QUATRO RODAS

Tínhamos aterrado por volta da meia-noite
em Frankfurt, mas a dormida estava marcada para Stuttgart de modo a
acordarmos bem perto do nosso objectivo. Nada que duas horas de
auto-estrada (grátis) não pudessem resolver. Facilmente associamos esta
cidade a uma mítica marca automóvel, de tal forma que a palavra
Stuttgart aparece mesmo no seu emblema. Claro que me estou a referir à
Porsche.
Não, não irei aqui historiar sobre a Porsche, mas vou relatar alguns dos
momentos que recordo de uma visita à fábrica desta marca. Eu e os meus
companheiros fomos uns privilegiados, porque habitualmente esta visita é
oferecida apenas a quem adquire o seu Porsche, para que possa assistir
aos últimos “passos” da sua viatura na cadeia de montagem. Não estávamos
lá nessa situação, mas suspeitámos que o casal Clark que veio de Boston,
pudesse estar lá com esse intuito.
Para nos guiar esperava-nos um rapaz que começou por estabelecer as
regras da visita. Máquinas fotográficas e telemóveis não entram, e muita
atenção aos robots que andam nas linhas amarelas. Também as secções de
pintura e metalurgia não estão incluídas na visita.
Primeira zona a visitar a dos interiores. Aprendi ali que nos dias de
hoje não há nenhum Porsche cujos interiores não sejam em pele. Há um
cuidado extremo na escolha das mesmas, usando-se tecnologia laser para
detectar os defeitos. Aplica-se uma pele completa em cada carro, para
não haver peças com tons diferentes. Uma perfeição.
A seguir os motores. Ao contrário de outras marcas que visitei, nesta
secção não há fabrico em série. É o mesmo engenheiro que constrói o
motor do princípio ao fim, e no fim tem de o assinar. Caso haja algum
problema será fácil encontrar o responsável. Podemos pois dizer que é a
perfeita conjunção entre tecnologia e tradição.
Passamos depois para a cadeia de montagem. Começamos pela “BodyShell”,
que vai encontrar o motor na “mariedge zone”. Por todo o lado circulam
de uma forma aparentemente caótica pequenos robots com peças destinadas
a determinados postos da cadeia de produção. Circulam sozinhos e se
algum de nós se põe à frente, ele pára. Mal tem o caminho livre, retoma
o seu percurso até ao destino onde um operário coloca as peças nos
robots de montagem. Um verdadeiro ambiente de ficção científica.
Lá para o final da cadeia de montagem, os Clark começaram a ficar algo
excitados. Percebemos entretanto que já tinham localizado o seu Carrera
4S. Minutos depois estaria à sua disposição numa alcatifa vermelha.
Ainda pudemos ver os Clark a rodar no seu carrão. A nós resta-nos as
memórias de uma fábrica onde a tecnologia e o carinho são a chave do
sucesso…e ainda uma foto que aqui vos deixo.

Paulo Almeida
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