RUI MOREIRA, PRESIDENTE
DA ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DO PORTO E COMENTADOR DESPORTIVO
"A fuga de cérebros é
uma aflição"

Rui Moreira é o que se pode chamar um
verdadeiro homem do norte. Numa entrevista desassombrada, o empresário
denuncia a «Portofobia», afirma que a corrupção é um sinal de
apodrecimento do regime e qualifica de Inquisição as condenações
virtuais de arguidos na praça pública. Moreira alerta ainda que os
melhores licenciados em ciências estão a abandonar o país e que as
universidades portuguesas se encontram, globalmente, desligadas do
exterior. No que respeita ao futebol, o comentador do «Trio de Ataque»
mantém a confiança no seu FC Porto, até porque, assegura, às equipas
treinadas por Jorge Jesus falta sempre as pilhas, como ao coelho da
Duracell.
Escreveu um livro intitulado «Uma
questão de carácter», onde analisa a crise profunda em que a «cidade
Invicta», em particular, e o norte, em geral, mergulharam. Considera-se
uma das principais vozes que intervém civicamente em defesa de uma
região?
Sou uma das vozes que fala. Sou apenas o presidente da Associação
Comercial do Porto (ACP). As principais vozes terão de ser,
necessariamente, os eleitos. Mas quando intervenho, oralmente ou pela
escrita, procuro cultivar uma postura de reclamar menos e mais de
apontar caminhos e soluções.
O Porto, cidade, perdeu influência a
nível nacional. Como é que os seus habitantes convivem com a
subalternização face a Lisboa?
Há um forte sentimento de resignação, só que as pessoas vão ficando cada
vez mais zangadas com a situação. Percebe-se isso no contacto,
nomeadamente, com o povo na rua: «ninguém faz nada por nós», ouve-se.
Existe a convicção crescente de que a cidade está a ser prejudicada e é
o alvo preferido da «Portofobia», fomentada pelos círculos de poder que
estão na capital.
No que é que consiste a «Portofobia»?
É retratada de variadas formas, nomeadamente na Comunicação Social e até
na publicidade. Tenho visto anúncios onde as pessoas do Porto são
tratadas da mesma forma como eram tratados os alentejanos, exibindo-se
de forma despudorada o sotaque cerrado e o falar à grunho para diminuir
todo um povo. Ainda hoje soube uma notícia altamente penalizadora para a
imagem internacional do Porto. O Red Bull Air Race, que habitualmente se
realizava nas margens do Douro, deverá em 2010 transferir-se para
Lisboa, devido aos apoios do Governo e às empresas por ele tuteladas.
Isto é uma forma de «Portofobia». O Porto é, desde há muito, olhado como
a primeira cidade do resto do país. Isto não é aceitável.
Que responsabilidade aponta ao poder
político para a secundarização da capital do norte?
Essa responsabilidade não é exclusiva do governo. Desde que Cavaco Silva
é Presidente da República, a maior parte dos chefes de Estado que
visitam Portugal, passam todo o tempo em Lisboa, raramente constando o
Porto do seu plano de viagem. A cidade do Porto, pura e simplesmente,
desapareceu. Isto não acontece por acaso.
Para além destas «maldades», como já
as qualificou, que erros próprios identifica?
O Porto equivocou-se e perdeu a razão quando reclamou, erradamente, o
estatuto de segunda capital do país. A estratégia foi «Portocentrica» e
não é assim que se combate o centralismo de Lisboa. Por se ter focado a
questão erradamente essa foi, desde sempre, uma guerra perdida. Devia
ter-se exigido que os interesses nacionais estivessem sujeitos a uma
leitura multipolar do país, considerando as várias regiões, e não,
exclusivamente, Lisboa.
Afirmou que a «guerra da
regionalização» está perdida. Seria um processo positivo para esbater as
assimetrias do País?
Devo confessar que comecei por ser anti-regionalista. Sempre acreditei
que não era preciso descentralizar o Estado e o poder, da mesma forma
que sempre achei que os fundos europeus seriam distribuídos de forma
sensata. Enganei-me. Tornei-me um regionalista de recurso, por assim
dizer, como única forma de combater o centralismo. Lamentavelmente os
partidos de poder, PS e PSD, não têm manifestado vontade em aprofundar o
processo. Os socialistas nunca demonstraram verdadeiro interesse,
adiando sempre para a próxima legislatura, enquanto os
sociais-democratas nunca entenderam esta problemática.
A guerra estéril entre norte e sul,
com raízes no futebol, também contribuiu para dividir Portugal em duas
metades?
Não, até porque no Porto há muitos benfiquistas. Muitos mais do que se
pensa. As vitórias internas do FC Porto, especialmente nestes últimos 28
anos, sempre foram mais ou menos toleradas pelo resto de Portugal, até
porque sempre existem os argumentos que se ganha através da batota, do
lamaçal e pela influência de Pinto da Costa. Os triunfos do clube
além-fronteiras é que sempre foram mal entendidos pela «Portofobia». Foi
a projecção internacional invulgar de um clube português oriundo de uma
segunda cidade que danou as pessoas de outros clubes e criou o clima de
animosidade.
É o representante portista no «Trio
de Ataque» da RTP-N. O «Dia Seguinte» na SIC-N e o «Prolongamento» da
TVI 24 são dos mais vistos dos respectivos canais por cabo. Como explica
o sucesso destes programas desportivos de debate?
Tenho alguma dificuldade em identificar os motivos que estão na base do
êxito. Mas creio que é por ser o «after-match», onde se pretende
encontrar explicações e justificações para as derrotas e para as
vitórias. Os diferentes estilos dos comentadores também ajuda a
fidelizar público. Lembro-me que quando fui convidado fiquei
surpreendido, visto não ser uma pessoa da área futebolística. Mas
digamos que aceitei, experimentei e gostei.
Já o apontaram na rua por defender
as cores azuis e brancas?
Normalmente as pessoas tratam-me bem. Inclusive em Lisboa, onde vou
muito. Um pequeno dissabor que tive aconteceu numa superfície comercial
de Gaia em que uma senhora virou-se contra mim, baixou as calças e
mostrou-me o rabo. Acto contínuo começou a bater-me. Ainda me
perguntaram se eu queria fazer queixa, mas neguei. Entendo que são actos
isolados.
O FC Porto domina o futebol
intramuros há mais de duas décadas. A avaliar pelo início do campeonato,
em que o Benfica demonstra mais força que nos últimos anos e o campeão
em título está mais fragilizado, pensa que os «dragões» podem falhar o
pentacampeonato?
A saída de jogadores excepcionais, como são Lucho e Lisandro, para
França não foi devidamente colmatada. Os novos reforços ainda estão em
fase de aclimatação. Não me preocupa o Benfica. As equipas do Jorge
Jesus, como se viu pela sua passagem no Sp. Braga, são como o coelho da
Duracell. Não sei se têm pilhas para aguentar o ritmo competitivo de
toda a temporada. Apoquenta-me mais o «meu» FC Porto. Há um barómetro
muito importante: o número de espectadores no estádio do Dragão baixou
muito esta temporada. É evidente o divórcio da massa associativa com a
equipa e o treinador devido às exibições pouco empolgantes. Apesar de
defender Jesualdo Ferreira, de alguma forma estamos a assistir a uma «PauloBentização»
do FC Porto.
Haverá vida e conquistas desportivas
no FC Porto depois da era Pinto Costa terminar?
A sucessão de grandes líderes nunca é tranquila. O que se nota agora é
que algumas pessoas assumiram funções anteriormente debaixo da alçada do
punho férreo de Pinto da Costa. Mas creio que é uma estratégia
inteligente, delegando funções, no sentido de prolongar a longevidade
presidencial do líder do FC Porto. Creio que a gestão actual do clube
está menos presidencialista.
O cidadão Rui Moreira tem sido
apontado como candidato à Câmara do Porto e à presidência do FC Porto.
Acalenta essa ambição?
Não vale a pena falar de cenários. Nunca fui convidado para nenhum
desses cargos. Tenho 1,90m de altura e nunca me pus em bicos de pés. Não
seria agora.
A taxa de desemprego bateu o recorde
de 23 anos, atingindo a barreira psicológica dos dois dígitos. Mais de
500 mil portugueses estão sem emprego. O défice volta a ser um problema,
quando parecia resolvido. Quando é que a situação económico-financeira
vai ter solução?
A aparente resolução do défice foi uma mentira servida e mascarada para
ganhar eleições, com o precioso auxílio de uma bengala chamada
governador do Banco de Portugal. Quanto ao desemprego considero que o
governo tem parcialmente razão quando atribui o seu crescimento a
factores externos. Mas o pior é que se tem procurado resolver este
flagelo recorrendo a formas artificiais.
Pensa que a crise internacional não
pode ser argumento para explicar tudo o que de mau acontece?
A conjuntura internacional existe e não pode ser escamoteada. Portugal é
uma economia aberta e extremamente vulnerável. O que não se pode ter são
dois pesos e duas medidas: quando as coisas correm mal, apontam-se
culpas ao exterior; quando as coisas correm bem, os méritos são todos do
executivo. Penso que se descurou em demasia um aspecto fundamental que é
o valor das nossas exportações, devido ao tratamento algo negligenciável
que se tem dado às políticas públicas. Creio que as prioridades em
termos de relações comerciais também foram erradas, com o excesso de
atenção dado ao vizinho espanhol…
Depois da euforia, a «bolha»
espanhola rebentou e o país está agora a braços com sérias dificuldades.
É o que se chama «apostar no cavalo errado»…
O governo de Sócrates ficou obcecado pelas «Zapateirices» espanholas,
esquecendo o resto do mundo. A Espanha, como se sabe, está agora num
buraco. E em termos comerciais isso é penalizador para nós. É o mesmo
que aquele cliente que fica doente, deixa logo de ir às compras.
O TGV e a multiplicação das obras
públicas vão aumentar a competitividade e travarão o desemprego?
Os investimentos públicos megalómanos, como os que estão previstos, não
garantem o emprego a longo prazo. Subscrevi um dos manifestos e continuo
a defender mais investimento público, mas que seja reprodutivo. Também é
fundamental voltar a criar trabalho nas PME. Entretanto, continuam a
insistir no novo aeroporto de Lisboa, no TGV, na terceira travessia do
Tejo – qualquer dia, descobrem que esta foi projectada no sítio errado e
começam a programar a quarta. Para estes projectos, o dinheiro não
faltará. Parece que continuamos a olhar para as obras não do ponto de
vista do interesse nacional, mas com as decisões assentes em outros
critérios.
Entretanto, a ligação Porto-Vigo
está a derrapar nos prazos…
Nunca acreditei nesse projecto. É uma forma de entreter e atirar areia
para os olhos das gentes do norte. Sou dos que entende que não há
problema algum quando se adiam mentiras.
O tema corrupção enche as páginas
dos jornais e abre diariamente os telejornais. A suspeição não é
terrível para o sistema democrático?
A corrupção é o sinal do apodrecimento do regime. É uma chaga que existe
em Espanha, Itália e até na Inglaterra, mas cá combate-se o problema
pelo lado errado. Prefere-se fazer mais leis e criar comissões de
acompanhamento, quando o essencial é que polícias, equipas de
investigação e tribunais funcionem eficazmente e com a rapidez possível.
Não é com mais leis que vamos lá. E cai tudo por terra quando se
constata que ninguém é condenado. Eu tenho memória que no final dos anos
70 os portugueses se gabavam de não pagar impostos. Nesse plano
evoluímos muito nos últimos anos, com a maior eficácia do fisco, as
penhoras, etc. No que respeita à corrupção e ao favorecimento, ainda
temos um longo caminho a percorrer. Estou certo que quando os
prevaricadores perceberem que não vale a pena, e que os seus actos têm
consequências, isto acaba. Infelizmente, a cultura instalada não permite
mudar o actual estado de coisas.
Como reage à sistemática violação do
segredo de justiça?
Em Portugal os tribunais parecem não ter paredes. Para além disso, os
arguidos são virtualmente condenados na praça pública e depois vem-se a
descobrir que estão inocentes. Isto lembra-me muito a Inquisição.
Cinco anos para julgar um
mega-processo como o da Casa Pia não é demasiado?
Claro que é tempo excessivo. E quanto mais tempo passa, mais o tribunal
da opinião pública tem argumentos para condenar todos os envolvidos no
processo que, por seu turno, também procuram ganhar tempo recorrendo a
expedientes dilatórios permitidos por lei.
Viveu no estrangeiro e estudou em
Inglaterra. Que ensinamentos retiraria e que deviam ser aplicados em
Portugal em matéria de ensino, básico, secundário e universitário?
O ensino universitário português é bom. O que se passa é que ao longo da
sua carreira os estudantes vão acumulando vícios e dificuldades não
resolvidas que levam a que tenham uma deficiente preparação. Lá fora
prevalece um espírito muito mais competitivo e menos facilitista. Em
Inglaterra, já no meu tempo, existia um acompanhamento de perto a todos
os estudantes, inclusive os que vinham do estrangeiro, de forma a
ajudá-los a vencer obstáculos. Digamos que está-se mais perto do mundo
real. Em Portugal, estamos mais desligados do meio exterior.
Quer dizer que as falhas estruturais
começam logo na fase inicial do ensino?
Os erros de base verificam-se no primeiro ciclo e depois acumulam-se
para o ensino secundário. Em Portugal existe uma exigência menos
selectiva, digamos assim. Dei aulas na universidade e verifiquei que há
alunos que dão erros de português banais, quando deviam ter chumbado na
4ª classe.
O recente relatório sobre educação e
formação divulgado em Bruxelas diz que os índices de leitura e
resultados em Matemática colocam-nos abaixo da média europeia. São essas
as principais lacunas?
É no Português e na Matemática que se regista a maior facilitação no
modelo instalado. E depois subsiste uma cultura difícil de erradicar que
é aquela de dizer «coitadinhos dos alunos, se chumbarem ficam muito
complexados». O anterior governo teve muitas preocupações de natureza
estatística, até parecia que queria ser campeão da OCDE. De facto
melhorámos os nossos indicadores, mas foi porque fizemos batota.
Acontece que a lógica da exigência tem sido mal compreendida pelo
Ministério da Educação e os próprios professores que dão más notas
também têm mais dificuldades em progredir na carreira.
O sistema está formatado para passar
alunos sem preparação?
O mundo do trabalho é apenas o primeiro choque de exigência com que os
jovens são confrontados. Logo, não podem estar habituados a lidar com
dificuldades e com problemas. E depois há a questão da indisciplina e
das más maneiras. Falar ao telemóvel nas aulas é um hábito grosseiro e
intolerável que continua a existir e a ser exercido com a mais completa
normalidade. Falta um conceito estratégico para a educação.
Da História de Portugal sempre foram
parte integrante os desafios, os «Descobrimentos», a descolonização e a
adesão à União Europeia, para nomear alguns. Agora, o país está abúlico
e paralisado, aparentemente sem desígnios mobilizadores. Que fazer?
Portugal não tem um conceito estratégico que defina o seu rumo enquanto
nação. Na altura dos «Descobrimentos», D. João II foi um grande defensor
da política de exploração atlântica. Os «Descobrimentos» portugueses
foram a sua prioridade governamental, bem como a busca do caminho
marítimo para a Índia. Aquele Rei compreendeu que a agricultura era
deficitária e partiu à conquista do mundo. Depois da descolonização, e
com a democracia consolidada, fomos à procura do projecto europeu, com o
qual vivíamos de costas voltadas, com a Espanha e com a própria
Inglaterra, o nosso mais antigo aliado, desde o episódio do «mapa
cor-de-rosa». Não tínhamos alternativa senão entrar, na companhia da
Espanha, neste projecto.
Mas a Europa foi encarada mais com
um fito monetário do que propriamente um projecto agregador. Concorda?
A Europa sempre foi vista como uma árvore das patacas. No tempo da
expansão colonial chegavam a pimenta e os cravos, no período da adesão
europeia passou a afluir o «caroço». Desde o processo de descolonização
que deixámos de ter um conceito estratégico nacional. Fizemos quase tudo
mal feito, a começar pelas infraestruturas. Devia partir-se da seguinte
pergunta: o que é que temos para dar aos europeus?
E quais são, na sua opinião, os
nossos trunfos?
Uma política de mar e oceânica que não existe, uma política de pescas
organizada, uma política de portos para diminuir a excentricidade face
ao hexágono rico da Europa e um «pipeline» de uma rede europeia de
mercadorias. No turismo é bom que nos consciencializemos que não vamos
ser a República Dominicana da Europa e muito menos a Flórida do «velho
continente». Para além disso, cometeu-se outro erro que foi destruir a
costa litoral desde o 25 de Abril.
Por que é que os nossos políticos
não foram capazes ao longo destes anos de dar forma a essas ideias?
Porque não temos nem um governo, nem poder político, temos «governantas»
que gastam mais do que deviam, simplesmente porque têm um tio rico que
mora em Bruxelas e manda avultados cheques com regularidade.
O problema português é de políticas
ou de políticos?
Ambos são um problema. Em Portugal ser político é complicado. É uma
actividade pouco apelativa, maltratada na opinião pública e,
oficialmente, sublinho, oficialmente, mal paga - quando de lá saem, vêm
milionários, mas isso é outra história. A disciplina de voto absoluto
imposta pelos partidos, faz com que tudo esteja definido à partida, o
que contribui para o depauperamento da classe política. Os que nela
entram são quase todos carreiristas, mas nem sempre foi assim. Nos anos
80 tivemos parlamentares de mão cheia e de formação excepcional, como
foi caso de Lucas Pires, Álvaro Barreto, etc. Era preciso ir buscar e
atrair deputados a outras profissões.
O Parlamento é, por consequência,
uma instituição desacreditada?
Há um enfraquecimento evidente. Falta-lhe, igualmente, um conceito
estratégico. Não é com mais comissões contra a corrupção que vamos
dignificá-lo.
Que futuro augura para a «nação
valente e imortal»?
Penso que não devemos dramatizar. Portugal tem aspectos que devem ser
realçados e são motivos de orgulho: culturalmente explodimos e somos
hoje algo cosmopolitas, somos um bom país de acolhimento para os
imigrantes e damos um exemplo notável em missões de paz no estrangeiro,
com as nossas tropas destacadas na Bósnia, no Afeganistão e Iraque.
Agora há uma situação que me preocupa fortemente: a incrível fuga de
cérebros do nosso país. Conheço bem o caso da Faculdade de Engenharia do
Porto, a mais reputada em termos científicos, que no segundo e terceiros
anos dos cursos, já está a ver fugir os melhores alunos. Temos enorme
carência de formados em ciências e os melhores estão a ir embora. É uma
aflição.

Texto:Nuno Dias da Silva
Fotos: LUSA
Cara da Notícia
Rui Moreira nasceu no Porto, a 8 de
Agosto de 1956. Estudou em Inglaterra, na Universidade de Greenwich,
onde se licenciou em gestão de empresas em 1978, tendo obtido, nesse
ano o prémio de melhor aluno do curso. Antes, havia estudado no
Colégio Alemão do Porto e no Liceu Garcia de Orta. Foi campeão
nacional de vela em várias classes, e representou Portugal em
campeonatos do mundo e da Europa. Regressado ao seu país de origem,
dedicou-se a negócios na área da navegação e dos portos. Tem sido
uma voz activa na defesa dos interesses da cidade do Porto e da
região norte, organizando e participando em conferências sobre o
tema, escrevendo para a imprensa (é desde 2004 cronista do Público)
e como comentador político em várias estações televisivas.
Em 2001, foi eleito presidente da Associação Comercial do Porto,
sediada no Palácio da Bolsa, função para o qual tem sido reeleito
desde então. Paralelamente tem exercido diversos cargos consultivos
nas áreas do comércio, da cultura e do ensino superior (nas
Universidades do Porto e Católica). Acérrimo adepto do Futebol Clube
do Porto, onde foi membro do seu conselho consultivo, assina
actualmente uma crónica no jornal A Bola e é membro residente do
painel do programa “Trio d’Ataque”, da RTP-N. É membro do senado da
Universidade do Porto e membro do conselho consultivo da Faculdade
de Economia e Gestão da Universidade Católica.

PAULO DE CARVALHO PREPARA
NOVO DISCO
DeLisboa, com Amor e
Liberdade

Homenageado na última comemoração do dia
de Portugal com a medalha oficial da Ordem da Liberdade, Paulo Carvalho
recusa ser só conhecido por temas como os Meninos do Huambo e E Depois
do Adeus. Por isso, não hesita arriscar novas sonoridades nos seus
álbuns, e diz sobre a digressão do último que o resultado final foi
muito bom. O concerto de encerramento da Tour do Amor aconteceu no Museu
do Oriente, mas o músico já trabalha no próximo álbum, DeLisboa.
Tem uma carreira com mais de 45
anos, que balanço que faz deste tempo?
Nestes 47 anos completados este ano de 2009 o balanço é muito positivo.
Num país sem educação musical na maioria das escolas, onde as pessoas,
de um modo geral, se interessam pouco pelas questões culturais, onde não
existe, verdadeiramente, uma indústria musical, penso que o
reconhecimento de parte da população pelo trabalho que tenho
desenvolvido, me faz pensar que o balanço é positivo.
Senha na Revolução de Abril E Depois
do Adeus é uma canção que marcou um período fundamental da História do
país. E Depois do Adeus o que significa para si?
Basicamente o que significa para todos os portugueses. Foi a primeira
senha do 25 de Abril e modificou a nossa vida. Pessoalmente é uma grande
cantiga que, ainda hoje me dá prazer cantar, mesmo sendo tão datada.
Foi distinguido na última cerimónia
de comemoração do 10 de Junho com a medalha de oficial da Ordem da
Liberdade, mesmo não dando grande importância a prémios e homenagens,
que peso tem esta condecoração em particular? Os filhos a trilhar um
percurso na música é motivo de orgulho ou preocupação?
Já tive vários prémios. Condecorações é a primeira. A História é
normalmente feita pelos vencedores e eis que chegou o meu dia depois de
tantos anos já passados. Não faço a mais pequena ideia porque foi agora
e não há mais tempo. Talvez porque não frequento os corredores do poder
a Ordem da Liberdade deu-me muito prazer. Sobretudo por isso, por ser da
Liberdade.
Como se apresenta o actual panorama
musical português?
Como sempre. Coisas boas e coisas más. A principal questão é a
dificuldade de divulgação das obras de quase todos nós. Mas este é um
problema de todos os músicos, não só dos mais novos.
Tem algum sonho adiado por causa da
música?
Não. Só tenho sonhos realizados por causa da música.
Os filhos a trilhar um percurso na
música é motivo de orgulho ou preocupação?
Preocupação e muito orgulho porque fazem muito bem esta profissão. Da
minha parte sempre tiveram exemplos de respeito por este trabalho que,
penso, têm sabido continuar.
O Tour do Amor encerrou em Outubro
de 2009, no Museu do Oriente. Como foi a receptividade do público ao
último trabalho de originais?
Nós quisemos que os concertos, de um modo geral, fossem feitos em
auditórios o que permitiu um contacto mais directo e intimista com as
pessoas que nos foram ver. Eu não sou a mesma pessoa de há 10 ou 20 anos
e isso, aliado à dificuldade de divulgação através dos meios de
comunicação, fez com que o público não soubesse o que ia ver e ouvir.
Recuso-me a ser só o cantor do “E depois do Adeus” ou do “Meninos de
Huambo”, e o português de um modo geral é muito conservador. Mas, como
dizia o Pessoa sobre a Coca-Cola “Primeiro estranha-se, depois
entranha-se”. Resultado final: Muito bom.
O tema O Meu Mundo Inteiro foi
sempre uma aposta forte do álbum Do Amor?
Da parte da Editora penso que sim. Até o conseguiu meter numa novela.
Mas é uma boa cantiga.
Para quando um novo trabalho
discográfico?
Se tudo correr bem será uma edição de autor, chamar-se-á DeLisboa e será
composto por cantigas que fiz sobre Lisboa para outros companheiros de
profissão. O tempo de saída será Maio de 2010.

Texto: Eugénia Sousa
Fotos: João Vasco
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