Director Fundador: João Ruivo    Director: João Carrega    Publicação Mensal    Ano XI    Nº129    Novembro 2008

Editorial


Duas escolas, dois países

Grande parte dos portugueses tem um défice de tempo para a família. Um número significativo de portugueses sofre de níveis de iliteracia assustadores, se comparados com os registados nos outros países da União Europeia. Uma quantidade apreensiva de portugueses é info-excluída, não conseguindo os pais acompanhar os seus filhos durante elevado número de horas que estes passam em frente aos computadores. Por seu lado, inúmeros professores sentem-se incapazes de acompanhar os seus alunos no domínio que estes revelam sobre tecnologias da informação e da comunicação. A televisão perdeu importância para os nossos jovens, já que, para a maioria, a Internet há muito que constitui a principal forma de ocupação dos tempos livres quando estão em casa e o telemóvel é o aparelho do qual já não seriam capazes de se separar.

Uma das operadoras móveis acaba de lançar no mercado nacional um telemóvel especial, em ergonomia e funcionalidades, exclusivo para crianças a partir do pré escolar, e o Ministério da Educação encontra-se a distribuir, a cerca de 500 mil alunos do 1ª ciclo do Ensino Básico, um minicomputador portátil (o Magalhães), pretendendo equipar os estabelecimentos de ensino do Básico e do Secundário com 310 mil novos computadores, 9 mil quadros interactivos e 25 mil vídeo projectores.

Portugal tem cerca de 10 milhões de habitantes que detêm 12 milhões de telemóveis e 18 milhões de cartões bancários de débito em conta. O Banco de Portugal divulgou que, no primeiro trimestre deste ano, se verificou um aumento em 9,6% nas despesas dos residentes em Portugal em viagens ao estrangeiro que, nesse período já atingiram o montante de 710,9 milhões de euros. O salário mínimo em vigor em Portugal cola-se aos 400 euros. Aqui ao nosso lado, em Espanha, já ronda os 800 euros. No Luxemburgo os trabalhadores não auferem menos de 1500 euros.

Em Lisboa, no Alto do Lumiar, os pais encerraram a cadeado a escola, alegando a existência de ratos e formigas. O presidente da Câmara de Lisboa admitiu que, em termos de degradação, apenas 4 por cento das escolas da rede pública desse mesmo concelho poderiam ser consideradas como de qualidade. No passado ano lectivo, cerca de 300 casos de bullying tiveram lugar nas escolas portuguesas, tendo sido apreendidas cerca de 84 armas de fogo. A literatura admite haver uma correlação positiva entre o desânimo dos professores e o aumento da agressividade nos alunos. Um estudo da ANP e do IPCB revelou que 44 por cento dos professores portugueses confessava que, se hoje pudesse escolher uma profissão, não seria a de professor.

O insuspeito investigador Sérgio Niza afirma que o actual processo de avaliação dos professores constitui um extenso e blindado programa de vigilância e controlo das escolas e da profissão docente. Entre a preparação das avaliações e outras questões, as escolas farão este ano, em média, mais de 90 reuniões. O total de aposentações de professores, em 2008, já é de 5060. Só este mês, foram publicadas, em Diário da República, mais 1106 aposentações, referentes a novos processos. Associações profissionais e sindicatos convergem em afirmar que os pedidos de aposentação ainda vão aumentar mais, dado o descontentamento dos docentes, sobretudo devido à aplicação do novo modelo de avaliação e ao aumento exponencial da burocracia nas escolas, que relega para segundo plano as tarefas pedagógicas. E acrescentam que os que se estão a ir embora são também os que poderiam contribuir para a melhoria do sistema, face à sua experiência.

Um professor, coordenador das TIC no seu agrupamento de escolas, relata no seu espaço Web na Internet que foi convocado para se deslocar ao parque tecnológico de Cantanhede para receber uma formação de dois dias sobre o computador portátil Magalhães. Para que não se sentisse só viu-se acompanhado nessa acção de formação por mais 200 colegas. Para ocupar uma tarde e uma manhã dessa formação, três formadoras, vindas dos Estados Unidos, e expressamente convidadas para o efeito, solicitaram aos 200 participantes que inventassem, em grupos, uma cantiga ao Magalhães, a qual, posteriormente, seria apresentada, com dramatização e cenografia, a todos os presentes…

Os meios de comunicação tradicionais entre professores foram ultrapassados pelas mensagens enviadas a partir de telemóveis. Os sistemas de organização tradicional viram-se frequentemente substituídos por apelos espontâneos à acção. Os comentários de referência dos líderes de opinião encontram-se alojados em dezenas de blogues, cuja consulta se revela hoje indispensável se quisermos perceber o pulsar das escolas e o sentido que os educadores querem imprimir à educação.

E é assim que vamos, dia a dia, tentando inventar o futuro...

João Ruivo
ruivo@rvj.pt

 

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