Contigo aprendi
Há várias maneiras de escrever sobre a
educação e para os educadores. Umas, são marcantes e sobrevivem às
pequenas mediocridades com que somos bombardeados todos os dias. Outras,
passam despercebidas no rol de publicações que se recebem mensalmente
nas redacções dos jornais da especialidade.
“Confesso que Vivi” é uma obra que, indiscutivelmente, pertence à
selecção de primeiras águas nas publicações pedagógicas que nos chegaram
durante o ano lectivo que agora termina.
Da autoria de Cármen Guaita, Confesso que Vivi é uma edição da San Pablo,
incluída na sua colecção Psicologia y Educación, a merecer uma tradução
para língua portuguesa.
A autora é professora especialista em Ciências Sociais e em Pedagogia
Terapêutica e trabalhou durante mais de duas décadas como docente em
Madrid, Extremadura e nas Ilhas Canárias. Na actualidade é secretária de
comunicação na Associação Nacional de Professores de Espanha, onde
ajudou a criar e dirigiu o Defensor del Profesor. Autora de várias obras
educativas, colabora regularmente em programas de televisão e de rádio
em Espanha.
A receita desta obra é, aparentemente, simples. Porém, o resultado é
genial. Cármen Guaita, que domina com mestria e muita inteligência
emocional e técnica da entrevista seleccionou um conjunto de temas
educativos, que ordenou por ordem alfabética, e que serviram de motivo a
profundas e estimulantes entrevistas abertas com um grupo de
personalidades públicas de reconhecido mérito nessas áreas do saber.
O resultado é uma obra, simultaneamente densa, mas de muito fácil e
apetecível leitura, dados os diferentes ângulos de abordagem do fenómeno
educativo, bem como da diversidade de pontos de vistas aí apresentados.
Segundo os temas por ordem alfabética, com António Lopez aprenderemos
para que serve a Austeridade; falaremos de Beleza com Pastora Veja;
Fernando Savater explicará o significado da palavra Cidadania; Juan
Manual Prada esboçará um panorama da Cultura, eterna companheira da
educação; Jorge Valdano fala-nos de valores associados ao Desporto;
Carmelo Gómez revelará os segredos da Disciplina; Nicolás Fernandez
explica a importância do Esforço no sucesso escolar; Blanca Lopez Ibor
descreve melhor que ninguém o que significa a Esperança; Javier Urra
aborda a situação actual da Família; Maria Ángeles Fernández, que acabou
de adoptar um filho, abre uma janela sobre o valor da Generosidade; Ana
Isabel Saz explicará o papel da Identidade na adolescência; Juan Carlos
López, filósofo e jurista, tentará deixar claro o que é isso da
Liberdade; Federico Mayor Zaragoza, que dedicou a sua vida à cultura da
Paz, tentará transmitir a sua longa e rica experiência; Alejandra
Vallejo-Nágera fala-nos sobre a Responsabilidade; Ignácio Calderón sobre
a Solidariedade; pela voz de Eugenia Adam chega-nos o valor da
Tolerância; Jesus Poveda reafirma o valor da Vida; Victor Ullate realça
a força da Vontade; e, com três jovens, reflecte-se a importância dos
Valores na escola e na sociedade.
Trata-se, pois, de uma obra de abordagens diversificadas sobre a
educação e, sobretudo sobre a educação com recurso aos valores. Na
verdade, como refere Cármen Guaita, a nossa sociedade busca a felicidade
no bem-estar, esquecendo-se que o sentido a atribuir às coisas é mais
importante que a felicidade em si.
A autora refere que a chave da educação reside na nossa capacidade de
ajudar os nossos filhos e educandos a ser felizes e capazes de fazer
felizes todos os que os rodeiam. Para ela as ferramentas com que se
educa são, a maior das vezes, o amor e o senso comum. Por isso, a
esperança que livros como o que hoje aqui apresentamos ajudem os pais e
os professores a utilizar mais um instrumento pedagógico que os ajude a
navegar no sentido da construção de uma família mais formativa, de uma
escola mais sábia e de uma sociedade mais justa.
João Ruivo
ruivo@rvj.pt
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