegue, porque o mundo não pára. Hoje fala-se em aprendizagem ao longo da vida e na primeira parte da vida devíamos aprender o suficiente para aprender mais depois. Quero crer que as universidades portuguesas estão atentas a essas necessidade de aprendizagem contínua e estão a começar a desenvolver programas, à distância ou mesmo presenciais, para que possam ajudar mais quem queira aprender mais.
 

No seu livro de crónicas “O Engenho Luso” afirma que as universidades dificilmente se auto-reformam. De onde pode vir o impulso externo para operar a transformação?

A história mostra que as universidades têm, de facto, muitas dificuldades em mudar por dentro. Isso terá a ver com o facto de serem, além de sítios de transformação (criadores de saber), sítios de conservação (guardiãs do saber). Por vezes a inércia é muito grande, apesar das grandes transformações que ocorrem lá fora. Não desprezando as contribuições de forças económicas, profissionais e sociais, julgo que o impulso externo deve vir dos governos. Numa sociedade democrática é ao governo que compete intervir na regulação das escolas públicas (e também, embora naturalmente de modo diferente, na regulação das privadas). O nosso governo mudou há pouco – e julgo que bem – o regime jurídico das universidades. Mas, ao mesmo tempo que fala em autonomia acrescida das universidades, diminui a autonomia ao estrangulá-las financeiramente. Algumas universidades mais pequenas estão numa posição insustentável e mesmo as maiores não estão nada bem.
 

É possível, algum dia, ter um centro universitário de excelência em Portugal?

A ideia de uma universidade de excelência, pelo menos em certas áreas, à escala europeia tem vindo a público pela boca de outras pessoas. Eu também acho que seria excelente procurarmos ter pelo menos uma universidade no topo europeu. Mas isso exige um elevado investimento em meios humanos, que talvez não seja compatível com o anunciado investimento em betão.
 

Disse que «a escola é uma das maiores invenções da humanidade». Pelo menos por cá, a invenção, parece em crise. Como aqui chegámos e como reabilitá-la?

A crise é profunda, estrutural, como explico no capítulo “O atraso português” do meu livro “A Coisa Mais Preciosa Que Temos” remonta pelo menos ao século XIX, quando os outros países se desenvolveram muito mais que nós, em grande parte graças ao desenvolvimento da escola. Não há dúvidas que, desde 1974, tem havido em Portugal algum desenvolvimento, mas a escola não se desenvolveu o suficiente. É uma herança que, pese embora a propaganda em contrário, está longe de ter sido ultrapassada. Dói-me o estado da escola portuguesa, que tão maltratada tem sido. Também estou certo que dói a muitos professores, também eles tão maltratados. Como sair da crise actual? Não há alternativa à escola. Precisamos, quando não a temos, ainda mais dela. Mas era preciso uma visão, uma esperança, uma audácia (o Obama que me desculpe tirar-lhes os slogans!) que infelizmente ainda não há.
 

O “eduquês”, o discurso educativo oficial, está a minar o sistema?

Sim, o “eduquês” pode não ser a causa dos nossos males escolares, mas não ajuda nada. E não se trata apenas do discurso oficial, por vezes completamente vazio, como o Nuno Crato e outros têm chamado a atenção. É também – e isso é que é pior – a perigosa ideologia que está por trás, a ideologia não directiva, romântica, que está provado que não funciona. O problema é que se trata de uma ideologia totalitária, que não admite sequer contestação, e que entre nós está instalada há muito tempo. Não funciona noutros lados e também não funciona aqui. Julgo que só nos faria bem ver aprofundar a crítica, que já é muito nítida lá fora, a uma ideologia que deu os resultados que estão à vista de todos. Aliás, o nosso ensino ganharia se houvesse menos ideologia e mais pragmatismo.
 

Fica-se com a ideia que a instituição escola está “sem rei nem roque”. Os professores perderam o poder que tinham e distanciaram-se do centro do sistema. Quem manda na escola?

Boa pergunta, quem manda na escola? Acho que ninguém manda. Os professores não mandam, o governo não manda, as autarquias e as famílias também não. Julgo que era tempo de responder à questão. Poder-se-ia pensar – se no estado actual de confusão se pudesse pensar alguma coisa – que às escolas fosse dada suficiente autonomia para se organizarem da maneira que os professores ACHASSEM MELHOR (os professores são centrais na escola!), em colaboração com as autarquias, as famílias, etc. e que o governo se limitasse, em vez de querer ser o “rei” absoluto, que tudo estabelece e determina, a definir regras claras, incentivando as escolas mais bem organizadas e desincentivando as outras.
 

Este processo pode levar a que os melhores docentes, desencantados, abandonem o ensino?

O actual processo já está a levar a isso. Os professores estão desanimados com a entropia que vai nas escolas. E os melhores professores estão mais desanimados. Muitos estão a ir embora e só não vão mais porque não podem. A sociedade, a começar pelo governo, devia valorizar mais os professores, em particular os melhores professores. A avaliação que tem sido anunciada para escolher os melhores julgo que não cumpre esse louvável objectivo.
 

O Governo confundiu os professores com os sindicatos ?

Sim, os professores estão mal representados pelos sindicatos, mas o certo é que governo não os distingue. Ao querer lutar com os sindicatos cometeu o grande, o enorme erro de lutar contra os professores.
 

Matemática, Física e Química são «bichos papões» na mente de muitos alunos, com resultados paupérrimos. A formação científica dos nossos jovens é cada vez mais incipiente?

Que a formação científica dos nossos jovens não vai bem é revelado por sucessivas avaliações internacionais, como o programa PISA. Essa avaliação é externa e independente, pelo que os seus resultados nos deviam preocupar seriamente. Outros países preocupam-se e nós não. O paradoxal é que o interesse dos nossos jovens pela ciência e o progressos das acções de divulgação científica não encontra eco nesses resultados internacionais. O que só mostra que a escola está mal e tem de ser mudada...
 

Os resultados a Matemática melhoraram substancialmente. Admite a facilitação das provas em prol da estatística?

Não, não melhoraram. As avaliações externas mostram a constância dos maus resultados e, oxalá me engane, as próximas vão continuar a mostrar o mesmo, porque as mudanças na educação são lentas. Quanto aos exames nacionais, da responsabilidade do Ministério da Educação, eles não têm tido fiabilidade para termos suficiente confiança nos seus resultados. Veja o que diz a Sociedade Portuguesa de Matemática.
 

Com os progressos das tecnologias da informação, as bibliotecas mudaram muito nos últimos tempos. Algumas tornaram-se virtuais. Que futuro augura às bibliotecas tradicionais do mundo quando todos temos à disposição informação planetária à distância de um clique através de enciclopédias online e de motores de pesquisa como o Google?

As bibliotecas tradicionais, cheias de livros e documentos, não perderam nem o seu valor nem o seu lugar. Elas organizaram-se, ao disponibilizar os seus conteúdos (por agora só parte) para serem também bibliotecas virtuais. As bibliotecas modernas são um híbrido, por um lado ricos repositórios materiais onde apetece ir e ficar e, por outro lado, “antenas” que emitem informação e conhecimento para todo o mundo. A Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, que tenho a honra de dirigir, está a ir por esse caminho.
 

Confidenciou que o seu sonho era digitalizar o conteúdo integral da Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra, que dirige, colocando esse acervo ao alcance de todos, nas nossas próprias casas. Pensa que o seu sonho pode, um dia, tornar-se realidade?

Sim, tecnicamente é já hoje possível. É uma questão de prioridade e de investimento nessa área. Poderá demorar, mas um dia será realidade. Já há uma pequena amostra que é o DVD-ROM “Biblioteca Joanina Virtual”, que contém cerca de duas dúzias de obras antigas totalmente digitalizadas. Agora só falta fazer o mesmo a uma escala maior.

Nuno Dias da Silva

 

 

 

Cara da notícia

Nascido em 1952, Carlos Fiolhais é professor de Física da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra e director da Biblioteca Geral do mesmo estabelecimento de ensino, que inclui a riquíssima Biblioteca Joanina, detentora de milhares de volumes de inegável sabedoria.

Licenciou-se em Física na Universidade de Coimbra, em 1978, e doutorou-se em Física Teórica na Universidade Goethe, em Frankfurt/Main, Alemanha, em 1982.

É autor de cerca de quatro dezenas de livros, de entre os quais se destaca «Computadores e tudo o resto», «Física divertida», «A coisa mais divertida que temos» e, mais recentemente, lançou «engenho luso», com a chancela da Gradiva, uma compilação de crónicas suas publicadas no jornal «Público», versando a actualidade e a história de Portugal. Tem mais de uma centena de artigos científicos publicados, um dos quais com mais de 5600 citações, onde descreve a energia de um sistema electrónico.

Ganhou em 1994 o Prémio União Latina / JNICT de tradução científica, com a obra “Física Nuclear”, publicada pela Fundação Gulbenkian. Ganhou o Globo de Ouro de Mérito e Excelência em Ciência de 2004 atribuído pela SIC e pela revista “Caras” em 2005. Foi agraciado pelo Presidente da República com a Ordem do Infante D. Henrique em 2005. Recebeu o «Prémio Inovação do Forum III Milénio» e o «Prémio Rómulo de Carvalho» da Universidade de Évora em 2006.

Finalmente, participou nos momentos iniciais do programa de fim de ano da SIC, ajudando o quarteto dos «Gato Fedorento» a transportarem-se para o final do ano de 2009.

 

 

 

MIGUEL NASCIMENTO, DIRECTOR REGIONAL DO CENTRO

Como o IPJ apoia os estudantes

O Instituto Português da Juventude assume uma função de relevo no apoio às Associações de Estudantes das Universidades e Politécnicos. Com a introdução da Lei do Associativismo Jovem, o IPJ passou a estar mais próximo das associações pela criação do Programa de Apoio Estudantil (PAE).

Este mês fomos saber os contornos deste apoio. Miguel Nascimento, Director Regional do Instituto Português da Juventude da região Centro, explica como é
 

Em que medida é que o Programa de Apoio Estudantil é importante?

Os jovens são o nosso universo de trabalho, independentemente da sua condição e onde quer que estejam em determinado momento. Neste caso, as Associações de Estudantes e Académicas são parceiros fundamentais na implementação da política de juventude em Portugal. É uma faixa etária muito interessante, com uma capacidade muito grande de realização, tem um percurso académico e de vida de alguma maturidade e acreditamos que o nosso trabalho com essas associações dá frutos a curto prazo e são lançadas as bases para um fruto a longo e médio prazo. Por outro lado, as regras alteraram-se de forma significativa com a aprovação da lei do Associativismo Jovem. Num passado não muito longínquo, as associações tinham um subsídio ordinário da Secretaria de Estado e, ao entrarem neste enquadramento da lei do Associativismo Jovem, as associações têm um apoio directo.
 

E como é que as Associações podem aceder aos apoios?

Há regras muito claras para a atribuição do apoio, há uma fórmula de cálculo, há relatórios que têm de ser entregues, há justificações que têm de ser dadas e há um acompanhamento maior por parte do IPJ ao trabalho realizado. Esta nova dimensão do apoio acaba por dignificar o relacionamento entre o IPJ e as Associações de estudantes e credibilizar o próprio movimento associativo. O financiamento das associações é multifacetado: vem das próprias reitorias e das presidências dos politécnicos e tem uma fatia substancial suportada pelo IPJ. A competência, a boa gestão, a justificação, a prestação de contas são, todos eles, aspectos que nos interessam no quadro da caminhada que iremos fazer em conjunto com os estudantes.
 

Como funciona o PAE?

Temos duas componentes: o apoio anual e o apoio directo às federações de associações de estudantes. Nós introduzimos regras que aumentaram o rigor, a transparência e a prestação de contas, entre outros. Ao introduzir esse conjunto de regras aumentámos a credibilidade do relacionamento entre o IPJ e as associações. O apoio anual serve para equilibrar o plano de actividades das próprias associações de estudantes. O objectivo é que as associações de estudantes possam planificar com tempo o ano lectivo seguinte. Aqui houve um esforço por adaptar os calendários eleitorais académicos ao novo sistema do IPJ. Neste momento todas as associações de estudantes e académicas fizeram já a renovação no Registo Nacional do Associativismo Jovem (RNAJ), em que se certifica todos os anos o número de associados, a componente de direcção, e outras questões relacionadas com as associações. A candidatura é introduzida e os resultados são conhecidos no primeiro trimestre deste ano.

Quanto ao PAE pontual, como o próprio nome indica, é um apoio pontual de uma actividade que surge de forma espontânea e há a possibilidade de, com 60 dias de antecedência, as associações se candidatarem a ele no sentido realizarem essa actividade. É uma vertente que se disponibiliza para as coisas que não estão planificadas. Em relação à federação, esta pode recorrer até quatro apoios pontuais.
 

Qual desses apoios é o mais concorrido?

A pedra base é sem dúvida o apoio anual. É aquele que tem maior volume financeiro e, portanto, é aquele que as associações estão à espera para planificarem as suas actividades. As candidaturas são entregues em formato online o que facilita muito o processo. Depois há um momento da intenção do valor a apoiar pelo IPJ e, havendo esse momento, há um outro de renegociação em que os jovens dirigentes podem reformular a candidatura em função do valor que o IPJ tem disponível para os apoiar. Há um diálogo permanente e as alterações foram introduzidas de forma a que sejam aumentados os patamares de rigor, transparência, prestação de contas e de credibilização do próprio apoio e do movimento associativo.
 

Como é calculado o valor a atribuir às associações e, no geral, que montantes anuais ronda?

Existe uma fórmula que prevê o montante final do apoio. A fórmula vai buscar o número de associados, tem em atenção a própria ambição que é planeada na candidatura e considera a introdução de novos registos que para nós são muito importantes. Um deles é a promoção da igualdade de géneros. Fomos introduzindo essa componente e os estudantes aderiram de uma forma muito interessante: promovem iniciativas no âmbito do aprofundamento da cidadania, da participação cívica, das questões do voluntariado e também da igualdade de géneros.

No que diz respeito ao volume financeiro, não é aquele que gostaríamos, é aquele que é possível. Não nos podemos esquecer que o nosso país está a fazer um esforço de contenção orçamental, de ultrapassar os problemas que decorrem da crise económica a nível mundial e, portanto, o IPJ não foge à regra.
 

Existem muitas associações a candidatar-se?

No caso da Região Centro, todas as associações de estudantes e académicas da região centro concorrem ao PAE.
 

Em relação às actividades que aparecem nas candidaturas, quais são as mais comuns?

As candidaturas têm acções e dentro de cada acção há uma actividade ou um conjunto de actividades. Quer as acções, quer as actividades têm objectivos gerais e específicos. Este plano de actividades que uma associação candidata ao PAE, não é igual ao que ela pretende desenvolver e engloba apenas as actividades que poderão ser apoiadas. Nós, cada vez menos, temos uma preocupação de financiar semanas de caloiro e académicas e, cada vez mais, financiamos outro tipo de acções que se apresentem mais consistentes do ponto de vista de objectivos que devem nortear o futuro da juventude. Não ignoramos que essas semanas e a festa que envolve a prática universitária são fundamentais para os jovens, mas também são cada vez mais os próprios jovens a perceber que existe um tempo para tudo.
 

O IPJ tem feedback da realização dessas actividades e sabe onde é empregue o dinheiro?

Nós sabemos que o dinheiro é bem empregue por uma razão muito simples: o dinheiro é pago em duas tranches. Uma primeira no inicio do ano com 40% ou 60% (dependendo do que for definido) e a segunda tranche só é paga depois da apresentação de um relatório intercalar. Havendo um relatório intercalar que justifique em que é que os montantes foram investidos (e os relatórios têm regras e são uniformes), a segunda tranche é paga e fica a associação obrigada a outro relatório intercalar. Dentro desse mecanismo de supervisão existem ainda auditorias. Para além das regras instituídas, existe um acompanhamento directo por parte da Direcção Regional do Centro monitorizando o trabalho sem querer interferir na autonomia das associações pois são elas que têm que definir o que querem fazer, quando e como o fazer, mas na observância dos princípios e das regras que existem no relacionamento. De salientar que nenhuma associação se pode candidatar tendo dívidas.
 

Existe contentamento por parte das associações de estudantes e académicas?

Eu vejo que as associações estão satisfeitas com o apoio. Da nossa parte não há sinais de festa pois o país está em contenção orçamental e nós apoiamos dentro das nossas possibilidades, sem grandes aventuras. Apesar dos condicionalismos em 2008 houve um aumento em relação ao ano de 2007 e vamos ver o que em 2009 conseguimos fazer para apoiar o associativismo tendo a certeza de que vamos continuar a trabalhar em conjunto.
 

Estão previstas algumas alterações necessárias ao funcionamento?

Sentimos sempre necessidade de mudar porque nós não temos a pretensão de fazer tudo bem. Queremos fazer o melhor todos os dias mas não somos perfeitos. Provocámos esta mudança com a nova lei, com novas aplicações informáticas, com novos sistemas de monitorização, contudo verificaram-se alguns constrangimentos na sua passagem para o terreno e foram introduzidas algumas alterações no funcionamento do próprio sistema. Alterações que não têm uma mudança significativa mas que são pormenores de aperfeiçoamento quer de candidatura, quer de monitorização. O que estamos a fazer em toda a região centro são encontros de carácter técnico com o movimento associativo, no sentido de esgrimirmos estas alterações e tentarmos passar a mensagem para que as candidaturas correspondam às expectativas que cada associação tem.

Daniela Silva

 

 

 

Cara da notícia

Luis Miguel Nascimento é natural da Covilhã, Distrito de Castelo Branco, Portugal. Tem 39 anos, é casado e desempenha desde Agosto de 2005 funções de direcção no Instituto Português da Juventude, sendo Director Regional do Centro desde Setembro de 2007. Em simultâneo exerce as funções de Vereador na Câmara Municipal da Covilhã. É licenciado em Comunicação Social pela Universidade da Beira Interior, Master em Estudos Europeus e Direitos Humanos pela Universidade Pontifícia de Salamanca. É Pos-Graduado no VII Curso de Especialização em Assuntos Culturais no Âmbito das Autarquias, ministrado em conjunto pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e pelo CEFA – Centro de Estudos e Formação Autárquica. É ainda mestrando em Política Cultural Autárquica na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Possui formação na área da Administração Pública, ministrada pelo INA – Instituto Nacional da Administração Pública.


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