Director Fundador: João Ruivo    Director: João Carrega    Publicação Mensal    Ano XI    Nº127    Setembro 2008

Cultura

GENTE & LIVROS

J. M. Coetzee

«Uma vez que decidiu partir, não há muito que o detenha. Esvazia o frigorífico, fecha a casa e, ao meio-dia, está na auto-estrada. Após uma paragem em Outshoorn, arranca ao romper da aurora: a meio da manhã aproxima-se do destino, a cidade de Salem, na estrada de Grahamstown-Kenton, em Eastern Cape.

O pequeno negócio da filha situa-se ao fundo de um caminho de terra batida cheio de curvas e contracurvas a algumas milhas da cidade: cinco hectares de terra, uma bomba eólica, estábulos, anexos e uma casa rústica térrea e ampla pintada de amarelo, com um telhado de ferro galvanizado e uma varanda coberta. (…)»
 

Prémio Nobel da Literatura, John Maxwell Coetzee nasceu na Cidade do Cabo, África do Sul, a 9 de Fevereiro de 1940.

Rezam as Crónicas que leu Robinson Crusoe aos 9 anos de idade e terá ficado surpreendido pela genialidade do autor Daniel Dafoe, e por este não constar nos livros de História.

Do seu curriculum fazem parte 2 bacharelatos, um em Língua Inglesa e outro em Matemática, ambos concluídos na cidade do Cabo; e um doutoramento em Literatura, na Universidade do Texas, em Austin.

Foi professor de Inglês na universidade do Estado de Nova Iorque em Buffalo, entre 1968 e 1971, mas ao ser-lhe negado o direito de residência permanente nos EUA, regressa à África do Sul, leccionando na Universidade da Cidade do Cabo até 2000.

Em 2002 emigra para a Austrália, e a par da sua carreira de escritor continua a ensinar na Universidade de Adelaide.

Dusklands (1974) é o seu primeiro romance e é publicado por uma editora de Joanesburgo. A sorte estava lançada, anos depois Coetzee conseguiria a proeza única de vencer por duas vezes o Booker Prize, com A Vida e a Obra de Michael K (1983); e Desgraça (1999). E em 2003, o Prémio Nobel da Literatura.
Da bibliografia do escritor fazem parte, entre outros títulos: Elizabeth Costello (2003); No Coração desta Terra (1977); À Espera dos Bárbaros (1980); O Mestre de Petersburgo (1994); a Idade do Ferro (1990); O Homem Lento (2005); e Diário de um Ano Mau (2008.
 

Desgraça. David Lurie é um professor universitário que se vê a braços com um escândalo de assédio sexual envolvendo uma aluna. Obrigado a afastar-se da universidade, e na tentativa de ultrapassar a humilhação pública, procura refúgio junto da filha que vive numa quinta, longe da cidade do Cabo. E é nesta comunidade rural, onde Lurie julgava encontrar finalmente a paz, que acontece a pior desgraça, e a sua capacidade de ultrapassar o sofrimento é posta de facto à prova.

Eugénia Sousa

 

 

 

LIVROS

Novidades literárias

Dom Quixote. A Hora Má: o Veneno da Madrugada, de Gabriel García Márquez. Num povoado perdido da América do Sul começam a surgir pasquins com denúncias anónimas cravados nas portas das casas. A primeira vítima será a mulher de um comerciante de gado, morta a tiro pelo marido quando este toma conhecimento da sua infidelidade. As denúncias que falam de traição, segredos políticos, assassinatos, e filhos bastardos, continuam, e qualquer um pode ser o autor, ou a próxima vítima. Um romance inesquecível do Prémio Nobel da Literatura de 1982.
 

Bico de Pena. Madame Butterfly, de John Luther Long. Pinkerton é um soldado americano destacado em Nagasaki, que por capricho e leviandade casa com a japonesa Cho Cho San, a quem chama Madame Butterfly. Quando o seu soldado parte, Madame Butterfly passa a viver para o dia em que voltará para ela, mas esse dia só traz o fim de todos os seus sonhos. Madame Butterfly é uma das mais trágicas e comoventes histórias de amor que pelas mãos do compositor Puccini originou a extraordinária ópera com o mesmo nome.
 

Difel. Aula de Risco, de Will Lavender. Numa pequena Universidade dos Estados Unidos um professor apresenta um mistério aos alunos da sua cadeira de Lógica: encontrar uma jovem desaparecida até ao final do período, ou ela será assassinada. Para os alunos tudo não passa de um mero exercício até se depararem com um caso real, que nunca foi resolvido, e apresenta todos os contornos do que foi descrito pelo professor. Uma leitura compulsiva e perturbadora.
 

Gótica. Intimidade Perigosa, de Sophie Hannah. Neste novo thriller da autora do Pesadelo de Alice, deparamo-nos com uma mulher que esconde um acontecimento traumático e um homem que desaparece sem deixar rasto. Naomi sabe que algo de mal aconteceu a Robert mas não consegue convencer a polícia que este corre perigo, pois a mulher dele insiste que ele não desapareceu. No limite, Naomi adopta numa solução desesperada: persuadir a polícia que Robert é um perigo para a sociedade e precisa ser encontrado.
 

Âncora. Rio de Memórias - uma corrente de afectos, de Álvaro Carvalho. O autor reuniu em 16 crónicas as memórias que guarda da sua terra, Mata de Lobos. Numa escrita pautada pela ternura, revisita lugares e gentes num passado de trabalho, onde o sustento provinha de actividades ligadas à terra e ao rio Águeda. Mas nem só de trabalho se faz um livro, os dias de lazer e festividade, os bailes, a ceia de Natal ou o casamento da aldeia também são invocados aqui. E entre outras recordações, o autor não esquece, na sua longa experiência como médico, de falar da medicina da época.
 

Bertrand. A Adoradora Divina, de Christian Jacq. Num Egipto ameaçado por Gregos e Persas a luta pelo poder tomou os contornos de uma conspiração mortal. É neste cenário de intriga que o jovem escriba Kel é apanhado nas malhas de uma conspiração de Estado e injustamente acusado de assassínio. Para provar a sua inocência, só pode contar com a ajuda da bela sacerdotisa Nitis. Mas esta é raptada, e para Kel nada mais importa do que encontrar e salvar o amor da sua vida.
 

Caminho. Portugal na Espanha Árabe, de António Borges Coelho. O autor, nome incontornável do estudo da história do nosso país, afirma no prólogo da primeira edição da obra: «Neste volume são muçulmanos e cristãos que falam, ou melhor, são homens cujos interesses e inquietação se expressam na bandeira legal das religiões. E, no fim de contas, eram afinal hispanos, com tudo o que este conceito tem de equívoco, a maior parte dos participantes e actores dos dramas cuja acção se desenvolve nas páginas que se seguem, quer empunhassem bandeiras muçulmanas quer cristãs. (...)».
 

Campo das Letras. O Meu Atlas Larousse, com textos de Benoît Delalandre e ilustrações de Jérémy Clapin. Vocacionado para crianças dos 6 aos 10 anos, O Meu Atlas Larousse está organizado de forma didáctica e divertida com imagens para descobrir a vida dos homens. Para cada continente existe um mapa com paisagens e informações sobre a natureza, e um mapa desdobrável dos países. Para que o mundo não fique demasiado grande para os mais pequenos, um livro que desperta o gosto pela geografia.
 

Presença. Milhões de Mulheres, de Sean Thomas. Sean Thomas aproximava-se perigosamente dos 40 anos e continuava solteiro. Foi quando o editor da revista masculina onde trabalha o aconselhou a tentar os encontros pela Internet. Com o orgulho algo ferido, e uma boa dose de cepticismo aceitou o desafio que passou a ser também missão profissional. Com humor e honestidade aqui ficam as crónica de uma busca dos nossos dias, pela mulher ideal.
 

 

 

BOCAS DO GALINHEIRO

Olho Vivo, um agente muito secreto

Quando nos anos 60 a NBC inicia a exibição da série “Get Smart”, “Olho Vivo” em Portugal, vá-se lá saber porquê, muito poucos ousariam imaginar que ela se converteria num dos clássicos da TV e um ícone de um tipo de humor que viria a influenciar gerações de cómicos. Idealizada pelo produtor Daniel Melnick, juntamente com os argumentistas Mel Brooks e Buck Henry, a série nasce como uma sátira aos filmes, já então com muito êxito, de James Bond. Mel Brooks, então um argumentista com alguma experiência televisiva, viria a ser reconhecido como realizador e responsável por outros filmes sátira, que afinal não são mais que a homenagem a outros géneros, do western, “Blazing Saddles” (Balbúrdia no Oeste) ao terror “Frankenstein Júnior”, passando por Alfred Hitchcock em “Alta Ansiedade”, para lembrar apenas estes. Para o papel de Maxwell Smart, o Agente 86, foi escolhido Don Adams e para sua parceira, na célebre Agente 99, que para fazer de contraponto às Bond Girls seria, além de bonita, claro, destemida e inteligente, a decisão foi para Barbara Feldon, uma modelo cuja imagem era conhecida de alguns anúncios televisivos, o que facilitou a escolha. A série estreou nos Estados Unidos em 1965 com o episódio piloto “Mr. Big” e durou cinco anos, com êxito retumbante. No centro da intriga a luta entre a agência secreta norte americana C.O.N.T.R.O.L., e o “eixo do mal”, a K.A.O.S., (é evidente que há aqui uma referência implícita às duas secretas das duas super potências da altura, a CIA e a KGB, com as devidas proporções, é claro) cujo único fito era exterminar a humanidade. Os maus quando são maus, são-no a sério! E em cada episódio os dois agentes mais (des)temidos da agência tinham que desmontar uma sinistra ameaça do mal e salvar mais uma vez a humanidade. Para tal Max Smart contava com a ajuda de vários gadgets à James Bond: um carro cheio de truques, armas sofisticadíssimas e um emérito precursor do telemóvel, o sapatofone. Nos últimos anos a chama manteve-se acesa com a concretização do romance entre Max e a Agente 99, e o nascimento dos gémeos, um rapaz e uma rapariga.

Em 1980, com realização de Clive Donner aparece a primeira longa metragem de Get Smart, “The Nude Bomb”, apenas com Don Adams do elenco da sérir e um argumento à volta de uma bomba, da K.A.O.S., óbvio, que destruía a roupa. O resto é fácil de imaginar. Feito directamente para a televisão, aparece em 1988 um segundo filme, “Get Smart, Again!”, este já mais fiel ao espírito da série e de novo com Barbara Feldon, numa trama em que Max é de novo chamado face a uma nova ameaça da organização criminosa, desta vez com uma máquina para manipular a meteorologia. Apesar de ter sido avisado para manter fora da missão a sua mulher, a Agente 99, Max não consegue evitar que ela tome conhecimento e acabam por resolver a coisa a dois.

Agora, em 2008, Maxwell Smart está de volta, num filme de Peter Segal. Quando a sede da agência de espiões dos E.U.A., C.O.N.T.R.O.L. é atacada e as identidades dos seus agentes comprometidas, o Chefe não tem escolha a não ser promover o seu analista ansioso, Maxwell Smart, que sempre sonhou em trabalhar no campo ao lado do famoso Agente 23. No entanto, Smart vai ser parceiro do único outro agente cuja identidade não foi comprometida: a encantadora mas letal veterana Agente 99, para destruírem o plano da K.A.O.S., para dominar o mundo e como começo, colocarem uma bomba atómica em Los Angeles. Smart e 99 descobrem que o vilão Siegfried e o seu assistente Shtarker estão por trás da trama, aliás como já acontecia na série. Com a sua pouca experiência de campo, Smart, caído em desgraça, e armado apenas com alguns spy-tech gadgets recuperados do museu da agência, que são, nada mais, nada menos, os utilizados na série, e o seu entusiasmo desenfreado, consegue derrotar a KAOS e salvar a sua reputação e ganhar a Agente 99. Esta a trama desta nova versão que conta nos principais papéis com Steve Carrel como Maxwel,Smart e Anne Hathaway na Agente 99. De referir ainda a presença de Terence Stamp como Siegfried, Ken Davitian como Shtarker e Dwayne “The Rock” Johnson como a Agente 23, apareceu neste filme, que era o grande ídolo de Smart.

No fundo uma boa adaptação da série de TV para o cinema mercê também da presença de Carrell e de Hathaway cuja presença e sensualidade dão a tal atmosfera de romance que apareceu nos últimos anos da série, a que acresce o facto de que, no fundo, ela é que é a verdadeira operacional do binómio Todavia, reconheço que, para quem viu a série, a fita se torna mais fácil. Um filme que de alguma forma nos faz lembrar o Austin Powers de Mike Myers, o Johnny English de Rowan Atkinson ou mesmo o Agente WD-40 de Leslie Nielson em “Spy Hard”, ou, talvez dito de outra forma, se calhar todos estes se inspiraram no humor e no legado de Get Smart. Um feito que Don Adams, falecido em 2005, quando em 1965 aceitou o papel do Agente 86 não pensaria ser possível.

Até à próxima e bons filmes.

Luís Dinis da Rosa

 

 

 

PELA OBJECTIVA DE J. VASCO

Portugal 2008 - o almoço

Em Julho de 2008 a Assembleia da República por entender que “a pobreza conduz à violação dos direitos humanos” recomendou ao governo, com o fim de redefinir e adequar políticas públicas que levem à erradicação da pobreza, que o executivo defina “um limiar de pobreza em função do nível de rendimento nacional e das condições de vida padrão na nossa sociedade”. Esta é a contribuição da fotografia. Trata-se do registo do momento em que, já este ano, no Alentejo, uma octogenária à porta da sua barraca tinha, num pedaço de pão duro, tudo o que lhe restava para o almoço.


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