Director Fundador: João Ruivo    Director: João Carrega    Publicação Mensal    Ano XI    Nº129    Novembro 2008

Suplemento

FERNANDO RAPOSO, DIRECTOR DA ESCOLA

Contactar profissionais é importante

Promovido pelo Curso de Design de Comunicação e Produção Audiovisual da Escola Superior de Artes Aplicadas (ESART) do Instituto Politécnico de Castelo Branco, o Reflexos 2008 pretende mostrar o que de melhor se produz em Portugal, na Europa e no mundo nas áreas do design gráfico, multimédia e audiovisuais. São mostras, palestras, exposições, conferências e master classes que visam mostrar e reconhecer talentos do sector, proporcionando momentos de partilha e conhecimento. Os participantes poderão também assistir a uma mostra de publicidade e participar num workshop sobre o tema, levado a cabo pela Fordoc e pela ESART.

Para Fernando Raposo, director da Escola Superior de Artes Aplicadas, “o evento decorre de, à semelhança de outras iniciativas desenvolvidas junto de outros cursos da escola, haver uma maior proximidade com os profissionais da área”.

O director da Esart considera essa aproximação entre alunos e “o mercado de trabalho muito importante. Desta forma estabelecem-se relações com o tecido empresarial, permitindo aos alunos absorverem outros conhecimentos”. Fernando Raposo destaca o facto do Reflexos estar também aberto a toda a comunidade e a alunos do ensino secundário.

O evento conta com a participação de nomes de referência como o brasileiro Alexandre Wollner, aluno da famosa escola alemã de Ulm e pioneiro do design no Brasil. Com uma experiência de 50 anos na Master Class, Wollner faz parte do grupo que deu origem à primeira instituição de ensino superior de design naquele país, tendo formado o primeiro atelier brasileiro do género.

Presente estará também, com uma Master Class e a exibição do filme “Esta noite”, Paulo Branco, fundador e responsável pela produtora portuguesa Madragoa Filmes e pela parisiense Gemini Films. Com uma carreira internacional repartida entre Lisboa e a capital francesa, o conhecido produtor de cinema conta com mais de duas centenas de filmes assinados por realizadores portugueses e estrangeiros como Manoel de Oliveira, Wim Wenders, João César Monteiro, João Botelho, Mário Grilo, João Canijo, Teresa Villaverde, Paul Auster, entre outros.

 

 

 

ALUNO DA ESART NA COMPETIÇÃO AMERICANA

Amorim ganha na América

O jovem estilista é um dos vencedores do concurso cuja final decorreu em São Francisco. Espera-o um estágio em Paris com o “rei da pop”, autor do famoso casaco de ursos de peluche utilizado por Madonna.

André Amorim, aluno do quarto ano do curso de Design de Moda e Têxtil da Escola Superior de Artes Aplicadas (ESART) de Castelo Branco, é um dos vencedores do Arts of Fashion 2008 – Fashion Students Competition, competição internacional de moda promovida nos Estados Unidos da América (EUA) pela The Arts of Fashion Foundation.

Seleccionado para a segunda fase do concurso juntamente com os colegas Cristiana Rovisco, Fábia Lopes, Ricardo Teixeira e Selma Pereira, num universo de meio milhar de candidatos admitidos, o estilista natural de Santa Maria de Lamas (Santa Maria da Feira) integrou então uma lista de 60 finalistas na categoria de moda e de oito na categoria de acessórios. Selma e André, que não puderam estar presentes no desfile, tinham já concorrido no ano passado mas na altura, ao contrário de Hugo Costa, não conseguiram ser apurados. “Quando chegou a Portugal, um dos meus colegas que foi disse que ninguém da escola tinha recebido prémio e eu acreditei”, recorda o estudante, surpreendido com a sua passagem à final quando estava ainda em estágio em Londres, no ateliê do designer alemão Armand Basi. “Na manhã seguinte, a Selma disse-me que tinha ganho um prémio. Pensava que estava a gozar comigo”.

Em 2007 o jovem, que tem vindo a apostar nas competições estrangeiras, fora um dos finalistas do Concurso Juvenil Internacional de Design de Moda de Dalian, na China, ano em que participou ainda no concurso nacional de novos talentos “Acrobatic”. A ESART, de novo a única escola portuguesa presente no evento americano, foi uma das oito dezenas de instituições em prova, grande parte dos EUA, mas onde estiveram representados 22 países: Alemanha, Austrália, Bélgica, Brasil, Canadá, Chile, China, Colômbia, Coreia do Sul, Espanha, Filipinas, França, Grécia, Índia, Israel, Itália, Japão, Peru, Polónia, Portugal, República Checa e Roménia.

André Amorim propôs acessórios e uma colecção conceptual feminina sobre a comunicação virtual, baseando-se em malhas com muitos pormenores visuais e alguns apontamentos em vinil, os quais representam os circuitos electrónicos das placas dos computadores, numa alusão, conforme se pode ler na memória descritiva do projecto, à globalização da artificialidade humana.

A segunda parte do concurso, de onde saíram oito finalistas, envolvia a construção de dois acessórios ou peças de roupa da pequena colecção seleccionada, apresentados na final a 28 e 29 de Outubro, em São Francisco (Califórnia). Os seis vencedores foram premiados com estágios de dois meses e bolsas de estudo em cidades como Antuérpia ou Nova Iorque.

Paris é o próximo destino do agora finalista, que continua de olhos postos em Londres ou Nova Iorque. “Na moda, sem dúvida que é a cidade das oportunidades. Continua a ser a cidade onde estão as grandes casas e marcas”, argumenta André Amorim. E ainda que o snobismo e a superficialidade sejam, de acordo com o jovem, aspectos criticáveis na moda francesa, esta “é uma oportunidade que nunca iria recusar”. Espera-o agora um estágio no ateliê do estilista marroquino Jean Charles de Castelbajac, conhecido pela abreviatura JC/DC e pelo uso delirante da cor num trabalho que liga moda, arte e design, e que vai das colecções de roupa ao mobiliário doméstico. Padrinho de designers como Cassette Playa e The Coconut Twins, entre as criações do “rei da pop” destaca-se um casaco feito com ursos de peluche, usado por Madonna e pela modelo Helena Christensen no filme “Prêt-à-Porter”.

Jorge Costa
Beira TV

 

 

 

Reconhecer talentos

Sendo objectivo do Reflexos evidenciar, mostrar e reconhecer talentos e estabelecer momentos de partilha de conhecimentos é com especial prazer que se vê aproximar a segunda edição deste evento, sobretudo atendendo a este painel que muito nos dignifica.

Poder contar com a participação do produtor de cinema português Paulo Branco é sem dúvida significativo, dado todo o seu percurso impar de âmbito e reconhecimento internacional, repleto de prémios e sucessos. Afinal foi já homenageado em festivais e cinematecas um pouco por todo o mundo.

A reunião do produtor de cinema Paulo Branco com os nossos alunos será certamente um momento fundamental no âmbito do saber fazer da área do cinema. Será também visionado o último filme produzido Por Paulo Branco - “Esta noite (Nuit de Chien)” que já recebeu um leão de ouro no Festival de Veneza e ficou na secção Masters no Festival de Toronto.

Do brasileiro e designer de comunicação Alexandre Wollner poderemos beneficiar de toda uma experiência de mais de cinquenta anos no activo profissional em design de comunicação, profundamente marcados pela formação na Escola Superior da Forma de Ulm (Hochschule fur Gestaltung) na Alemanha. Fundador do ensino e prática profissional do design no Brasil, herdeiro de um ensino no qual o design de comunicação tem preocupações sociais, económicas e culturais, o seu trabalho notoriamente influenciado pela Gestalttheorie e pelos sistemas de proporção (Fibonancci, Leonardo da Vinci, Albrecht Durer a Le Corbusier) – O design à escala humana.

Teremos também dois momentos lúdicos e didácticos nos quais os participantes poderão também assistir a uma mostra e num workshop sobre publicidade que resulta de um programa conjunto da Fordoc e da ESART.

Uma vez que o Reflexos é um evento aberto e que se vai repetir ao longo do tempo, será apresentado o Fórum Internacional Audiovisual de Castelo Branco 2009, a próxima iniciativa do Curso de Design de Comunicação e Produção Audiovisual da ESART.

Daniel Raposo
 

 

Conheça o programa

Dia 3 de Dezembro

14h30 – Segundo Foyer do Cine-Teatro Avenida: Master Class “Arte e Design: Descoberta e Attitude”, com Alexandre Wollner

21h00 – Grande Auditório do Cine-Teatro Avenida: Mostra “Publi… Memory” (Fordoc/ESART). Workshop “Publi…Cinema – The Hire” (Fordoc/ESART)
 

Dia 4 de Dezembro

14h30 – Segundo Foyer do Cine-Teatro Avenida: Master Class (Paulo Branco)

21h00 – Grande Auditório do Cine-Teatro Avenida: Apresentação do Mostra Internacional Audiovisual de Castelo Branco 2009. Visionamento do filme “Esta noite/Nuit de Chien” (Paulo Branco).

 

 

ALEXANDRE WOLLNER

Qualidade e rigor ao serviço do trabalho

Alexandre Wollner é um dos mais conceituados designer’s mundiais. A sua obra vai estar em destaque no Reflexos 2008. Em entrevista ao Ensino Magazine, respondida por mail, a partir do Brasil, o mestre explica as razões do seu sucesso e o modo como os jovens devem encarar a profissão.
 

No seu trabalho é notória a auto-exigência ao nível do rigor e da qualidade, bem como as preocupações na adequação do projecto às verdadeiras necessidades e às premissas dos sistemas clássicos de proporção. Isso significa que procura a perfeição em todos os seus trabalhos?

Esse é um procedimento natural, que vai ao encontro de como todos profissionais se manifestam, em qualquer nível. O treino, interesse em estudar, informar-se, actualizar-se em relação ao desenvolvimento da cultura e tecnologia, acaba por se integrar organicamente no resultado do seu trabalho, em qualquer nível.
 

Alexandre Wollner é uma referência no design mundial. Quando era jovem as oportunidades para estudar nessa área não eram muitas e os meios também não. De que forma as novas tecnologias podem moldar os designers?

A evolução como resultado do desenvolvimento tecnológico do pós-guerra, resultante da segunda guerra mundial, exigiu, não uma continuação dos anos 30, mas um salto qualitativo para uma nova atitude exigindo um novo comportamento e significado na actuação do designer na sociedade.
 

Que papel podem desempenhar hoje as escolas superiores de design, numa época em que a informação circula depressa e em que os novos meios informáticos abrem novos horizontes a quem estuda?

É justamente esse o problema: um professor de uma escola superior de design não pode ser somente teórico. Tem que unir a experiência prática ao conhecimento teórico. Não podemos admitir um doutor teórico sem prática profissional, nem tão pouco um profissional prático sem fundamento teórico. Isto é algo que precisamos de discutir para definir o papel da escola nesta época.
 

Em 2003 publicou o seu livro autobiográfico Design visual 50 anos, pela Cosac & Naify. Esse livro como o classifica. É uma lição de vida?

A intenção foi mostrar como nós podemos desenvolver o talento e a inteligência com que nascemos, independentemente do nosso nível. Nós podemos superar todos os obstáculos, e isso depende do nosso empenho e possibilidades.
 

Uma das questões que muitas vezes se coloca são os direitos de autor de quem faz os projectos. Com a internet e com o mundo mais global aumenta o risco de plágio? Qual a forma de o evitar?

Aí não há jeito.
 

Pode dizer-se hoje que as empresas e as instituições consideram o design mais importante, como uma peça fundamental para se alcançar um objectivo?

Complementando a pergunta sobre as escolas de design: existe uma necessidade de informar da maneira mais correcta possível o que é design. Uma função que as escolas e os profissionais preparados devem assumir, discutindo e consciencializando a comunidade, pelos meios de informação quanto ao significado e à função do designer.
 

Que mensagem deixa para os jovens estudantes nesta área?

Que desenvolvam o seu talento intuitivo, integrando conteúdos conscientes e inconscientes, agregando valores de percepção ao seu lado analógico, e paralelamente desenvolvam o conhecimento dos processos tecnológicos, ou seja o seu lado digital.

 

 

 

Cara da Notícia

Filho de imigrantes jugoslavos sedeados no Brasil, o interesse pelo desenho e pela tipografia surgiu-lhe na infância no ambiente da tipografia de seu pai e já adolescente, frequentava os ateliês da Associação Paulista de Belas Artes.

Aos 22 anos, Alexandre Wollner entrou no curso de iniciação artística do Instituto de Arte Contemporânea do MASP - Museu de Artes de São Paulo, berço de formação de pioneiros do design no Brasil, criado em 1950 por Pietro Maria Bardi, Lina Bo Bardi e Jacob Ruchti.

Destacou-se como aluno e envolveu-se em importantes produções artísticas da época, como a realização dos cartazes de cinema para a Filmoteca Brasileira do MAM; a colaboração na montagem da exposição retrospectiva do arquitecto e designer suíço Max Bill (1908-1994) no MASP em 1951; e montagens das duas primeiras Bienais de São Paulo, em 1951 e 1953, onde participou com três pinturas e recebeu o Prémio Jovem Pintor Revelação Flávio de Carvalho.

Em 1953, foi seleccionado por Max Bill para estudar na Escola Superior da Forma de Ulm (Hochschule fur Gestaltung), na Alemanha. Em Ulm foi aluno de Max Bill e colaborou Otl Aicher em atelier entre 1954 e 1958.

De regresso ao Brasil, numa época onde ainda tinha necessidade de explicar o que é o design, iniciou com Geraldo de Barros, Rubem Martins e Walter Macedo, o primeiro escritório de design do país: o FormInform - responsável pelos pioneiros projectos de identidade visual de empresas brasileiras.

Em 1962, com Aloísio Magalhães (1927-1982), iniciou um curso de tipografia no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ). Esta experiência originou o processo de estruturação e criação da Escola Superior de Desenho Industrial (ESDI) no Rio de Janeiro, em 1963 - marco histórico para a profissionalização do design no Brasil e que seguia toda a filosofia de ensino de Ulm.

Na década de 1960, Alexandre Wollner criou o seu próprio escritório de design de comunicação, onde desenvolveu projectos de design de comunicação em diversos âmbitos, entre eles a identidade visual para os elevadores Atlas, as sardinhas Coqueiro, o suplemento literário Invenção, o jornal Correio Paulistano, a Metal Leve, a Eucatex, Bienal da América Latina, a Ultragaz, a Papaiz, a eucatex, o banco itaú, Hering, equipesca, argos industrial, entre muitos outros desenvolvidos ao longo dos seus 50 anos de profissão.

No trabalho de Alexandre Wollner é notória a auto-exigência ao nível do rigor e da qualidade, bem como as preocupações na adequação do projecto às verdadeiras necessidades e às premissas dos sistemas clássicos de proporção (desde Fibonancci, Leonardo da Vinci, Albrecht Durer a Le Corbusier).

Ainda em exercício profissional, mantém actividade de âmbito internacional, tem o seu portfolio publicado em diversas publicações, em 1999 foi publicado pela SENAC um livro e DVD documentário sobre a sua obra e em 2003 publicou o seu lirvro autobiográfico Design visual 50 anos, pela Cosac & Naify.

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