GENTE & LIVROS
J. M. Coetzee

«Uma vez que decidiu
partir, não há muito que o detenha. Esvazia o frigorífico, fecha a casa
e, ao meio-dia, está na auto-estrada. Após uma paragem em Outshoorn,
arranca ao romper da aurora: a meio da manhã aproxima-se do destino, a
cidade de Salem, na estrada de Grahamstown-Kenton, em Eastern Cape.
O pequeno negócio da filha situa-se ao fundo de um caminho de terra
batida cheio de curvas e contracurvas a algumas milhas da cidade: cinco
hectares de terra, uma bomba eólica, estábulos, anexos e uma casa
rústica térrea e ampla pintada de amarelo, com um telhado de ferro
galvanizado e uma varanda coberta. (…)»
Prémio Nobel da
Literatura, John Maxwell Coetzee nasceu na Cidade do Cabo, África do
Sul, a 9 de Fevereiro de 1940.
Rezam as Crónicas que leu Robinson Crusoe aos 9 anos de idade e terá
ficado surpreendido pela genialidade do autor Daniel Dafoe, e por este
não constar nos livros de História.
Do seu curriculum fazem parte 2 bacharelatos, um em Língua Inglesa e
outro em Matemática, ambos concluídos na cidade do Cabo; e um
doutoramento em Literatura, na Universidade do Texas, em Austin.
Foi professor de Inglês na universidade do Estado de Nova Iorque em
Buffalo, entre 1968 e 1971, mas ao ser-lhe negado o direito de
residência permanente nos EUA, regressa à África do Sul, leccionando na
Universidade da Cidade do Cabo até 2000.
Em 2002 emigra para a Austrália, e a par da sua carreira de escritor
continua a ensinar na Universidade de Adelaide.
Dusklands (1974) é o seu primeiro romance e é publicado por uma editora
de Joanesburgo. A sorte estava lançada, anos depois Coetzee conseguiria
a proeza única de vencer por duas vezes o Booker Prize, com A Vida e a
Obra de Michael K (1983); e Desgraça (1999). E em 2003, o Prémio Nobel
da Literatura.
Da bibliografia do escritor fazem parte, entre outros títulos: Elizabeth
Costello (2003); No Coração desta Terra (1977); À Espera dos Bárbaros
(1980); O Mestre de Petersburgo (1994); a Idade do Ferro (1990); O Homem
Lento (2005); e Diário de um Ano Mau (2008.
Desgraça. David
Lurie é um professor universitário que se vê a braços com um escândalo
de assédio sexual envolvendo uma aluna. Obrigado a afastar-se da
universidade, e na tentativa de ultrapassar a humilhação pública,
procura refúgio junto da filha que vive numa quinta, longe da cidade do
Cabo. E é nesta comunidade rural, onde Lurie julgava encontrar
finalmente a paz, que acontece a pior desgraça, e a sua capacidade de
ultrapassar o sofrimento é posta de facto à prova. 
Eugénia Sousa
LIVROS
Novidades literárias
Dom Quixote. A Hora Má: o Veneno
da Madrugada, de Gabriel García Márquez. Num povoado perdido da América
do Sul começam a surgir pasquins com denúncias anónimas cravados nas
portas das casas. A primeira vítima será a mulher de um comerciante de
gado, morta a tiro pelo marido quando este toma conhecimento da sua
infidelidade. As denúncias que falam de traição, segredos políticos,
assassinatos, e filhos bastardos, continuam, e qualquer um pode ser o
autor, ou a próxima vítima. Um romance inesquecível do Prémio Nobel da
Literatura de 1982.
Bico de Pena. Madame Butterfly,
de John Luther Long. Pinkerton é um soldado americano destacado em
Nagasaki, que por capricho e leviandade casa com a japonesa Cho Cho San,
a quem chama Madame Butterfly. Quando o seu soldado parte, Madame
Butterfly passa a viver para o dia em que voltará para ela, mas esse dia
só traz o fim de todos os seus sonhos. Madame Butterfly é uma das mais
trágicas e comoventes histórias de amor que pelas mãos do compositor
Puccini originou a extraordinária ópera com o mesmo nome.
Difel. Aula de Risco, de Will
Lavender. Numa pequena Universidade dos Estados Unidos um professor
apresenta um mistério aos alunos da sua cadeira de Lógica: encontrar uma
jovem desaparecida até ao final do período, ou ela será assassinada.
Para os alunos tudo não passa de um mero exercício até se depararem com
um caso real, que nunca foi resolvido, e apresenta todos os contornos do
que foi descrito pelo professor. Uma leitura compulsiva e perturbadora.
Gótica. Intimidade Perigosa, de
Sophie Hannah. Neste novo thriller da autora do Pesadelo de Alice,
deparamo-nos com uma mulher que esconde um acontecimento traumático e um
homem que desaparece sem deixar rasto. Naomi sabe que algo de mal
aconteceu a Robert mas não consegue convencer a polícia que este corre
perigo, pois a mulher dele insiste que ele não desapareceu. No limite,
Naomi adopta numa solução desesperada: persuadir a polícia que Robert é
um perigo para a sociedade e precisa ser encontrado.
Âncora. Rio de Memórias - uma
corrente de afectos, de Álvaro Carvalho. O autor reuniu em 16 crónicas
as memórias que guarda da sua terra, Mata de Lobos. Numa escrita pautada
pela ternura, revisita lugares e gentes num passado de trabalho, onde o
sustento provinha de actividades ligadas à terra e ao rio Águeda. Mas
nem só de trabalho se faz um livro, os dias de lazer e festividade, os
bailes, a ceia de Natal ou o casamento da aldeia também são invocados
aqui. E entre outras recordações, o autor não esquece, na sua longa
experiência como médico, de falar da medicina da época.
Bertrand. A Adoradora Divina, de
Christian Jacq. Num Egipto ameaçado por Gregos e Persas a luta pelo
poder tomou os contornos de uma conspiração mortal. É neste cenário de
intriga que o jovem escriba Kel é apanhado nas malhas de uma conspiração
de Estado e injustamente acusado de assassínio. Para provar a sua
inocência, só pode contar com a ajuda da bela sacerdotisa Nitis. Mas
esta é raptada, e para Kel nada mais importa do que encontrar e salvar o
amor da sua vida.
Caminho. Portugal na Espanha
Árabe, de António Borges Coelho. O autor, nome incontornável do estudo
da história do nosso país, afirma no prólogo da primeira edição da obra:
«Neste volume são muçulmanos e cristãos que falam, ou melhor, são homens
cujos interesses e inquietação se expressam na bandeira legal das
religiões. E, no fim de contas, eram afinal hispanos, com tudo o que
este conceito tem de equívoco, a maior parte dos participantes e actores
dos dramas cuja acção se desenvolve nas páginas que se seguem, quer
empunhassem bandeiras muçulmanas quer cristãs. (...)».
Campo das Letras. O Meu Atlas
Larousse, com textos de Benoît Delalandre e ilustrações de Jérémy Clapin.
Vocacionado para crianças dos 6 aos 10 anos, O Meu Atlas Larousse está
organizado de forma didáctica e divertida com imagens para descobrir a
vida dos homens. Para cada continente existe um mapa com paisagens e
informações sobre a natureza, e um mapa desdobrável dos países. Para que
o mundo não fique demasiado grande para os mais pequenos, um livro que
desperta o gosto pela geografia.
Presença. Milhões de Mulheres,
de Sean Thomas. Sean Thomas aproximava-se perigosamente dos 40 anos e
continuava solteiro. Foi quando o editor da revista masculina onde
trabalha o aconselhou a tentar os encontros pela Internet. Com o orgulho
algo ferido, e uma boa dose de cepticismo aceitou o desafio que passou a
ser também missão profissional. Com humor e honestidade aqui ficam as
crónica de uma busca dos nossos dias, pela mulher ideal. 
BOCAS DO GALINHEIRO
Olho Vivo, um agente
muito secreto

Quando nos anos 60 a NBC inicia a
exibição da série “Get Smart”, “Olho Vivo” em Portugal, vá-se lá saber
porquê, muito poucos ousariam imaginar que ela se converteria num dos
clássicos da TV e um ícone de um tipo de humor que viria a influenciar
gerações de cómicos. Idealizada pelo produtor Daniel Melnick, juntamente
com os argumentistas Mel Brooks e Buck Henry, a série nasce como uma
sátira aos filmes, já então com muito êxito, de James Bond. Mel Brooks,
então um argumentista com alguma experiência televisiva, viria a ser
reconhecido como realizador e responsável por outros filmes sátira, que
afinal não são mais que a homenagem a outros géneros, do western,
“Blazing Saddles” (Balbúrdia no Oeste) ao terror “Frankenstein Júnior”,
passando por Alfred Hitchcock em “Alta Ansiedade”, para lembrar apenas
estes. Para o papel de Maxwell Smart, o Agente 86, foi escolhido Don
Adams e para sua parceira, na célebre Agente 99, que para fazer de
contraponto às Bond Girls seria, além de bonita, claro, destemida e
inteligente, a decisão foi para Barbara Feldon, uma modelo cuja imagem
era conhecida de alguns anúncios televisivos, o que facilitou a escolha.
A série estreou nos Estados Unidos em 1965 com o episódio piloto “Mr.
Big” e durou cinco anos, com êxito retumbante. No centro da intriga a
luta entre a agência secreta norte americana C.O.N.T.R.O.L., e o “eixo
do mal”, a K.A.O.S., (é evidente que há aqui uma referência implícita às
duas secretas das duas super potências da altura, a CIA e a KGB, com as
devidas proporções, é claro) cujo único fito era exterminar a
humanidade. Os maus quando são maus, são-no a sério! E em cada episódio
os dois agentes mais (des)temidos da agência tinham que desmontar uma
sinistra ameaça do mal e salvar mais uma vez a humanidade. Para tal Max
Smart contava com a ajuda de vários gadgets à James Bond: um carro cheio
de truques, armas sofisticadíssimas e um emérito precursor do telemóvel,
o sapatofone. Nos últimos anos a chama manteve-se acesa com a
concretização do romance entre Max e a Agente 99, e o nascimento dos
gémeos, um rapaz e uma rapariga.
Em 1980, com realização de Clive Donner aparece a primeira longa
metragem de Get Smart, “The Nude Bomb”, apenas com Don Adams do elenco
da sérir e um argumento à volta de uma bomba, da K.A.O.S., óbvio, que
destruía a roupa. O resto é fácil de imaginar. Feito directamente para a
televisão, aparece em 1988 um segundo filme, “Get Smart, Again!”, este
já mais fiel ao espírito da série e de novo com Barbara Feldon, numa
trama em que Max é de novo chamado face a uma nova ameaça da organização
criminosa, desta vez com uma máquina para manipular a meteorologia.
Apesar de ter sido avisado para manter fora da missão a sua mulher, a
Agente 99, Max não consegue evitar que ela tome conhecimento e acabam
por resolver a coisa a dois.
Agora, em 2008, Maxwell Smart está de volta, num filme de Peter Segal.
Quando a sede da agência de espiões dos E.U.A., C.O.N.T.R.O.L. é atacada
e as identidades dos seus agentes comprometidas, o Chefe não tem escolha
a não ser promover o seu analista ansioso, Maxwell Smart, que sempre
sonhou em trabalhar no campo ao lado do famoso Agente 23. No entanto,
Smart vai ser parceiro do único outro agente cuja identidade não foi
comprometida: a encantadora mas letal veterana Agente 99, para
destruírem o plano da K.A.O.S., para dominar o mundo e como começo,
colocarem uma bomba atómica em Los Angeles. Smart e 99 descobrem que o
vilão Siegfried e o seu assistente Shtarker estão por trás da trama,
aliás como já acontecia na série. Com a sua pouca experiência de campo,
Smart, caído em desgraça, e armado apenas com alguns spy-tech gadgets
recuperados do museu da agência, que são, nada mais, nada menos, os
utilizados na série, e o seu entusiasmo desenfreado, consegue derrotar a
KAOS e salvar a sua reputação e ganhar a Agente 99. Esta a trama desta
nova versão que conta nos principais papéis com Steve Carrel como
Maxwel,Smart e Anne Hathaway na Agente 99. De referir ainda a presença
de Terence Stamp como Siegfried, Ken Davitian como Shtarker e Dwayne
“The Rock” Johnson como a Agente 23, apareceu neste filme, que era o
grande ídolo de Smart.
No fundo uma boa adaptação da série de TV para o cinema mercê também da
presença de Carrell e de Hathaway cuja presença e sensualidade dão a tal
atmosfera de romance que apareceu nos últimos anos da série, a que
acresce o facto de que, no fundo, ela é que é a verdadeira operacional
do binómio Todavia, reconheço que, para quem viu a série, a fita se
torna mais fácil. Um filme que de alguma forma nos faz lembrar o Austin
Powers de Mike Myers, o Johnny English de Rowan Atkinson ou mesmo o
Agente WD-40 de Leslie Nielson em “Spy Hard”, ou, talvez dito de outra
forma, se calhar todos estes se inspiraram no humor e no legado de Get
Smart. Um feito que Don Adams, falecido em 2005, quando em 1965 aceitou
o papel do Agente 86 não pensaria ser possível.
Até à próxima e bons filmes. 
Luís Dinis da Rosa
PELA OBJECTIVA DE J.
VASCO
Portugal 2008 - o
almoço

Em Julho de 2008 a Assembleia da
República por entender que “a pobreza conduz à violação dos direitos
humanos” recomendou ao governo, com o fim de redefinir e adequar
políticas públicas que levem à erradicação da pobreza, que o executivo
defina “um limiar de pobreza em função do nível de rendimento nacional e
das condições de vida padrão na nossa sociedade”. Esta é a contribuição
da fotografia. Trata-se do registo do momento em que, já este ano, no
Alentejo, uma octogenária à porta da sua barraca tinha, num pedaço de
pão duro, tudo o que lhe restava para o almoço. 
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