JOÃO GARCIA, ALPINISTA
O céu é o limite
Nasceu num País de relevo pouco
acidentado, mas escala as maiores montanhas do mundo. Chama-se João
Garcia e sabe, melhor do que ninguém, que a montanha é perigosa e não
tolera erros. Perdeu um dos seus melhores amigos na subida do Evereste,
que quase lhe custou a vida. Mas a adversidade não o fez desistir.
Proximamente ambiciona cumprir três objectivos para completar 14
escaladas acima dos 8 mil metros. O destemido homem das neves português
não conhece limites.
Não é uma contradição ser alpinista
num País onde estes rareiam e, especialmente, quando a orografia não é
particularmente acidentada, com o ponto mais alto a situar-se nos 2 mil
metros?
Creio que não. Se olharmos outros países, tais como Inglaterra, onde a
sua maior montanha tem metade da Serra da Estrela e que conta com uma
população activa, uma cultura desportiva e uma série de brilhantes
alpinistas, penso que não. Também a Holanda, que não tem quaisquer
montanhas, tem mais profissionais do alpinismo que Portugal, de maneira
que acho que estamos apenas um pouco atrasados…
Aquando da sua primeira escalada,
tinha o sonho de chegar onde chegou?
Não tinha um sonho definido mas estava a descobrir novos horizontes. Em
1993 escalei pela primeira vez uma montanha com mais de 8000 metros de
altitude. A primeira vez que escalei o Monte Branco foi em 1983.
Durante a sua carreira quantas vezes
foi apelidado de «louco» por esta actividade envolver tanto risco? Como
reagiu?
Concerteza de que algumas pessoas, devido em parte a ignorância, me
chamaram de maluquinho… acho que se fosse maluco como essas tais pessoas
o pensam, já estaria morto “em três tempos”! A montanha é perigosa e não
perdoa muitos erros.
O alpinista deve ser um desportista
completo. Que características deve ter e que cargo de treino pode
suportar? Como é um dia de treino habitual para si?
O alpinismo que pratico requer uma boa capacidade de resistência física
pois um dia de cume numa montanha de mais de 8000m de altitude
representa mais de 20 horas de esforço ininterrupto. Além de muitos anos
de treino nas áreas da escalada em rocha, ski-alpinismo e de alpinismo
de ascensões, pratico igualmente triatlo de competição para manter essas
capacidades cardiovasculares que exigem umas 3 a 4 horas de treino, 5
vezes por semana, por vezes mais.
Quando se atinge o cume de uma
montanha de 6, 7 ou 8 mil metros, sente-se imortal?
Não. Com o cansaço extremo sinto-me um mero mortal com muita vontade de
descer. Na verdade, quando atingimos um cume de uma montanha, estamos a
meio da maratona, falta a outra metade que é a descida e esta é sempre
mais difícil e perigosa.
Ser alpinista é também uma história
de sobrevivência, pelos perigos que se correm. Pensou em desistir quando
esteve envolvido num grave acidente na subida do Evereste que lhe causou
ferimentos graves e a morte do seu amigo, Pascal Debrower, em 1999?
Sim, pensei.
O que o fez mudar de opinião?
Na vida, nada é linear, temos altos e baixos e o episódio no Evereste
foi um mau momento da minha vida. Fiquei com muitas dúvidas e entre
outras coisas que me passaram pela cabeça, pensei em desistir pois já
não tinha as minhas mãos, a minha ferramenta de trabalho e a motivação.
Mas acabei por aceitar-me como estava, assumi que cometi erros na
montanha que não devia ter feito e compreendi que continuava a gostar de
escalar montanhas de maneira que dei uma chance a mim próprio de ver
quais eram as minhas verdadeiras limitações. Dois anos depois do meu
acidente no Evereste, estava novamente no cume de outra montanha de mais
de 8000 metros, provando, acima de tudo, que havia muito poucas
limitações. Poderia continuar a fazer o que gosto, de escalar montanhas,
de continuar a ser feliz.
Das 14 montanhas com mais de 8 mil
metros já ascendeu 11. Quando pensa fazer o pleno e concretizar o seu
objectivo?
Quando conseguir!
Quais são os 3 objectivos que lhe
falta alcançar? Tem alguma planificação em mente?
Tenho planeado mais duas expedições para 2009. Uma será ao Manaslu de
8163 metros, que se localiza no Nepal, e que terá lugar em Março/Abril e
outra será ao Nanga Parbat de 8125 metros, que está no Paquistão e que
tentarei em Junho/Julho. Entretanto, já reiniciei os treinos para voltar
a estar em forma no final do ano. Se tudo correr bem, em 2010 tentarei a
minha última montanha no Himalaia que é o Anapurna de 8091m.
O João Garcia e a Vanessa Fernandes
são dois dos raros desportistas nacionais com patrocinadores oficiais.
Os resultados estão à vista. Basta apenas apoios aos nossos desportistas
para serem grandes campeões e referências mundiais ou pensa que a
cultura desportiva vigente também influi negativamente no desempenho?
Existem, sem dúvida, muitos mais exemplos de sucessos desportivos em
Portugal, mas a meu ver podem ser muitos mais. No presente tenho um
patrocinador que me apoia nestas expedições, mas nem sempre foi assim.
Ao princípio, quando não tinha apoios, não deixei de me esforçar para
chegar onde cheguei… Só quando provei que tinha valor e que era
interessante do ponto de vista publicitário é que comecei a ter apoios
mas não é por isso que subo montanhas. Faço porque gosto, porque é assim
que me supero a mim próprio, porque é assim que sinto que continuo a
crescer como ser humano.
Nas palestras regulares que realiza,
onde disserta para alunos, professores e colaboradores de empresas,
aborda a questão da superação e da motivação pessoal. Que mensagem
procura transmitir aos que o escutam?
São muitas as mensagens que tento transmitir, mas entre outras coisas
falo que só atinge o topo da montanha quem se esforça, não quem é mais
bonito ou mais rico, porque este sim é um desporto justo. Falo da gestão
do risco, do gosto que tenho pelo que faço, da honestidade como realizo
as minhas escaladas, do trabalho (treino e planeamento), entre muitas
outras coisas.
É embaixador da prevenção contra a
SIDA. Que importância pode o seu papel de figura pública ter no
despertar de consciências para este flagelo, nomeadamente junto da
juventude?
Quando visito algumas escolas noto que os alunos escutam o que digo!
Assim, além de falar do alpinismo, de valores tais como o gosto pelo que
se faz, honestidade, trabalho e muitas outras coisas, quando lhes falo
que é necessário tomarem atenção às doenças que se podem transmitir
sexualmente acho que eles também escutam. Não como um professor mas como
um amigo ou alguém com a credibilidade e isenção de poder falar disso
livremente. Além do mais, sinto que assim também sou útil para a nossa
sociedade.
Nuno Dias da Silva
Cara da notícia
João Garcia, nasceu em 11 de Junho de
1967, em Lisboa. Superar-se a si próprio e ir cada vez mais além, são as
máximas que o norteiam. Das catorze montanhas com mais de 8000 metros de
altitude existentes no Planeta já ascendeu a onze delas. A que lhe
trouxe mais fama foi a ascensão ao Evereste (8848 metros), tendo sido o
primeiro português a alcançar o seu cume, em 18 de Maio de 1999, sem
recurso a oxigénio e sem carregadores de altitude.
Garcia iniciou-se com 16 anos em escalada em rocha com o clube de
montanhismo da Guarda, na Serra da Estrela. Nos anos seguintes efectuou
diversas escaladas e raids de ski-alpinismo, nos Alpes. Paralelamente
praticou triatlo de competição como forma de adquirir a resistência
física necessária para superar as dificuldades nos Alpes. Depois de
várias tentativas mal sucedidas no Tibete e no Paquistão, em meados da
década de 90, em 1999 co-organizou uma expedição ao Monte Evereste, no
Nepal, sem uso de oxigénio artificial. Torna-se no primeiro alpinista
português a escalar o “Topo do Mundo”. Depois de feitos semelhantes no
Paquistão, em 2006, no âmbito do projecto «À conquista dos picos do
mundo», organizou as expedições ao Kangchenjunga (8586m) no Nepal, e ao
Shisha Pangma (8013m) no Tibete, alcançando os seus cumes, sem uso de
oxigénio artificial. Já este ano, em menos de dois meses, conquistou
dois cumes de 8000m. A 19 de Maio atingiu o alto do Makalu ( 8463m), no
Nepal, em solitário, e a 17 de Julho alcançou o cume do Broad Peak
(8047m) no Paquistão, ambos sem o uso de oxigénio artificial. João
Garcia já escalou seis dos sete cumes mais altos dos sete ‘continentes’:
Evereste (Ásia), Aconcágua (América do Sul), Monte McKinley (América do
Norte), Elbrus (Europa), Maciço Vinson (Antárctida) e Kilimanjaro
(África).
É autor do livro “A Mais Alta Solidão”, que já vendeu mais de 30 mil
exemplares; e do livro “Mais Além - Para Além do Evereste”, lançado em
Fevereiro de 2007. É ainda embaixador da prevenção contra a SIDA.
LÍDIA SERRAS, GESTORA DA
FUTURÁLIA
Todos os caminhos vão
dar à FIL
O Ensino Magazine vai participar, como
media partner de um dos maiores eventos nacionais dedicados à juventude,
qualificação e emprego. A Futurália, abre portas dia 10 de Dezembro na
FIL - Parque das Nações. Durante quatro dias as principais instituições
de ensino do país vão mostrar-se aos cerca de 50 mil visitantes
previstos. Lídia Serras, gestora da Futurália explica como vai ser a
feira. A entrevista, concedida por e-mail aqui fica.
Qual o objectivo da Futurália?
O objectivo da Futurália é proporcionar informação e contactos que
incentivem o desenvolvimento humano e permitam o encontro de soluções de
qualificação e de emprego em torno das seguintes áreas temáticas: oferta
de formação/ educação secundária e superior; oferta de qualificação
avançada para activos, designadamente pós graduações, mestrados,
doutoramentos e formação especializada para quadros superiores; oferta
de novas oportunidades de reconhecimento, validação e certificação de
competências; inserção na vida activa, emprego e empreendedorismo, etc.
Este ano a Futurália apresenta uma
Comissão Consultiva de excelência, com nomes como Marçal Grilo ou
Roberto Carneiro. Em que medida este facto vai aumentar os padrões de
qualidade do evento?
Os padrões de qualidade do evento aumentaram indubitavelmente. Os
contributos dos professores Marçal Grilo e Roberto Carneiro são
valiosos. No entanto, gostaria aqui de relevar o contributo de todos os
membros da Comissão Consultiva e especialmente das Instituições
parceiras como o Ministério da Educação, o Instituto de Emprego e
Formação Profissional, a Agência Nacional para a Qualificação, o
Programa Operacional do Potencial Humano, a Direcção Geral do Ensino
Superior entre outros. Esta edição é sem dúvida um marco na consolidação
da Futurália como o evento mais significativo na área da educação/
formação em Portugal e tal deve-se sem dúvida ao papel dinamizador da
Comissão Consultiva.
Teremos uma área exposicional estruturada e que ajuda quem nos vista a
encontrar soluções de reforço de qualificações rumo a um reforço da sua
empregabilidade. Contamos já com 170 entidades inscritas representando
mais de 300 instituições. Para lhe dar um exemplo na edição do ano
passado a área internacional era praticamente inexistente. Este ano
contamos com participações, especialmente universidades de vários
países, contanto apenas com os expositores directos.
Durante os quatro dias do evento decorrerão diversas actividades
paralelas que representarão uma enorme mais valia para quem nos visita.
Falarei mais adiante acerca destas actividades.
Paralelamente à feira, que outro
tipo de actividades estão previstas?
Temos um leque de actividades paralelas à feira bastante vasto, desde
workshops e seminários, actividades de animação e outras. O objectivo é
acrescentar valor ao evento.
A nível institucional estão planeadas os seguintes seminários e
conferências: Conferência Internacional sobre o Papel das Novas
Tecnologias na Educação organizada pelo Ministério da Educação, Workshop
Capital Humano - Gestão e Inovação, organizado pelo IEFP, Conferência de
e-Learning, organizada pela TechMinho, Workshop Novas Oportunidades - a
perspectiva das empresas, organizado pela ANQ e um Workshop promovido
pelo Expresso Emprego que é o nosso media partner oficial intitulado
Profissionais Empreendedores - A importância da Atitude para Vencer.
Um dos nossos parceiros - o POPH - lançou um concurso intitulado Dar a
volta ao Futuro, que convida todos aqueles que completaram o 12º ano
através de um percurso formativo apoiado pelo FSE a escreverem acerca
daquilo que mudou nas suas vidas. Os prémios para as duas melhores
histórias serão dois vouchers para estágios no estrangeiro. A sessão de
entrega de prémios realizar-se-á durante a Futurália.
Teremos ainda uma série de apresentações feitas por expositores versando
temas tais como: Acesso ao Ensino Superior em França, Fontes de
Informação sobre Educação na Europa, Estudar nos Estados Unidos, Como
preparar um CV, Técnicas de Entrevista, etc..
Haverá uma exposição de robótica que será certamente um grande pólo de
atracção, e uma área de animação onde decorrerão passagens de modelos,
concertos, teatro, desporto, etc.
Por outro lado, a área de ateliers a desenvolver por algumas das escolas
profissionais e centros de formação será certamente também um grande
atractivo do evento.
Já em parceria com a Universidade de Aveiro, a Futurália está a
desenvolver um projecto que resultará numa edição virtual do certame no
ambiente Second Life. O espaço onde decorrerá a Futurália será recriado
em ambiente 3D, num mundo paralelo onde todas as instituições presentes
na feira estarão também representadas. Teremos um espaço Second Life na
feira onde será possível aos visitantes acederem a este universo.
As escolas que estiverem
interessadas em levar alunos seus ao certame, como devem proceder? Há
condições especiais de acesso?
A Futuralia tem um programa de visitas de estudo organizado. Todas as
escolas do país receberam o Guia de Visitas da Futurália que contém toda
a informação base acerca do evento bem como a ficha de inscrição. As
visitas de estudo destinam-se a alunos a partir do 9º ano. Por cada 15
alunos é obrigatório que estes sejam acompanhados por um professor. O
custo é inferior ao de bilhete normal e nós planeamos as visitas por
forma a distribui-las pelos dias da feira, evitando grandes picos. Para
todas as escolas inscritas é enviado antecipadamente o programa
detalhado de actividades por forma a potenciar a respectiva visita.
Qual o número de expositores
previstos? Correspondem às vossas expectativas?
Temos neste momento inscritos 170 expositores divididos pelas seguintes
áreas: Ensino Superior em que contamos com 46 Instituições entre
Universidades, Institutos Politécnicos e Escolas Superiores; Formação
Avançada com cerca de 17 presenças que incluem os programas MIT Portugal
e AU-Austin e um Cluster de European Institutes of Technology que
representa cerca de 15 Universidades de renome da área tecnológica;
formação inicial e formação profissional, incluindo centros de formação
profissional, escolas profissionais, etc; Inserção na Vida Activa com
algumas grandes empresas que aproveitarão para constituir bolsas de
colaboradores; Study Abroad em que contamos com cerca de 22
participações de 8 países; Juventude e Serviços e Equipamentos de Apoio
à educação/ formação. Uma última nota para a participação de 6
municípios e duas juntas de freguesia da área da grande Lisboa que
traduz o crescente envolvimento do poder local na educação e no apoio à
juventude.
No ano passado mais de 35 mil
pessoas visitaram a Futurália. Qual é a expectativa para este ano?
Para este ano prevemos uma afluência de cerca de 50 mil visitantes ,
incluindo alunos do ensino secundário a partir do 9º ano, estudantes
universitários, especialmente finalistas, recém licenciados, quadros à
procura de formação especializada, pais, especialistas de educação e
formação, etc..
Quais as mais valias que os jovens
vão retirar do evento?
Desde logo a mensagem clara de que a qualificação é absolutamente
essencial na conquista de um futuro melhor. È importante passar a
mensagem de que apenas com muito trabalho e reforço daquelas que são as
qualificações essenciais é possível um futuro com saída.
Conforme já referi a feira apresentará um leque muitíssimo alargado de
oferta de educação, formação e qualificação bem como representação da
procura o que porá em relevo as competências que o mercado valoriza e
que ajudarão certamente na tomada de decisões informadas relativamente a
percursos futuros. Será certamente uma experiência enriquecedora
sobretudo para aqueles que dedicarem tempo a "experimentar" tudo aquilo
que o certame oferece!
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