Director Fundador: João Ruivo    Director: João Carrega    Publicação Mensal    Ano XII    Nº142    Dezembro 2009

Entrevista

RUI MOREIRA, PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DO PORTO E COMENTADOR DESPORTIVO

"A fuga de cérebros é uma aflição"

Rui Moreira é o que se pode chamar um verdadeiro homem do norte. Numa entrevista desassombrada, o empresário denuncia a «Portofobia», afirma que a corrupção é um sinal de apodrecimento do regime e qualifica de Inquisição as condenações virtuais de arguidos na praça pública. Moreira alerta ainda que os melhores licenciados em ciências estão a abandonar o país e que as universidades portuguesas se encontram, globalmente, desligadas do exterior. No que respeita ao futebol, o comentador do «Trio de Ataque» mantém a confiança no seu FC Porto, até porque, assegura, às equipas treinadas por Jorge Jesus falta sempre as pilhas, como ao coelho da Duracell.
 

Escreveu um livro intitulado «Uma questão de carácter», onde analisa a crise profunda em que a «cidade Invicta», em particular, e o norte, em geral, mergulharam. Considera-se uma das principais vozes que intervém civicamente em defesa de uma região?

Sou uma das vozes que fala. Sou apenas o presidente da Associação Comercial do Porto (ACP). As principais vozes terão de ser, necessariamente, os eleitos. Mas quando intervenho, oralmente ou pela escrita, procuro cultivar uma postura de reclamar menos e mais de apontar caminhos e soluções.
 

O Porto, cidade, perdeu influência a nível nacional. Como é que os seus habitantes convivem com a subalternização face a Lisboa?

Há um forte sentimento de resignação, só que as pessoas vão ficando cada vez mais zangadas com a situação. Percebe-se isso no contacto, nomeadamente, com o povo na rua: «ninguém faz nada por nós», ouve-se. Existe a convicção crescente de que a cidade está a ser prejudicada e é o alvo preferido da «Portofobia», fomentada pelos círculos de poder que estão na capital.
 

No que é que consiste a «Portofobia»?

É retratada de variadas formas, nomeadamente na Comunicação Social e até na publicidade. Tenho visto anúncios onde as pessoas do Porto são tratadas da mesma forma como eram tratados os alentejanos, exibindo-se de forma despudorada o sotaque cerrado e o falar à grunho para diminuir todo um povo. Ainda hoje soube uma notícia altamente penalizadora para a imagem internacional do Porto. O Red Bull Air Race, que habitualmente se realizava nas margens do Douro, deverá em 2010 transferir-se para Lisboa, devido aos apoios do Governo e às empresas por ele tuteladas. Isto é uma forma de «Portofobia». O Porto é, desde há muito, olhado como a primeira cidade do resto do país. Isto não é aceitável.
 

Que responsabilidade aponta ao poder político para a secundarização da capital do norte?

Essa responsabilidade não é exclusiva do governo. Desde que Cavaco Silva é Presidente da República, a maior parte dos chefes de Estado que visitam Portugal, passam todo o tempo em Lisboa, raramente constando o Porto do seu plano de viagem. A cidade do Porto, pura e simplesmente, desapareceu. Isto não acontece por acaso.
 

Para além destas «maldades», como já as qualificou, que erros próprios identifica?

O Porto equivocou-se e perdeu a razão quando reclamou, erradamente, o estatuto de segunda capital do país. A estratégia foi «Portocentrica» e não é assim que se combate o centralismo de Lisboa. Por se ter focado a questão erradamente essa foi, desde sempre, uma guerra perdida. Devia ter-se exigido que os interesses nacionais estivessem sujeitos a uma leitura multipolar do país, considerando as várias regiões, e não, exclusivamente, Lisboa.
 

Afirmou que a «guerra da regionalização» está perdida. Seria um processo positivo para esbater as assimetrias do País?

Devo confessar que comecei por ser anti-regionalista. Sempre acreditei que não era preciso descentralizar o Estado e o poder, da mesma forma que sempre achei que os fundos europeus seriam distribuídos de forma sensata. Enganei-me. Tornei-me um regionalista de recurso, por assim dizer, como única forma de combater o centralismo. Lamentavelmente os partidos de poder, PS e PSD, não têm manifestado vontade em aprofundar o processo. Os socialistas nunca demonstraram verdadeiro interesse, adiando sempre para a próxima legislatura, enquanto os sociais-democratas nunca entenderam esta problemática.
 

A guerra estéril entre norte e sul, com raízes no futebol, também contribuiu para dividir Portugal em duas metades?

Não, até porque no Porto há muitos benfiquistas. Muitos mais do que se pensa. As vitórias internas do FC Porto, especialmente nestes últimos 28 anos, sempre foram mais ou menos toleradas pelo resto de Portugal, até porque sempre existem os argumentos que se ganha através da batota, do lamaçal e pela influência de Pinto da Costa. Os triunfos do clube além-fronteiras é que sempre foram mal entendidos pela «Portofobia». Foi a projecção internacional invulgar de um clube português oriundo de uma segunda cidade que danou as pessoas de outros clubes e criou o clima de animosidade.
 

É o representante portista no «Trio de Ataque» da RTP-N. O «Dia Seguinte» na SIC-N e o «Prolongamento» da TVI 24 são dos mais vistos dos respectivos canais por cabo. Como explica o sucesso destes programas desportivos de debate?

Tenho alguma dificuldade em identificar os motivos que estão na base do êxito. Mas creio que é por ser o «after-match», onde se pretende encontrar explicações e justificações para as derrotas e para as vitórias. Os diferentes estilos dos comentadores também ajuda a fidelizar público. Lembro-me que quando fui convidado fiquei surpreendido, visto não ser uma pessoa da área futebolística. Mas digamos que aceitei, experimentei e gostei.
 

Já o apontaram na rua por defender as cores azuis e brancas?

Normalmente as pessoas tratam-me bem. Inclusive em Lisboa, onde vou muito. Um pequeno dissabor que tive aconteceu numa superfície comercial de Gaia em que uma senhora virou-se contra mim, baixou as calças e mostrou-me o rabo. Acto contínuo começou a bater-me. Ainda me perguntaram se eu queria fazer queixa, mas neguei. Entendo que são actos isolados.
 

O FC Porto domina o futebol intramuros há mais de duas décadas. A avaliar pelo início do campeonato, em que o Benfica demonstra mais força que nos últimos anos e o campeão em título está mais fragilizado, pensa que os «dragões» podem falhar o pentacampeonato?

A saída de jogadores excepcionais, como são Lucho e Lisandro, para França não foi devidamente colmatada. Os novos reforços ainda estão em fase de aclimatação. Não me preocupa o Benfica. As equipas do Jorge Jesus, como se viu pela sua passagem no Sp. Braga, são como o coelho da Duracell. Não sei se têm pilhas para aguentar o ritmo competitivo de toda a temporada. Apoquenta-me mais o «meu» FC Porto. Há um barómetro muito importante: o número de espectadores no estádio do Dragão baixou muito esta temporada. É evidente o divórcio da massa associativa com a equipa e o treinador devido às exibições pouco empolgantes. Apesar de defender Jesualdo Ferreira, de alguma forma estamos a assistir a uma «PauloBentização» do FC Porto.
 

Haverá vida e conquistas desportivas no FC Porto depois da era Pinto Costa terminar?

A sucessão de grandes líderes nunca é tranquila. O que se nota agora é que algumas pessoas assumiram funções anteriormente debaixo da alçada do punho férreo de Pinto da Costa. Mas creio que é uma estratégia inteligente, delegando funções, no sentido de prolongar a longevidade presidencial do líder do FC Porto. Creio que a gestão actual do clube está menos presidencialista.
 

O cidadão Rui Moreira tem sido apontado como candidato à Câmara do Porto e à presidência do FC Porto. Acalenta essa ambição?

Não vale a pena falar de cenários. Nunca fui convidado para nenhum desses cargos. Tenho 1,90m de altura e nunca me pus em bicos de pés. Não seria agora.
 

A taxa de desemprego bateu o recorde de 23 anos, atingindo a barreira psicológica dos dois dígitos. Mais de 500 mil portugueses estão sem emprego. O défice volta a ser um problema, quando parecia resolvido. Quando é que a situação económico-financeira vai ter solução?

A aparente resolução do défice foi uma mentira servida e mascarada para ganhar eleições, com o precioso auxílio de uma bengala chamada governador do Banco de Portugal. Quanto ao desemprego considero que o governo tem parcialmente razão quando atribui o seu crescimento a factores externos. Mas o pior é que se tem procurado resolver este flagelo recorrendo a formas artificiais.
 

Pensa que a crise internacional não pode ser argumento para explicar tudo o que de mau acontece?

A conjuntura internacional existe e não pode ser escamoteada. Portugal é uma economia aberta e extremamente vulnerável. O que não se pode ter são dois pesos e duas medidas: quando as coisas correm mal, apontam-se culpas ao exterior; quando as coisas correm bem, os méritos são todos do executivo. Penso que se descurou em demasia um aspecto fundamental que é o valor das nossas exportações, devido ao tratamento algo negligenciável que se tem dado às políticas públicas. Creio que as prioridades em termos de relações comerciais também foram erradas, com o excesso de atenção dado ao vizinho espanhol…
 

Depois da euforia, a «bolha» espanhola rebentou e o país está agora a braços com sérias dificuldades. É o que se chama «apostar no cavalo errado»…

O governo de Sócrates ficou obcecado pelas «Zapateirices» espanholas, esquecendo o resto do mundo. A Espanha, como se sabe, está agora num buraco. E em termos comerciais isso é penalizador para nós. É o mesmo que aquele cliente que fica doente, deixa logo de ir às compras.
 

O TGV e a multiplicação das obras públicas vão aumentar a competitividade e travarão o desemprego?

Os investimentos públicos megalómanos, como os que estão previstos, não garantem o emprego a longo prazo. Subscrevi um dos manifestos e continuo a defender mais investimento público, mas que seja reprodutivo. Também é fundamental voltar a criar trabalho nas PME. Entretanto, continuam a insistir no novo aeroporto de Lisboa, no TGV, na terceira travessia do Tejo – qualquer dia, descobrem que esta foi projectada no sítio errado e começam a programar a quarta. Para estes projectos, o dinheiro não faltará. Parece que continuamos a olhar para as obras não do ponto de vista do interesse nacional, mas com as decisões assentes em outros critérios.
 

Entretanto, a ligação Porto-Vigo está a derrapar nos prazos…

Nunca acreditei nesse projecto. É uma forma de entreter e atirar areia para os olhos das gentes do norte. Sou dos que entende que não há problema algum quando se adiam mentiras.
 

O tema corrupção enche as páginas dos jornais e abre diariamente os telejornais. A suspeição não é terrível para o sistema democrático?

A corrupção é o sinal do apodrecimento do regime. É uma chaga que existe em Espanha, Itália e até na Inglaterra, mas cá combate-se o problema pelo lado errado. Prefere-se fazer mais leis e criar comissões de acompanhamento, quando o essencial é que polícias, equipas de investigação e tribunais funcionem eficazmente e com a rapidez possível. Não é com mais leis que vamos lá. E cai tudo por terra quando se constata que ninguém é condenado. Eu tenho memória que no final dos anos 70 os portugueses se gabavam de não pagar impostos. Nesse plano evoluímos muito nos últimos anos, com a maior eficácia do fisco, as penhoras, etc. No que respeita à corrupção e ao favorecimento, ainda temos um longo caminho a percorrer. Estou certo que quando os prevaricadores perceberem que não vale a pena, e que os seus actos têm consequências, isto acaba. Infelizmente, a cultura instalada não permite mudar o actual estado de coisas.
 

Como reage à sistemática violação do segredo de justiça?

Em Portugal os tribunais parecem não ter paredes. Para além disso, os arguidos são virtualmente condenados na praça pública e depois vem-se a descobrir que estão inocentes. Isto lembra-me muito a Inquisição.
 

Cinco anos para julgar um mega-processo como o da Casa Pia não é demasiado?

Claro que é tempo excessivo. E quanto mais tempo passa, mais o tribunal da opinião pública tem argumentos para condenar todos os envolvidos no processo que, por seu turno, também procuram ganhar tempo recorrendo a expedientes dilatórios permitidos por lei.
 

Viveu no estrangeiro e estudou em Inglaterra. Que ensinamentos retiraria e que deviam ser aplicados em Portugal em matéria de ensino, básico, secundário e universitário?

O ensino universitário português é bom. O que se passa é que ao longo da sua carreira os estudantes vão acumulando vícios e dificuldades não resolvidas que levam a que tenham uma deficiente preparação. Lá fora prevalece um espírito muito mais competitivo e menos facilitista. Em Inglaterra, já no meu tempo, existia um acompanhamento de perto a todos os estudantes, inclusive os que vinham do estrangeiro, de forma a ajudá-los a vencer obstáculos. Digamos que está-se mais perto do mundo real. Em Portugal, estamos mais desligados do meio exterior.
 

Quer dizer que as falhas estruturais começam logo na fase inicial do ensino?

Os erros de base verificam-se no primeiro ciclo e depois acumulam-se para o ensino secundário. Em Portugal existe uma exigência menos selectiva, digamos assim. Dei aulas na universidade e verifiquei que há alunos que dão erros de português banais, quando deviam ter chumbado na 4ª classe.
 

O recente relatório sobre educação e formação divulgado em Bruxelas diz que os índices de leitura e resultados em Matemática colocam-nos abaixo da média europeia. São essas as principais lacunas?

É no Português e na Matemática que se regista a maior facilitação no modelo instalado. E depois subsiste uma cultura difícil de erradicar que é aquela de dizer «coitadinhos dos alunos, se chumbarem ficam muito complexados». O anterior governo teve muitas preocupações de natureza estatística, até parecia que queria ser campeão da OCDE. De facto melhorámos os nossos indicadores, mas foi porque fizemos batota. Acontece que a lógica da exigência tem sido mal compreendida pelo Ministério da Educação e os próprios professores que dão más notas também têm mais dificuldades em progredir na carreira.
 

O sistema está formatado para passar alunos sem preparação?

O mundo do trabalho é apenas o primeiro choque de exigência com que os jovens são confrontados. Logo, não podem estar habituados a lidar com dificuldades e com problemas. E depois há a questão da indisciplina e das más maneiras. Falar ao telemóvel nas aulas é um hábito grosseiro e intolerável que continua a existir e a ser exercido com a mais completa normalidade. Falta um conceito estratégico para a educação.
 

Da História de Portugal sempre foram parte integrante os desafios, os «Descobrimentos», a descolonização e a adesão à União Europeia, para nomear alguns. Agora, o país está abúlico e paralisado, aparentemente sem desígnios mobilizadores. Que fazer?

Portugal não tem um conceito estratégico que defina o seu rumo enquanto nação. Na altura dos «Descobrimentos», D. João II foi um grande defensor da política de exploração atlântica. Os «Descobrimentos» portugueses foram a sua prioridade governamental, bem como a busca do caminho marítimo para a Índia. Aquele Rei compreendeu que a agricultura era deficitária e partiu à conquista do mundo. Depois da descolonização, e com a democracia consolidada, fomos à procura do projecto europeu, com o qual vivíamos de costas voltadas, com a Espanha e com a própria Inglaterra, o nosso mais antigo aliado, desde o episódio do «mapa cor-de-rosa». Não tínhamos alternativa senão entrar, na companhia da Espanha, neste projecto.
 

Mas a Europa foi encarada mais com um fito monetário do que propriamente um projecto agregador. Concorda?

A Europa sempre foi vista como uma árvore das patacas. No tempo da expansão colonial chegavam a pimenta e os cravos, no período da adesão europeia passou a afluir o «caroço». Desde o processo de descolonização que deixámos de ter um conceito estratégico nacional. Fizemos quase tudo mal feito, a começar pelas infraestruturas. Devia partir-se da seguinte pergunta: o que é que temos para dar aos europeus?
 

E quais são, na sua opinião, os nossos trunfos?

Uma política de mar e oceânica que não existe, uma política de pescas organizada, uma política de portos para diminuir a excentricidade face ao hexágono rico da Europa e um «pipeline» de uma rede europeia de mercadorias. No turismo é bom que nos consciencializemos que não vamos ser a República Dominicana da Europa e muito menos a Flórida do «velho continente». Para além disso, cometeu-se outro erro que foi destruir a costa litoral desde o 25 de Abril.
 

Por que é que os nossos políticos não foram capazes ao longo destes anos de dar forma a essas ideias?

Porque não temos nem um governo, nem poder político, temos «governantas» que gastam mais do que deviam, simplesmente porque têm um tio rico que mora em Bruxelas e manda avultados cheques com regularidade.
 

O problema português é de políticas ou de políticos?

Ambos são um problema. Em Portugal ser político é complicado. É uma actividade pouco apelativa, maltratada na opinião pública e, oficialmente, sublinho, oficialmente, mal paga - quando de lá saem, vêm milionários, mas isso é outra história. A disciplina de voto absoluto imposta pelos partidos, faz com que tudo esteja definido à partida, o que contribui para o depauperamento da classe política. Os que nela entram são quase todos carreiristas, mas nem sempre foi assim. Nos anos 80 tivemos parlamentares de mão cheia e de formação excepcional, como foi caso de Lucas Pires, Álvaro Barreto, etc. Era preciso ir buscar e atrair deputados a outras profissões.
 

O Parlamento é, por consequência, uma instituição desacreditada?

Há um enfraquecimento evidente. Falta-lhe, igualmente, um conceito estratégico. Não é com mais comissões contra a corrupção que vamos dignificá-lo.
 

Que futuro augura para a «nação valente e imortal»?

Penso que não devemos dramatizar. Portugal tem aspectos que devem ser realçados e são motivos de orgulho: culturalmente explodimos e somos hoje algo cosmopolitas, somos um bom país de acolhimento para os imigrantes e damos um exemplo notável em missões de paz no estrangeiro, com as nossas tropas destacadas na Bósnia, no Afeganistão e Iraque. Agora há uma situação que me preocupa fortemente: a incrível fuga de cérebros do nosso país. Conheço bem o caso da Faculdade de Engenharia do Porto, a mais reputada em termos científicos, que no segundo e terceiros anos dos cursos, já está a ver fugir os melhores alunos. Temos enorme carência de formados em ciências e os melhores estão a ir embora. É uma aflição.

Texto:Nuno Dias da Silva
Fotos: LUSA

 

 

 

Cara da Notícia

Rui Moreira nasceu no Porto, a 8 de Agosto de 1956. Estudou em Inglaterra, na Universidade de Greenwich, onde se licenciou em gestão de empresas em 1978, tendo obtido, nesse ano o prémio de melhor aluno do curso. Antes, havia estudado no Colégio Alemão do Porto e no Liceu Garcia de Orta. Foi campeão nacional de vela em várias classes, e representou Portugal em campeonatos do mundo e da Europa. Regressado ao seu país de origem, dedicou-se a negócios na área da navegação e dos portos. Tem sido uma voz activa na defesa dos interesses da cidade do Porto e da região norte, organizando e participando em conferências sobre o tema, escrevendo para a imprensa (é desde 2004 cronista do Público) e como comentador político em várias estações televisivas.

Em 2001, foi eleito presidente da Associação Comercial do Porto, sediada no Palácio da Bolsa, função para o qual tem sido reeleito desde então. Paralelamente tem exercido diversos cargos consultivos nas áreas do comércio, da cultura e do ensino superior (nas Universidades do Porto e Católica). Acérrimo adepto do Futebol Clube do Porto, onde foi membro do seu conselho consultivo, assina actualmente uma crónica no jornal A Bola e é membro residente do painel do programa “Trio d’Ataque”, da RTP-N. É membro do senado da Universidade do Porto e membro do conselho consultivo da Faculdade de Economia e Gestão da Universidade Católica.

 

 

 

PAULO DE CARVALHO PREPARA NOVO DISCO

DeLisboa, com Amor e Liberdade

Homenageado na última comemoração do dia de Portugal com a medalha oficial da Ordem da Liberdade, Paulo Carvalho recusa ser só conhecido por temas como os Meninos do Huambo e E Depois do Adeus. Por isso, não hesita arriscar novas sonoridades nos seus álbuns, e diz sobre a digressão do último que o resultado final foi muito bom. O concerto de encerramento da Tour do Amor aconteceu no Museu do Oriente, mas o músico já trabalha no próximo álbum, DeLisboa.
 

Tem uma carreira com mais de 45 anos, que balanço que faz deste tempo?

Nestes 47 anos completados este ano de 2009 o balanço é muito positivo. Num país sem educação musical na maioria das escolas, onde as pessoas, de um modo geral, se interessam pouco pelas questões culturais, onde não existe, verdadeiramente, uma indústria musical, penso que o reconhecimento de parte da população pelo trabalho que tenho desenvolvido, me faz pensar que o balanço é positivo.
 

Senha na Revolução de Abril E Depois do Adeus é uma canção que marcou um período fundamental da História do país. E Depois do Adeus o que significa para si?

Basicamente o que significa para todos os portugueses. Foi a primeira senha do 25 de Abril e modificou a nossa vida. Pessoalmente é uma grande cantiga que, ainda hoje me dá prazer cantar, mesmo sendo tão datada.
 

Foi distinguido na última cerimónia de comemoração do 10 de Junho com a medalha de oficial da Ordem da Liberdade, mesmo não dando grande importância a prémios e homenagens, que peso tem esta condecoração em particular? Os filhos a trilhar um percurso na música é motivo de orgulho ou preocupação?

Já tive vários prémios. Condecorações é a primeira. A História é normalmente feita pelos vencedores e eis que chegou o meu dia depois de tantos anos já passados. Não faço a mais pequena ideia porque foi agora e não há mais tempo. Talvez porque não frequento os corredores do poder a Ordem da Liberdade deu-me muito prazer. Sobretudo por isso, por ser da Liberdade.
 

Como se apresenta o actual panorama musical português?

Como sempre. Coisas boas e coisas más. A principal questão é a dificuldade de divulgação das obras de quase todos nós. Mas este é um problema de todos os músicos, não só dos mais novos.
 

Tem algum sonho adiado por causa da música?

Não. Só tenho sonhos realizados por causa da música.
 

Os filhos a trilhar um percurso na música é motivo de orgulho ou preocupação?

Preocupação e muito orgulho porque fazem muito bem esta profissão. Da minha parte sempre tiveram exemplos de respeito por este trabalho que, penso, têm sabido continuar.
 

O Tour do Amor encerrou em Outubro de 2009, no Museu do Oriente. Como foi a receptividade do público ao último trabalho de originais?

Nós quisemos que os concertos, de um modo geral, fossem feitos em auditórios o que permitiu um contacto mais directo e intimista com as pessoas que nos foram ver. Eu não sou a mesma pessoa de há 10 ou 20 anos e isso, aliado à dificuldade de divulgação através dos meios de comunicação, fez com que o público não soubesse o que ia ver e ouvir. Recuso-me a ser só o cantor do “E depois do Adeus” ou do “Meninos de Huambo”, e o português de um modo geral é muito conservador. Mas, como dizia o Pessoa sobre a Coca-Cola “Primeiro estranha-se, depois entranha-se”. Resultado final: Muito bom.
 

O tema O Meu Mundo Inteiro foi sempre uma aposta forte do álbum Do Amor?

Da parte da Editora penso que sim. Até o conseguiu meter numa novela. Mas é uma boa cantiga.
 

Para quando um novo trabalho discográfico?

Se tudo correr bem será uma edição de autor, chamar-se-á DeLisboa e será composto por cantigas que fiz sobre Lisboa para outros companheiros de profissão. O tempo de saída será Maio de 2010.

Texto: Eugénia Sousa
Fotos: João Vasco


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