Marcas de um novo ano
Neste início de ano lectivo vale a pena
lembrar que a escola é hoje uma complexa comunidade educativa
pluridimensional, com características de autonomia nas dimensões
curricular, pedagógica e administrativa, sendo gerida com a participação
da comunidade escolar e local e em interacção permanente com esta.
Todavia, é aos planos de estudos, aos programas e aos manuais, (aquilo a
que convencionamos designar por currículo formal) que teremos que
imputar uma boa parte da responsabilidade na formação da
profissionalidade dos docentes.
É que a estrutura curricular provoca repercussões e marcas decisivas no
que respeita à caracterização do professor, não só enquanto pessoa, mas
também enquanto profissional. Pelo que não seria abusivo afirmarmos que
uma boa parte do que entendemos por competências profissionais dos
docentes, estas são determinadas e decididas pela estrutura curricular,
entendida esta, em sentido lato.
Desde logo, a estrutura curricular, ao permitir decisões mais autónomas,
ou obrigando à aplicação de normativos e objectivos operacionalizados
pela administração, repercute-se e influencia decisivamente o trabalho e
a formação do professor. Depois, porque coexistindo diferentes
concepções curriculares, sorvidas das diversas correntes que percorrem a
filosofia e a teoria da educação, as opções de cada sistema educativo
quanto ao “design” curricular proporcionam uma formação de professores,
em termos de perfis terminais, tão diversificada quanto a quantidade e a
qualidade desses mesmos campos conceptuais.
Neste sentido, e consoante as opções quanto aos objectivos que se
colocam aos alunos, à escolha de técnicas, de métodos, de recursos e de
materiais, conducentes à organização (ou à inovação) do currículo, assim
será o grau e o tipo das interacções que se estabelecem entre
professores, alunos e a comunidade.
Interacções que, ora conduzem à estagnação e ao imobilismo do professor
e da escola, ora convidam a propostas de inovação e de transformação,
que consigo “arrastam” o desenvolvimento dos professores e a progressiva
mudança dos sistemas educativos, na medida em que os docentes se
envolvam em processos de indagação, pesquisa, organização de documentos
e materiais, procura de informação e formação, que os capacitem para a
análise e reflexão do processo educativo.
Numa proposta conceptual simples poderíamos então convir que
determinados modelos de formação de professores, implicam modos
distintos de abordagem dos curricula, o uso de certos estilos de ensino,
os quais, por sua vez, condicionam os processos de aprendizagem dos
alunos.
Logo, resulta que as estratégias de formação de docentes, quer incluam a
formação inicial, quer se apliquem à formação permanente, impregnam e
condicionam o saber-fazer do professor, nomeadamente quando chegado o
momento de traduzir os resultados da planificação do currículo em actos
de ensino na sala de aula. Ou seja, os estilos de ensino interagem com
os modelos de formação de que resultam e vice-versa. Ou, como se poderia
dizer numa linguagem mais popular: currículo és, professor serás.
João Ruivo
ruivo@rvj.pt
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